Archives for posts with tag: Praia da Areia Preta

“O grande acontecimento social de Macau em 1933 foi a inauguração do Edifício da União Recreativa, à Areia Preta, junto do Hipódromo, a 25 de Março.

Temos a descrição do imóvel, relatado em “A Voz de Macau”: “O elegante edifício, de linhas sóbrias e bem lançadas, é bastante amplo. No terreno vasto que lhe pertence, onde, à direita, existe já um parque para estacionamento de automóveis, ficarão instalados os campos de Futebol, Ténis, Golf, Basket-Ball, Hockey, e ainda um Parque Infantil para diversão dos filhos dos sócios, estando a Direcção envidando os seus melhores esforços para conseguir a realização duma ampla piscina”.

A Sociedade da União Recreativa foi fundada em 1924 por um grupo de macaenses que se reuniam para tocar música. Eram uns vinte e, entre eles, destacamos, sem desdouro para outros, António Ferreira Batalha, Paulino A. da Silva, Pedro e Alberto Ângelo e António Galdino Dias. Do entusiamo destes vinte, nasceu a ideia de criar um Centro Musical. Pouco a pouco, pelo dinamismo dos fundadores, o número de sócios aumentou, chegando a duzentos, número importante em relação à exiguidade da população portuguesa no Território. Agora já não era apenas um centro musical, mas também um centro recreativo e desportivo. O grupo representativo da União Recreativa, no futebol, era importante nos fins dos anos 20 e só foi dispersado quando rivalidades internas levaram os seus componentes a agruparem-se no Argonauta e no Tenebroso. Não havia sede nem instalações adequadas para comportar tamanho número de sócios. As festas e outras iniciativas exigiam um novo prédio. Mais uma ideia brilhante nasceu: o plano duma espécie de country club, fora de portas, em sítio calmo e ameno, onde a Sociedade pudesse dar largas às suas actividades. A Areia Preta era então um local ideal, pelo seu sossego, pelo ar de praia que ainda possuía. É preciso lembrar que a cidade morria na orla da avenida Horta e Costa; e, dali para o mar e para a Porta do Cerco, havia apenas algumas casas, tipo vilas, o Canídromo, o Hipódromo, aldeamentos chineses e imensos terrenos baldios. A Sociedade teve o apoio incondicional do Governador Tamagnini Barbosa. O Governo subsidiou, também a Associação dos Proprietários do teatro D. Pedro V, e outros vieram da iniciativa privada.

Ficou-nos na memória a festa da inauguração. Ainda nos lembramos de ver muita gente e estarmos à frente duma mesa pejada de iguarias e guloseimas, dum riquíssimo “chá gordo”. Discursaram o Presidente da Sociedade, António Ferreira Batalha, o Encarregado do Governo, Rocha Santos, e o Dr. Américo Pacheco Jorge, como representante da mais antiga agremiação macaense, o Clube de Macau. “A Voz de Macau” remata o seu artigo de 26 de Abril, com as seguintes palavras:

“Seguiu-se a assinatura da acta da inauguração, após o que numerosas pessoas assistentes dispersaram pelo amplo edifício e campos adjacentes, formando aqui e além pequenos grupos de cavaqueira, enquanto outros, os apreciadores de danças, iniciando a série de fox-trots, steps, valsas, etc., enlaçavam as gentis senhoras e meninas, danças que se prolongaram até cerca das 21 horas, com muito pesar dos fervorosos que desejariam que elas se prolongassem pela noite adiante. Mas Roma e Pavia não se fizeram num dia; e, como outras interessantes e simpáticas festas decerto se hão-de seguir, tirarão então a desforra…”

Não nos lembramos de ter havido campos de futebol, hóquei, golfe e basquetebol. Nem a piscina projectada. O que houve e tivemos ocasião de presenciar, foram as grandes partidas de ténis nos seus courts arejados e de vista ampla. A vida da União Recreativa foi brilhante nos primeiros anos, com festas e outras actividades que ficaram notáveis. Decaiu nos anos de 30 para reviver com a Guerra do Pacífico, sob outro nome – o Clube Melco. Mas este assunto será tratado noutra ocasião.

