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Antes do Baptizado das praças indígenas

Realizou-se na Gruta de Nossa Senhora de Fátima do Aquartelamento de Mong-Há, no Dia de Reis, o baptizado de algumas praças indígenas de Angola e da Guiné em serviço na guarnição militar e Macau. Neste dia de 6 de Janeiro de 1951, 24 praças de Angola e 16 da Guiné tornaram-se cristãs . A cerimónia foi presidida pelo Bispo, D. João de Deus Ramalho (1) e foi coadjudado pelos Padres: Cónego Morais Sarmento, Cónego Fernando Maciel, Capitão Capelão João Abranches (Chefe dos Serviços Religiosos da Guarnição), Pe. António Gonçalves, Pe. Benjamim Videira Pires e Pe. Juvenal.

Durante a cerimónia

A vasta parada do Aquartelamento de Artilharia de Mong Há encontrava.se repleta, assistindo grande quantidade de povo, além das deputações de todas as Unidades da Guarnição.

Outro aspecto da cerimónia

Foi depois servido, no quartel da Companhia Indígena de Caçadores da Guiné, (2) um «copo de água», oferecido pelo Comandante e Oficiais desta Unidade tendo-se trocado discursos entre o Comandante da zona de Aquartelamentos Major José J. da Silva e Costa e o Bispo D. Joaõ de Deus Ramalho. (3)

O bispo D. João de Deus Ramalho, baptizando um dos praças

Este evento foi também noticiado no «Boletim Geral das Colónias» de Março de 1951 (4)
(1) O Bispo da Diocese era D. João de Deus Ramalho – 罗若 (1890-1958). bispado de 1942-1954; Bispo Emérito de Macau entre 1954 e a data da sua morte. Jesuíta, chegou a Macau em 1924, tendo sido colocado em 1926 como missionário de Shui-Hing (Zhaoqing) – 肇庆 tendo chegado a Superior e Vigário Geral da missão em 1940 Nomeado Bispo de Macau em 1942, foi importante a sua acção missionária durante a Guerra do Pacífico, acolhendo, ajudando e alojando (comprou casas para o acolhimento dos refugiados) os refugiados entre os quais se encontravam missionários que estavam nos territórios vizinhos.
Ver anteriores referências a este Bispo em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/d-joao-de-deus-ramalho/
(2) A 1.ª Companhia Indígena de Caçadores Expedicionária da Guiné desembarcou a 9 de Abril de 1949 em Macau e foi colocada na Taipa sob o comando do capitão de Infantaria Manuel Maria Pimentel de Bastos. (5) Em 7 de Abril de 1950 recolheu da Taipa e fixou-se nas Barracas metálicas de Mong Há e depois no Asilo de Mong Há até ser extinta em 28 de Junho de 1951, por embarque no N/M Rovuma (1 oficial, 2 cabos e 200 praças indígenas)
O Batalhão de Caçadores n.º 1 e n.º 2 destacado de Angola chegaram a 13 de Setembro de 1949, no navio Colonial.
As várias Companhias integrantes do Batalhão n.º 1 ficaram nas Ilhas: Coloane e Taipa (após a saída da 1. ª Companhia Indígena de Caçadores Expedicionária da Guiné). Algumas Companhias terá mudado para Macau. Foi extinta em 28 de Junho de 1951, por embarque no N/M Rovuma (5 oficiais, 6 sargentos, 9 cabos e 650 praças indígenas).
As Companhias do Batalhão n.º 2 ficaram em Macau (aquartelamentos de San Kiu, Porta do Cerco, Mong Há). Uma Companhia que estava em Mong Há mudou-se para Coloane. Foi também extinta em 28 de Junho de 1951, por embarque no N/M Rovuma ( 8 oficiais, 12 sargentos, 17 cabos e 683 praças indígenas) (CAÇÃO. Armando A. A. – Unidades Militares de Macau, 1999)
(3) Extraído texto e fotos de «Mosaico» Vol I-6, Fevereiro 1951.
(4) «BGC» XXVI-309 MAR1951 p. 167
(5) Manuel Maria Pimentel de Bastos, capitão de infantaria, poeta, enquanto expedicionário em Macau, teve uma intervenção cultural significativa no território. Foi o primeiro Vice-Presidente da Direcção para o ano de 1950 (e um dos fundadores) do “Círculo Cultural de Macau”.
Referências anteriores em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/manuel-m-pimentel-bastos/

Em 1954, a Ilha da Taipa, ainda era designada conforme o local, por Taipa Pequena ou Taipa Grande: um istmo constituído por terrenos conquistados ao rio estabelecia a ligação entre as duas ilhas. Tinha 3.478 km2 de superfície e era como Coloane, bastante acidentada.

