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“22-06-1600 – Faleceu em Macau o P. Duarte Sande, S.J., (1) tradutor de uma das primeiras obras em latim, impressas em Macau – De Missione Legatorum Japonensium ad Romanam Curiam … Dialogus, Macau, 1589.” (2) Embora não seja consensual a data da sua morte, não quis deixar de salientar a importância da obra (3) que relata o Itinerário de quatro Príncipes japoneses, (4) mandados ao Papa Gregorio XIII, e de tudo quanto lhes sucedeu até se restituírem às suas terras

(1) O jesuíta Duarte de Sande,um dos primeiros missionários a introduzir as novas leis de adaptação à cultura, usos e costumes, bem como à língua chinesa, nasceu em 1547, na vila, hoje, cidade de Guimarães. Estudou Filosofia e Teologia no Colégio de Coimbra, e mais tarde ensinou Latim e Retórica, também nessa cidade, como era costume. Professou na Casa de S. Roque de Lisboa em 1562. Duarte de Sande segue para a Índia, em 1578, com um grupo de cinco jesuítas, a bordo da nau São Luís, precisamente onde vai uma das figuras mais emblemáticas da missionação na China, o padre Matteo Ricci (Duarte de Sande seria professor de Teologia de Matteo Ricci).   Duarte de Sande ficou sete anos na Índia. Foi reitor dos colégios da Companhia em Baçaim e o primeiro a ocupar as funções de Superior das Missões de Macau e da China (Zhaoqing) que só depois Matteo Ricci viria a ocupar. Morreu em Macau a 22 de Junho de 1600. https://www.oclarim.com.mo/todas/duarte-de-sande-jesuita-vimaranense/ http://araduca.blogspot.com/2013/02/escritores-vimaranenses-25.html

(2) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 3, 1995. Na 3.ª edição, reformulada e aumentada da Cronologia de Macau, de 2015, não contém esta entrada mas esta: “17-01-1600 – «Carta Ânua do Colégio de Macau», dá notícia da vida e morte do Pe Duarte Sande, S. J. autor de uma das primeira obras em latim, impressas em Macau…..”

(3) De Missione Legatorum Iaponensium ad Romanam Curiam, rebusque in Europa, ac totum itinere animadversus Diálogus ex ephimeride ipsorum legatorum colledus, & in sermonem latinum versus ab Eduardo de Sande, Sacerdote Societatis lesu. In Macaensi portu Sinici regnum domo in Societatis lesu. Cum facultate ordinarij & superiorum. 1590. 4.° de VIII-412 pág., e mais 24 no fim sem numeração que compreendem o índice.

(4) A vinda de uma embaixada (embaixada Tensho ou Missão Tensho) de quatro jovens fidalgos japoneses, Miguel Chijiwa, Julião Nakaura, Martinho Hara e Mâncio Ito (todos entre 13 e 14 anos de idade), a vários reinos europeus no último quartel do século XVI (partiram de Nagasaqui a 20 de Fevereiro de 1582), organizada sob a égide da Companhia de Jesus, constituiu um marco histórico nas relações entre a Europa e o Japão. A passagem dos japoneses, primeiro por Portugal e Espanha e depois por várias cidades da Península Itálica, entre as quais sobressaem Veneza, Ferrara, Florença e, sobretudo, Roma, foi descrito em diário pelos próprios legados e depois traduzidos para Latim por Duarte de Sande, sacerdote da Companhia de Jesus. https://www.uc.pt/fluc/eclassicos/publicacoes/ficheiros/humanitas47/50_Costa_Ramalho.pdf http://www.icm.gov.mo/rc/viewer/30030/1916

Embaixada Tensho sendo recebida pelo papa Gregório XIII.
Autor desconhecido, 1655
https://pt.wikipedia.org/wiki/Embaixada_Tensh%C5%8D

Anterior citação de Duarte Sande neste blogue: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2019/06/27/noticia-de-27-de-junho-de-1748-desaparecimento-de-dois-chineses/

