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O livro “CHRONICA PLANETARIA (Viagem à Volta do Mundo) ” de José Augusto Correa, (1) publicado em 1904 (2) é um relato de viagem à volta do mundo que o autor começou em Lisboa, no dia 15 de Março de 1902 na estação do Rossio:

Partida da estação central do Rocio, Lisboa, às 11 horas e 6 minutos da manhã de sábado, 15 de Março de 1902. Dia esplendido e sol. Em seguida aos abraços de despedida e á grata operação de fotografar o grupo de amigos que compareceram, dissemos, o Soares e eu, um último adeus á cidade amada de Herculano. (…)

e terminou na mesma cidade, a 19 de Setembro de 1902: A 7 de setembro e ao som de hymnos festivaes que saudavam a aurora anniversaria da independencia do Brazil, (…) deixei o solo paraense para bordo do «Jerome», que em doze dias me transportou à formosa cidade de Ulysses, termo, como fôra princípio, da minha viagem circular planetária.

Exemplar encadernado, com lombada em pele, bem encadernada., mas com desgaste (contornos das capas)
Exemplar com uma dedicatória do autor numa folha incorporada antes da folha de rosto,  “offerece José Augusto Correa, Lisboa, 24 de Fevereiro de 1905

Da estadia em Macau de 20 de Junho a 22 de Junho, o autor descreve-o nas páginas 352 a 362 (III Parte- De Alexandria a Hong Kong pp. 251 a 1370)

Infelizmente das 240 fotogravuras que o livro apresenta, somente uma foto (a Praia Grande) é de Macau.

20 de Junho – Entre as três próximas cidades: Vistoria (Hong Kong), Macau e Cantão, há uma regular carreira de vapores de roda, som serviço de restaurante. Em três horas de bôa marcha, vence-se as quatro milhas que separam Hong Kong, isto é, a China inglesa, de Macau, a China portugueza.

Foi por uma tarde límpida e formosa que avistei o pharol da Guia, e a linda capellinha contigua, a alvejar por entre a ramaria. Apparece depois o bello quartel mourisco, hoje, hospital de colericos, (3) a monumental fachada de S. Paulo, os campanarios de S. Lourenço, toda a magnifica edificação da Praia Grande, d´entre a qual sobresahe o palácio do governador, e no extremo oposto o hotel-sanatorio da Boavista, elevado no meio de um caracol maravilhosamente pittoresco. Todo este conjunto impressiona encantadoramente o forasteiro que pela primeira vez aporta à cidade do Santo Nome de Deus de Macau.

O porto, d´este lado da minúscula peninsula, é inacessível a embarcações de alto bordo. É preciso dobrar a ponta da Boavista e ir fundear no porto interior, que defronta o bairro chinez. Este é extenso mas sujo, com exterior apparencia de remota antiguidade. (…)   …………………. continua.

(1) José Augusto Corrêa nasceu em Vigia (Vigia, também chamada de Vigia de Nazaré, é um município brasileiro do estado do Pará) mas passou a maior parte do tempo na Europa sobretudo em Lisboa e Paris. Era da Academia de Ciências de Portugal e editou várias obras de caráter teológico, filosófico e literário entre 1894 e 1926. Na sua obra “Crônica Planetária”, de 1902, Augusto Corrêa escreveu sobre sua passagem pela terra natal em agosto do referido ano: “22 de Agosto de 1902,- eram nove horas e meia da manhã quando pisei o sólo da pátria idolatrada, (Belém – capital de Pára) depois de uma ausência de vinte e sete anoshttps://www.culturavigilenga.com/copia-biografias

(2) CORREA, José Augusto – Cronica Planetaria (Viagem à volta do mundo), 2.ª edição. Editora: Empreza da História de Portugal, Lisboa, 2.ª edição, 1904, 514 p. Illustrada com 240 photogravuras; 15,5 cm x 21 cm

(3) O “hospital de colericos” (sic)  – Hospital (militar) de Sam Januário foi construído em 1872, destinado a militares, nunca foi quartel mourisco, nem foi para doentes com cólera. De 1896 a 1901 houve uma epidemia de peste bubónica em Macau (e arredores) e em 1902 surgiu uma epidemia de cólera em Cantão : “15-03-1902 – O B. O. acautela para a necessidade de tomar medidas preventivas face à epidemia de cólera que grassa na província de Cantão. O B. O. n.º 30 considera-a já extinta” (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia de História de Macau, Volume 4, 1977)

A esposa do Sr. Governador cortando a fita

Extraído de BGC XXVI-304, OUTUBRO de 1950.

