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Colecção de 10 postais (postal: 16 cm x 11 cm) intitulada

澳門老照片 / Fotografias Antigas de Macau / Old Photographs of Macao”

emitido em Setembro de 2009 pelo Instituto Cultural do Governo da R. A. E. de Macau/Museu de Macau (1), com legendas no verso de cada postal em chinês, português e inglês. Separação de cores e impressão na Tipografia Seng Si Lda.
Preço: 25 patacas. Esta minha, comprada no Museu de Macau
No interior da contracapa a fotografia do Museu de Macau com indicação da morada. Praceta do Museu de Macau, n.º 112, telefone (853) 28357911 Fax: (8539 28358503 e horário de funcionamento: 10h00 – 18h00, excepto às segundas-feiras
(1) 澳門老照片 / Fotografias Antigas de Macau / Old Photographs of Macao.  Instituto Cultural do Governo da R. A. E. de Macau/Museu de Macau, Setembro de 2009 , 1.ª edição, ISBN 978-99937-0-113-2
澳門老照片 mandarim pīnyīn: ào mén lǎo zhào piān,; cantonense jyutping: ou3 mun3 lou5 ziu3 pin3
O primeiro postal:

燒灰爐 /Àrea do Chunambeiro /Chunambeiro area
澳門十九世九十年代/Macau – década de 1890/ Macao – 1890s

A área do Chunambeiro era o antigo lugar de Macau, próximo da fortaleza de Bom Parto, no extremo sul da baía da Praia Grande. Nesse local havia antigamente fornos de cal de ostras, e também foi o local da antiga fundição de artilharia e casa de pólvora de Manuel Tavares Bocarro no século XVII (1) (2) (3)
Nessa altura para vir da Barra à Praia Grande era necessário atravessar a colina pois a marginal terminava no Chunambeiro. (4) O projecto do primeiro lanço de 135 metros da extensão da muralha de Bom Parto e aterro marginal da Praia Grande do Chunambeiro à Fortaleza do Bom Parto foi aprovado em 17 de Janeiro de 1873. (5)
O aterro do Chunambeiro foi iniciada em 1871 sob a direcção de Vicente de Paulo Portaria e continuada no mesmo ano pelo tenente Henrique Augusto Dias de Carvalho, condutor das Obras Públicas, segundo ele diz no seu relatório de 30 de Junho desse ano. (3)
(1) BOXER, Charles Ralph (anotada por) – Ásia Sínica e Japónica, Vol II. Instituto Cultural/Centro de Estudos Marítimos de Macau, 1988, 245 p.
(2) Existia no Chunambeiro a fundição de artilharia de bronze de Manuel Tavares de Bocarro de 1625 a 1656. Foi capitão-geral ou governador desta cidade de 1657 a 1664. Faleceu em Macau ou em Goa (3)
Segundo Marques Pereira in Ta-Ssi-Yang Kuo III (edição 1984), p.126, nota 2:
Manuel Tavares Bocarro fundiu peças em Macau desde 1626 a 1631.É possível que depois fosse para a India onde fundiu em 1641 a peça existente no Museu de Artilharia ou foi fundida mesmo em Macau por ordem do governador da Índia, Telles de Menezes?
(3) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I, 1997.
(4) Chunambeiro de chunambo ou chuname (6) que significa no Oriente cal de ostra – e por haver neste sítio antigamente em Macau também fornos para a queima desse marisco.
Existe presentemente a Rua do Chunambeiro (existia nos fins do século XIX ou princípios do Século XX o Largo do Chunambeiro) que começa na Praça de Lobo de Ávila  e termina na Calçada do Bom Parto. Em chinês chama-se Siu Fui Lou Kai (7)  que significa Rua do Forno do Cal.
(5) Em 1 de Outubro de 1869, o major de artilharia, Francisco Maria da Cunha, inspector das Obras Públicas, informava que em 1 de Julho a 30 de Setembro se fizera uma casa da guarda em S. Sancha «pela necessidade de estabelecer uma estação de polícia em um dos sítios mais isolados da cidade, mais importante pelas casas de campo que ali existem, e ponto quási obrigatório da passagem da povoação da Barra para a Praia Grande, atravessando a montanha intermédia».
Boletim da Província de Macau e Timor, XVI, n.º 3 de 17-01-1870.
(6) “Chunambeiro – forno para fabricação de chunambo ou local onde se fabricava chunambo.
Chunambo– cal obtida pela calcinação de conchas de ostras.”
BATALHA. Graciete – Glossário do Dialecto Macaense, 1977, pp. 144/145.
Charles Boxer (in Àsia Sinica e Japónica, Vol II, p. 234, nota 7) (1) refere: “Xinamo, Chunname ou Chunambo como cal obtida pela calcinação de conchas de mariscos. O motivo de admissão do termo indiano é que a cal da Ásia se faz de outro material. O étimo é o maliada Chunnambra, relacionado com o neo-arcaico chunã, sânscrito churna.”.
7) mandarim pīnyīn: shāo lú huī jiē; cantonense jyutping: siu 1 fui1  lou4 gaai1

