Archives for posts with tag: Penha

Nesta data, Francisco António Pereira da Silveira oficiou ao Senado protestando contra uma fábrica de vermilhão, (2) cujo fumo incomodava os habitantes da Penha e que ali se instalara alegando estar fora da cidade:
«Com quanto eu tribute os meus sinceros respeitos aos Snres. Facultativos de que se compõem a Junta de Saúde, não só pela nobre Arte que exercem, mas them pelos méritos pessoaes de cada hum d´elles comtudo não posso acomodar-me com a exorbitância da hipótese classificando aquelle sítio como fora da Cidade, porque a Cidade chega athe a Barra, que fica mais distante do que o tanque–Mainato, e do Tanque-Mainato se faz caminho p.ª ella. O muro que há do Forte de Bomparto à Penha nunca indicou limite da Cidade, nem já mais foi considerado esse muro como limite da Cidade, mas como hum assessorio do Forte, para do mesmo Forte se fazer caminho seguro ao muro da Penha que lhe he sobranceiro; e principalmente desde o anno de 1825 em que o Governo de Macao fez romper o muro, abrindo passagem, e franqueando o terreno aos habitantes para cultivarem, e edificarem propriedade, e esses moradores à sua custa remirão sepulturas chinas, abrirão caminhos, edificarão propriedades, etc., esse muro já mais foi olhado como barreira da Cidade.
Se o aumento das propriedades chinas sobre os entulhos do lado do porto interior de Macao mereceo a protecção do Governo actual do paiz, que estabeleceo alli huma nova rua com  o titulo de rua nova d´El Rey; reputando sem duvida aquelles edifícios ainda que chinezes como fazendo parte da Cidade Portuguesa de Macao, não menos pode deixar de ser registada parte da Cidade, e o sítio do Tanque-Mainato agregado à Cidade, e à Parrochia de Sm. Lourenço pelo Governo de 1824, onde não só os chinas, mas os Nacionaes alli fabricarão suas propriedades, cultivarão-no, e fizeram a sua principal rua a que o Governo de 1847 deo o nome de rua de Tanque-Mainato – nome que qualquer pode lá ver na taboleta da porta» (3)
(1) Tanque do Mainato, área da cidade situada a leste da Colina da Penha, área que abrange a Rua do Comendador Kou Hó Neng, as Calçadas da Praia e das Chácaras e parte da Estrada de Santa Sancha. A designação da área foi conhecida até ao século XIX como Tanque do Mainato pois havia no local um tanque onde os mainatos lavavam a roupa, significando mainato “aquele que lava roupas”. Esta designação, no entanto,  caiu em desuso, especialmente na parte sul desta área, que é hoje mais conhecida por Santa Sancha (onde estava a Chácara de Santa Sancha)
(2) Francisco António Pereira da Silveira (1796-1873) nasceu em Macau na Freguesia da Sé, numa grande casa situada entre a desaparecida Rua do Gonçalo e a mais nobre das avenidas locais — a Praia Grande — filho de Gonçalo Pereira da Silveira (um abastado comerciante e armador, filho de um capitão de navios da Marinha Real de Goa, natural de Lisboa, Joaquim José da Silveira, que em Macau se casou, na Sé, em 10 de Janeiro de 1760, com uma das filhas de um dos mais conceituados homens da terra, Maria Pereira de Miranda e Sousa, constituindo família e fixando-se na cidade) que nasceu em 19 de Outubro de 1762, homem rico e casado em 1795, com Ana Joaquina, filha do homem mais rico e conceituado de Macau, Simão Vicente Rosa. Deste casamento nasceram pelo menos três filhos, Francisco António, Gonçalo e Ana Joaquina.
Francisco António casou com Francisca Ana Benedita Marques, em 15 de Agosto de 1819, e assim ficou relacionado com as famílias mais nobres e ricas de Macau, uma vez que sua mulher descendia, por um lado, em linha recta, de Domingos Pio Marques Castel-Branco, pertencente à melhor nobreza do Reino, e por outro à riquíssima família Paiva.
Deste casamento nasceram cinco filhos: uma menina, a primogénita, e quatro varões, dos quais apenas três atingiram a idade adulta.
Francisco António, depois de ter frequentado o Seminário de São José até 1818, data em que seu pai faleceu, veio a constituir família, tendo de rejeitar a ida para Coimbra para prosseguir os estudos de Direito com que sonhava (regalia que conquistara por ser um dos dois mais brilhantes alunos do seu tempo), para ocupar o lugar de chefe da família e gerir os negócios da casa. No entanto veio a perder, depois, a fortuna paterna nos riscos do mar. Foi director e administrador da Tipografia do Governo, exonerado a seu pedido em 1825.Foi almotacé da Câmara em 1815; vereador do Leal Senado em 1822; escrivão do juízo de direito de Macau em 1843; Irmão, tesoureiro e provedor da Santa Casa da Misericórdia. (4)
Ver biografia deste homem-bom, num trabalho de Ana Maria Amaro para a «Revista de Macau» , disponível em:
http://www.icm.gov.mo/rc/viewer/30019/1715
(3) Vermilhão ou Vermelhão: substância tintória, o mesmo que mínio ( designação vulgar do deutóxico de chumbo, também conhecido por cinábrio, zarcão ou vermelhão (Dicionário de língua Portuguesa de Cândido de Figueiredo, 1986)
Vem do francês: vermeilionpigmento opaco alaranjado que tem sido usado desde a antiguidade. O pigmento ocorrente na natureza é conhecido como cinabre. Quimicamente, o pigmento é sulfeto mercúrico (HgS) e como muitos compostos de mercúrio é tóxico. A maior parte do vermelhão produzido naturalmente vem de cinabre extraído na China, daí seu nome alternativo vermelho China ou vermelho chinês.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Vermelh%C3%A3o
(4) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia da Macau, volume I, 1997, p. 419-420.
(5) FORJAZ, Jorge – Famílias Macaenses, Volume III, pp. 801-802,  1996.

