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Extraído de «Gazeta de Macau e Timor», I- 44 de 22 de Julho de 1873, p. 2

Trata-se do cónego António Maria Augusto de Vasconcelos, primeiro cónego do Cabido eclesiástico que apesar de ter o seu nome numa rampa existente na Guia, um pouco além do início da Estrada de Cacilhas, “Rampa do Padre Vasconcelos”, (1) não deixou grandes créditos e méritos neste território, apesar dos vários cargos que exerceu. Veio para Macau em 1862 como professor da Escola Macaense (era bacharel em Teologia e professor de Humanidades), nomeado cónego em 1865, foi repreendido pela autoridade eclesiástica por usar meias vermelhas antes de ser cónego. Nomeado professor no Seminário em 1871, foi exonerado em 1872 por inconveniência ao serviço. Nomeado tesoureiro da Santa Casa da Misericórdia em 1875, foi exonerado 3 meses depois. Nomeado arcediago da Sé em 1883. Regressou a Portugal em 1885, onde terá falecido em 1888. (1)  

(1) Ver anteriores referências em:  https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/padre-antonio-m-a-de-vasconcelos/

O jornal “Echo do Povo” no seu n.º 68 de 15-07-1860 clamava o seguinte:
Mandam para Africa umas 50 mil patacas tiradas da caixa pública de Macau; empregam uma 25 mil patacas para edificar um palácio para o governador (1) e falla-se já em gastar mais de 50 mil para construir um novo quartel (2), e não querem gastar nem um real para a instrução da colónia, donde procede todo esses dinheiros!!! — Esta injustiça clama aos céos”.
Em 24 de Março de 1861, o mesmo jornal voltava a debruçar no lastimoso estado em que se acha a instrucção publica em Macao”.
E acrescentava:
As cincoenta mil patacas que mandaram para Angola, não eram mais que bastantes para dotar um collegio (havendo já edifício adequado para tal fim) tal qual Macao precisa? Extranhamos por certo a apathia e o indesculpável desleixo de S. exa. O Sr. Governador Guimarães e de dois seus antecessores, o sr Adrião e o sr Pegado, em cujo tempo a caixa publica tinha para dispender. A esses senhores cabe toda a responsabilidade do estado de embrutecimento, em que se acham hoje os mancebos de Macao. Temos vitos filhos de pessoas de alta classe da sociedade, vadiando, ou quando muito, tornarem-se locheiros, soldados de policia, chuchaeiros (3) e abraçarem as cupações ruins d´esta classe, por falta de prestimo (causada pela falta de ensino) para ocupar cargos honrosos”.
Finalmente por iniciativa particular, o capitalista macaense Visconde do Cercal (então Barão do Cercal) resolveu promover meios para fundar uma escola. Para esse fim fez correr uma circular com data de 15 de Fevereiro de 1861, em que expunha o plano da projectada escola, solicitando ao mesmo tempo a coadjuvação pecuniária do público. Conseguiu-se em poucos meses obter um capital de mais de vinte mil patacas, e, em pouco tempo, foram mandados vir de Portugal dos professores das línguas portuguesa, francesa e latina e de Inglaterra um professor Inglês (“um bom mestre da língua inglesa, que é mesmo tempo da religião católica e natural de Londres”) (4)
A escola “Nova Escola Macaense” foi inaugurada no dia 5 de Janeiro de 1862, à 1 hora da tarde, nas “cazas de Escola, na Rua Central, – vasto edifício muito acertadamente escolhido”. A cerimónia constou de um pequeno discurso lido pelo secretário da Comissão Directora da Escola, António Marques Pereira, (5) por parte da mesma Comissão; de uma larga oração, também lida, pelo Padre António Vasconcellos, professor da Escola; (6) e de uma falado Juiz de Direito de Macau, findo o que o Barão do Cercal declarou inaugurada a Escola. Terminada a cerimónia, deu o Barão de Cercal um lauto almoço, durante o qual a banda do batalhão de linha tocou escolhidas peças de música. Assistiram a esta festa, o governador, algumas senhoras e muitos funcionários e principais cavalheiros de Macau.

(Boletim do Governo de Macau, Anno VIII, n.º 6, 1862)

Mas a Escola foi de curta duração pois a 21 de Outubro de 1867, era encerrada. A 29 de Setembro de 1867 reuniram-se os subscritores desta escola para deliberar sobre a aplicação a dar ao dinheiro, visto que em 21, mês seguinte expirava o contrato feito por 5 anos com os professores da mesma. (7)
Retirado de TEIXEIRA, Padre Manuel – A Educação em Macau, 1982.
(1) O antigo Palácio do Governo na Praia Grande foi construído por Isidoro Francisco Guimarães, Visconde da Praia Grande e Governador de Macau (1851-1863).
(2) Foi José Rodrigues Coelho do Amaral, Governador de Macau (1863-1866), que executou esse plano: em 1864 mandou demolir o convento e a igreja de S. Francisco para construir ali o Quartel de S. Francisco.
(3) Chuchaeiros = porqueiros. Do chinês (cantonense) “chu-chai”, 豬仔 – pequeno suíno, isto é leitão, (segundo Padre M. Teixeira na obra consultada). Mas poderá ser também referente ao trabalhador ou “cule” chinês, antigamente embarcado, teoricamente sob contrato, de Macau, Hong K).ng e outros portos do Sul da China, para a América Central, mormente Cuba, e outras terras distantes (BATALHA, Graciete – Glossário do Dialecto Macaense, 1977.
(4) Terá sido o inglês Arthur R. Montgomery que em 1867, no mesmo dia do encerramento da escola, em 21 de Outubro de 1867, colocou um anúncio no «Boletim da Província de Macau e Timor», XII-n.º 42 : “informar ao publico de Macau que elle se acha prompto a dar lições em cazas particulares, ou em sua própria residência, em qualquer hora que fossem convenientes”
(5) O discurso foi publicado no Boletim do Governo de Macau, VIII n.º 6, 1862.
(6) O discurso do Padre Vasconcelos foi publicado no Boletim do Governo de Macau, nos n.ºs 7 e 8 do ano VIII.
O Pe António Augusto Maria de Vasconcelos veio para Macau em 1862 como professor da Escola Macaense, Foi dado o seu nome a uma rampa existente na Guia, um pouco além do início da Estrada de Cacilhas, “Rampa do Padre Vasconcelos”.
Ver anterior referência em
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/rampa-do-padre-vasconcelos/
(7) O capital remanescente dos fundos da “Nova Escola Macaense” na importância de $ 9 417,53 foi entregue por Alexandrino António de Melo à Associação Promotora da Instrução dos Macaenses para a fundação de um colégio para instrução dos macaenses – Collegio Comercial – e que viria depois a ser denominado “Escola Comercial”.

