Archives for posts with tag: Praia de Cacilhas

Esta fortaleza foi construída nos princípios de 1851.(1) O encarregado da sua construção foi o major de engenheiros António de Azevedo e Cunha. Tem uma só peça de artilheria de rodisio de calibre 18. Um cabo e três soldados do batalhão de Macau constituem a sua guarnição, sendo o cabo o comandante da fortaleza” (2)

Este forte está localizado no cume da colina de D. Maria II, com uma altitude de 47 metros, a dominar (no passado) a baía/praia de Cacilhas e o Istmo da Península de Macau

Forte de D. Maria II (aguarela sobre papel; Marciano Baptista c. 1875-80; Martyn Gregory Gallery

No quadro – O forte localizado no cume da colina de D. Maria II, com uma altitude de 47 metros, a dominar (no passado) a baía/praia de Cacilhas e o Istmo da Península de Macau. No canto inferior esquerdo, a primitiva estrada de Solidão (posterior Estrada de Cacilhas)

(1) Concluído o fortim novo, a 10 de Fevereiro de 1852, sobranceiro à Praia de Cacilhas, tomou este o nome de D. Maria II, segundo a «Ordem à Força Armada n.º 9» que, por este motivo, ordenou o desmantelamento do Forte de Mong Há, por se encontrar em ruínas e desnecessário, em virtude da construção do novo fortim. O forte de Mong Há foi reconstruído e reactivado mais tarde. (3)

Extraído do «BGPMTS», VII- 8 de 21 de Fevereiro de 1852

(2) «Almanach Luso Chinez de Macau para o anno de 1866», p. 43

(*) Capitão José Joaquim da Silveira Xavier pertence ao exército de Portugal, onde deve regressar, finda que seja a sua comissão de seis meses. (2)

(+) Este oficial, (major Vicente Nicolau de Mesquita), em 25 de Agosto de 1849, atacou com trinta e seis soldados o forte de Passaleão além das portas do Cerco, que estava guarnecido com alguns milhares de chinas; e, tendo a felicidade de o tomar, foi por tão distinto feito premiado por sua magestade com o posto imediato ao de 2.º tenente que então tinha, e mereceu que os seus patrícios em Hong Kong lhe oferecessem uma espada com uma legenda alusiva ao feito. Esta espada foi feita na cidade do Porto, e entregue ao sr. Mesquita em o 1.º de Setembro de 1850. (2)

(3) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume II, 2015, p. 133.

Anteriores referências a este forte em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/fortaleza-de-d-maria-ii/

Extraído de «O Procurador dos Macaístas», n.º 4, de 27 de Março de 1844

O Governador era José Gregório Pegado, que iniciou em 6 de Outubro de 1843 até 21 Abril de 1846 (posse de João Maria Ferreira do Amaral) tendo embarcado a 28 de Maio de 1846 e falecendo em Áden, no seu regresso a Portugal nesse ano.

NOTA: a 6 de Março de 1844, foi iniciada a publicação do seminário literário e político “ «O Procurador dos Macaístas», fundado por Manuel Maria Dias Pegado. O jornal seguiu até 2 de Setembro de 1845.

Tradução dum trabalho em inglês de C. R. Boxer, (1) “O 24 de Junho de 1622”,publicado no «Boletim Geral das Colónias», em 1926 (2) a parte (V) “A Batalha”, reproduzo as primeiras páginas (27 a 30) referentes ao bombardeamento do baluarte de S. Francisco, desembarque na Praia de Cacilhas, o comandante Reijersen gravemente ferido e substituído.

Pormenor do Plano da Cidade de Santo Nome de Deus de Macau como era no ano de 1622 (3) O avanço e a retirada dos holandeses.
Praia de Cacilhas

Continua …  leitura em: http://memoria-africa.ua.pt/Library/ShowImage.aspx?q=/BGC/BGC-N016&p=1

Monumento da Vitória

(1) C. R. Boxer, na data do trabalho, tenente do Exército Inglês e Sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa. Ver anteriores referências neste blogue: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/c-r-boxer/

 (2) BOXER, C. R. – O 24 de Junho de 1622 – Boletim Geral das Colónias, ANO II, n.º 15 SET 1926, pp.  117-128 e n.º 16, OUT 1926 pp. 27- 41.