FERNANDES, Henrique de Senna – Cinema em Macau III (1932-36) in Revista da Cultura, n.º 23 (II Série) Abril/Junho de 1995, pp.151-152. Edição do Instituto Cultural de Macau. Disponível para leitura em: ttp://www.icm.gov.mo/rc/viewer/30023/1797

Postais antigos de Macau que circulam (alguns encontram-se á venda) nos sítios da net

MACAU – Pôr do Sol (década de 10 – século XX ?) 

Foto da Colina da Barra

“Areia Preta” – Batting Beaches Macao (década de 10 – século XX ?)
Sold by Graça & Co., Hong Kong, China
 

Extraído de «BGU» –  XXXIV – 398, Agosto 1958, pp. 198/199

 

Aquele que, deixando Hong Kong viesse a Macau pela primeira vez, gozava as delícias de uma curta viagem de quatro horas, rodeado do maior conforto e desfrutando uma paisagem admirável por entre ilhas e ilhotas cobertas de vegetação e semeadas a capricho, como se tal disposição obedecesse à finalidade de proporcionar o imprevisto.
Para trás ficava a imponente colónia inglesa, cheia de grandeza e majestade, lançada pela íngreme vertente, que parecia dirigir-se ao Céu… (…).
E quanto mais o pequeno e confortável navio se aproximasse de Macau, tanto mais mudava a feição de tudo, desde a brisa, que se tornava suave e branda, à cor das águas, que reflectiam na superfície o amarelado dos fundos que as correntes cobriam de lodo.

A Baía e a Praia Grande (final da década de 40, século XX)

Passadas as Nove Ilhas, semelhantes a nove irmãs imorredouras, que a lenda não deixa esquecer, avistava-se à distância a “Porta do Cerco”, a praia da “Areia Preta”, a “Chácara do Leitão”, mostrando-se no cimo da “Montanha da Guia” o célebre farol, o mais antigo da Costa da China.
Na outra elevação próxima, distinguia-se o “Hospital Conde de São Januário” , que dominava o grande casarão que outrora fora Convento de S. Francisco e que servia de Quartel de Infantaria.
É, então, à recortada costa de pequenas enseadas, seguia-se a “Baía da Praia Grande”, em curva caprichosamente feita, deixando antever as delícias de uma pequena cidade de paz e sossego…(…)
O casario caiado a cores garridas, as Igrejas, as Capelas, os Fortes, Fortins e Bastiões, as casas solarengas e a quietude dolente e embaladora, não deixavam dúvidas de que a China deveria estar longe desta terra, que tudo indicava ser portuguesa.
Ao dobrar a “Fortaleza do Bom Parto”, talhada no regaço do imponente “Hotel Bela Vista”, surgia o sinuoso caminho, que levava ao ”Tanque do Mainato”, com a colina despida de casario, à excepção da velha e abandonada vivenda de “Santa Sancha”.
Em cima, a velha Ermida da Penha, cheia de unção religiosa e graça na sua simplicidade.
Na última curva da ordenada beira-mar, via-se a “Fortaleza da Barra” e, mais adiante, em plano superior, a “Capitania dos Portos”, em estilo mourisco…
continua.
REGO, Francisco de Carvalho e – Macau … há quarenta anos in «Macau». Imprensa Nacional, 1950, 112 p.
Deste autor, anteriores referências em
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/francisco-de-carvalho-e-rego/ 

Eudore de Colomban Aterros da Areia Preta 1927“Um dos sítios outrora mais procurados pelos chineses pela razão da sua beleza era a magnífica praia da Areia Preta.
Incrustada numa pequena angra era ali que nas tardes de Verão  os habitantes desta cidade concorriam em grande número para se divertirem, quer nadando quer gozando a fresca aragem vinda do mar.
Frente à enseada, as escalvadas Nove Ilhas e a Lêng-Têng quebravam a monotonia do extenso horizonte com as suas recortada s silhuetas, disfrutando-se assim da praia um admirável e inspirador cenário.
Enterradas na praia, os recifes e os penhascos, brunidos e exalviçados pela ressaca das vagas, forneciam outra nota de graciosidade ao local já de si tão aprazivelmente encantador.” (GOMES, Luís Gonzaga – Curiosidades de Macau Antiga, 1996)
Eudore de Colomban Aterros de Macau Siac 1927Má Kau Seac (Macau-Siac) significa ” Rochedo do Cavalo no Coito“, pois essa pedra tinha a forma de dois cavalos a cobrir-se um ao outro; ficava na Areia Preta, tendo sido destruída durante os trabalhos das Obras do Porto Exterior.
A Monografia de Macau /Ou-Mun Kei-Leok diz a pág. 37: «Na encosta setentrional fica a Ma-Kau-Seak (Rochedo do Dragão-Cavalo), diminuto, áspero  sem base, pois é sustentado por três pequenos blocos de pedra, que têm sido conservados até hoje, alisados pelas vagas do mar
12-10-1922 – Foi assinado o contrato definitivo da empreitada da primeira fase das obras do porto artificial de Macau, entre o representante do governo da província, o Almirante Hugo de Lacerda, Director das Obras dos Portos , e o Engenheiro Vam Exter, representante da companhia adjudicatária «The Netherland Harbour Work & C.º» Amesterdão”. (GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954)
“15-04-1925 – Contratos celebrados entre a Direcção das Obras  dos Portos e a «Netherlands Harbour Works Co.»; publicação em Boletim Oficial e divulgação através de separatas (A.H.M. – F.A.C.  P. n.º 126-S-C)”. (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 4, 1997)

