Extraído de «O Macaista Imparcial» I-97, 15 de Maio de 1837
Suntó – Funcionário chinês com o título de vice-rei ou governador-geral duma província na China. Do chinês Tsung Tu ou Tsung Tou ( DALGADO, Sebastião Rodolfo – Glossário Luso-Asiático, pp. 329-330).
NOTA: O novo Suntó (Chuntó ou Sumpto) de Cantão, em 1582, estranhando o nosso viver “como em terra portuguesa”, iniciou uma série de chapas (ofícios) com exigências, a troco da nossa posse da terra, só se calando com um bom saguate. (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume I, 2015, p. 78)
Uma vista da “Bocca Tigris” (1) e Fortaleza (à esquerda) em 1857. The Illustrated London News
(1) “Bocca Tigris” (“boca do tigre”) ou “Bogue” é um estreito apertado no Delta do Rio da Pérola que separa actualmente Shiziyang no Norte e Lingdingyang no Sul perto da cidade de Humen na Província de Guangdong (Cantão). Por causa da sua localização estratégica – porta de entrada marítima para Guangzhou (cidade de Cantão), – o estreito estava fortificado e aí se deram algumas das principais batalhas da Primeira Guerra do Ópio.
Arquivos de Macau IIIsérie, Vol XVIII, n.º 4 de OUT 1972, p. 224
NOTA 1:Botica do Hospital Real Militar (1) posteriormente com outras designações: Laboratório Farmacêutico (1810); Laboratório Químico Farmacêutico (1877); Laboratório Químico Farmacêutico Militar (1887); Laboratório Químico Farmacêutico do Exército (1943), foi criado em 1808, pelo Príncipe Regente D. João (decreto de 21 de Maio) como Botica Real Militar, anexa ao Hospital Militar e Ultramar, que estava instalado no antigo Colégio dos Jesuítas, no morro do Castelo, no Rio de Janeiro (Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1930) in Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz – http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br)
NOTA 2: Alguns vocábulos da “Relação dos Medicamentos”:
Anchões (plural de anchão); termo macaense “anchom” – boião pequeno, compoteira. Do cantonense ham (tampa) e choum (malga) – Dicionário Luso-Asiático de Sebastião R. Salgado)
Arráteis (plural de arrátel) – antiga unidade de medida de peso equivalente a 459 gramas. (2)
Arrobas (plural de arroba) – peso antigo de 32 arráteis, ou um quarto de quintal, 14,688 Kg. (2)
Beijoim ou benjoim – resina balsâmica do benjoeiro (árvore estiracácea) (2)
Bispote – recipiente portátil para urina ou dejectos humanos.= bacio. (2)
Onça – peso da décima sexta parte do arrátel ou da duodécima parte da libra das farmácias (2)
Raiz da China – planta esmilácea (2)
Ruibardo – género de plantas poligonáceas, de raiz medicinal. (2)
Volatil – ave doméstica (2)
(1) Hospital Real Militar e Ultramar (outras denominações: Hospital Real Militar e Ultramar (1768); Hospital Real Militar; Hospital Regimental do Campo (1832); Hospital Militar da Guarnição da Corte (1844); Hospital Central do Exército (1890)), foi criado em 1832 (decreto 0-135, de 17 de fevereiro) quando foram extintos os Hospitais Militares em todo o país, transformando os existentes em “Hospitais Regimentais”. O Hospital Real Militar e Ultramar foi transferido para o Quartel do Campo da Aclamação, na actual Praça da República, e passou a se chamar Hospital Regimental do Campo. Em 29 de Dezembro de 1844, em face da precariedade das instalações, voltou a instalar-se no Morro do Castelo, novamente centralizado, para atender a todos os militares do Exército, com a denominação de Hospital Militar da Guarnição da Corte.
D. Alexandre Pedrosa Guimarães (1) publica uma Pastoral contra o traje feminino usado em Macau desde 1557: “ … He a primeira que as mulheres de qualquer condição, e estado nunca mais tornem a entrar nos templos com condes, que são estes trapos sujos e porcos, que amarrão na testa …”
Senhora macaense (e outras figuras) com saraça e bioco (2) armado Pena sobre papel – Esboço de George Chinnery (1825-1852)
No dia 8 de Abril, o povo de Macau protesta contra esta Pastoral e a 30 de Junho de 1780, os pais e mães de família de Macau, apresentam apresenta ao vigário-geral do Bispado, uma exposição de mais de 100 páginas, cujo resumo, segundo Mons. Teixeira, é o seguinte: (3)
“I. Em Goa as mulheres usam o sari, que se envolve pela cabeça e é diferente do trajo português.