(3) Plano da Cidade de Santo Nome de Deus de Macau como era no ano de 162

Lembra-me perfeitamente de que me contaram que no sítio da Bocca do Inferno, próximo da Praia de Cacilhas (onde os hollandezes desembarcaram em 1622) (1) existia uma espécie de caverna ou furna por onde o mar entrava produzindo um ruido retumbante; e que no fundo d´essa caverna estava enterrada no lodo uma peça que, na vasante, se apresentava meio descoberta, comida de azabre ou de ferrugem, e era proveniente dos hollandezes que na fuga precipitada para os seus barcos a deixaram ali abandonada.
Bastantes vezes perguntei a pessoas vindas de Macau notícias da Bocca do Inferno e da tal peça, sem que nenhuma d´ellas mostrasse conhecer taes cousas. Já estava persuadido de que tudo não passava de fantasia infantil, quando, há tempos, tendo comprado n´um dos alfarrabistas de Lisboa uma valiosíssima planta de Macau, (que me parece autographa e inédita) de que nunca até então tivera notícia, lá vi marcada a norte da Praia de Cacilhas a já tão esquecida Bocca do infreno. Da peça é que não reza o papel. Que investiguem se existe ainda tal curiosidade os meus patrícios de Macau, se a água do mar a não comeu já de todo, ou se as ostras e mexilhões a não converteram á laia de rochedo ou pedregulho”. (2)
(1) Ver anteriores referências a este episódio da história de Macau em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/1622/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/monumento-da-vitoria/
(2) “Hollandezes contra Macau Comprovação de duas façanhas”  – Ta Ssi Yang Kuo Archivos E Annaes Do Extremo Oriente Portuguez , 1899-1900,  Série I – Vols I e II, edição 1984, p. 96.

Extraído de «Arquivo das Colónias» – Vol. II, n.º 11, de 15 de Maio de 1918.

Continuação do relato do “III GRANDE PRÉMIO DE MACAU” (1) iniciado na postagem de ontem, dia 3 de Novembro.(2)
A manhã de domingo, dia 4 de Novembro, despontou um tanto enovoada, fazendo prever que não se teria o mesmo bom tempo da véspera.
E de facto, uma chuva miúda e impertinente veio prejudicar o desenrolar da grande prova quando esta se encontrava na sua melhor fase.
Com a pista ainda molhada, pois tinha estado a chover na noite anterior, os automobilistas inscritos na grande corrida começaram a treinar muito cedo. No treino do dia anterior, os melhores tempos foram obtidos pelo «Mercedes 190SL» de Douglas Steane (n.º 6) (3m 46s), «Ferrari Mondial» de Mário Lopes da Costa (n.º 16) (3m 49s) e «Austin Healey M.» de Robert Ritchie (n. 21) (3m 52s).
Os 18 carros que entraram na pista

Antes da corrida todos os volantes foram apresentados ao Encarregado do Governo, Brigadeiro Portugal da Silveira
Os carros alinhados na pista antes de ser dado o sinal de partida