A “Gazeta de Macau” (2.ª fase) (1) que se iniciou em 17-01-1839 terminou a 29-08-1839 (2) após a publicação do nº 32. Era um semanário impresso na Tipografia Macaense e tonha como redactor Manuel Maria Dias Pegado. (3)
No início da publicação apresentava-se como jornal oficial, (após a suspensão da publicação do «Boletim do Governo da Província de Macau, Timor, e Solor»), (4) passando depois a jornal de oposição, lutando pela liberdade de imprensa. Foi sujeito à censura.
Alguns “Avizos” curiosos/interessantes, extraídos deste semanário
(1) “Gazeta de Macau” (1.ª fase) foi publicada de 03-01-1824 a 30-12-1826 tendo saído 52 números. O redactor era António José da Rocha mas segundo algumas fontes, o redactor verdadeiro era um frade agostiniano.
(2) “29-08-1839 – Terminou, após 32 números, a publicação do semanário «Gazeta de Macau», editado por Manuel Maria Dias Pegado, irmão do célebre deputado e lente da Universidade de Coimbra e da Escola Politécnica, o doutor Guilherme José António Dias Pegado.” (GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954)
(3) Manuel Maria Dias Pegado (1805 – ? ) fundou três jornais em Macau: o semanário «Gazeta de Macao» cujo primeiro número saiu a 17 de Janeiro de 1839 e terminou a 29 de Agosto de 1839, após 32 números; «O Portuguez na China» em 2-09-1839 (durou até até 04-05-1843); o «Procurador dos Macaistas» em 06-03-1844 (até 22-09-1845).
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/manuel-maria-dias-pegado/
(4) “09-01-1839 – Suspendeu-se a publicação do Boletim do Governo da Província de Macau, Timor e Solor, que era impresso, na Tipografia Macaense, oficina de S. Wells Williams, após cinco números, reaparecendo só no ano seguinte, com o mesmo título a 08-01-1840. (GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954)

Dois postais (1) da colecção MAM, de 18 cmx 12 cm, com duas excelentes fotografias de Ou Ping, fotógrafo de Macau.
Lembro-me muito bem destes “ardinas” de Macau que a pé ou, os mais afortunados, de bicicleta, distribuíam logo pela manhã (muitas vezes ainda antes de amanhecer) os jornais (chineses e portugueses), pondo nas caixas de correio das residências dos assinantes, ou como este, verdadeiros malabaristas ao atirarem para as varandas dos 1.ºs e 2.º andares das casas, sem deixarem de pedalar.
歐平mandarin pīnyīn: ōu píng ; cantonense jyutping : au1ping4
Ou Ping trabalhou para o Jornal Ou Mun mais de 40 anos. Foi Presidente da Sociedade Fotográfica de Macau e sócio honorário da Sociedade Internacional de Imagem de Hong Kong. Foi convidado pela Associação de Fotógrafos da China, para em Pequim, integrar no Festival Internacional de Cinema da Ásia. Participou em muitas exposições tanto em Macau como no estrangeiro.
http://www.macaucreations.cn/artist/view/34.html
NOTA: Pode ver e ouvir (em cantonense) este artista aquando duma sua exposição:
Reminiscence – Macao Old Photos Collection Exhibition
https://www.youtube.com/watch?v=F3vUdlgXJCk
(1) Da «Colecção do Museu de Arte de Macau», comprado em 2015.

