Descrição de Macau, de 1822, em inglês, com o título “Entrance to Canton from tha Sea” publicado no periódico “The Indo-Chinese Gleaner” (1) no Capítulo “I.Indo-Chinese Literature I.Annals of Canton“
(1) “The Indo-Chinese Gleaner”, n.º XX, April, 1822, pp.280-283.
https://digital.staatsbibliothek-berlin.de/werkansicht?PPN=PPN771550391&PHYSID=PHYS_0053&DMDID=DMDLOG_0001
A 8 de Dezembro de 1989, o Governador Carlos Melancia provocou uma verdadeira explosão no território ao carregar no botão que fez deflagrar duas toneladas de explosivos para desmontar o morro da Ponta da Cabrita, assinalando assim o início formal das obras do aeroporto internacional de Macau (1)
O acontecimento foi presenciado por muitos curiosos (eu assisti da Estrada de Cacilhas, a perda de parte de uma “paisagem” diária da minha infância e adolescência)
A inauguração do aeroporto oficial (2) foi a 8 de Dezembro de 1995 (seis anos depois deste acontecimento) embora os voos tenham iniciado a 9 de Novembro de 1995.
Pormenor de um Mapa de 1934 onde se assinala a localização da Ponta Cabrita na ilha da Taipa Grande
Actualmente , embora inexistente a Ponta da Cabrita, permanece na Toponímia da Ilha da Taipa nas proximidades do Aeroporto, a Estrada da Ponta da Cabrita – 雞頸馬路
Um trecho da estrada para a Ponta da Cabrita de autor não identificado, (data:?) do espólio do IICT/Cartografia; Centro de Documentação e Informação.(3)
(1) Extraído do “Baú de recordações” do JTM.
(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/aeroporto-internacional-de-macau/
(3) https://actd.iict.pt/view/actd:AHUD5114
“Foi também devido à insipiente crença do fông-sôi (1) que, por largo tempo, se não atreveram os chineses a residir no sítio que é hoje a Avenida República, preferindo os próprios pescadores construir as suas barracas na Barra, pois diziam que a prosperidade do mencionado local estava ameaçada por um suposto bico de galinha (kâi-tchôi) (2) constituído pela extremidade da pequena ponta de terra da fronteira ilha da Taipa que, por ser algo prolongada e apresentar uma protuberância no seu rugosos relevo, faz lembrar o colo distendido dum galináceo de ingurgitada inglúvia, (3) sendo, por isso, conhecida entre os chineses pelo nome de Kâi-Kéang (Pescoço de Galinha) (4).
Vista panorâmica da Avenida da República c. 1950
Se tal bico de galinha estivesse revirado para outra banda, bem estava. Infelizmente, não era isso o que acontecia. O obnóxio (5) bico estava ominosamente assestado em direcção da Avenida da República, ameaçando reduzir até à extrema inópsia (6) o indivíduo que ousasse residir em tal sítio, pois quaisquer riquezas que este possuísse seriam, inexoravelmente debicadas, aos poucos.
Vista panorâmica da Avenida da República c. 1935 (7)
Então, para eliminar a sua nocividade, colocaram, no sopé da colina da Penha e mesmo em frente da Ponta Cabrita (Taipa) uma estatueta em pedra da Móng-Hói Kun-Iâm (Deusa da Misericórdia que mira o mar) (8) na esperança de impedir, com o seu manto, quaisquer malignas influências daquele nefasto bico de galinha. Porém, como a Kun-Iâm não tinha suficientes poderes para tornar inóxio o amaldiçoado bico, descobriram, então que a parte da colina que fica voltada para a Taipa se parecia com a cabeça de leão e, com o fim de lhe darem vida, para esta fera devorar, com a sua bocarra, todos os fluxos obnóxidos emitidos pelo bico da alinha, instalaram duas brilhantes luzes em duas covas da vertente que correspondiam, mais ou menos, às suas órbitas.
Dizem que foi, desde então, que o sítio da Avenida da Republica se tornou habitável.” (9)
(1) Geomancia chinesa 風水 – mandarim pinyin: fēng, shuǐ ; cantonense jyutping: fung1 seoi2
(2) 雞嘴– mandarim pinyin: jī zui; cantonense jyutping: gai1 zeoi2
(3) inglúvio – papo ou primeiro estômago das aves.
(4) 雞 頸– mandarim pinyin: jī gěng; cantonense jyutping: gai1 geng2
(5) obnóxio – perigoso, nefasto, desprezível, funesto
(6) inópsia – penúria, miséria
(7) https://macaostreets.iacm.gov.mo/p/parishoface2/photoalbum.aspx?album=%E6%B0%91%E5%9C%8B%E5%A4%A7%E9%A6%AC%E8%B7%AF
(8) 望海觀音 – mandarim pinyin: wàng hǎi guān yīn; cantonense jyutping: mong6 hoi2 gun1 jam1
(9) GOMES, Luís Gonzaga – Macau Factos e Lendas. Edição da Quinzena de Macau, 1979, p. 152.