Extraído de «A Aurora Macaense», I- 19 de 20 de Maio de 1843, p. 85
Família HUET referenciados no livro de SANTOS, Isaú – Macau e o Oriente no Arquivo Histórico Ultramarino (Volume I), ICM, 1997, pp. 265, 412, e 539.
No dia 5 de Março de 1849 foi abolido e expulso de Macau o Hopu pequeno (alfândega chinesa), que exercia a sua jurisdição superior no Hopu da Praia Grande. Aquele era de pouca importância; porém, o segundo, conhecido pela denominação de Hopu grande, tinha o prestígio da sua antiguidade e a força de muito poderio. A Praia Pequena era o sítio hoje conhecido pelo Largo do Ponte e Horta e seus arredores.
O Governador João Maria Ferreira do Amaral (1) proibiu aos hopus (alfândega chinesa) desta cidade de cobrarem quaisquer direitos às mercadorias exportadas de Macau para os portos da China, pedindo ao Vice-Rei de Cantão que mandasse retirar aos funcionários chineses que exerciam os seus cargos em Macau, dentro do prazo de oito dias. Os hopus exerciam a sua jurisdição superior no Hopu da Praia Grande e no da Praia Pequena, sítio hoje conhecido pelo Largo da Ponte e Horta e seus arredores. (2)
“12-03-1849 – Não tendo o Vice-Rei de Cantão ordenado a retirada dos funcionários do Hopu, o Governador João Maria Ferreira do Amaral mandou pôr travessas na porta principal do Hopu, deixando abertas as outras, para uso dos que li viviam e fez postar um piquete de soldados e uma canhoneira de mar, em frente do Hopu, para protegerem o desembarque de todas as mercadorias e viveres, acabando assim com o último vestígio da interferência chinesa na administração desta colónia.” (2)
“13-03-1849 – O Governador João Maria Ferreira do Amaral ordenou à força pública que fizesse desaparecer todos os sinais da alfândega chinesa em Macau, ordenou esta que foi cumprida, imediatamente.” (2)
(1) Já em Fevereiro desse ano, o Governador Ferreira do Amaral tinha suspendido o pagamento de foro de Macau ao Governo Imperial da China (3) e impôs deveres fiscais à população do entreposto até às Portas do Cerco. A 16 de Fevereiro, Ferreira do Amaral pede ao Vice-Rei Xu Guangjin que mande retirar o Hopu de Macau (2)
(2) SILVA; Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume II, 2015, pp. 115-116
(3) Na opinião do historiador A. Vasconcelos de Saldanha em “Estudos Sobre as Relações Luso-Chinesas“, (pp. 208 a 210), Ferreira do Amaral não procedeu à suspensão do foro, objectivamente o que fez foi recusar corresponder-se com o mandarim por achar que o devia fazer apenas com o Vice-Rei de Cantão. E não abrindo a correspondência, não tomou conhecimento da ordem ali expressa para pagamento do foro. (2)
NOTA: Recorde-se que o Governador Ferreira do Amaral foi assassinado a 22 de Agosto de 1849. Ver anteriores referências em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/joao-m-ferreira-do-amaral/
Edital de 11 de Setembro de 1851, assinado pelo governador, Capitão de Mar e Guerra da Real Armada, Francisco António Gonçalves Cardoso – Regulamento sobre a prostituição dentro dos muros da cidade e as casas toleradas. (1) Este edital é constituído por 14 artigos sendo de destacar os seguintes:
(1) Ver anterior postagem sobre este mesmo edital em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/09/11/noticia-de-11-de-setembro-de-1851-prostitui-cao-em-macau/
Além dos tufões, eram os incêndios os que maiores danos materiais e humanos causavam em Macau. Assim há várias notícias nas primeiras décadas do século XIX, sobre medidas e recomendações para se evitarem os incêndios.
No dia 7 de Novembro de 1829, o mandarim tchó-t´óng, por apelido Im, com o fim de evitar incêndios, ordenou a todas as lojas que tivessem baldes com água, à porta e que fossem destruídas quaisquer barracas de palha, além de se andar de noite com lanternas, em vez de archotes. (1)
Outra notícia datada também de Novembro mas na década de 30 (século XIX) com a mesma preocupação de se evitarem incêndios:
No dia 17 de Novembro de 1834, o Procurador da Cidade, António Pereira exigiu em ofício ao mandarim Tchó- T´óng que fosse proibida a construção de barracas e casas de madeira na Praia Pequena a fim de evitar o perigo de incêndios. Em 5 de Novembro desse ano, um violento incêndio destruiu 500 moradias. (1)
Igreja de S. Paulo, antes do incêndio
George Chinnery, 1834
Relembra-se ainda um outro grande incêndio que aconteceu no ano seguinte, 1835, do dia 26 para 27 de Janeiro, com a destruição da igreja e colégio construídos pelos jesuítas da Companhia de Jesus, na segunda metade do século XVI (1594-1602) restando depois somente as ruínas: a imponente fachada e a escada de granito. (1)
Os primeiros «Serviços de Incêndios», sob a administração da Fazenda Pública datam de 1883. Antes dessa data os serviços de incêndios de Macau foram, em tempos remotos prestados pelos seus próprios habitantes e com material adquirido por particulares (2)
Assim logo que fosse dado o rebate saíam todos os “bombeiros” improvisados dos seus alojamentos que estavam organizados em grupos e o grupo que chegasse primeiro, através do dédalo das ruelas da velha cidade (o risco maior era sempre no Bazar), recebia como recompensa dos seus esforços um magnífico leitão assado e dois almudes da melhor aguardente chinesa, custeados entre os moradores da rua vitimada pelo sinistro.