O Governador José Maria da Ponte e Horta, pela Portaria de 2-02-1867, proibiu a Roda dos expostos da Santa Casa de Misericórdia de Macau, (desde 1726 que a Santa Casa Misericórdia tinha um Recolhimento para orfãs e Viúvas) a partir de 8 do mesmo mês e ano, devendo no entanto a Santa Casa continuar a tratar dos enjeitados que tinha a seu cargo nessa data . No entanto a ordem não foi cumprida pois embora a Roda não existisse, as crianças continuaram a ser abandonadas (e recebidas) à porta da Santa Casa.
A Santa Casa confiou os Expostos (crianças abandonadas aos nascer) às Filhas de Caridade Canossianas estabelecidas em Macau em 1874) (1) que tomaram conta deles, a princípio no próprio edifício dos Expostos e, mais tarde, no Asilo da Santa Infância, em Santo António, fundada em 1885, pelo Bispo D. António Joaquim de Medeiros. (2)

Um grupo de crianças abandonadas e recolhidas no Asilo da Santa Infância em 1934

O novo Edifício da Santa Infância na Rua Francisco Xavier Pereira inaugurado em 1950, foi mandado construir pelas irmãs Canossianas. A Santa Infância em 1950, foi transferida para o rés do chão do novo edifício em Mong Há continuando no antigo edifício as crianças mais pequenas mas em 1959 sessenta crianças foram transferidas para a Casa Canossiana de S. Coração de Maria em Coloane.
Informações recolhidas de TEIXEIRA, Padre Manuel – A Educação em Macau, 1982
Anteriores referências a este Asilo em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/asilo-de-santa-infancia/
(1) Em fins de 1873 e inícios de 1874, chegou a Macau a irmandade canossiana cujo lema era “caridade na humildade e humildade na caridade”, passou a se fazer presente em Macau.
Mas antes já a irmã Madre Teresa Lucian chegara a Macau, tendo fixado residência no bairro chinês próximo à igreja de Santo Antônio e ali foi construindo a sua obra, abrindo uma escola chinesa para crianças pobres, perto da Fortaleza do Monte.
Em 1885 foi construído o Asilo da St.ḁ Infância, para crianças abandonadas, posteriormente demolido para dar lugar à Escola Canossa.
No Asilo da Santa Infância, anexo à igreja de Santo Antônio, as irmãs fizeram um belo trabalho e ganharam a confiança e o respeito dos chineses. Por volta de 1895, uma grande epidemia de peste bubônica atingiu Macau. A irmã Madre Teresa Lucian foi para esse front social em 1898, e ali viu serem abatidos aproximadamente 1200 chineses.
Para se ter uma ideia do volume de trabalho assistencial que faziam as irmãs, somente no período de 1885 a 1951, foram recebidas 65.000 crianças, ou seja, em cada um dos 66 anos de atuação receberam em média 985 crianças por ano. A partir de 1952 até 1972, o número de crianças hospitalizadas é de 16.725, e um número dramático de abandonados é de 1.123 crianças chinesas ou mestiças, em sua maioria meninas.
Anjos de Macau na primeira década do século XX
LIMA-HERNANDES, Maria Célia; SILVA, Roberval Teixeira e – Anjos de Macau na primeira década do século XX in fragmentum, N. 35, parte I. Laboratório Corpus: UFSM, Out./ Dez. 2012 15 p.
file:///C:/Users/ASUS/Downloads/7860-35024-1-PB.pdf
(2) O Padre António Joaquim Medeiros (1846-1897) veio para Macau em 1872 tendo ocupado os cargos de Reitor do Seminário, Vigário Geral e Visitador das Missões de Timor e em 1884, foi nomeado Bispo de Macau. Faleceu de morte natural durante a visita às Missões de Timor em 1897.