Com a minha bengala passeio pela margem da Praia Grande
A rua ziguezagueante estende entre salgueiros verdejantes
Contemplo uma parte do céu através da folhagem do arvoredo
Respiro o ar puro da madrugada na colina da Guia

As gaivotas voam sobre o mar que parece um espelho
Os barcos à vela voltam em ondas calmas
De manhã, compra-se peixe fresco no mercado
Esqueço os perigos da navegação

Aprendo a plantar flores nos vãos da varanda
Orquídeas e crisântemos brotam dia a dia
Aconselho a brisa primaveril que vem à janela:
Não arranques as flores para pintar os arrebóis do crepúsculo.

Versos de Liang Beiyun – 梁北云 (1907 – 2001) de 1968
Tradução de Wei Ling / Luís Rebelo in (1)

Postal (20 cm x 13,3 cm) – Fotografia de Lei Chiu Vang (2)
A Praia Grande, o hotel Lisboa, a estátua Ferreira do Amaral e a Penha
Século XX, anos 80

Liang Beiyun nasceu na província de Fujian. Estudou em Wuhan, Xangai e no Japão. Activista cultural, dedicou grande parte da sua vida à criação de escolas na China e entre as comunidades chinesas do sudeste asiático. Calígrafo, pedagogo, poeta viveu em Macau nos últimos anos da sua vida (1)
梁北云  – mandarim pīnyīn: liáng  běi yún; cantonense jyutping:  loeng4bak1 wan4
(1) ABREU, António Graça de; JOSÉ, Carlos Morais (coordenadores) – Quinhentos Poemas Chineses. Nova Veja, 2014, 390 p.
(2) Postal da Colecção “Memória Colectiva dos Residentes de Macau – Imagens Antigas de Macau, n.º 2”

a-vistors-handbook-to-romantic-macao-capaFolheto turístico em inglês (41 páginas), “ A Visitor´s Hanbook to Romantic Macao”, publicado em 1928, pelo “The Publicity Office Port Works Department, Macao”. Impresso no “N. T. Fernandes e Filhos” (1). Este folheto de 1928 é da 2.ª edição (a 1.ª edição foi em 1927)
PREFACE TO SECOND EDITION
The active demand for this booklet has proved the need for such a publication, and the complete exhaustion of the first edition in less than two weeks has prompted the issue of a second edition, considerably added to with new sections and much further useful information.
The additionod a Bibliography as an appendix was suggested by that in the recently publishedResumo da Historia de Macauby Eudore de Colomban and Captain Jacinto N. Moura, and it is to be hoped that visitors will find Macao sufficiently interesting to make full use of the works enumerated in the short list to gain a better knowledge of “ Romantic Macao”
                                                                           THE PUBLISHERS
                                                                      Macao, 4th February, 1928

a-vistors-handbook-to-romantic-macao-1-a-pagina1-ª Página

Tópicos abordados: “The Charm of Old Macao”; “Topographical”; “Clmate”; “Historical”; “A Suggeste Itenerary”; “ Beautiful Macao”; “General Information”; “Harbour Works”; “Shipping”; “ Banking”; “ Hotels, & C.”; “Transport”; “ Commerce and Enterprise”; “ Industry and Crade”; “Buyers Guide”; “ Public Services”; “Bibliography”.

a-vistors-handbook-to-romantic-macao-mapa-1928MAPA DE MACAU E ILHA DA TAIPA (escala 1:80.000)

Na página 12, uma interessante sugestão de um percurso a pé por Macau pelos pontos turísticos principais, com a romanização para o inglês dos caracteres chineses desses locais.

a-vistors-handbook-to-romantic-macao-sugestao-de-itenerarioComeça na Avenida Almeida Ribeiro, passando pelo Jardim de São Francisco e Jardim de Vasco da Gama; subindo para a Colina da Guia, descendo para Flora, passando pela Montanha Russa e a Praia da Areia Preta (inexistente actualmente) até à Porta do Cerco. Depois, o Hipódromo (inexistente hoje) e o Templo Lin Fong. A seguir o Cemitério Protestante (antigo),  a Gruta de Camões e as Ruínas de S. Paulo. Depois a Sé Catedral e o Colégio de S. José, subindo para a Penha. Descida para a Santa Sancha e seguindo pela Avenida da República até ao Templo de Á Má, terminando o percurso pelo Porto Interior até à Avenida Almeida Ribeiro.