“Ora o grupo mais afamado era o da fábrica de tabacos “Tchu-Tc´hèong-Kei” que mantinha um grupo privativo com o seu respectivo equipamento, o mais completo possível, pois necessitava de se prevenir contra qualquer incêndio dentro da fábrica cujo negócio era enorme.
Além do grupo de bombeiros, a fábrica obrigava todos os empregados a exercitar-se, constantemente, em destreza e acrobacia, de forma a que todos pudessem acudir pronta e eficientemente em qualquer caso de fatalidade. Estimulados com um bom salário, era nesse grupo que estavam reunidos os melhores bombeiros da cidade.
Assim que fosse dado o sinal de alarme, quer de noite ou de dia, esses valorosos mocetões saltavam imediatamente das suas camas e, num abrir e fechar de olhos, fazendo repercutir com estrépito nas pedras das vielas os seus sapatorros, chegavam ao local de desastre, no meio dum ensurdecedor estrupido de rodados e de brutais imprecações, pondo toda a rua alvoraçada numa convulsão de actividade e, em alguns minutos, dominavam com uma presteza sem igual qualquer abrasamento por mais violento que fosse.
Por este motivo, quando acontecia uma calamidade desta natureza, os ânimos pusilânimes dos moradores da rua onde se manifestava o sinistro só se asserenavam com a chegada do grupo da fábrica “Tchu-Tch´èong-Kêi”. Então, alijados do receio de o fogo se alastrar, devastando as suas casas, exclamavam jubulosos: – Já não há receio! Já chegou o grupo de “Tchu-Tch´èong-Kêi”.!
(1) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954.
(2) Ler anterior postagem sobre os primitivos bombeiros de Macau de Luís Gonzaga Gomes em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/11/01/noticia-de-1-de-novembro-de-1923-corpo-de-salvacao-publica/
(3) GOMES, Luís Gonzaga – Os Primitivos Bombeiros de Macau in Curiosidades de Macau Antiga. Instituto Cultural de Macau, 1996, 2.ª edição, 184 p. ISBN -972-35-0220-8.
Outras referências anteriores sobre este assunto:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/09/30/leitura-corpo-de-bombeiros-municipais-de-macau-em-1955/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/incendios/”>https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/incendios/
Na sequência do artigo de José Torres publicado no semanário ilustrado ” Archivo Pittoresco” de 1864. (1), num número posterior da mesma publicação, fez o mesmo autor, outro comentário a uma outra ilustração de “Macau – Porto Interior”.
“Ahi fica estampada a vista da parte ocidental da cidade de Macau e o seu ancoradoiro ou porto interior, formado pelas águas de um braço do grande rio de Cantão. É aqui o centro commercial da cidade, como a parte oriental, que estampamos a pag. 345 d´este colume, se pôde chamar o centro official administrativo, mais propriamente cidadão, Estamos a contemplal-o das alturas da Penha. Ao longe, à direita , na altura em que se divisa um confuso arvoredo, é a quinta da Gruta de Camões, propriedade do comendador Lourenço Marques. As montanhas que se elevam ao fundo, à continuação da península em que Macau assenta, são da comarca de Anção ou Hiamxan, da ilha Ngão-men, a maior das que povôam o grande golpho em que desagua o rio Cantão. É ahi, sobre a esquerda, que está situada a povoação chim da Casa Branca. A primeira praia à esquerda (passando a fortaleza e pagode da barra, que ficam áquem do que descobrimos) é a chamada Manduco. Segue-se-lhe a Praia Pequena, adjacente à qual está a povoação chim chamada do Bazar, quasi na sua totalidade reconstruída por um plano regular, depois do grande incêndio que, em 1856, lhe devorou umas mil casas grandes e pequenas. Segue-se-lhe a praia do Terrafeiro, que é a última, na baixa ao poente da quinta da Gruta de Camões. A pequena ilha, que a pouca distancia se vê no meio do rio, é a ilha Verde, até 1762 propriedade dos jesuítas, de então até 1828 de particulares, e desde 1828 do collegio de S. José de Macau, hoje seminario diocesano.