No dia 5 de Maio de 1865, um grande incêndio na povoação da Horta da Mitra, em que 200 barracas de chineses foram devoradas pelas chamas. Provavelmente acidente provocado por panchões do Ano Novo Chinês (1) (2)
O bairro da Horta da Mitra ou do Bispo estava mais ou menos limitado pela Rua do Noronha e por parte das Ruas de Henrique Macedo, de Tomás da Rosa, de Horta e Costa, da Colina e Nova à Guia.
Ficavam situadas dentro deste bairro as Ruas da Cal, da Mitra, (3) da Surpresa, de Dezoito de Dezembro, parte das Ruas de Tomás da Rosa e de Henrique Macedo, as Travessas do Mercado Municipal e de S. João, bem como o largo do Mercado Municipal e o Mercado da Horta da Mitra. (2)
O bairro de Horta da Mitra (4) contígua ao bairro de Volong eram os locais mais salubres do território e devido aos problemas de higiene pública sofreram posteriormente alterações com o saneamento. No Bairro de Volong onde teve início o foco de infecção nas epidemias da peste e da cólera, foi expropriada por utilidade pública em 1894 e saneada. Tinha uma área de 200 hectares, limitado ao norte pela Estrada do Cemitério, ao sul pela Ferreira do Amaral, a leste pela Estrada da Flora e a oeste pela Rua de S. Lázaro. Em 1897 a área foi entregue ao Leal Senado e depois à Repartição de Obras Públicas para se proceder a obras de abertura das ruas, construção de canalização de esgoto e alicerces das casas particulares. O bairro de S. Lázaro também contíguo e um dos focos da epidemia da peste de 1896, seria saneado em 1900 (2)
(1) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 3, 1995.
(2) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I, p. 468.
(3) Rua da Mitra: começa na R. da Colina, em frente da R. da Vitória e termina na R. do Noronha , entre a Travessa do Mercado Municipal e a Rua da Cal (2)
(4) Sobre Horta da Mitra, ver anteriores referências:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/11/11/postal-de-1940-mercado-municipal-da-horta-da-mitra/+
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/horta-da-mitra/n

