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No dia 13 de Dezembro de 1922, foi lançada uma bomba, nos jardins do Palácio do Governo, na série de vários atentados bombistas que os terroristas chineses xenofobistas estavam executando, periodicamente, na cidade, tendo o cinema Vitória, o Grémio Militar e alguns estabelecimentos comerciais sido vítimas das suas proezas (1)
Em 29 de Maio desse ano, tinha sido novamente proclamado (2) o estado do sítio em todo o território em Macau devido ao cerco à esquadra de Ship Seng e a resposta policial. Foram mandadas encerrar todas as associações de classe cujos estatutos não estivessem autorizados ou requeridos. (3)

Palácio do Governo c. 1910

(1) GOMES, Luis G. – Efemérides da História de Macau, 1954
(2) O anterior estado de sítio tinha sido declarado a 24 de Setembro de 1921 (com suspensão de garantia pelo prazo de 8 dias), mas que, em consequência de certas entidades inglesas terem intervindo, se evitou um sério rompimento, sendo ordenada, no dia seguinte, a cessação da ordem de estado de sítio (4)
(3) “29-05-1922 – Novamente é proclamado o estado de sítio em todo o território. Factos graves contra a soberania nacional, o prestígio das autoridades e a segurança da população”. (4)
“30-05-1922 – O 2.º Suplemento ao B. O. n.º 21 contém o edital n.º 2: «São convocados todos os cidadãos portugueses válidos a apresentar-se imediatamente no quartel do corpo de Voluntários (em Santa Clara), a fim de serem mobilizados para serviço do Governo. Macau, 30 de Maio de 1922 – O Comandante Militar da Cidade – Joaquim Augusto dos Santos, Coronel» Só a firmeza da resposta do Governador (Comandante Corrêa da Silva – Paço d´Arcos) às autoridades de Cantão evitou crise maior.” (4)
(4) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, 1997.
Sobre estes incidentes no ano de 1922, anteriores referências em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/10/23/os-tumultos-de-macau-em-1922i/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/10/24/os-tumultos-de-macau-em-1922-ii/
E aconselho a leitura de GUEDES, João – O General anarquista e a “República Cantonense” em http://arquivo.jtm.com.mo/view.asp?dT=355903012

No dia 13 de Dezembro de 1922, foi lançada uma bomba, nos jardins do Palácio do Governo, na série de vários atentados bombistas que os terroristas chineses xenofobistas estavam executando, periodicamente, na cidade, tendo o cinema Vitória, o Grémio Militar e alguns estabelecimentos comerciais sido vítimas das suas proezas (1)
Em 29 de Maio desse ano, tinha sido novamente proclamado (2) o estado do sítio em todo o território em Macau devido ao cerco à esquadra de Ship Seng e a resposta policial. Foram mandadas encerrar todas as associações de classe cujos estatutos não estivessem autorizados ou requeridos. (3)
(1) GOMES, Luis G. – Efemérides da História de Macau, 1954.
(2) O anterior estado de sírio tinha sido declarado a 24 de Setembro de 1921 (com suspensão de garantia pelo prazo de 8 dias), mas que, em consequência de certas entidades inglesas terem intervindo evitou-se um sério rompimento, sendo ordenada, no dia seguinte, a cessação da ordem de estado de sítio (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, 1997).
(3) “29-05-1922 – Novamente é proclamado o estado de sítio em todo o território. Factos graves contra a soberania nacional, o prestígio das autoridades e a segurança da população”. SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, 1997.
30-05-1922 – O 2.º Suplemento ao B. O. n.º 21 contém o edital n.º 2: «São convocados todos os cidadãos portugueses válidos a apresentar-se imediatamente no quartel do corpo de Voluntários (em Santa Clara), a fim de serem mobilizados para serviço do Governo. Macau, 30 de Maio de 1922 – O Comandante Militar da Cidade – Joaquim Augusto dos Santos, Coronel» Só a firmeza da resposta do Governador (Comandante Corrêa da Silva – Paço d´Arcos) às autoridades de Cantão evitou crise maior.” (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, 1997).
Sobre estes incidentes no ano de 1922, anteriores referências em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/10/23/os-tumultos-de-macau-em-1922i/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/10/24/os-tumultos-de-macau-em-1922-ii/
E aconselho a leitura de GUEDES, João – O General anarquista e a “República Cantonense
in http://arquivo.jtm.com.mo/view.asp?dT=355903012

 … continuação do post  anterior (1)

“Então a tropa deu uma descarga contra os manifestantes. Um bom número d´eles caiu varado de balas, ao passo que os restantes, que subiam a mais de 4.000, se puzeram em fuga, deixando na sangueira, que cobria o solo, sapatos, leques, lanternas, varapaus e bandeiras.
Se não tomam esta resolução, eram todos varridos por uma metralhadora que pouco depois chegava ao local.
  No quartel de voluntários – Civis preparando-se para ir policiar a cidade

A deserção foi tão completa que nem se importaram com os mortos. Recolheram-nos, os nossos soldados, envolvendo-os em esteiras e removendo-os em «camions» para o cemitério.
                       Paisanos de guarda à fábrica de electricidade
 
Vinte e tantos dos fugitivos haviam-se refugiados n´uma casa em ruínas. Foram lá descobertos empilhados sobre os outros. Quando se sentiram descobertos saíram e puzeram-se de joelhos deante das nossas tropas pedindo misericórdia. No esconderijo ficara só em estendido, porque esse estava morto.
O governo chinez não julgou do seu direito o intervir” (2)