          Vivia em Macau, na Rua de Felicidade, um velhinho chinês dos seus 64 anos de idade, já todo calvo e trôpego, chamado Lei Seng, sendo, porém, mais conhecido por Iok-Hei Mông, isto é, o “Tonto de Artigos de Jade“, alcunha que lhe adviera do facto da sua profissão de vendedor de artigos de jade e da sua avançada idade. Ou por pressentimento ou porque talvez tivesse motivos suficientes para suspeitar o que lhe iria acontecer, ao sair da casa, no dia 2 de Julho de 1883 – era já cerca de meio-dia e meia hora – para o seu costumado giro pelas ruas da cidade, advertira a mulher que, se não regressasse dentro de duas horas e meia, isto é, pelas 3.00 horas da tarde, o mandasse procurar. Levava consigo o seu inseparável saquinho que continha braceletes de jade e diversos outros objectos de atavio com que as damas chinesas costumavam ornamentar o penteado, todo no valor de $ 700.00.

Rua da Felicidade c 1900

RUA DA FELICIDADE c. 1900

         O homenzinho fora visto a caminhar pela Rua de S. Lourenço, mas como não regressasse a casa, na manhã seguinte, a sua família, seriamente inquieta, tratou de dar parte da ocorrência à Procuradoria, receosas como estava de a causa do desaparecimento ter talvez sido motivada sabe-se lá por algum tenebroso crime. Por seu lado, logo que lhe constou não ter o vendedor de jóias regressado à casa, o dono da ourivesaria que lhe tinha confiado as jóias para vender, desassossegado com tão misterioso desaparecimento e palpitando, também, alguma sinistra fatalidade, anunciou alvíssaras para aquele que lhe pudesse dar qualquer informação sobre o paradeiro do desaparecido. Entretanto, a Capitania do Porto remeteu à Procuradoria um saquinho contendo uma pulseira e mais alguns objectos insignificantes, que a vasa tinha deixado a descoberto na areia da praia do Chunambeiro, mesmo defronte do Palácio da Justiça, estando cortado na extremidade e manchado de sangue.

Chunambeiro c. 1890

CHUNAMBEIRO, SUL DA PRAIA GRANDE c. 1890

          Informada da participação do desaparecimento de Lei Seng e da descoberta do saquinho de jóias, que facilmente se identificou como sendo seu pertence, a polícia, dirigida pelo capitão comandante da 1.ª divisão da Guarda Policial, Caetano Maria Dias Azedo, iniciou com afinco as suas investigações, conseguindo averiguar que aparecera um indivíduo num “hão de penhor” (casa de penhores), com o fim de tentar empenhar um par de braceletes de jade por $ 150.00 e que o inquilino da casa N.º 19 da Rua do Padre António, a mais central da Freguesia de S. Lourenço, chamado Ung-Tak Tch´oi, um rapaz dos seus 19 anos, apenas, mais conhecido pelo alcunha de Mou-I-Tch´âi (Sem Orelha), mudara de residência, alugando uma casa na Rua da Felicidade, para o que pagara de pronto $ 25.00, quantia correspondente ao aluguel de um mês …(…) ………………………………………………….continua (1)

(1) GOMES, Luís Gonzaga – Páginas da História de Macau. Instituto Internacional de Macau, 2010, 358 p. ISBN: 978-99937-45-38-9