Foi inaugurado o Infantário Ave Maria situado na Rampa do Padre  Vasconcelos (1) no dia 10 de Junho de 1966, ficando a cargo das Religiosas Missionárias do Perpétuo Socorro, que vieram do México. (2)
O infantário é obra do arquitecto português Raul Chorão Ramalho (1914-2002), que também projectou a Escola Comercial Pedro Nolasco – hoje Escola Portuguesa – e a Torre de Habitação para Funcionários Municipais na Avenida Sidónio Pais.

Infantário Ave Maria 1966O Infantário «Ave Maria» , em 1966, tirada do Porto Exterior

Numa lápide da parede da entrada do edifício lê-se a seguinte inscrição:
«Para este Infantário pertencente à Delegação local da O. M. E. N. (Obra das Mães pela Educação Nacional) e à Provedoria de Assistência Pública, contribuiu generosamente com o donativo de 500 contos a fundação Gulbenkian da ilustre Presidência do Doutor Azeredo Perdigão. Macau, 10-5-1966».
A 17 desse mês foram ali admitidas as 4 primeiras crianças, idas do Asilo da S. Infância. O Infantário destinava-se a crianças de ambos os sexos dos 2 aos 7 anos de idade, devendo os maiores então passar para o Infantário «Helen Liang». (3)

Infantário Ave Maria 2015 (I)Foto tirada da Estrada de Cacilhas, em Maio de 2015

O Infantário «Ave Maria» deve em grande parte à iniciativa e contribuição financeira da Obra das Mães pela Educação Nacional.(4)
“A Direcção da Obra das Mães (5) entregou, em Agosto de 1966, à Provedoria da Assistência Pública de Macau a importância de $ 300 000,00, como contribuição para a construção do Infantário «Ave Maria», situado na rampa do Padre Vasconcelos, com esplêndidas vistas para o mar”.(6)

Infantário Ave Maria 2015 (II)Foto tirada da Estrada de Cacilhas, em Maio de 2015

(1) A Rampa do Padre Vasconcelos começa na Estrada de Cacilhas, do lado esquerdo, um pouco além do início desta estrada, e termina no Miradouro de N. Sraª. da Guia, próximo da Estrada do Engenheiro Trigo.
TOPONÍMIA - Rampa do Padre VasconcelosAntónio Maria Augusto de Vasconcelos era bacharel em Teologia (1851) e professor de Humanidades. Veio para Macau como professor da Escola  Macaense em 1862. Nomeado cónego em 1865 e tomou posse da cadeira coral em 1869. Já antes de ser cónego usava meias vermelhas, sendo por isso repreendido pela autoridade eclesiástica. Foi professor no Seminário (1871; exonerado em 1872 por inconveniente ao serviço), vogal da Comissão  Directora do Colégio de Sta. Rosa de Lima (1875),  vogal da Comissão Administrativa da Sta. Casa da Misericórdia (1867); tesoureiro da mesma Casa em 1875 sendo exonerado 3 meses depois). Nomeado arcediago da Sé em 1883. Regressou a Portugal  em 1885 onde  terá falecido em 1888. (TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume II, 1997)
(2) As três missionárias mexicanas da ordem “Nossa Senhora do Perpétuo Socorro” chegaram a Macau no dia 27 de Abril de 1966 (Irmã Romelia Christy Franco, Irmã Goretti Chavez e Madre Beatriz Noguez Lugo, conhecida como Madre Vitória,  a convite do Bispo de Macau, D. Paulo Tavares, para dirigir o Infantário e onde estiveram 17 anos. Sobre a acção missionária desta Irmãs ver em:
http://www.oclarim.com.mo/en/2016/05/27/a-burning-passion-for-mission/
(3) http://www.library.gov.mo/macreturn/DATA/PP271/PP271303.HTM.
(4) A Obra das Mães pela Educação Nacional foi uma organização feminina do  Estado Novo Português, criada pelo Decreto n.º 26 893, de 18 de Maio de 1936, e tinha por objectivos estimular a acção educativa da  família e assegurar a cooperação entre esta e a  escola.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Obra_das_M%C3%A3es_pela_Educa%C3%A7%C3%A3o_Nacional).
(5) Em 1966, a direcção da Obra das Mães pela Educação Nacional , em Macau, estava confiada à Sra. Dr.ª Eduarda Maria Cândida Meireles da Silva Gonçalves Ribeiro.
(6) Comemorações do 40.º Aniversário da Revolução Nacional. Centro de Informação e Turismo, 1967, 292 p.