A parte de outra ilha, que apparece à esquerda da estampa, demarcando o ancoradoiro por este lado, é a ilha que antigamente chamávamos dos Padres, pelas estancias que os das ordens religiosas ahi tiveram, fronteiras à cidade; ilha a que agora chamâmos da Lapa, e os chins Toi-miu-shan, em vulgar Panthera. Na praia que d´ella avistámos, e na sua continuação para barra, tivemos até princípio do seculo XVIII as estancias da Lapa, da Ribeirinha e da Ribeira Grande; e ao sair da barra as da ilha do Bugio e de Oitem.
A historia de cada parte d´este territorio, que nos pertenceu ou pertence, interessando particularmente aos portuguezes, pôde ainda assim ser para todos fonte de grandes e aproveitaveis lições. Reservâmol-a para artigo especial
JOSÉ DE TORRES
NOTA: esta mesma ilustração foi inserida posteriormente no livro de Rocha Martins ” História das Colónias Portuguesas” (no meu “post” de 28-04-2015 ) (2) com a legenda (errada) “MACAU EM 1897“. Está incorrecta a data de 1897 pois a ilustração data (pelo menos) de 1864.
(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/11/23/macau-em-1864-vista-da-praia-grande-do-porto-exterior/
(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/04/28/leitura-historia-das-colonias-portugue-sas-de-rocha-martins/
Em 11 de Setembro de 1851, foi regulamentada a prostituição em Macau, limitando-se as residências das prostitutas às seguintes ruas:
A) Rua do Bazarinho, (1) Rua do Desfiladeiro, Travessa da Maria Lucinda, (2) Rua da Aleluia (3) e Rua de Mata-Tigre, todas no Bazarinho;
B) O sítio chamado Prainha ou Feitoria; (4)
C) O sítio do Chunambeiro; (5) e
D) Os sítios denominados Beco do Estaleiro, Travessa do Beco do Estaleiro, Beco da Praia pequena (6) e Beco do Armazém Velho. (7)
GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954.
(1) Rua do Bazarinho que os chineses chamam de Soi-Sau-Sai-Kai (水手西街) isto é, Rua dos Marinheiros, a oeste, para distinguir doutra Rua dos Marinheiros, que ficava a sul. Chamava-se Bazarinho para o distinguir do Bazar Grande em S. Domingos. Começa na Travessa do Mata-Tigre, ao lado do Pátio da Ilusão, e termina na Calçada de Eugénio Gonçalves , quase em frente a Rua das Alabardas (hoje Rua da Alabarda)
(2) Viela de Maria Lucinda – “No princípio desta viela estava escrito «Desfiladeiro». – E, umas três portas depois, estava escrito – «Travessa de Maria Lucinda.». Era preciso suprimir um dos nomes, e por isso fundi-os ambos em Viela de Maria Lucinda porque em verdade é mais uma viela do que uma travessa este caminho ” – Relatório elaborado por Manuel de Castro Sampaio, chefe da Repartição de Estatística , sobre as ruas de Macau em 1866-67 e prédios nelas existentes. NOTA do Padre Manuel Teixeira: “Ignoramos quem tenha sido esta ilustre desconhecida”
(3) “Desde a Rua do chale de Simão até outra vezinha d´escada de pedra chama-se -Rua d´Alleluia“ – Cadastro das ruas elaborado pelo Leal Senado em 1847.
“Pateo do Sal – entre a travessa da Alleluia e a rua do Manduco, na Calçada dos Remédios” – notícia no jornal “A Voz do Crente” de 6-04-1889.
(4) Rua da Prainha – começa na Calçada de Francisco António, do lado da numeração ímpar e no Pátio de Francisco António, do lado da numeração par, e termina na Calçada da Feitoria, junto da Travessa do Cais. A Calçada da Feitoria começa na Rua de S. José junto da Rua do Barão, e termina na Travessa do Cais, junto do Pátio de Chan Loc, de um lado e junto da Rua da Prainha, do outro.
(5) Rua de Chunambeiro começa na Praça de Lobo de Ávila e termina na Calçada do Bom Parto. Em chinês chama-se Siu Fui Lou Kai (燒灰爐街) que significa Rua do Forno de Cal. Chunambo era a cal obtida pela calcinação de concha de mariscos.
(6) A Praia Pequena ficava no Pátio da Mina da Freguesia de S. António.
(7) Travessa do Armazém Velho começa na Rua da Tercena, entre os prédios n.ºs 32 e 36, e termina na Rua das Estalagens, em frente da Travessa do Pagode. Em Chinês tem o nome de Lán Kuai Lau Hong (爛鬼樓巷) também conhecida por Lán Kuai Lau (ruínas da casa de estilo estrangeiro, segundo Luís G. Gomes).
TEIXEIRA; P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I, 1997