Mês de Agosto é mês de férias. Em Macau, nas décadas de 60 e 70 do século passado, a juventude escolar (para aqueles com alguma folga económica) e poucas opções recreativas, procurava as ilhas de Taipa e Coloane nomeadamente as suas praias, principalmente aos domingos, enchendo as lanchas das carreiras. Na década de 50 e princípios 60 ainda se ia à praia da Taipa (1) (ficava mais perto quer na viagem quer depois na deslocação a pé, da ponte cais à praia) mas depois nas décadas de 60 e 70 , somente as praias de Cheoc Van e Hac Sá (menos vezes, pois ficava muito longe da ponte cais).
Mas a maioria da juventude procurava as instituições que facultavam aos filhos dos seus associados, ou aos seus estudantes, dias de férias nas chamadas «Colónias de Férias» ou «Colónias Balneares». Gratuitamente ou por um preço, que era quase simbólico, os adolescentes e crianças passavam pelo menos uma semana, sob os cuidados de adultos.
Assim no ano de 1972 funcionaram algumas colónias na Ilha de Coloane que uma reportagem de uma revista da época (2) retratou-as
Começamos pela Colónia de Férias do Colégio D. Bosco.
“ A meia encosta da colina que se ergue ao lado direito da praia de Cheok Van, construíram os Padres Salesianos do Colégio D. Bosco uma obra esplêndida: a vivenda para os seus alunos. Gozando duma situação invejável, no que se refere aos ventos e às vistas que se desfrutam do seu mirante, a «Vila D. Bosco» abre todos os anos as suas portas a muitos jovens de Macau que queiram aproveitar-se dos seus serviços para agradáveis férias.
Logo pela manhã, fomos surpreender os jovens entretidos a ler livros instrutivos e recreativos, na ampla sala de entrada, enquanto outros se entregavam a jogos de mesa daqueles que prendem o espírito mas sem o fatigarem.
Alguns, encostados aos resguardos da larga varanda que quase circunda todo o edifício, conversavam, enquanto que olhavam para a beleza do panorama que se estendia diante dos seus olhos, o mar sem fim e a verdura da montanha que extasia.
Ajudando no arrumo da casa, os jovens não se desdenham de pegar na vassoura e com ela varrer o que disso necessita, na ideia de que o trabalho a ninguém avilta.
Os religiosos (salesianos) que dirigiam esta colónia de férias identificavam-se com os rapazes que lhes estavam confiados, entregando-os aos mesmos divertimentos por que expandem uma energia e exigir ocupação.
Quando nos afastámos da «Vila D. Bosco», tivemos de procurar a berma da estrada, para dar passagem a dois jovens que percorriam de bicicleta os caminhos de Coloane…” (2)
(1) A chamada praia de Nossa Senhora da Esperança, hoje transformada numa zona pantanosa (mangal), mesmo á frente das casas-Museu da Taipa.
(2) «MACAU B. I. T. , 1972»
“Inauguração após renovação, em Abril de 1956, do Jardim Público e Miradouro situados à esquerda da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, e junto à praia da Taipa.
Três fogões de cimento, especialmente construídos na extremidade Sul para esse fim, permitem aos visitantes a agradável facilidade de cozinharem ou aquecerem os seus petiscos ao ar livre, enquanto um caramanchão, guardado por dois ciprestes e que a seu tempo se cobrirá de trepadeiras, ensombreia uma grande mesa de marmorite, pronta a aparar as iguarias que farão as delícias dos excursionistas.
O MESMO JARDIM – TAIPA – ABRIL 2015
A toda a extensão da praia na encosta da Colina do Carmo, viçosas flores espalham seus aromas pelo relvado e pelas graciosas avenidas que levam ao mar, num conjunto harmonioso de singular exotismo e de arrebiques que fazem lembrar as histórias dos Jardins de Castelos de «Fadas e Mouras Encantadas».
Num pequeno lago, também ajardinado, ao lado da Igreja, com dois baloiços e outros tantos escorregadouros de madeira, expande a pequenada suas alegrias e fabrica suas inocentes brincadeiras enquanto não toca o sino para as aulas, ou não chega, nos dias de mais calor, o momento de poder nadar. Um pormenor que nos chamou a atenção: de cada lado duma das escadas que conduzem à praia, um escorregadouro de cimento por onde algumas crianças deslizavam alegremente.
O MESMO JARDIM – TAIPA – ABRIL 2015
A dominar a paisagem batida pelas ondas e refrescada pela brisa do mar, uma pequena esplanada com mesas e assentos semicirculares de cimento, pintados a vermelho, tendo ao fundo um rico balneário.
O jardim público recente remodelação do que já existia no mesmo local, ornamentado com novas plantas, provido de engenhosos canteiros e enriquecido com larga variedade de flores, ostenta ainda ao centro o aquário-repuxo e ao fundo quatro grandes gaiolas com periquitos, canários e pintassilgos, bicos-escarlates e pardais de Batávia.
Lá estão ainda a árvore de S. João e a Velha Palmeira, Á direita, e quatro Araqueiras altivas, quase à entrada e ao fundo.” (1)
O MESMO JARDIM TAIPA – ABRIL 2015
NOTA: ” Sintoma também da falta de técnicos é um pequeno jardim que se debruçava sobre a zona sul da Taipa (Baía de Nossa Sr.ª da Esperança). Neste espaço o miradouro Dr.ª Laurinda Marques Esparteiro – construído entre Novembro de 1954 e Abril de 1955 a partir de um projecto do então presidente da Junta local das Ilhas, António Maria da Conceição – revela-se de uma cândida imaginação, traduzida na rica inventiva das variadas peças – escadas, floreiras, vedações, mesas e bancos. Dada a semelhança de estilo devem-se certamente ao mesmo autor os jardins junto à antiga Ponte fluvial do Carmo e à Fortaleza da Taipa. Aqui, entretanto, e felizmente as poucas habilitações do projectista funcionaram num sentido positivo, pois dificilmente um técnico com uma formação académica evidenciaria tal liberdade de criação.”
SARAIVA, António M. P. – Jardins e a história de Macau in Macau, encontros de divulgação e debate em estudos sociais, pp. 193-205.
(1) Macau Boletim Informativo ANO III, Abril 1956