Pela ordem dos melhores tempos obtidos no treino do dia anterior foram colocados na pista em 7 filas, com a seguinte distribuição:
Às 12 horas precisas, o Encarregado do Governo, Brigadeiro João Carlos Quinhones de Portugal da Silveira deu sinal de partida coma Bandeira Nacional.
Apesar da chuva, à volta do Circuito dezenas de milhar de espectadores não abandonaram os seus lugares. Desses milhares, cerca de 10 mil turistas tinham vindo de Hong Kong propositadamente para assistirem às provas.
À 13.ª volta, começaram a sentir-se umas gotas de chuva, o que obrigou os carros a diminuir sensivelmente a velocidade. Na 17.ª volta, um acidente grave que não trouxe contudo consequências funestas.
O «MG-A» (n.º 31) de P. Molyneux, embateu contra a muralha na Praia de Cacilhas sofrendo grandes danos quer na carroçaria quer no motor. O volante partiu-se em dois bocados, enquanto o condutor, com ligeiros ferimentos, chegou a perder os sentidos. Conduzido ao hospital, numa auto-ambulância, ali recebeu os necessários tratamentos.
Na 34.ª volta, o «Mercedes 190 SL» n.º 6, que seguia, em primeiro lugar, com 2 voltas de avanço do «Ferrari Mondial» n.º 16, sofreu um acidente, indo o carro embater contra a guarita do Posto Fiscal colocada na extremidade da Avenida (então denominada) Dr. Oliveira Salazar, defronte do Quartel de S. Francisco. Parou nos poços, onde perdeu cerca de 3 minutos para receber beneficiações e reentrou depois na pista , com apenas uma volta de avanço sobre o «Ferrari».
Entretanto, o «Ferrari» n.º 16 sofreu por sua vez um acidente talvez mais grave ainda que o do «Mercedes», o que levou a perder mais de 5 minutos nos poços. Dum embate contra umas árvores, próximo do Quartel de S. Francisco, resultou grande estrago de carroçaria. A porta do lado esquerdo teve de ser arrancada. Lopes da Costa não desanimou e voltou à pista tão depressa os mecânicos o largaram. Na pista entrou em 6.º lugar mas ainda conseguiu atingir a 2.ª posição.
Apenas 12 carros completaram as 60 voltas, número mínimo de voltas que cada carro tinha de fazer para se classificar na prova.
O «Femcar» n.º 5, embora tivesse perdido uns preciosos minutos nos poços, continuou na prova, assim como o n.º 21, «Austin-Healey M» de Ritchie, que embora com o motor avariado, não abandonou a prova.
Lopes do Costa, sem esperanças já de apanhar o carro de Steane, ainda no comando ultrapassa entretanto na 69.ª volta, o seu compatriota Macedo Pinto, n.º 11 e vai colocar-se em 2.º lugar.
A Grande corrida termina com 77.ª voltas feita pelo «Mercedes 190 SL» conduzido Douglas Steane, sargento do Exército britânico e o 2.º classificado na prova do ano passado.
A Classificação final foi a seguinte

NOTA MUITO ESPECIAL:
O que mais entusiasmou o público neste Grande Prémio foi a condução do americano George Baker no seu «Ford Thunderbird» (n.º 2) que tendo partido da grelha da 3.ª fila manteve-se após partida o 7.º lugar, sempre com uma calma admirável e grande perícia fazendo autênticas acrobacias como o seu carro que já era de mudanças automáticas. Ao mesmo tempo, durante a prova, teve tempo de comer sanduíches, beber café e ouvir o relato da corrida transmitida pela emissora «Vila Verde», num aparelho portátil colocado sobre os joelhos. Era com este desportivismo, autêntico amadorismo e também humorismo que os primeiros grandes prémios decorriam para gáudio do público presente.
(1) Retirado de «MBI» IV-79, 1956
(2) Anteriores referências ao III Grande Prémio de Macau
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/iii-grande-premio-de-macau/

No dia 4 de Março de 1899, o Major Engenheiro Augusto César de Abreu Nunes, Director das Obras Públicas de Macau, avisou os parentes das pessoas enterradas no «cemitério de empestados»(1) na Estrada da Solidão (2) que segundo ordem do governo vai proceder naquele local as obras de saneamento e aterro.(3)

Praia de Cacilhas Bol AGCII -16 pp. 27-41 BOXER

Praia de Cacilhas ( primeiro plano); Colina de D. Maria II (ao fundo)
Foto retirado de ” B. G. A. 1926″