Anteriores referência de Ma Kau Seac /Macau Siac, ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/ma-kau-seac-macau-siac/
Fotos do livro COLOMBAN, Eudore de – Resumo da História de Macau, 1927.

Mais três imagens de Macau, de 1921 reproduzidas no livro “Tellurologie et Climatologie Médicales de Macau” de António do Nascimento Leitão (1) (2)

MACAO Barra vue de Penha - LapaMACAO – La barre vue de Penha. (À droite l´ile de Lapa)

 “En d´autres sondages dans le fleuve, on a heurté à des lits argilo-sablonneux, de texture faible, à 7 mètres, et on a trouvé aussi un lit d´argile grise à 4 m., 2 au-dessous du zéro hydrographique, devant la pagode de Barra…(…)
C´est vrai que, au delá de Lapa, dans le fleuve et dans les rizières que l´avoisinent, à la distance de quelques kilomètres en amont de Macao, à l´endroit connu sous le nom de «aguas quentes», on remarque l´existence d´abondants jaillisements d´eaux thermales, à blanche fumée et odeur minérale très accentuée.” (1)

 MACAO Plage Areia PretaMACAO – Plage Areia Preta

 “Les terrains bas sont formés par les sédiments argilo-sablonneux du pliocène (?), par les couches diluviennes et alluviennes modernes (des graviers, du sable, des vases et de l´humus). les sondages faits dans la plus grande zone des terrains bas (Mong-Ha, Long-Tin-Chin), à une profondeur de 6 à 17 mètres, ont révélé l´existence de lits d´argile rouge, jaune et verte, avec du sable, de texture falble et de peu d´épaisseur, et elles ont révélé encore l´existence de quelques grès, peu consistants, argileux, rouges et verdâtres, avec de petits noyaux de feldspath kaolinisé.” (1)

MACAO Quartier ChinoisMACAO – Une rue du quartier chinois
(Avenida Almeida Ribeiro)

Les suaves ondulations du terrain, en pente plus ou moins douce, les courbes si gracieuses de ses plages, le vert foncé des pins de ses collines boisées, l´aspect de coquette polychromie de la ville, avec sa charmante silhouette découpée dans l´espace, – tout cela, dans un ensemble d´éclat, donne une impression profonde d´inattendu pittoresque, dans la monotonie de cette région. ” (1)
(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/06/01/leitura-tellurolo-gie-et-climatolo-gie-medicales-de-macao/
(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/06/28/imagens-de-1921-i/

No livro “Tellurologie et Climatologie Medicales de Macau”, estão publicados quatro mapas da região de Macau. Um dos mapas foi já reproduzido em (1). Hoje mais um deles, – MACAU (Relief du Sol) – com a descrição do relevo do solo e subsolo.

MAPA do Relevo de Macau 1921 Tellurologie et ClimatologieEste mapa (escala de 1/50.000) foca o relevo do solo da cidade de Macau, em 1921, estando assinaladas as colinas e a Ilha Verde.