MACAU B.I. I-14 28FEV1954 - ILHA DA TAIPA IA velha ponte-cais da Ilha da Taipa

Com a construção da ponte na Taipa Pequena, a lancha que estabelecia as comunicações entre Macau a as ilhas, fazia ali o desembarque, seguindo depois os passageiros para vila, que estava situada na Taipa Grande, em carreiras de camionagem. Partindo de Macau a viagem demorava apenas cerca de vinte e cinco minutos.
A parte da ilha conhecida por Taipa pequena era ornamentada por um pinhal único que a cobria em toda a sua extensão e é, por assim dizer, um monte apenas, pois não possuia em parte alguma da sua superfície qualquer terreno plano.

MACAU B.I. I-14 28FEV1954 - ILHA DA TAIPA IIUm recanto da Ilha da Taipa perto de «Os sete tanques»

Aconselhava-se os forasteiros a visitarem, na Taipa Pequena, o sítio designado por «Os sete tanques», sem dúvida (na altura) o local mais bonito e curioso de toda a ilha. Alguns tanques seguidos num declive suave até quase junto ao rio e alimentados por veios de água nascidos na montanha e descendo pelas vertentes, «Os sete tanques», em bucólica paisagem, marginados por frondosa arborização  e vegetação luxuriante, constituíam o deleite de recantos campesinos aprazíveis.

MACAU B.I. I-14 28FEV1954 - ILHA DA TAIPA IIIA vila da Taipa “dominado” pelo quartel militar

Uma estrada de ligação com  a Taipa Grande e surgia depois uma planície de proporções modestas que ia estreitando até ao rio.

MACAU B.I. I-14 28FEV1954 - ILHA DA TAIPA IVAs fábricas de panchões

Era nesta faixa plana da Taipa Grande que começava por se encontrar a maioria das fábricas de panchões existentes, principal indústria da ilha, e se situava a vila que se estendia até ao cais.

MACAU B.I. I-14 28FEV1954 - ILHA DA TAIPA VA rua principal da Vila da Taipa

A vila possuía um mercado regular, abastecido suficientemente para as necessidades  da terra, mercearias e outros estabelecimentos comerciais. O antigo cais, amplo e ajardinado denotava à primeira vista, pelo asseio existente, ser a sala de visitas da terra.
A população da ilha, segundo o censo de 1952, compreendia 7.887 habitantes, incluindo algumas dezenas de portugueses. Os chineses, além do ramo comercial, agricultura e algumas pequenas indústrias, ocupam-se principalmente na pesca e no fabrico de panchões, profissão mal remunerada mas que absorve a maioria da população, pela continuidade de serviço. Os portugueses, além da guarnição militar ali aquartelada, eram empregados públicos em actividade ou na situação de reforma.

MACAU B.I. I-14 28FEV1954 - ILHA DA TAIPA VIO pequeno reservatório  que posteriormente seria ampliado

No vale existente, de pequena superfície, entre o verdejante monte que é a Taipa Pequena e os montes pedregosos e agrestes  da Taipa Grande, estavam além das fábricas de panchões, alguns campos, arrozais e hortícolas, e árvores de fruto em especial papaieiras.
Aparte umas pequenas nesgas de areia, que num ou noutro lado se mostravam, não possuía no seu contorno, uma faixa de areia com categoria de praia, o que, do ponto de vista turístico, a colocava em manifesta situação de inferioridade em relação a Coloane. Na maré baixa, o caudal da água que separa a Taipa de Coloane, quase desaparecia podendo, nalguns locais, passar-se a vau, pois a altura de água não ultrapassava o peito de qualquer banhista. Nesse período, vários pescadores armados do respectivo engenho, andavam  a pé pelo canal, pescando peixe miúdo.
Transcrevi partes dum artigo (não assinado) de “Macau B. I., Ano I, n.º 14,  28 de Fevereiro de 1954 pp. 8-11″