(1) “Cemitério de empestados” porque “aportou à Baía de Cacilhas em 16-8-1888, o transporte de guerra Índia tendo-se declarado a bordo «cólera morbus», contraída  em Hong Kong. Montaram-se lazaretos improvisados junto à Fonte de Solidão, na Ilha Verde, na Taipa, e naturalmente em Cacilhas. Os lazaretos em Cacilhas, junto à Fonte de Solidão eram para os doentes mais graves, tendo ali morrido 32 empestados, curando-se 74.” (4) Para evitar a propagação da peste foram enterrados os mortos, em Cacilhas. Aliás já essa zona era utilizada por chineses (muito antes da proibição, por lei, dos enterramentos fora dos cemitérios) para enterrarem os mortos dado ao bom “Feng Shui” (“Fông Sôi”, em cantonense) – geomancia chinesa.(5)
(2) A Estrada de Solidão (por passar pela fonte com este nome) era o nome antigo da via pública que estava à beira mar e que hoje se chama Estrada de Cacilhas ( começa ao cimo da Calçada do Paiol, junto ao Cemitério dos Parses,  e termina entre a Avenida de Sidónio Pais e a Estrada de Ferreira do Amaral. É por isso que o nome em chinês desta Estrada é 海邊馬路 (6), estrada à beira mar. Mas mesmo os residentes (principalmente os motoristas de táxi) chineses em Macau desconheciam (nas décadas de 50 e 60 – século XX) a localização desta Estrada. Mas conheciam-na (talvez por tradição oral muita antiga) como 劏狗環 (7) orla (beira, borda) onde se matava os cães.
Anteriores referências desta Estrada e a Fonte de Solidão em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/estrada-de-cacilhas-solidao/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/fonte-da-solidao/
(3) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 3, 1995.
(4) Ver este episódio relatado em:
https://nenotavaiconta. wordpress.com/tag/colera)
(5) Geomancia chinesa: 風水mandarim pinyin: fēng shuǐ; cantonense jyutping:  fung1 seoi2
(6) 海邊馬路mandarim pinyin: hǎi  biān  mǎ  lù; cantonense jyutping: hoi2 bin1 maa5 lou6 –  estrada (cavalo) beira mar
(7) 劏狗環mandarim pinyin: tāng gǒu huàn; cantonense jyutping: tong1 gau2 waan4 – orla (beira, borda) matança cães

19-02-1852 – Concluído o fortim novo, sobranceiro à Praia de Cacilhas, tomou este o nome de D. Maria II, (1) segundo a «Ordem à Força Armada n.º 9» que por este motivo, ordenou o desmantelamento do Forte de Mong-Há, por se encontrar em ruínas e desnecessário, em virtude da construção do novo fortim.” (2)
No entanto, o Forte de Mong Há foi reconstruído e reactivado mais tarde. (3)

Ta-Ssi Yang-Kuo Fortim de D. Maria II (1899)FORTALEZA DE D. MARIA 2.ª E LAZARETO
Photograv. de P. Marinho, segundo uma photographia do sr. Carlos Cabral (1899)
(Ta-Ssi Yang-Kuo, Vol. I/II)

De acordo com a ordem n.º 19 do quartel General Militar, de 17 de Fevereiro de 1852, este forte foi ocupado militarmente, nessa data com a intenção de substituir o forte de Mong-Ha, apesar da localização deste último ser de longe superior. Foi edificado sob a direcção do oficial engenheiro Major António de Azevedo e Cunha. (1)
Em 1872, na Fortaleza de D. Maria 2.ª, «fizeram-se nesta fortaleza todos os concertos e reparos de que precizamos; nas muralhas, no terrapleno; no quartel do destacamento; no paiol; e na ponte levadiça junto da entrada, fazendo-se de novo para esta, um molinete» (4)

FORTIM DE D. MARIA II 2015Portal da entrada do Forte de D.Maria II /馬交石炮台 como está actualmente, vendo-se o local onde estava a ponte levadiça. Observar o parapeito saliente, onde se encontram ameias que serviam para o defesa do portal de entrada.
(Foto de https://pt.wikipedia.org/wiki/Fortifica%C3%A7%C3%B5es_de_Macau)

O forte de D. Maria II, bem como o de Mong Há e o  da Taipa são as últimas fortalezas  construídas pelos portugueses em Macau (todas já do século XIX) e têm uma função  diferente das primitivas Já não serviam para se defenderem dos ataques dos estrangeiros e piratas mas para defenderem de eventuais ataques vindas do continente chinês, após o trágico assassinato de Ferreira de Amaral
A casamata deste forte foi destruída por uma bomba durante o bombardeamento americano a Macau em 16 de Janeiro de 1943. (5)

MACAU PASSADO E PRESENTE 1907-1999 Colina , Forte de D. Maria IIFORTE DE D. MARIA II no topo,  o LAZARETO mais abaixo e a antiga Estrada de D. Maria II.
Foto de Man Fook (1907) (6)