Dois acontecimentos tiveram notícias neste dia de 12 de Agosto de 1900.
José Maria de Sousa Horta e Costa, (1) nomeado pelo Partido Regenerador, toma posse do cargo de Governador (segundo mandato) e de Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário de Sua Majestade Fidelíssima nas Cortes da China, Japão e Siam (2)
E nesse mesmo dia, em 12 de Agosto de 1900, chega a Macau um Corpo Expedicionário para proteger a cidade da situação que se vive na China, (3) na força de 14 oficiais e 368 praças de pré, constituído por uma companhia de caçadores 3, uma bataria de artilharia, 2 elementos do serviço de saúde e administrativos. (4)
NAM VAN 25 1986 - JOSÉ HORTA E COSTA(1) José Maria de Sousa Horta e Costa (1858-1927), assentou praça na arma de Engenharia em 1878, cursou a Escola do Exército, e esteve já antes em Macau (em 1886) como Director das Obras Públicas (era então tenente de Engenharia, com 28 anos de idade) e onde casou, na Sé  desta cidade a 2 de Abril de 1886 com Carolina Adelaide Pinheiro Silvano, de 16 anos de idade).
Em 1888, foi deputado por Macau na Câmara em Lisboa. Foi depois nomeado governador de Macau tomando posse a 24 de Março de 1894 mas  demitiu-se, em 1896, devido a mudança ministerial em Portugal. (5) Nomeado em 1900 cumpriu o mandato até 17-12-1902, tendo-lhe sucedido o Conselheiro Arnaldo Nogueira de Novais Guedes Rebelo  (coronel de engenharia). Foi nomeado em 1907, governador da Índia.
Foi proclamado cidadão benemérito de Macau na sessão do Leal Senado de 8 de Junho de 1896.
«A ele se deve o grande impulso havido para o saneamento da cidade, tendo sido para esse fim expropriados dois bairros inteiros, como o de Volong e o de Tap Seac, que eram antes verdadeiros poços de infecção.»
Muitas outras decisões importantes para o progresso de Macau «medidas preventivas em 1894 face a peste bubónica; instituição do Lyceu Nacional de Macau; reconhecimento oficial da Escola Central do sexo masculino; a criação da Escola Central do sexo feminino, remoção das campas de Sakong para construção de um bairro de operários; saneamento e reconstrução do bairro de S. Paulo; expropriações nas várzeas de Mong Há  para construção de avenidas e largos; melhoramentos e saneamentos de muitas ruas da cidade». (Acta do Leal Senado)
Muitas das ruas ainda estavam construídas de terra batida , raras vezes misturada com um apequena quantidade de cal d´ostra. Esta terra com as chuvas é arrastada às valetas, tapa muitas vezes as sargetas, e vai entupir os canos, e mais tarde assoriar o porto e a Praia Grande. (relatório de 1-07-1886 da Direcção das Obras Públicas” (6)
TOPONÍMIA - Avenida de Horta e CostaMacau tem com o nome deste Governador, uma Avenida de Horta e Costa (começa na Avenida de Sidónio Pais , entre os prédios n.º 29 e 31 e termina na Avenida do Almirante Lacerda, ao lado do mercado «Almirante Lacerda», uma Rua e um Pátio. (5)
Anteriores referências a este Governador em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jose-maria-horta-e-costa/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/avenida-horta-e-costa/
(2)SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Vol. 4, 1997.
(3) “13-06-1900 – A Revolta dos Boxers, apoiada numa sociedade secreta, rebenta no Norte da China. Dirige-se contra os estrangeiros e influências estrangeiras, sobretudo contra os missionários e chineses convertidos. Os revoltosos deixaram rasto de destruição de casas e igrejas e mataram centenas de pessoas antes de serem detidos em Pequim por tropas de oito países que se conjugaram para o efeito A criação dos bandos armados das sociedades secretas a mais conhecida a dos «Punhos da Justa Concórdia» mais conhecida como boxers  pelos estrangeiros (os seus adeptos costumavam aparecer nas feiras como lutadores e acrobatas). Da revolta dos Boxers resultou o massacre de 5 bispos, 40 missionários (sendo 12 católicos e os restantes protestantes) e 18 000 fiéis (sendo 53 crianças)”. (2)
(4) “Na sequência das guerras do ópio e da ocupação dos principais portos, os  chineses revoltam-se contra os estrangeiros, com o apoio aberto da imperatriz Viúva (conhecida como a «Buda Velha») na primavera de 1900 (revolta dos Boxers – Yi Ho Tuen). (7) Em junho, o governo chinês declarou guerra e cercou o bairro das embaixada , em Pequim, o qual resistiu (os 55 dias de Pequim) e foi libertado por reforços enviados.  A cidade foi saqueada  e passou a ficar na completa dependência das potências “imperalistas”. Quando foram conhecidos os primeiros ataques a europeus, o governo português determinou a organização de um Corpo Expedicionário.”
CAÇÃO, Armando A. A. – Unidades Militares de Macau, 1999.
(5) “Lá se vae o Horta e Costa, esse homem nefasto para o clero de Macau.É verdade que quasi sempre tratou bem o clero de Seminário, mas ainda n´isso havia manhas infernais (carta do Bispo D. António Joaquim de Medeiros dirigida ao Padre José Joaquim Baptista, datada de 30 de Abril de 1896. (6)
(6) TEIXEIRA, P. Manuel  –  Toponímia de Macau Vol II, 1997.
(7) Revolta dos Boxers –  義和團運動
義和團運動 – mandarim pīnyīn: yì  hé tuán yùn dòng; cantonense jyutping: ji6 wo4 tyun4 wan6 dung6

O capitão J. Lima Carmona, num artigo de Ta-Ssi-Yang-Kuo, diz-nos que «no princípio do século XVII, depois do ataque dos holandeses em 1622, foi construída a muralha numa linha contínua, que corta a península de meio a meio na direcção NO. a SE., (ainda se via em 1899), onde havia as portas do Campo e de Santo António, por onde se entrava na cidade. Encravados nesta muralha havia os fortes de S. João e de S. Jerónimo, hoje em ruínas. A muralha, de 16 pés de altura, permitia que os defensores nela se colocassem em toda a extensão, servindo-lhes de parapeito a parte superior que se reduz a um muro de 3 pés de altura por 1 de espessura

