“A católica e quadrissecular Cidade do Santo Nome de Deus de Macau viveu, nos dias 18 e 19 de Fevereiro de 1956, momentos valiosos de piedade e devoção, enquanto celebrava a conclusão das festas em honra do Senhor Bom Jesus dos Passos.
Esta festividade, que se comemora através de cerimónias de rico significado religioso, é quase tão remota como a vinda dos primeiros portugueses para esta terra de cristãos.
Todas as cerimónias da festividade em honra do Senhor dos Passos se impõem pela grandiosidade da concorrência dos fiéis…(…)
Das mais piedosas são, sem dúvida, as cerimónias de que se revestem as duas procissões com que fecha tão respeitável manifestação de fé.
A população católica de Macau acorreu em massa a todas as comemorações, dando com a sua presença um exemplo extraordinário da devoção e da piedade com que os fiéis acolhem a tradicional e solene festividade….(…)
A veneranda Imagem do Senhor Bom Jesus dos Passos sai da Sé Catedral
Na velha igreja de Santo Agostinho, onde, durante nove dias, se rezou a Novena do Senhor dos Passos, os fiéis marcaram a sua presença, enchendo o templo sem deixar único lugar vago. Durante a Novena, mais de seis mil pessoas se abeiraram da Sagrada Mesa da Comunhão.
Na noite do sábado, dia 18, um mar de gente se acercou da igreja de Santo Agostinho, aguardando pacientemente a saída da Procissão da Cruz, aprazada para as 19 horas. À multidão, concentrada no largo, se juntaram as centenas de pessoas que se encontravam no templo, caminhando todas, com piedade devotamento, atrás do andor, rigorosa e respeitavelmente coberto com ténues cortinados roxos.
A banda do Corpo de Polícia de Segurança Pública tocou durante a Procissão, quer percorreu o itinerário de todos os anos. Na Sé Catedral onde recolheu a Procissão, pregou o sermão da Cruz o Venerando Bispo da Diocese, D. Policarpo da Costa Vaz.
No domingo, à tarde, à hora marcada, subiu ao púlpito o Revdo P.e José Barcelos Mendes, que, com empolgante emoção, pregou o sermão do Pretório, escutado pela igreja transbordando de fiéis.
Antes da saída da Procissão dos Passos, a Verónica– cujo papel esteve este ano confiado à menina Maria Henriques da Silva – entoou, na Sé, em 1.ª estação, o cântico de «O vos omnes…»
«Ó vós que passais pelo caminho, detende-vos e vede se há dor semelhante à minha dor….»
Juntamente com o clero e seminaristas, muitos fiéis entoaram, em seguida ao cântico da Verónica, o «Parce, Domine»P e «Senhor, Deus, misericordioso»
A Verónica faz ouvir, perante a multidão, contrita e silenciosa, a sua lamentação.
A Procissão saiu depois, levando consigo um acompanhamento calculado em mais de dez mil pessoas, das quais muitas vindas expressamente de Hong Kong, e novamente nela se incorporou a banda de Policia…(…)
Em cada uma das estações seguintes, até à sétima, se ouviu novamente por sobre a multidão, constrita e silenciosa, a lamentação da Verónica . (1)
Debaixo do Pálio e à frente da multidão, seguia o Prelado da Diocese levando o Santo Lenho
Recolhida a Procissão, em Santo Agostinho, pregou o sermão do Calvário, o Revdo P.e Artur das Neves, que nos disse de quanto sofreu Jesus e Maria Santíssima, Jesus pregado na cruz, no alto do Gólgota, entre o Céu e a Terra, e Maria Virgem Mãe chorando a perda do Filho Amado, Salvador do Mundo.
(1) Reportagem recolhida de Macau B. I., 1956