O Fortim está classificada como património arquitectónico, paisagístico e cultural desde 1984 e mantido sempre este estatuto nas sucessivas revogações, a última em 2013 (Lei n.º 11/2013 da RAEM de 22 de Agosto – Lei de Salvaguarda do Património Cultural).
Hoje recuperado, no entanto, não é visitável o seu interior; o parque que o rodeia é um lugar aprazível com uma boa vista para o reservatório  e o Porto Exterior.
馬交石炮台- mandarim pinyn: mǎ jiāo dàn bāo tái; cantonense jyutping: maa5 gaau1 daam3 baau1 toi4.
(1) “Este forte está localizado no cume da colina de D. Maria II, com uma altitude de 47 metros, a dominar a baía de Cacilhas e o Istmo da Península de Macau. Objectivo: apesar da sua posição estratégica ser inferior, foi construído para substituir o forte de Mong-Ha. Mais tarde  a sua missão principal foi a de reforçar e fornecer fogo de cobertura ao forte de Mong-Ha e, assim, funcionava como posição auxiliar. Tinha também a função de cobrir a Baía de Cacilhas afim de proteger as suas margens. Por isso, a sua única arma era rotativa num arco de 360.º. Apesar de tudo, este forte nunca deve ter sido muito eficiente.”
GRAÇA, Jorge – Fortificações de Macau , Concepção e História, 198?
(2) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954.
(3) “Os trabalhos de fortificações na colina de Mong-Ha foram iniciados pelo Governador Ferreira do Amaral em 1849 como uma medida preventiva de defesa contra uma temida invasão chinesa, mas não foram concluídas devido ao seu assassinato.”  Foram retomados em 1850, mas em 1852 estavam praticamente reduzidas a ruínas. Em 1864  foi reconstruído o forte  por ordem do Governador Coelho do Amaral e ficou concluído em 1866.”(1)
Carlos José Caldeira a propósito da visita do Governador Francisco António Gonçalves Cardoso (chegou a Macau 26-01-1851 e tomada de posse a 3-02-1851) às fortalezas de Macau: « Em todas as fortalezas poucas peças estavam em estado de fazer fogo e não continuado; no já quasi desmoronado forte de Mohá (feito haveria pouco mais de um anno) n´um dos canhões principais, dirigido sobre a Porta do Cerco, no ouvido faziam as lagartixas seu sossegado ninho; as poucas munições estavam fechadas num caixão do qual se perdera a chave havia tempos, etc, etc, etc… Sirva isto só de dar idêa de todas outras misérias. E, no entanto que faziam os governadores de fortalezas, e o major de engenheiros, todos com denominações alti-sonantes, e bons soldos gratificações?. Tratavam das suas hortas, ou passavam vida airada e folgasã…
O major  de engenheiros, mandado de Portugal pelo Egipto com avultada despesa, recebia mensalmente em Macau 116 patacas»
CALDEIRA, Carlos José – Apontamentos d´uma viagem de Lisboa à China e da China a Lisboa , 1852.
(4) Relatório o Director das Obras Públicas, Ten-Cor. Francisco Jerónimo Luna, relativo a 1871-1872 in TEIXEIRA, Pe. Manuel – Os Militares em Macau, 1975.
(5) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/01/16/noticia-de-16-de-janeiro-de-1945-bombarde-amentos-em-macau/
(6) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/05/01/noticia-de-1-de-maio-de-1911-epidemia-de-peste-bubonica/
Referências anteriores a este fortim:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/fortaleza-de-d-maria-ii/

“11-12-1841 – Data provável – porque não se deu logo conta – do suicídio do inglês Thomas Beale, em Macau. Devia $ 112.316,839 patacas em parcelas e a entidades perfeitamente conhecidas, e não tinha como pagar. Deixou uma carta pedindo perdão a Deus, à família e amigos pelo seu acto de desespero. Enriqueceu com o ópio este londrino que chegou a Macau em 1781. O jardim da sua residência, na Rua do Hospital, era famoso em todo  o oriente pelas plantas, flores e pássaros raros e exóticos. Também tinha uma preciosa biblioteca. Perdeu-se com a Lotaria de Calcutá, onde apostou fortemente até ao fim.” (1)
O seu corpo deu à costa na Praia de Cacilhas e foi reconhecido somente pela roupa. Thomas Beale declarou em 1816 a insolvência e foi considerada na altura “a mais sensacional bancarrota do período

