Extraído de «BGC» XXVI – 307-Janeiro de 1951, p. 175.
“Um centenário que passou GUERRA JUNQUEIRO: um génio que viveu a transição para a nova Poesia mas que não soube “pressenti-la”.
… Tendenciosamente romântico, essencialmente lírico e estruturalmente simples e bom, tudo pareceria indicar – ou nos parece agora – que Junqueiro seria um poeta de forte psiquismo e acentuada interiorização. Mas o ambiente cultural que veio encontrar não foi propício a esta orientação no seu desenvolvimento…”
LEITÃO, Álvaro – Guerra Junqueiro in MOSAICO, Vol. I-2, Outubro de 1950, pp. 141-145.
Abílio Manuel Guerra Junqueiro (15-09-1850/ 7-07-1923), bacharel em Direito, escritor, poeta, jornalista, deputado, político, embaixador de Portugal na Suíça (1911-1914). Poeta representante da chamada “Escola Nova”
Mais informações, ver em:
http://www.arqnet.pt/dicionario/guerrajunqueiro.html
Parasitas
No meio duma feira, uns poucos de palhaços
Andavam a mostrar, em cima dum jumento
Um aborto infeliz, sem mãos, sem pés, sem braços,
Aborto que lhes dava um grande rendimento.
Os magros histriões, hipócritas, devassos,
Exploravam assim a flor do sentimento,
E o monstro arregalava os grandes olhos baços,
Uns olhos sem calor e sem entendimento.
E toda a gente deu esmola aos tais ciganos:
Deram esmola até mendigos quase nus.
E eu, ao ver este quadro, apóstolos romanos,
Eu lembrei-me de vós, funâmbulos da Cruz,
Que andais pelo universo há mil e tantos anos,
Exibindo, explorando o corpo de Jesus.