II. Idem, em Diu e Damão.
III. As mulheres usam também os seus trajos tradicionais em Bombaim, Ceilão S. Tomé, Costa de Coromandel e Bengala.
IV. Nos domínios portugueses da América as mulheres envolvem-se numas toalhas, cobrindo a cabeça com um pano.
V. Na Europa, incluindo Lamego, Coimbra e Porto, usam mantilhas. (4)
Este uso é legítimo e necessário:
1.º Por ser denominado conde (5) forrado de papel, fingindo um bró (6) de fronte agudo de altura de três dedos sobre que se amarra um pano branco de três pontas para segurar a tal forma de bró de fronte, e nele se possa segurar o pano ou saraça (7) com uma fita. 2.º Também porque este uso é imemorial de dois para três séculos sem contradição nem ter havido no dito uso escândalo nem ocasião de pecado.
3.º E sim porque o Exmo. Sr. D. Bartolomeu, Bispo (8) que foi desta cidade mais de dez anos e que nela teve geral aprovação por suas pias e virtuosas demonstrações de muita caridade; e com a mesma repartia as mulheres pobres os panos de segurar os denominados condes para que as mesmas pudessem ir às Igrejas gozar os ofícios e Santos Sacramentos.
4.º Logo, porque pela proibição feita por Sr. D. Alexandre, Bispo desta Cidade, se tem seguido escandalosas murmurações, procedimentos irregulares, descomposturas pelos adros das Igrejas, e muitas tem deixado de frequentar os Santos Sacramentos pelo pejo e vergonha de não irem compostas conforme a sua criação (…)” e seguia-se o protesto.
Apesar desta Pastoral, as mulheres continuaram com o seu vestido tradicional, que ainda usavam em meados do século XIX.”
Senhora de Macau com saraça, com o seu criado Pena sobre papel – Esboço de George Chinnery (1825-1852)
(1) D. Alexandre da Silva Pedrosa Guimarães (1727-1799) foi eleito Bispo de Macau a 13 de Julho de 1772. Chegou a Macau a 23-08-1774, tomando posse a 04-09-1774. Tomou posse do cargo de Governador e capitão-Geral de Macau, interinamente, a 25-06-1777. Adepto incondicional da política pombalina, e acérrimo inimigo dos jesuítas, deixou de ser governador a 1 de Agosto de 1778, (3) com a queda do Marquês de Pombal, e falecimento do Rei D. José em 1777. https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/d-alexandre-da-silva-pedrosa-guimaraes/
(2) Bioco – Véu, rodeandoo rosto, em forma de coca (do castelhano, espécie de capuz). De tradição mourisca (9)
(3) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume I, 2015, p. 303.
(4) Mantilha – espécie de manto de seda, ou de outro tecido, com que as mulheres cobrem a cabeça e parte do corpo geralmente até um pouco abaixo da cintura (9)
(5) Condê (do tâmul) – penteado que consiste em repuxar o cabelo e armá-lo em grande nó que se prende na nuca com ganchos geralmente de prata. Em Macau usou-se o termo para designar o pano branco com que se armava e prendia a saraça que servia de véu (9)
(6) Bró – palavra usada no Brasil para designar o penteado feminino constituído por um monte de cabelo repuxado e arrumado no alto da cabeça. (9)
(7) “Da análise do documento em estudo parece poder-se concluir que este nome era atribuído ao véu ou espécie de Mantilha com que as mulheres cobriam a cabeça e o busto. Supomos que, neste caso, se trate, apenas de ambiguidade no uso dos termos uma vez que as mulheres usariam além do baju ou do quimão, duas saraças ou panos-saraças: um para servir de saia e outro para mantilha – iguais, ou muito parecidos, nas dimensões e nos desenhos. Estes panos podiam ser de algodão estampado (provavelmente batik) ou em seda, por vezes bordada ou pintada, trazidas da Índia e, ao que parece, mais tarde também de Manila” (9)
Saraça (do malaio sarásah) – tecido de cor, geralmente de algodão, com que se enrolam da cintura para baixo as malaias e algumas índias cristãs (DALGADO, Sebastião R. – Glossário Luso-Asiático , 1919, Vol. II, p. 293).
A saraça era um vestido fino de algodão que se usava por cima do baju ou quimão. Nos pés usavam chinelas, pouco dispendiosas, mas, com o manto, seria necessário calçar sapatos com as respectivas fivelas. (3) (9)
(8) D. Bartolomeu Manuel Mendes dos Reis (1720 – 1799), doutorado em Teologia pela Universidade de Coimbra em 29 de Novembro de 1752, foi nomeado Bispo de Macau, em Dezembro de 1752 (confirmado em 29 de Janeiro de 1753), tendo chegado a Macau e tomado posse em 1754. Durante o seu episcopado, por causa da perseguição promovida pelo Marquês de Pombal e supressão da Companhia de Jesus, em Portugal, os jesuítas foram expulsos de Macau e sequestrados os bens, ficando a Diocese de Macau gravemente prejudicada. O bispo, desgostoso com a expulsão dos jesuítas, partiu para Portugal em 1765. (3)
(9) AMARO, Ana Maria – O Traje da Mulher Macaense, 1989, pp. 124, 181, 183 e 185)
Antigamente, o balichão, 鹹蝦醬 (1) pasta de camarão salgado (ingrediente/condimento da cozinha cantonense) era abundantemente produzida nas águas costeiras de Macau, pois era muito utilizado quer pelos chineses na sua culinária quer pelos macaenses que incorporaram-no na sua cozinha e consideram-no «coisa de Macau» “O balechão é um tempero ou um acompanhamento para certos pratos. É feito de camarões pequenos, sal, e ingredientes picantes. Guarda-se como uma conserva e vai-se utilizando em pequenas porções que se juntam aos refogados para tempero ou se passam na frigideira para acompanhamento. O nome deve ser de proveniência malaia e aprendido pelos chineses através da culinária macaense . As donas de cada macaenses, que o prepavam para consumo da família diziam que «balechão china é muito ordinário»” (2) NOTA 1 – BALICHÁM – condimento salgado preparado com camarões muito pequenos, secos; muito importante em muitos pratos macaenses (3). Neste livro regista ainda o termo. «Bicho-balichám» como pessoa irrequieta. NOTA 2 – BALCHÃO (prato goês) é o termo registado por Sebastião R. Dalgado, (4), mas conforme referência que extrai do “Ta-Ssi-Yang-Kuo” de 1990, em Macau, o termo usual é BALICHÃO.