CHINNERY - Retrato de Thomas BealeRetrato de Thomas Beale por George Chinnery

Thomas Beale (cerca 1775-1841) naturalista escocês, negociador de ópio, comerciante na China, foi secretário do seu irmão mais velho Daniel Beale, (2) cônsul da Prússia em Cantão, desde 1787,. Torna-se mais tarde cônsul, de 1797 a 1814. É sócio com o seu  irmão nas  firmas Magniac & Co que comercializava ópio, algodão e chá e “Cox & Beale” (após a morte de John Henry Cox em 1790, sócio fundador com Daniel Beale em 1787).
Conhecido pela sua hospitalidade, a residência de Thomas Beale em Macau tinha um jardim com 2500 vasos de plantas e era um local de visita dos estrangeiros que passavam ou residiam em Macau.
Um aviário de 12,2 cm x 6,1 cm continha centenas de pássaros raros da China, Europa, Sudoeste Asiático e América do Sul. George Vachel , capelão da Companhia das Índias Orientais descreveu ao seu amigo John Stevens Henslow (professor de Botânica na Universidade de Cambridge e mentor de Charles Darwin) que no aviário estaria  cerca de seiscentos pássaros.   Quando o naturalista George Bennett visitou Macau na sua viagem pelo Pacífico, descreveu no seu diário , em 45 páginas , o jardim e o aviário e considerou a residência de Thomas Beale como “”one of the finest of the old Portuguese houses … on a narrow street known as Beale’s Lane“. (3)

Cemitério dos Protestantes - Thoma BealeFoto de Chris Nelson (5/24/2006)
http://www.findagrave.com/cgi-bin/fg.cgi?page=pv&GRid=12805092&PIpi=3209653

William Wightman Wood (“Sketches of China: with illustrations from original drawings “ escreveu:
“...in particular I may mention the bird-of-paradise. A splendid living specimen is in the possession of Mr. Beale almost domesticated. It feeds from the hand of its amiable owner without fear, and appears capable of being rendered perfectly tame and familiar. This is perhaps the only specimen at present existing in confinement.”

Cemitério dos Protestantes - Thoma Beale II

Foto de Chris Nelson (5/26/2006)
http://www.findagrave.com/cgi-bin/fg.cgi?page=pv&GRid=12805092&PIpi=3218100

Repousa no Antigo Cemitério Protestante, (no terraço inferior, n.º 160) para onde foi transladado um mês depois da sepultura clandestina que, a 11 de Dezembro de 1841 lhe deram, na praia de Cacilhas, os pescadores que o encontraram morto. (1)
(1) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 3, 1995.
(2) Daniel Beale (1759-1827) era comissário de bordo de um dos navios da Companhia das Índias Orientais e  está sepultado lado do seu irmão Thomas Beale (no terraço inferior n.º 161)
(3) https://en.wikipedia.org/wiki/Thomas_Beale

O edifício do Hotel Boa Vista (após 1936, Hotel Bela Vista), debruçado sobre o Bom-Parto e a baía de Bom Pastor, terá sido construído em 1870 para residência da família Remédios e foi no ano de 1890, registado como Hotel, passando a ser propriedade do Capitão Inglês William Edward Clarke. (1)
Foi inaugurada como unidade hoteleira europeia a 1 de Julho de 1890 (2) e a gerência do Hotel manteve-se na família Remédios: L. M. Remédios e sua esposa Maria Bernardina dos Remédios, de 1891 a 1894. (1)