No dia 27 de Junho de 1748, já havia em Macau, perto de 20 dias que as boticas estavam fechadas sem haver que comer, e neste caso (conflito entre os mandarins e a cidade provocado pelo desaparecimento de dois chineses em 8 de Junho de 1748) (1) não havia mais remédio que peitar ao Mandarim de Heong San 香山(Xiangshan 香山). Ele estava na Porta do Cerco, onde o Procurador Luís Coelho lhe meteu entre as mãos trinta pães de ouro (2) (3) dizendo-lhe que os culpados haviam sido degredados para Timor e não apareceriam mais em Macau, visto que os corpos dos dois chineses não aparecerão. O Mandarim como tinha mamado a peita e não tinha feito auto algum por onde constasse, nem as feridas nem a morte e não tinha por esta causa dado parte a Cantão condescendendo neste ajuste, mas também não quis dar Chapa deste contracto com receio de que o Mandarim de Cantão se o soubesse lhe tiraria a cabeça, e assim ficou este negocio sobre a palavra, porque assim em todo o tempo tinha desculpa em dizer que ainda estava fazendo diligência. Mandou abrir as Boticas e se foi embora. (4) (5)
(1) No dia 8 de Junho, a ronda da Fortaleza do Monte prendeu dois chineses, tendo o Governador António Teles de Meneses (6) mandado que os mesmos fossem entregues ao Procurador André Martins.
Os soldados e os alferes Amaro da Cunha e Lobo sovaram os dois presos de tal forma que um caiu morto, em frente da casa de Manuel Correia de Lacerda. Quando chegaram à residência do procurador, este não quis receber nem o morto nem o vivo, dizendo que os levasse para a Fortaleza do Monte e que, no dia seguinte, lá os iria ver.
Chegados ao Monte, O Governador deu ordens para meter os dois chineses na mina (calabouço) e não houve mais notícias deles, dizendo uns que foram mortos e ele mesmo os enterrara, e outros dizendo que os metera em jarras e os mandara botar ao mar, e respondeu ao Procurador que noutro dia lhe foi falar, que os Chinas tinham desaparecido e que quando viesse o Mandarim lhe dissesse. O certo é que, no dia seguinte, apareceu o mandarim a reclamar os presos e o Procurador, sob as instruções do Governador disse-lhe que os dois presos tinham desaparecidos (4)
No dia 12 de Junho, tendo o «cabeça de ruas» participado à Casa Branca acerca do desaparecimento de dois chineses presos no dia 8, vieram os mandarins exigir a sua entrega e, como o Senado respondesse que não tinha conhecimento de tal facto, ordenaram os mandarins aos chineses o encerramento das suas lojas e a sua saída de Macau. Publicados os editais para este efeito, os mandarins retiraram-se deixando no bazar um troço de soldados incumbido de vigiar pela execução das suas ordens.
Em 17 de Junho, os moradores não sabendo o resultado que viria a ter esta dependência estavam aflitos e por falta de víveres que os Chinas não podiam vender visto a proibição que tinham e o Governador teimoso, recorreram aos Padres Jesuítas a fim de ver se por via de negociações se podia arranjar a acomodarem os Mandarins, visto os corpos se não poderem achar. Assim fizeram em particular um Chapa ao mandarim de Heong San.
Assustaram-se os moradores com estas medidas e com a falta de víveres que, imediatamente, se fez e, ante as reclamações cada vez mais imperiosas doa mandarins, amiudavam-se as sessões do Senado, não se dispondo o Governador a arredar pé da sua atitude. Nesta conjuntura, os cidadãos recorreram aos jesuítas que prometeram resolver a questão por meio de peitas e negociações particulares com os mandarins. (4)
(2) Para serem comercializados noutros territórios nomeadamente Índia e Japão, os portugueses compravam os “pães de ouro”, e grande quantidade de fios de ouro e de folhas de ouro pois os chineses conseguiam muito habilmente bater e moldar o ouro em placas e folhas.
SANDE, Duarte de S.J. – Diálogo sobre a Missão dos embaixadores japoneses à Curia Romana. Macau: Fundação Oriente – Comissão Territorial de Macau para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1997, (1ª ed. 1590).
(3) Só o mercador Luís Coelho despendeu à sua parte 2 000 taéis, em 30 pães de ouro que levaram ao mandarim (3)
(4) Extraído de SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Século XVIII, Volume 2. 1997 e TEIXEIRA. P- Manuel – Os Militares em Macau, 1975.
(5) Em 21 de Junho, o Governador António José Teles de Meneses mandou dar três saltos de polé, na Fortaleza do Monte, ao soldado macaense de apelido Franco, por ter referido em público, numa loja aonde fora comprar tabaco, a morte de dois chineses, pelo alferes Amaro da Cunha e Lobo e um soldado, criação deste, o que levou o mandarim de Heong San a exigir a apresentação dos dois cadáveres, que o Governador teimava sempre em dizer que não existiam (4)
(6) António José Teles de Meneses – governador de Macau de 30 de Agosto de 1747 a 1749 . Foi depois governador de Timor 1768-1775 (4) (7)
Após chegada, em 6-09-1747,”mandou o Gov. armar uma polé, na Fortaleza do Monte, ao pé do Sino, de sorte que o braço della sahia para fora da muralha, e o que era apoiado vinha a dar o salto a rais da muralha. Também mandou também apontar doze Clavinas, e que quando sahia do Monte, trazia doze homens de guarda com ellas carregadas e hum Sargento. Tomarão-lhe os moradores respeito que tremião delle, e o mesmo eram os chinas”
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2017/09/06/noticia-de-6-de-setembro-de-1747-antonio-jose-teles-de-meneses/
(7) A 2-08-1749, toma posse do governo João Manuel de Melo que governou até 1752; a 15 de Março de 1758 toma posse do governo de Moçambique suicidando-se 21 dias depois atravessando-se com a sua própria espada. (4).