 “Le squelette de Macao est granitique. Les noyaux éruptifs sont indiqués par ses collines. Les rochers et la colline de Mong-Ha, celle qui est appelée Montanha Russa, les collines de Dona Maria, Guia, San Jerónimo, de Patane ou de la Grotte de Camoens, San Miguel, San Paulo do Monte, Santo Agostinho et Penha, – sont como les points d´ossification du squelette… (…)
L´isthme réunit cette terre à l´île de Hiong-Chan – et voilà formée la presqu´ile de Macao.
Un autre noyau, Ilha Verde (35 m. de alt), un peu plus isolé, est resté aussi sous línfluence dynamique du fleuve, et on a vu de nos jours l´oeuvre de la liaison naturelle au plus proche noyau, Mong-Ha, laquelle a été aidée par l´homme.
Les collines de Macao peuvent être divisées en deux groupes, délimités par la continuité qu´on remarque en chacaux d´eux. Appartenant au premier groupe, je citerai: Mong-Ha, Montanha Russa, Dona Maria, Guia, San Jerónimo, – dont la ligne d´enemble est une courbe sensible de concavité vers l´Ouest, les plus hautes cotes de niveau étant à Mong-Ha (59 mètres) et à Guia (76 à 99 mètres). La ligne du second groupr, courbe aussi en partie et envelippée par celle-là, évoque, en sa planification, la forme d´un bâton pastoral, dont la crosse est formée par les collines de Camoens, San Miguel, San Paulo do Monte, – se prolongeant selon l´axe de la presqu´île jusqu´à son extremité, passant para la Sé, Santo Agostinho, San Lourenço, Bom Jesus et Penha, et la cime atteignant les cotes plus élevées à San Paulo do Monte (40 m) et à Penha (70m).
Les terrains bas de Tap-Seac, Long-Tin-Chin, Mong-Ha, Sa-Kong, San-Kiu et Patane, oú coulent les eaux et les ruissellements des ravines voisines, sont développés en une grande superficie sub-urbaine, entre les deus courbes. Tap-Seac a un facile accés vers la mer, entre da Sé et San Francisco, et les autres terrains qui , naguère n´étaient que des marécages, ont été comblés aux dépens de l´aplanissement des colines de Mong-Há et San Miguel, et ils sont convenablement drainés et amplement libres vers le fleuve.
La zone base de la ville se développe dans la concavité de la courbe de rayon plus petit, en quartiers riverains qui s´appelent Tarrafeiro, Matapao, Bazar, et qui sont continués par les terrains marginaux de Praia Manduco et Barra.
Au dehors de la courbe plus grande on remarque, au Nord, les terrains bas de l´isthme et la plage Areia Preta. Dans le rest de la courbe, la petite plage de Cacilhas, exceptée, il ný a pas dáutres terrains bas, puisque le versant de la Guia coule vers la mer en pente brusque.” (1)
NOTA: o negrito é da minha autoria.

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/06/01/leitura-tellurolo-gie-et-climatolo-gie-medicales-de-macao/

Tellurologie e Climatologie CAPAPequeno opúsculo, (1) 2.ª edição, em francês, que contém o Relatório da participação médica no 4.º Congresso de Medicina Tropical do Extremo Oriente, realizado na Batávia (2), em 1921, elaborado pelo Dr. António do Nascimento Leitão (3).
Tellurologie e Climatologie 1.ª páginaEste exemplar, na segunda folha, encontra-se uma dedicatória feita pelo autor ao Senhor António d´Almeida Morais e assinado com a data de Agosto de 1921.
O autor baseando no estudo telurológico/climatológico e nosológico de Macau analisou os dados de 10 anos, os elementos climáticos/meteorológicos do território nomeadamente temperatura, pressão atmosférica, ventos, humidade e chuva. (II Capítulo).
A primeira parte do trabalho (I Capítulo) faz um resumo da Telurologia do território: situação geográfica e configuração; o solo e seu relevo, constituição geológica e mineralógica do solo; e considerações hidrológicas.
No III Capítulo, traça a situação geral dos agentes transmissores da peste.

Tellurologie e Climatologie MAPA Macau 1921Mapa de Macau de 1921 escala de 1 / 20 000
Estão assinaladas as letras: A – Praia da Areia Preta; B – Praia de Cacilhas; C – Praia da Guia; D – Praia Grande; E – Porto Interior; F – Aterros e bacia do Patane; G – Aterros em execução; I – Ilha Verde e outros 42 números correspondentes a sítios/locais/edifícios públicos/cemitérios/monumentos, etc de maior interesse.

