Em 2 de Janeiro de 1706, o Imperador Hóng-Hei (Kang-hi) (1) que recebera pela primeira vez, em audiência o Patriarca de Antióquia, Carlos Tomás Maillard de Tournon, (2) em 31 de Dezembro de 1705, resolveu enviar o jesuíta Bouvet, como portador dum presente imperial para o Papa, o qual constava do seguinte:

  • dez formosas pérolas;
  • cinquenta peles zibelinas de côr preta;
  • dez colchas ou cobertores admiravelmente bordados em ambos os lados; e
  • trinta peças de seda da melhor da China de diversas cores e lavor.

O Imperador da China recomendou ao padre Bouvet (3) que pedisse ao papa o envio de matemáticos, músicos, médicos, cirurgiões e religiosos. O patriarca, que chegara ao porto de Macau, em 4 de Abril de 1705, hospedou-se, na Ilha Verde, recusando-se a entrar na cidade, não obstante os «singulares obséquios e oferecimentos» feitos pelo Bispo e pelo Capitão-Geral de Macau que o foram visitar, nesse mesmo dia, e, logo no dia seguinte, seguiu para Cantão.” (4)
(1) O Imperador Kangxi ( 康熙mandarim pinyin: Kāngxī, cantonense jyutping: Hong1 hei1) (1654 — 1722) foi o terceiro imperador da dinastia Qing, a última dinastia imperial chinesa, de origem manchu, e o segundo que reinou sobre a China toda, consolidando a conquista do território que estivera sob a soberania da anterior dinastia Ming.
(2) Charles-Thomas (Carlo Tommaso) Maillard de Tournon (1668 – 1710)  多樂 (Duō lè)  foi nomeado legado “a latere” do Padroado para a índia e China em 1701 e faleceu prisioneiro em Macau a 8 de Junho de 1710, envolvido na “Questão dos ritos” .
O patriarca chegou a Macau em 1707 e aqui veio a falecer, três anos mais tarde. Os Franceses e estrangeiros são unânimes em condenar os Portugueses, acusando-os de ter lançado o patriarca numa masmorra, onde veio a falecer “mártir” às mãos dos Portugueses. Mas a história verdadeira do que se passou em Macau é bastante diferente. Devido ao carácter ríspido e à atitude intransigente de Carlos Tomás Maillard de Tournon, Macau, sem culpa alguma na questão dos ritos chineses, sofreu grandes perturbações de 1707 a 1710. Acresce que esta cidade possuía nessa altura um prelado de antes quebrar que torcer, D. João do Casal.
Aos 17 de Junho de 1707, o patriarca entrava em Cantão, vindo de Pequim; chegaram também de Pequim dois mandarins com ordem de o remeterem com a sua comitiva, sob custódia, para Macau, e deram-lhes três dias para se preparar. Aos 30 de Junho entravam em Macau esses dois mandarins, e em nome do imperador Kang-Hsi, fizeram entrega do patriarca ao Senado, exigindo-lhe um recibo da entrega juntamente com os padres da sua comitiva, “athe chegarem os dous Padres Barros e Bouvallier que como seus enviados (o imperador) tinha mandado ao Papa, para concluzao destas teimas e contendas.
http://www.library.gov.mo/macreturn/DATA/PP280/PP280286.HTM
(3) Joachim Bouvet白晋 (mandarim pinyin: Bái jin: cantonense jyutping: Baak6 zeon3, ou (mandarim pinyin: Míng yuàn; cantonense jyutping: Ming4 jyun5) (1656 – 1730) foi um dos seis primeiros padres jesuítas franceses (preparados na Academia Francesa das Ciências) que foram para a China em 1687. Ficou em Pequim ensinando matemática e astronomia. Como sinólogo, focou o seu estudo no “I Ching” tentando encontrar uma ligação entre os clássicos chineses e a Bíblia. O imperador Kangxi esperava que o padre Bouvet esclarecesse em Roma a “questão dos ritos” mas este voltou à China sem uma resposta do Vaticano.
(4) GOMES, Luís Gonzaga – Efemérides da História de Macau.