NOTA 3 – O nome está na toponímia de Macau nomeadamente a «Travessa do Balichão – 鹹蝦巷» situada no centro da povoação de Coloane, perto do Parque Eanes, entre a Avenida 5 de Outubro e a Rua dos Negociantes. 鹹蝦巷 – mandarim pīnyīn: xián xiā hàng; cantonense jyutping: haam4 haa1 hong6 NOTA 4 – Dum texto em patuá de 23-11-2013 do saudoso Carlos Coelho publicado em (5): “Tõma caldo di Tong-Kuá cô rábo di pêxe, hám-sun-chõi chau-chau sun-keong, kiu-tou cô chá-siu, chau-nap-nap cô chõi-pou, fã-sang, margôso-minchi cô bálichãm máquista, pêxe.cucûz cô sutate, cebolinha china. Sabroso rufã cô arroz branco. Rufã qui nádi pódi pára. Cãva tudo rispirâ fundo. Qui rámede. Tudo cumizaina sã pêdi arroz. Senti tem qui vâi sium pádri confessã qui tâ comê di Gula. Qui ferrádo. Dessã vai-ia. Nuncasã tudo ano tem tanto gente volta nossô amado Terra Macau. Sã nunca? NOTA 5 – Sabores da Lusofonia – Balichão http://www.gastronomias.com/lusofonia/mac007.htm
Extraído de «O Independente» Vol I, n.º 9 de 30 de Outubro de 1868
Louquis – mulher pública, na China (do cantonense Lôu Kôi -老譽 – prostituta) (1)(2) Tancar – Habitante-tripulante do tancá (pequeno barco chinês movido a um ou dois remos ou com uma vela) e de outros barcos chineses. Tancá neste sentido é, de modo geral, “homem do mar”, em Macau e Hong Kong. A forma tancar é produto de ultra-correção, por se supor que faltava o –r final, normalmente suprimido em Macau. (3) Fille de joie – prostituta, mulher da vida, cortesã, meretriz Locachaes no sentido de pequenos (menores) loucanes, assim denominados os “marujos chineses”
(1) 老譽 – mandarim pīnyīn: lǎo yù; cantonense jyutping: lou5 jyu6.
(2) DALGADO, Sebastião Rodolfo – Glossário Luso-Asiático, Volume I, 1921
(3) BATALHA, Graciete – Glossário do Dialecto Macaense, 1977.
No dia 26 de Maio de 1885: “O hospício de Kao hó está já prompto a receber mulheres leprosas ….”, informa o Administrador das Ilhas à Secretaria do Governo. Entretanto foram já instaladas, entre 30 de Abril de 3 de Maio as mulheres lázaras da Ilha de João, satisfazendo ordens do Governo. As instalações estavam boas e prova disso foi o roubo perpetrado por cerca de 12 piratas armados de «taifós e pistolas», em Setembro desse ano, aliviando as pobres leprosas de toda a roupa de inverno e do abastecimento de arroz para meio mês (160 cates), além de 7 patacas em dinheiro, fugindo pela praia, num pequeno sapatião perdido na noite. E não foi só dessa vez, porque sabiam o lazareto provido e indefeso. TEIXEIRA, P. Manuel – Taipa e Coloane, 1981. TAIFÓ – Espada/adaga chinesa, curta e muito afiada. SAPATIÃO – barco chinês, pequeno e ligeiro.
Segundo Sebastião Rodolfo Dalgado, no seu «Glossário luso-asiático»:
TAIFÓ: julga o Sr.Pelliot que esta palavra não se pode ligar ao chinês tai-to (em mandarim ta-tao), «grande faca» mas que deve provir dalgum nome cantonês, em mandarim ch´u-ang-tu ou ch´uang-kien. SAPATIÃO: o Sr. Pelliot prefere derivar o vocábulo do chinês sam-pang-ting, «barco sam-pan ou cham-pana»
Ver referências anteriores em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/leprosaria-de-ka-ho/ https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/leprosarias-lazaretos/