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A revista «Século Ilustrado», na fase revolucionária depois de Abril de 1974, (1) publicou um artigo intitulado “Por que não fomos expulsos de Macau” de Manuel de Lima, sobre os acontecimentos em dezembro de 1966, durante a revolução cultural chinesa em Macau, o chamado “1-2-3”, relatados pelo entrevistado Dr. Danilo Barreiros. (2)

“Graves acontecimentos foram vividos em Macau nos últimos meses de 1966, época de oiro da «revolução cultural» de Mao Tsé Tung. Apenas o reconhecimento e a confissão de violências por parte do Governo terá evitado a expulsão e o massacre dos portugueses.”

A reconstrução de uma escola pelos habitantes chineses da ilha de Taipa foi obstruída pelas autoridades portuguesas, que enviaram para o local uma força policial, resultando feridos e detidos.

Os documentos fotográficos que se encontram neste artigo, são reproduzidos de uma obra intitulada «Luta contra as Atrocidades Sanguinárias do Imperalismo Portugês em Macau», de Setembro de 1967, publicação do «Aomen Ribao» («Diário de Macau»).

No Palácio do Governo, a detenção de manifestantes
Fora do Palácio do Governo professores e alunos manifestam-se contra a actuação da Polícia portuguesa

(1) «Século Ilustrado», n.º 1897 de 18 de Maio de 1974, pp. 47 a 53. Disponível em: http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/OSeculoIlustrado/OSeculoIlustrado_N1897

 (2) “Danilo Barreiros que posteriormente exerceu as funções de delegado da Fazenda nas ilhas da Taipa e Coloane, de professor primário, do chefe de secretaria de Serviços de Saúde e cumulativamente, redactor de um jornal e uma revista “Arquivos de Macau” Foi também membro da Direcção da Delegação de Guerra da Cruz Vermelha, director e professor de uma escola de ensino secundário, particular, chefe e tesoureiro do Rádio Clube de Macau” (1) Leopoldo Danilo Barreiros (1910-1994) advogado e escritor de vários romances e ensaios, chegou a Macau em 1931. Casou em 1935, com Henriqueta, filha de José Vicente Jorge. Colaborou na Revista “Renascimento” (Macau, 1943-45). O seu filho Pedro Barreiros lançou uma biografia do seu pai no centenário do seu nascimento no dia 11 de Outubro de 2010. https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/leopoldo-danilo-barreiros/ https://jtm.com.mo/local/mundo-de-danilo-barreiros-em-imagens/

O Caso do Tesouro do Templo de “Á-Má”, novela policial de Francisco de Carvalho e Rêgo, (1) foi inicialmente publicada na Revista Renascimento de que foi fundador e redactor principal,  com o pseudónimo de Frank Moth.
Nesta edição (2) refundida e aumentada, o autor refere (p. 7 – Explicando) que a novela não nasceu de mera fantasia, “ porque são reais as suas personagens, como real é o simples entrecho que fielmente conservou na intenção única de reviver, tanto quanto possível dentro da verdade, um caso que foi muito falado e que a crueldade do tempo fez esquecer.
Não há antigo residente desta colónia de Macau que não tivesse conhecido o chinês Lau-Hong-Sin, chefe da Polícia de Investigação Criminal, decidido detective a cuja inteligência e astúcia, aliadas a grande amizade a Portugal, muito deveu esta cidade, pela tranquilidade e sossego, que sempre desfrutou.
Lau-Sin morreu há cerca de sete anos, já velho e cansado e talvez esquecido de muitos que deviam ter-lhe dispensado, nos últimos anos de vida, maior consideração e melhor carinho. Havia já muito tempo que o ousado polícia gozava os magros rendimentos de uma pensão de reforma, que ganhava arriscando a vida e o futuro dos seus.
Conheci Lau.Hong-Sin muito de perto e costumava passar algumas horasm de boa conversa com o velho detective, que muito tinha que contar.
Lau – Sin servira na Procuratura dos Negócios Sínicos, onde meu pai, o Dr. José Maria Ernesto de Carvalho e Rêgo, desempenhou o cargo de Procurador, durante alguns anos.
Foi numa tarde chuvosa de um quente dia de Verão que o destemido polícia me contou, a traços ligeiros, a façanha que aqui deixo em pequena novela descolorida, sem dúvida, mas plena de verdade (…)
Capítulo I – No Ano Novo Chinês
Há cerca de quarenta anos, numa noite fria e molhada de Fevereiro, parecia interminável a romaria de fiéis que ao Templo de Á-Má se dirigiam para agradecer os benefícios recebidos durante o ano que findava e pedir felicidade e prosperidade para o ano a chegar.
A população marítima dos Tous, Tèangs e Tancás, ancorados no porto interior, não cessava de dar graças ao Alto, e as oferendas e promessas iam sendo registadas pelos bonzos do Templo, que rejubilavam de tanta fé.
O tesouro do templo estava exposto aos olhos dos fiéis, e tantas eram as oferendas, que algumas tiveram de ser recolhidas no interior, antes mesmo de terminada a cerimónia.
Consistia o tesouro numa imagem em bronze e ouro, da Santa Venerada. A túnica, que a envolvia, toda de ouro, era debruada a rubis e esmeraldas, prendendo em laço, junto ao peito, por um fecho que consistia de dois brilhantes, aos quais, os entendidos atribuíam um valor extraordinário.
Não era muito antiga a imagem e nem mesmo os bonzos sabiam dizer quem a oferecera ao Templo.
Dizia a lenda, bem recente, que uns anos antes, por ocasião de uma terrível trovoada, que caíra sobre a cidade, uma faísca atingira o altar e, logo que o fumo desaparecera, a imagem surgira, para espanto e admiração dos velhos bonzos.
No interior do Templo, havia uma velha arca de pau-preto, marchetada de cobre, que fechava com velhos cadeados de segredo, onde a imagem era guardada, findas as cerimónias, arca que estava a cargo do velho bonzo Lau, que por ela daria a vida, se necessário fosse, tão grande era a honra de ter à sua guarda a venerada relíquia. (…)

(1) Francisco de Carvalho e Rêgo (Coimbra, 1898 – Lisboa, 1960), viveu em Macau cerca de 40 anos. Autor de várias obras, além desta novela policial,  “Da Virtude da Mulher Chinesa” (1949), “Cartas da China” (1949) e “Macau” (1950-. Com uma actividade cultural diversificada, Francisco de Carvalho e Rêgo, também conhecido por Francisco Penajóia, foi ainda fundador da Rádio local, estando também ligado à criação da Academia de Teatro e Música e da revista Renascimento.
Anteriores referências em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/francisco-de-carvalho-e-rego/
(2) REGO, Francisco de Carvalho e – O Caso do Tesouro do Templo de Á – Má. Macau, Imprensa Nacional, 1949),87 p. 18 cm.