As conclusões do trabalho científico apresentado foram:
Do estudo telurógico/climatológico e nosológico de Macau conclui-se que:

  • Durante todo o ano, o clima de Macau é salubre e refractário a certas doenças.
  • Durante a época outonal/inverno (Outubro a Março), Macau estará incluído na classificação da “Estação Climática do Mar da China”, pois que nessa época, seu clima temperado tem as características do clima mediterrâneo.”

NOTA: Telurologia é uma disciplina científica através da qual podemos identificar como é a expressão energética do nosso planeta em cada instante e como nos afecta na nossa vida quotidiana.
(1) LEITÃO, António do Nascimento – Tellurologie et Climatologie Médicales de Macao (Macao Station Climtique). Macao, Imprimerie de l´Orphelinat Salésien, 1821, 73 p. +  4 mapas + 7 fotografias; 25 cm x 16 cm.
(2) Jacarta (Indonésia). Até 1949 era Batavia, nome dado pelos holandeses quando foi fundada em 1619.
(3) António do Nascimento Leitão, médico-cirurgião, radiologista (capitão – médico; promovido a major-médico e depois a tenente-coronel médico) chegou a Macau a 1907 (destacado para Timor em 1913, esteve ali algum tempo, regressando a Macau em 1917, após especializar-se em radiologia, em França) como Médico Sanitário, nomeado director do Laboratório de Radiologia em 1922 e director do Laboratório Bacteriológico do Hospital Militar em 1919. Foi Subchefe interino dos Serviços de Saúde (nomeado em 13 de Agosto de 1926).
Era membro correspondente da Sociedade de Geografia de Lisboa, Membro titular da Sociedade de Radiologia Médica de França e Oficial da Ordem Militar de Avis, etc. “Homem de cem ofícios” como lhe chamou o Padre Teixeira (“Foi um dos bons médicos que conhecemos”). Faleceu em Macau no dia 15 de Maio de 1954.
TEIXEIRA, P. Manuel – A Medicina em Macau, Vol. IV, 1976.

Planta da Cidade de Macau elaborada pela Comissão de Cartografia, de 1912,  com uma escala de 1/10.000

Tem as seguintes indicações:

Pharol da Guia  Lat. N 22º 11´50´´
Long E. G. 113º 34´

Planta da cidade de Macau 1912No lado inferior direito com letras pequenas:

 M Diniz  red e liph
Original do Arquivo Histórico de Macau
Tratamento fotográfico pela Missão de Estudos Cartográficos de Macau

Encontram-se assinalados lugares já desaparecidos como por exemplo:
Praia de Cacilhas: Soon after passing the Governor’s summer residence a road turns to the right which leads to Cacilha’s Bay with a pretty little sandy beach“; (1)
Bateria 1.º Dezembro, (Bateria de S. Francisco): “The Praya Grand is bounded by two forts and had a little fort, that of St. Peter, in the middle. The two other forts are one at each end of the Praya. San Francisco, of grey stone, being just below the Barracks (several yellow build-ings, through which entrance into it is effected) of that name and nearest the Guia Fort. In 1622 there was but one battery, ‘the lower battery dates from 1632“; (1)
Bahia do Bispo: “The Bomparto Fort had three batteries. This fort is connected with the fort at Taipa Point, on one of the islands lying off the Outer Harbour, by a telegraph line, which lands at Bishop’s Bay, a small sandy bay n little beyond the end of the Praya, below the Penha Hills.”; (1)
Praia da Areia Preta: Just before reaching the Barrier a short distance is the bathing place, the whole coast line here forming with the sandy beach on the seaward side a magnificent roughly semi-circular bay. Many large fishing stakes are seen with the hovels of their owners perched up amongst the rocks.”. (1)
(1) BALL, J. Dyer – Macao: The Holy City; The Gem of the Orient Earth. The China Baptist Publication Society, 1905, 83 p.

Do álbum da colecção Duarte de Sousa, reproduz-se outro desenho a lápis de Macau, (do livro: “Macau, Cidade do Nome de Deus na China”), sem nome do autor, referenciados como do ano de 1831-1832. (1)

Macau Cidade do Nome de Deus na China CHINNERY Porta da Barreira“The Barrier. Macao, on the Race Course. The Cecilia Bay.”