Mapa Macau 1665Planta de Macau incluída no Atlas manuscrito de Johannes Vingboons (c. 1665). (1)

O padre jesuíta José Montanha, na sua obra «Aparatos para a História do Bispado de Macau», depois de nos falar da imponência dessa obra de fortificação, S. Paulo do Monte, faz uma referência à muralha, o que passamos a transcrever:
«.   .   . E pegado a ella (2) está hua porta que vai para o Campo de Moha, (3) e desta porta vai correndo o muro das casas dos moradores athe S. António, aonde está outra porta para o ditto Campo, e na mesma forma vay correndo o muro para o Campo da Patane, aonde está hu postigo, e vindo de volta para a praya pequena, fica outro postigo que se fechou por não ser necessário, e do terceiro baluarte desta Fortaleza (4) corre outro pano de muro para a parte de leste pegado ao Baluarte, aonde está o sino, aonde tem hum postigo para o Campo, e andando para o pano do muro a tiro de mosquete está a porta que vai para o Campo de S. Lázaro, e desta porta andando pelo muro a tiro de mosquete está um Baluarte (5) cô duas peças de ferro de 10 libras e na mesma conformidade a tiro de mosquete no mais alto d´esta muralha, e defronte da fortaleza da Guia está outro Baluarte cô huma pessa de ferro assistida para a porta da Fortaleza da Guia e dahi volta o muro para o sul em direitura ao convento de S. Francisco, e antes de chegar a elle tem hua porta que cahe para o mar, a qual se fecha todas noites». (6)
Este último baluarte é o de S. Jerónimo, demolido para se construir o Hospital Militar de Sam Januário.

Muralha Cidade Cemitério 2015Parte da muralha da cidade, ainda visível (foto de 2015) à entrada do Cemitério Protestante (antigo cemitério protestante) no Largo Camões.

(1) O título do Atlas é: “Platte Gronde van Stadt Macao, waer ia aen geweesen wordt de voornamste Plaetsen der Stadt” (Grande Plano da Cidade de Macau, onde se indicam os principais sítios da cidade).
http://www.ub.edu/geocrit/sn/sn-218-53.ht
(2) Estava a referir-se ao Colégio dos Padres da Companhia, conhecida como a Horta de S. Paulo/Horta da Companhia.
(3) Campo de Mong Há.
(4) Fortaleza do Monte.
(5) Este baluarte era o de S. João de que não existem quaisquer vestígios. Após um surto de peste bubónica, que teve origem nas habitações existentes próximo do baluarte, no ano de 1895, foram queimadas as barracas com todos os haveres, e seguidamente construídas e alinhadas as ruas. Foi então, desmantelado esse Baluarte de S. João que ficava no cruzamento da Rua de S. João com a da Colina, estendendo-se em sua frente, a conhecida «Horta da Mitra».
(6) Ta-Ssi-Yang-Kuo, Vols I-II, 1899-1900, pp. 417-418

A fim de evitar a vinda da epidemia «peste negra» para Macau, em 16 de Fevereiro de 1911, o Governo resolve que os navios ancorados nos portos infeccionados não tenham livre prática, antes da revista médica. O Chefe de Serviço de Saúde propõe a criação do posto de desinfecção e apresenta um projecto de regulamento sanitário.

Já a 2 de Fevereiro, as autoridades sanitárias decidiram dividir a cidade em zonas para melhor defesa da peste e estabelecer medidas relativas às visitas domiciliárias dos médicos encarregados dessas zonas.

Estas medidas de defesa contra o desenvolvimento da peste bubónica foram as iniciais tomadas pelas autoridades de Macau para evitar a propagação da doença, endémica na região do Sul da China, e que já relatei em anterior postagem “Notícia de 1 de Maio de 1911 – Epidemia de Peste Bubónica” (1)

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/05/01/noticia-de-1-de-maio-de-1911-epidemia-de-peste-bubonica/
Informações recolhidas de SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, 4.º Volume.