Transcrevo algumas chapas (1) com assuntos “curiosos” do   «Registo em portuguez das Chapas remetidas às autoridades chinezas, pelo Procurador de Macao, sendo este o morador José Baptista Miranda e Lima» (2)
CHAPA I – Chapa de resposta ao M. Cso-tam sobre as escavações no mato da Penha
“Eu o Procurador & respondendo à Chapa do Snr M. Cso-tam sobre as escavaçoens no matto da Penha, sou a dizer-lhe q. examinando eu o motivo das d.as escavaçoens , vim no conhecimt.º , de q. apenas se tem applainado o lugar onde hé prezentemt.e Semiterio de Christaons, cercando-o com pandões (3) para evitar, q. os caens ali entrem, e revolvão as sepulturas. O que partecipo ao Snr. M. para sua intelligencia.
Macáo 28 de Janr.º de 1833 – Lima”
CHAPA II – Chapa ao M. de Hiam-xan sobre a divida de Fonkua com C.A. Pacheco
“Eu o Procurador & faço saber ao Snr M. de Hiam-xan, q. havendo o anno passado, meu Antecessor feito varias chapas sobre a divida do China Fonkua com Cypriano Ant.º Pacheco não tem havido athé agora resposta deciziva sobre aquella divida, motivo por q. requeiro p.r esta a sua decizão; e q. mande entregar Botica ao d.º Pacheco, visto q. a divida excede o dobro do vallor da d.ª Botica
Macáo 2 de Abril de 1833 – Lima”
CHAPA III – Chapa ao M. Cso-tam sobre a divida de Fonkua a C. A. Pacheco
“Eu o Procurador & faço saber ao M. Sr M. Cao-tam, q. p.ª accabar a questão de Fonkua com C. Ant.º Pacheco, se sirva mandar ao d.º Pacheco a botica de Fonkua p.r conta de toda a divida, q. este tem com aquelle.
Mácao 22 de Agosto de 1833 – Lima”
(1) O termo “Chapas” ou “Chapas sínicas” significa ofícios ou ordens (registos) escritos pelos mandarins que eram enviados pelas autoridades chinesas às autoridades macaenses (nomeadamente ao Procurador) durante a Dinastia Qing (1693-1886) e vice-versa
(2)  «MOSAICO», Vol. VIII, n.º 47-49, 1954.
(3) pandões – paredões ?

Mais três imagens de Macau, de 1921 reproduzidas no livro “Tellurologie et Climatologie Médicales de Macau” de António do Nascimento Leitão (1) (2)

MACAO Barra vue de Penha - LapaMACAO – La barre vue de Penha. (À droite l´ile de Lapa)

 “En d´autres sondages dans le fleuve, on a heurté à des lits argilo-sablonneux, de texture faible, à 7 mètres, et on a trouvé aussi un lit d´argile grise à 4 m., 2 au-dessous du zéro hydrographique, devant la pagode de Barra…(…)
C´est vrai que, au delá de Lapa, dans le fleuve et dans les rizières que l´avoisinent, à la distance de quelques kilomètres en amont de Macao, à l´endroit connu sous le nom de «aguas quentes», on remarque l´existence d´abondants jaillisements d´eaux thermales, à blanche fumée et odeur minérale très accentuée.” (1)

 MACAO Plage Areia PretaMACAO – Plage Areia Preta

 “Les terrains bas sont formés par les sédiments argilo-sablonneux du pliocène (?), par les couches diluviennes et alluviennes modernes (des graviers, du sable, des vases et de l´humus). les sondages faits dans la plus grande zone des terrains bas (Mong-Ha, Long-Tin-Chin), à une profondeur de 6 à 17 mètres, ont révélé l´existence de lits d´argile rouge, jaune et verte, avec du sable, de texture falble et de peu d´épaisseur, et elles ont révélé encore l´existence de quelques grès, peu consistants, argileux, rouges et verdâtres, avec de petits noyaux de feldspath kaolinisé.” (1)

MACAO Quartier ChinoisMACAO – Une rue du quartier chinois
(Avenida Almeida Ribeiro)