NOTA: Foi,  a pretexto destes conflitos em Macau, que o Governo de Lisboa decidiu enviar o General Manuel Gomes da Costa (1863-1929) ao Oriente para inspeccionar as tropas (Índia, Macau e passou por Xangai). Foi após o regresso que Gomes da Costa insatisfeito com a política do Governo, decidiu  aceitar chefiar o golpe militar em 28 de Maio de 1926.
Conflitos no Oriente – Decretado o estado de sítio em Macau, depois de sangrentos conflitos com cerca de três dezena de mortes (29 de Maio). Governo pensa nomear Gomes da Costa para governador de Timor, mas o grupo parlamentar dos democráticos opõe-se. O general escreve, então, uma carta para o jornal A Capital a denunciar o facto e António Maria da Silva (1872-1950, chefe do Governo em 1922) trata de mandá-lo dar uma grande volta de inspecção extraordinária às colónias do Oriente (15 de Julho). Parte em Agosto de 1922 e só regressa a Lisboa em Maio de 1924.” (3)                
8-10-1922 – Chegou o General Gomes da Costa, acompanhado  do seu filho Carlos Nunes Gomes da Costa, como Secretário, e o tenente Salgueiro Rego, seu ajudante de campo, para inspecionar os serviços militares de Macau” (4)
(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/10/23/os-tumultos-de-macau-em-1922i/
(2) Artigo não assinado da Ilustração Portuguesa n.º 860, 1922
(3) http://maltez.info/respublica/portugalpolitico/anuario/1922.pdf
(4) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XX, Volume 4. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, 2.ª Edição, Macau, 1997, 454 p (ISBN 972-8091-11-7)

“Felizmente não teve maiores consequências o incidente que se deu em Macau entre as tropas da nossa guarnição e a população  chineza que enxameia na cidade. As primieras notícias telegráficas, na sua concisão, deixavam antever acontecimentos graves. Originou esse incidente um das praças indígenas de Moçambique, ali em serviço ter na dua passagem, tropessado, sem querer, n´uma chineza que ia pela mão da mãe, levantando esta um berreiro injustificado.
               Soldados africanos guardando um caes que foi fechado
 
Os chinezes, tomando o partido da mulher, amotinaram-se e lançaram-se ao soldado, defendendo-se este valentemente e levando um d´eles preso para a esquadra, mas, ao retirar-se d´ali, a canalha saltou em cima d´ele, deixando-o em estado tão lastimoso que teve de recolher à enfermaria do hospital.
No dia seguinte declarou-se a greve geral e uma multidão enorme acumulou-se sussurrante e agitada  na avenida Marginal, havendo cabecilhas  que incitavam contra os portuguezes. Os manifestantes rodearam a esquadra, ocupando completamente as ruas próximas, formando barricadas e não deixando passar ninguém.
               No quartel – Uma força de soldados africanos, muito temidos pelos chinezes, em parada no quartel

 A força militar encontrava-se isolada e a gentalha ameaçava ruir sobre ela. O tenente sr. Rogério Ferreira (1) resolveu sair d´aquela situação. Um dos amotinados lançou-se-lhe ao pescoço para o estrangular. O oficial puxou da espada, e com ela ainda feriu alguns, mas, por fim, arrancaram-lha das mãos. Não havia paciência que resistisse por mais  tempo Da multidão partiram vários tiros de revolver e um soldado baqueou.” (2)
……………………………………………………………continua
 
NOTA: Embora a “reportagem” não dê a data dos acontecimentos, tratou-se das confrontações entre grupos representativos de associações de classe (operários) e os patrões, iniciadas em 1 de Maio de 1922, com uma manifestação das associações operárias de Macau. Estas confrontações  prolongaram-se por todo o mês de Maio e Junho desse ano.
Por isso o Ano de 1922  ficou conhecido por “Ano da Greve“.
Seguimos os acontecimentos relatados por Beatriz Basto da Silva (3):
“Os ânimos opondo patrão e o operário estão exaltados e, como é comum nesta circunstâncias, as manifestações multiplicam-se. Um incidente entre um soldado moçambicano e uma prostituta chinesa, a 28 de Maio, desencadeia um tiroteio grave, que conduz a troca de explicações entre o Governo de Macau e a autoridade de Cantão, levando ao castigo de militares envolvidos bem como à retirada de Macau do contingente de forças africanas. A 29 de Maio de 1922 é proclamado o estado de sítio em todo o território. A 30 de Maio são convocados todos os cidadãos portugueses válidos a apresentarem-se no Quartel do Corpo de Voluntários (em Santa Clara), a fim de serem mobilizados para o serviço do Governo
Só a firmeza da resposta do Governador, Comandante Corrêa da Silva – Paço d´Arcos às autoridades de Cantão evitou crise maior. A 5 de Junho a situação é considerada calma e normal”

As consequências: exoneração por abandono de serviço (greve) de alguns funcionários, por exemplo da Imprensa Nacional. Outros preferiram pedir a exoneração. Em 08 de Junho é determinado o encerramento de 68 associações de Macau. O estado de sítio prolongaria até finais do mês de Junho.

(1) Será o mesmo (?) que tendo sido promovido posteriormente a capitão, proferiu em 1934, a conferência “Os Portugueses na China e a Fundação de Macau” – ver anterior blogue
               https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/1934/
(2) Artigo não assinado da Ilustração Portuguesa n.º 860, 1922
(3) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Século XX, Volume 4. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, Macau, 1997, 454 p. ISBN-972-8091-11-7.