Epidemia de peste bubónica – “A Junta de Saúde, em vista do aumento de casos de peste em Hong Kong, propõe-se que pelo Hospital Chinês (Hospital Kiang Wu) seja feita uma barraca-lazareto (1)  na Lapa e que os comandantes dos navios chegados declarem a existência de doentes a bordo. Resolve-se que a barraca só será construída quando não baste o edifício já existente. Perguntando o Governo se não era preferível a visita de saúde aos navios, a Junta pronuncia-se pela pouca conveniência desta medida.” (2)

Recorda-se que nas primeiras décadas do século XX, houve várias grandes epidemias no sul da China desde os grandes portos do mar abertos à navegação até os mais recônditos portos fluviais do rio Si-Kiang, (3) mantendo-se endémica durante 20 anos, entretida e agravada por frequentes importações do morbo. Esses picos quase sempre nos meses de Abril: em 1901, em 1909 (grande epidemia de peste bubónica) e  em 1913 (epidemia de cólera e peste). Pelas condições explicadas pelo capitão médico Peregrino da Costa e/ou por milagre (?) tiveram consequências mínimas em Macau (4)

(1) Lazareto – estabelecimento existente junto aos portos, onde se recolhiam os viajantes suspeitos de doenças contagiosas ou provenientes de países com epidemias para aí despistar a doença (quarentena). Em Macau designava-se também lazareto, o hospital onde se recolhiam os leprosos (existiram lazaretos na Colina de D. Maria II, na Ilha de D. João e em Coloane (Ka Hó), este o último a fechar.

Lazareto de D. Maria II 1907

A colina de D. Maria II com o seu forte e o lazareto
(Arquivo Científico Tropical: http://actd.iict.pt/view/actd:AHUD6899)
Foto atribuída a Man-Fook e possivelmente de 1907

(2) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XX, Volume 4. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, 2.ª Edição, Macau, 1997, 454 p (ISBN 972-8091-11-7)
(3) Si Kiang / Xi Jiang / Hsi Chiang 西江 (mandarim pinyin: xi jiang; cantonense jyutping: sai1 gong 1 – rio do Oeste. Este rio (juntamente com o Bei Jiang 北江 (mandarim pinyin: bèi jiang; cantonense jyutping: baak1 gong1) – rio do Norte e Dong Jiang 東江 (mandarim pinyin: dong jiang; cantonense jyutping: dung1 gong1) – rio do Oriente formam o Zhu Jiang, 珠江 (mandarim pinyin: zhū jiāng; cantonense jyutping: zyu1 gong1 – rio Pérola, banhando toda a região denominada do Delta do Rio das Pérolas. Terceiro rio chinês em comprimento, embora não tão largo como o rio Amarelo – Huang He 黄河 (mandarim pinyin: huang he; cantonense jyutping: wong4 ho4) e o rio Yangtze- Chang jiang 长江 (mandarim pinyin: cháng jiang; cantonense jyutping: zoeng2 gong1), é contudo o segundo em caudal.
(4) Em relação à peste “Constata-se que, ao passo que em Hong Kong, a duração do período epidémico atinge em quási tôdas as recrudescência 6 a 7 meses, com casos esporádicos durante todo o ano, em Macau êste período atinge raras vezes 4 meses, decorrendo o seu período inter-epidémico na mais completa acalmia, o que faz crer na existência de condições naturais, climáticas ou outras e que se mostram eminentemente desfavoráveis à persistência do morbo ou à sua difusão. Constata-se também, que ao passo que em Hong Kong, apesar de persistentes e enérgicas medidas empregadas em debelar a peste, só ainda há bem pouco tempo, em 1923, se vê livre da endemia, Macau comparticipando em um agrande parte das mesmas condições nosológicas e mantendo com essa colónia uma comunicação por assim dizer permanente, não regista, desde 1915 um só caso de peste, causando êste facto a admiração das próprias autoridades sanitárias da colónia vizinha
COSTA, Peregrino da  –Epidemiologia de Macau in Anuário de Macau, 1927.

Postais da Colecção “MACAU ANTIGO” (1), emitidos pelo Instituto Cultural de Macau na década de 90 (século XX), a preto e branco (fotografias antigas de Macau – finais do século IX e princípios do século XX). (2)
Hoje trago mais dois postais, referentes ao Mercado Vermelho e à Avenida Conselheiro Ferreira de Almeida.