Les suaves ondulations du terrain, en pente plus ou moins douce, les courbes si gracieuses de ses plages, le vert foncé des pins de ses collines boisées, l´aspect de coquette polychromie de la ville, avec sa charmante silhouette découpée dans l´espace, – tout cela, dans un ensemble d´éclat, donne une impression profonde d´inattendu pittoresque, dans la monotonie de cette région. ” (1)
(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/06/01/leitura-tellurolo-gie-et-climatolo-gie-medicales-de-macao/
(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/06/28/imagens-de-1921-i/

O bairro do Patane é também designado pelos chineses por Sá Kong, nome por que era conhecido, outrora, um montículo que, então ali existia, formado por acumulação de areia trazida pelo vento.
Por este motivo, o referido local também tinha a designação de «Fei-Lôi-Kóng» (montículo que apareceu a voar). Este montículo, segundo a tradição, desapareceu durante um abalo sísmico que, dizem os historiadores chineses, devia ter ocorrido entre 1862 a 1875, durante o reinado do imperador T´ông-Tchi. (1)

Os Chineses também chamam a este local «Sá -Lei-T´âu», (2) devido ao facto de as suas ruas, quando da construção das primeiras casas do referido bairro, apresentarem o formato duma pera.

Da primitiva povoação (3) nasceu o actual bairro do Patane, um dos mais populosos dos bairros congéneres. (4) . Nos finais do século XIX e princípios de XX, este bairro chegou a ser um importante bairro comercial, onde se encontravam concentrados os estabelecimentos que, então, negociavam com o interior da China. (5)

É no sopé do montículo do Patane (sobre o qual se ergue o recinto do Jardim da Gruta de Camões) que se encontra o templo conhecido entre os chineses pelo nome de «Templo dos Deuses Locais» – Tou Tei Miu, já referido em anterior postagem: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/11/05/lenda-do-templo-dos-deuses-locais-tou-tei-miu/

Mapa PATANE, 1984MAPA DE MACAU (ZONA DO PATANE) (1984) (6)

(1) Imperador Tongzhi 同治 (1856-1875), nono imperador da Dinastia Manchu, reinou de 1861 a 1875.
(2) 梨頭 (mandarim pinyin: li tou; cantonense jyutping: lei4 tau4 – cabeça de pera.
(3) Uma das primeiras referências a esta zona, foi feita pelo Padre António Cardim, reitor do Colégio de Macau de 31-08-1632 a 23-05-1636 e autor de “Título dos bens de raiz do collegio de Macau”. Neste, referia que existia já nessa época um local de Macau, denominado «Penedos de Camões», junto do «campo dos patanes»
(4) A população total de Macau sem tomar em conta a população da Taipa e Coloane em finais do século XIX:

BAIRROS

1867

1871

1878

Bazar

14.572

19.877

14.343

Patane

8.481

7.215

6.524

Mong   Há

8.182

5.576

2.328

S.   Lázaro

2.590

2.598

3.111

Sé,   S. Lourenço, Santo António e Barra

22.426

20.941

20.313

TOTAL   DA POPULAÇÃO TERRESTRE

56.252

56.202

46.619

POPULAÇÃO   MARÍTIMA

15.590

10.060

8.831

TOTAL

71.844

66.267

55.450

Quadro retirado de CORVO, João de Andrade – Estudos sobre As Províncias Ultramarinas, Lisboa 1887,189 p.
(5) Vejamos agora quaes são as cinco povoações ruraes mais antigas a que nos referimos, para depois nos ocuparmos da cidade christã, como lá se lhe chama.
O primeiro d´estes bairros suburbanos fica proximo da fortaleza da Barra, e é por isso denominado povoação da Barra.
O outro acha-se na encosta do outeiro da Penha, onde está levantada a fortaleza do Bom Parto; chama-se povoação do Tanque do Mainato.
É aqui que se encontram as mais bonitas vivendas de Macau, chamadas «chácaras».
As tres restantes povoações são a do Patane, de Mong Há, e a de S. Lázaro.
A do Patane é de todas cinco a mais importante, já pela industria fabril, já pelo seu commercio, principalmente em madeiras de construcção.
Fica no littoral do porto interior, na especie de cotovello, que a peninsula faz ao formar a enseada da ilha Verde, terminando onde começa a de Mong Há
A povoação do Patane tem hoje tomado tão grande desenvolvimento, são tantos n´ella os estaleiros e estancias de madeira, que  se pode considerar dividida em tres povoações a saber: Patane propriamente dita (bairro hoje, a bem dizer, urbano), San Kiu e Sá- cong (povoações ruraes e piscatórias.)
É entre o Patane e Mong Há que predominam as hortas e as varzeas.
Artigo não assinado no “O Occidente”, 1890.
(6) Parte do Mapa de Macau retirado de “Antigos Navegadores e Marinheiros Ilustres nos Monumentos e Toponímia de Macau. Edição da Obra Social dos Serviços de Marinha, Macau, 1984, 17 p.