O istmo que ligava Macau à terra chinesa, a chamada Porta do Limite ou da Barreira. O campo de corridas de cavalos mantido pelos ingleses, com apostas que atraía muita gente. À direita, a baía/praia da Areia Preta que vem referenciada como  Baía Cecília. Nunca vi referenciada esta baía/praia com este nome. Terá sido o autor induzido em erro por esta praia/baía estar em continuidade com a praia de Cacilhas?

Sobre esta região escreveu  J. Dyer Ball (2), em 1905, no capítulo “The Barrier”:
This is the division between Portuguese, and Chinese territory. It is some distance along the long isthmus which unites the peninsula of Macao to China… (…)
Just before reaching the Barrier a short distance is the bathing place, the whole coast line here forming with the sandy beach on the seaward side a magnificent roughly semi-circular bay. Many large fishing stakes are seen with the hovels of their owners perched up amongst the rocks. The whole of Macao seems dominated by forts. To the left is a large one, topping a hill, commanding the Barrier, while to the left are two small ones overlooking the sea and Cacilha’s Bay. Once on the road, leading to the Barrier, we see facing us the large gateway which marks the boundary line…”

Sobre o “hipódromo” e as corridas de cavalo na Areia Preta, uma descrição com algum pormenor de Harriet Low (3) que viveu em Macau de 1829 a 1834, no seu Diário:
5 de Novembro de 1829:“…O campo de corridas está no lugar chamado a Barreira, que impede todos os estrangeiros de passarem além. O campo mede cerca de três quartos de milha. Havia lá uma casa provisória de bambú construída para as senhoras, e posso afiançar-te, minha querida irmã, que era muito interessante comtemplar o matizado grupo abaixo de nós. Chineses de todas as descrições, enfarpelados nos seus trajos muito singulares, alguns com os chapéus da forma dum cesto, muitos de cabeça descoberta, mas empunhando uma ventoínha que os protege do sol. Alguns tinham sacos nas costas medindo cerca de meia jarda quadrada, nos quais metem os bebés. Estes pobrezinhos apanhavam chocadelas em toda a roda, no meio da multidão, como se fossem pedaços de madeira.
Portugueses e lascares andavam de mistura com chineses e, ao ouvir esta mistura de línguas – das quais nada comprendi, fez-me pensar na confusão de Babel, o que me levou a desejar que esta doida gente visesse na terra tamto tempo quanto lhe fosse permitido.
Algumas das corridas foram muito boas e fizeram-se grandes apostas.
Regressámos cerca das sete horas e tivemos uma longa discussão sobre os méritos dos ingleses…(4)

Macau Cidade do Nome de Deus na China The Race Course

“Near the Race Course. Macao”

Creio que é a mesma “paisagem” do anterior mas “vista” de mais longe, podendo distinguir melhor o istmo que ligava Macau à terra chinesa. A colina à esquerda, muito provavelmente, a de Mong Há.

Ainda sobre estas corridas de cavalos, há um ofício, de 28 de Abril de 1829, do Mandarim de Heong San ao Procurador da Cidade:
ordenando-lhe que proibisse imediatamente as corridas de cavalos com que, por divertimento, os estrangeiros residentes em Macau (ingleses) assustavam os viandantes, junto às Portas do Limite, o que constituía uma grave ofensa às leis do Império (5)
Em 1831 havia ainda a disputa/jurisdição sobre a posse de terras. Sobre umas obras na Ilha Verde, o Mandarim de Heong San, num ofício de 21 de Julho de 1831, informava:
“... Os portugueses só têm residência autorizada dentro das muralhas. A Ilha Verde está fora delas, no mar, à distância de alguns lis; por isso não é portuguesa …etc”(5)
NOTA: outra referência ao Hipodromo da Areia Preta em 1934:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/hipodromo/

(1) Ver referências em anterior “post”:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/02/21/pintura-de-macau-de-1831-1832-i-fortaleza-da-guia/   
(2) Sobre este autor e referência ao livro, ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/j-dyer-ball/ 
(3) Sobre Harriet Low, ver referência em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/09/23/leitura-diario-de-harriet-low-tufao-de-1831/
(4) TEIXEIRA, Padre Manuel – Macau no séc. XIX visto por uma jovem americana. Direcção dos Serviços de Educação e Cultura, Macu , 1981, 59 p.
(5) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XIX, Volume 3. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, Macau, 1995, 467 p (ISBN 972-8091-10-9)