MACAU ANTIGO -Mercado Vermelho

O Edifício do Mercado Vermelho ou Mercado do Almirante Lacerda, mais conhecido por Mercado Vermelho (紅街市大樓) foi construído em 1936 tendo sido projectado pelo 3.º Conde de Senna Fernandes (3). Fica no cruzamento da Avenida Almirante Lacerda e  Avenida Horta e Costa. Foi traçada em 1930 e tem três pisos. Revestido de tijolos vermelhos daí o seu nome. Faz parte da lista do Património Cultural de Macau, como edifício de interesse arquitectónico (Decreto Lei n.º 83/92/M de 31 de Dezembro) (4)

MACAU ANTIGO -Av Conselheiro FerreiraPavimentação da Avenida Conselheiro Ferreira de Almeida

A Avenida terá sido iniciada cerca de 1895 juntamente com as obras de  saneamento da área de S. Lázaro e a construção das casas da Rua de Volong, afim de conter a epidemia – peste bubónica em Macau, Hong Kong e Cantão iniciada em 10-04-1895 (5) e que durou até 1896 com casos esporádicos em 1897 e 1898. Esta foto no entanto será já do princípio da década de XX .
Recorda-se que foi em 1919 que a Santa Casa da Misericórdia teve autorização para construção de dois prédios na Avenida e de outros dois na Rua de Tap Seac (hoje património classificado),  bem como proceder ás obras do prédio n. 89 no antigo Asilo dos Órfãos (iniciado em 1900), depois transformado em Liceu Central de Macau ( 1924) (hoje Instituto Cultural do Governo da  RAEM) (5)

(1) Adquiridos na Plaza Cultural Macau Lda. (Av. Conselheiro Ferreira de Almeida, n.º 32 G). A colecção tem 20 postais.
(2) Muitas destas fotografias encontram-se publicadas em muitas publicações (livros, revistas, jornais, etc) e na web.
(3) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XIX, Volume 3. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, Macau, 1995, 467 p (ISBN 972-8091-10-9). Há outras fontes que indicam o arquitecto macaense Júlio Alberto Basto
(4) Uma descrição do Mercado poderá ler-se  em “Às compras no Mercado Vermelho” em:
http://oriente-adicta.blogspot.pt/2010/07/as-compras-no-mercado-vermelho.html
e uma descrição mais pormenorizada do edifício, no “site” “H.P.I.P. – Património de Influência Portuguesa – Equipamentos e Infraestruturas
http://www.hpip.org/def/pt/Homepage/Obra?a=923
(5) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XX, Volume 4. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, 2.ª Edição, Macau, 1997, 454 p (ISBN 972-8091-11-7)

Foi nesta data inaugurado o busto de Vasco da Gama (1), projecto do escultor Tomás da Costa que se serviu de um retrato existente no Museu Nacional de Arte Antiga (2).

Monumento da Vasco da Gama I“INAUGURADO EM 31 DE JANEIRO DE 1911

EM HOMENAGEM OA GRANDE NAVEGADOR

PORTUGUÊS VASCO DA GAMA QUE EM 1498

DESCOBRIU O CAMINHO PARA A ÍNDIA”

Foto do autor (2011), com má qualidade.

O pedestal de granito ergue-se no centro da Alameda Vasco da Gama (3), encimado pelo busto de bronze de Vasco da Gama. Este foi projectado em 1898, (4) por ocasião da celebração do IV Centenário do descobrimento do caminho marítimo para a Índia. No entanto, as obras só começaram em 1907.
Eis a acta da cerimónia:
Aos trinta e um dias do mês de Janeiro do ano de 1911, nesta cidade do Santo Nome de Deus de Macau e Avenida Vasco da Gama, sendo o Governador interino o segundo-tenente da Armada Álvaro Cardoso de Melo Machado, presente a este acto, bem como os Conselhos do Governo e da Província, o Leal Senado da Câmara, corpo consular estrangeiro, oficialidade da Estação Naval, oficialidade, os membros das antigas comissões e subcomissão dos festejos do 4.º centenário de Índia, todo o funcionalismo civil, militar, eclesiástico e cidadãos, residentes neste cidade, formada a guarda de honra por uma força da guarnição da Canhoneira Pátria, se procedeu à inauguração do monumento por iniciativa e proposta da comissão executiva local do 4.º centenário do descobrimento do caminho marítimo para a Índia, em sua sessão de 3 de Fevereiro de 1893 (1) (5)