Dentro da rubrica “AS NOSSAS GRAVURAS”, a “Revista Illustrada de Portugal e do Estrangeiro” “OCCIDENTE” (1) publicou uma gravura (“segundo uma photographia”) intitulada “ÍNDIA PORTUGUEZA – MACAU”, com a seguinte “descripção para melhor intelligencia do leitor
POSTAL DE ÍNDIA-MACAU 1890
Representa a nossa gravura a parte ocidental da cidade, principal centro de commercio, vendo-se também o seu magnifico ancoradouro no braço do rio Cantão. 
A vista que publicamos é tirada do alto da Penha; para a direita avista-se na distancia um ponto escuro que é a gruta de Camões, as montanhas que se veem ao fundo pertencem a Anção ou a Hiamxan (2) da ilha de Ngão-men, a maior do Golpho em que desagua o Cantão; para a esquerda avista-se por ordem primeiro a praia de Manduco, a Praia Pequena ao lado da qual está a povoação chineza denominada Bazar, (2) segue-se a praia do Terrafeiro. 
A pequena ilha que se vê a meio do rio é a ilha verde, que até 1762 foi propriedade dos jesuítas e onde hoje está o seminário. 
A parte principal da nossa gravura representa o centro commercial da cidade onde os edifícios são mais importantes.”
NOTA: Por desconhecimento geográfico ou falta de atenção do revisor, a legenda da “foto” está intitulada

“ ÍNDIA PORTUGUEZA – MACAU” 

A mesma “foto” foi republicada na mesma revista mas em 1897, já com a legenda:

 “ MACAU – CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS”

POSTAL DE MACAU Publicado 1897
(1) “OCCIDENTE” n.º428 (1890)
(2) Heung-san 香山 – mandarim pinyin: xiang shan; cantonense jyutping: hoeng1 saaan1 ), a área ao sul do Delta do Rio das Pérolas na Província de Guangdong. Ver https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/05/21/noticia-de-1743/
(3)“O bazar é exclusivamente habitado por Chinas e fica a O. da fortaleza do Monte, na parte que se liga à aba do outeiro e extende-se à margem do porto interior, vulgarmente conhecido pela denominação de «rio de Macau». É cortado por uma infinidade de ruas estreitas e bêcos sem sahida, que constituem verdadeiros labirynthos. A qualquer hora do dia grande multidão de Chinas percorre estas vias publicas, os quaes no giro dos seus negócios fervilham de todos os lados,
O bazar é o centro commercial dos Chinas em Macau.” É lá que estão estabelecidos os mercados da carne de vaca ou de porco, das aves, do peixe, do arroz, dos legumes, hortaliças, fructas, etc.” (1)

Livro editado pela Livraria Bertrand em 1963 (?), inserida na Antologia da Terra Portuguesa (n.º 16)  com o título
O Ultramar Português Cabo Verde, Guiné, S. Tomé  e Príncipe, Macau e Timor“, com introdução, selecção e notas de Luís Forjaz Trigueiros. (1)
De Macau, foram seleccionados artigos de Camilo Pessanha, Joaquim Paço d´Arcos, Barradas de Oliveira, Carlos Estorninho e Pe. Benjamim Videira Pires.

Apresenta um mapa de Macau na pág. 169, que não deve ser de 1963, pois nessa data, já a Taipa Grande e a Taipa Pequena formavam a Ilha da Taipa, pela sucessivas colmatagens entre os dois relevos.

e ainda seis fotos de Macau, nomeadamente:

Vista Geral do Porto Interior (p. 171),
Gruta de Luís de Camões (p. 173),
Pedra de Armas (Fortaleza do Monte) (p. 175), Rua da Felicidade (p. 183),
Pôr do Sol na Baía – Barcos Chineses (p. 191) e
esta com  Vista Geral da Praia Grande, visualizando as colinas da Penha (a mais próxima) e da Guia (ao longe) (p. 179).

(1)TRIGUEIROS, Luís Forjaz (introdução, selecção  e notas) –  Cabo Verde, Guiné, S. Tomé  e Príncipe, Macau e Timor. Livraria Bertrand, 1963 ?, 242 p., de 17,3 cm x 11,8 cm.