Hotel Boa Vista MAN FOOK 1907O HOTEL BOA VISTA (Foto de MAN FOOK), 1907

Embora o Hotel Boa Vista esteja registado no Registo Predial com a data de 1900 (n.º 5 431 (3), já em 18-11-1899, estava inscrito no Livro do Tabelião Serpa, como pertencente ao Capitão da Marinha Mercante Inglesa William Edward Clarke e mulher, Catherine Hannack Clarke. (1)
A 11 de Novembro de 1899, Clarke e sua esposa hipotecaram o hotel por $ 15 000,00 à “Hong Kong , Canton and Macau Steamer C.º” (onde Clarke trabalhava como capitão); essa quantia foi paga a 21 de Novembro de 1901. Quando o Governador da Indochina Francesa quis comprar o hotel, para aí instalar um sanatório militar e naval, (para a convalescença dos funcionários civis e militares que eram atacados de febre paludosa) “levantou-se tamanha celeuma na imprensa e no parlamento inglês que o governo português se viu obrigado a expropriá-lo para aplacar as iras do leão britânico” (TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I). O governou expropria o edifício e vende-o à Santa Casa da Misericórdia por 80 mil patacas.
(1) Não é certo que tenha sido proprietário em 1890 pois em Março 1891, Maria Bernardina dos Remédios aparece em assentos documentais como proprietária do Hotel para reclamantes perante o novo Regulamento de Décimas e Impostos, e em 31 de Maio de 1891, no Processo n.º 339/G, regista-se um recurso interposto ao Conselho da província por Maria Bernardina dos Remédios, após pedido de redução verbal apresentado por Maximiano António dos Remédios e não atendido, contra a Junta de Lançamento de Décimas, que desatendeu a sua reclamação em relação ao valor locativo do Hotel Boa Vista. O Conselho de Província atendeu, em 13 de Junho do mesmo ano, baixando das $750.00 para $ 500.00, por ser tratar de uma unidade hoteleira incipiente (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Vol. 3, 1995).
(2) O jornal «Hong Kong Daily Press» do dia 4 de Julho de 1890, «acaba de aparecer uma importante contribuição para as instalações hoteleiras de Macau. O Hotel Boa-Vista, belo e novo edifício com 20 quartos, situado na Baía do Bispo, (4) frente ao Mar do Sul, foi aberto a 1 de corrente… (…). Mrs Maria Bernardina dos Remédios passou a ser apenas gerente” (TEIXEIRA, Pe.M – Toponímia de Macau,  Vol. II)

 Hotel Boa Vista 1910HOTEL BOA VISTA, 1910

(3) Registo Predial N.º 5431 (Ano de 1900): prédio urbano denominado Hotel Boa Vista e dependências sito na freguesia de S. Lourenço, Rua do Tanque do Mainato,(5) tendo a sua entrada principal o n.º1 de polícia …(…) É formado principalmente , pelo Hotel Boa Vista, que abre para esta Rua do Tanque do Mainato e mais cinco terraplenos, ligados por escalas de pedra servindo de jardins, com árvores e duas casetas. Ao fundo do lado do mar tem três tanques pequenos de pedra, dos quais um está arrasado, bem assim a muralha que cercava nesse sítio a propriedade. Tem o valor venal de vinte e cinco mil patacas segundo mostra a escriptura de compra e venda donde se extraiu esta descripção a fls. 47v do Liv. 25 de notas do Tabelião em 18 de Novembro de 1899.(TEIXEIRA, Pe. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I.)
(4)”Havia a praia de Cacilhas, na base do Ramal dos Mouros, hoje totalmente coberta pelo Reservatório, a Praia da Guia onde se erguia a antiga Chácara do Leitão, a Praia do Bom Parto, a Praia do Bispo, onde nadavam os ingleses do Hotel Bela Vista, outro hotel de serviço europeu, e a Praia do Tanque do Mainato, estas duas últimas na baía do Bom Pastor que vai da curva de Bom Pastor à ponta de Santa Sancha” . ” Onde hoje está o Ténis Civil, ficava estão a Baía do Bispo.” “O Tanque do Mainato ficava entre a Baía do Bispo e a Vacaria do Vaz ou Leitaria Macaense, a qual ocupava a área atrás da antiga casa da Obra das Mães.” (TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I)
(5) O edifício do Hotel Boa Vista, depois Bela Vista, fica na rua do Comendador Kou Ho Neng antes chamada Rua do Tanque do Mainato ( durante séculos com esse nome por haver ali um tanque onde os mainatos lavavam a roupa. No próprio jardim do Hotel Boa Vista havia outrora três tanques de pedra que depois foram tapados). (TEIXEIRA, Pe. M. – Toponímia de Macau, Volume I).  Hoje, residência oficial do cônsul Geral de Portugal em Macau.