Monumento da Vasco da Gama 1929FOTO DE 1929

Monumento da Vasco da Gama IIJardim de Vasco da Gama  (2011 – Foto do autor)

O projecto do monumento mais ambicioso do que a realidade actual, era constituído por dois corpos de mármore sobrepostos, encimados por um busto em bronze. O conjunto elevava-se sobre uma escadaria de granito em forma hexagonal. Mas pela escassez de meios, e polémica nos “media” sobre o melhor meio de gastar o dinheiro (6), a execução do projecto foi alterado.
Monumento da Vasco da Gama IIINa face anterior do pinto está embutido um baixo-relevo de mármore representando o Adamastor, as naus agitadas por uma tempestade, e Vénus empunhando uma trombeta a dirigir-se a Júpiter para interceder pelos lusitanos. No segundo corpo, aparecem os baixos relevos dos instrumentos náuticos.(1)

Monumento da Vasco da Gama IVJardim de Vasco da Gama  (2011 – Foto do autor)

(1) TEIXEIRA, P. Manuel – A Voz das Pedras de Macau. Macau, Imprensa Nacional, 1980, 324 p.
(2) Tomás de Costa (Tomás de Figueiredo Araújo Costa , 1861-1932) escultor da Academia Portuense de Belas Artes da Universidade do Porto, planeou para Macau um “Monumento a Vasco da Gama” (inaugurado em 1911). É co-autor  com o arquitecto  Ventura Terra, do Monumento ao Duque de Saldanha. Em 1894 disputou o concurso para o “Monumento ao Infante D. Henrique” lançado pela Sociedade de Instrução do Porto, com o projecto “Invicta” executado em Paris Por volta de 1910 produziu para o Palácio de S. Bento um busto da República, hoje pertença do Museu da Assembleia da República.
http://sigarra.up.pt/up/web_base.gera_pagina?P_pagina=1004307
(3) A Avenida Vasco da Gama. inaugurada em 20 de Maio de 1898 , projectada pelo engenheiro Augusto César d´Abreu Nunes, situava-se entre o actual Avenida Sidónio Pais e a Estrada da Vitória. Com 500 metros de extensão, ligava a Calçada do Gaio à Rua da Inveja. O busto do grande navegador foi projectado para ser erguido no centro da extinta avenida, hoje reduzida a um jardim com o mesmo o nome.
ARAÚJO, Amadeu Gomes – Diálogos em Bronze, memórias de Macau. Livros do Oriente, 2001, 168 p + |6|, ISBN 972-9418-88-8
(4) Em 18 de Janeiro de 1898, o Governador Eduardo Augusto Rodrigues Galhardo (1897-1900), nomeado governador de Macau em 1987 (chegou a Macau em 12 de Maio) realizou uma reunião alargada a algumas personalidades que convidara, para apreciar o programa das celebrações. Foram escolhidas 8 sub-comissões especializadas, uma das quais ” para tratar da inauguração da Avenida Vasco da Gama e lançamento da pedra fundamental do pedestal em que aer´cllocado o busto do grande navegador (4)

Monumento da Vasco da Gama POSTAL 1984POSTAL de 1965 – Jardim de Vasco da Gama

(5) Segundo Beatriz Basto da Silva in (2), a data da proposta do monumento foi feita a 29-12-1909.
SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XX, Volume 4. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, 2.ª Edição, Macau, 1997, 454 p (ISBN 972-8091-11-7)
(6) No dia 8 de Maio de 1898, o jornal “O Independente” pugnava para que não se realizassem festejos e para que o dinheiro que se previa gastar em fogo, coretos e iluminação, fosse aplicado em saneamento: ” A cidade não está para festas, pouco é o tempo para as desinfecções” (4). Nessa data, Macau enfrentava a epidemia da peste bubónica.