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Pequeno opúsculo de 16 páginas (dimensões: 21,5 cm x 15. 5 cm), de 1905, contendo o sermão proferido pelo padre António José Gomes (1) na cerimónia do lançamento da primeira pedra /reconstrução da Egreja de S. Paulo em Macau (2)

CAPA – bastante manuseada e com uma grande mancha na parte inferior esquerda ( letras a vermelho)

SERMÃO
Pregado dentro das ruínas da egreja da
Immaculada Conceição
VULGARMENTE CHAMADA DE S. PAULO
EM MACAU
Por ocasião do lançamento da primeira pedra para a reconstrucção
d´este antigo e histórico templo
Destinado a futura egreja Parochial de Santo Antonio
No dia 4 de Dezembro de 1904
Anno Jubilar da Immaculada Conceição
Pelo Missionario
P.e António José Gomes
Doutor em Theologia
Parocho da freguesia de Santo Antonio
MACAU
Tipographia Mercantil
1905

“…Senhores: o que nos resta, pois, fazer d´esta ruina?
“Conserva-la, dizem alguns, conservar esta ruína, remover todo este lixo, gradear este recinto e pôr aqui uma vigia”.
Senhores, isto não basta. Há muitos anos que uma tal resolução deveria ter sido tomada. Hoje, depois de tantos annos de profanação a mais ignóbil e vergonhosa, é mister recorrer à mais completa das desaffrontas  e à mais solemne das reparações!
“Conservar isto como ruína, dizem alguns, e basta. É uma obra d´arte antiga, é uma preciosa relíquia do passado, é uma pagina brilhante da historia de Macau; conserve-se, pois, como está, como monumento archeologico.”
Quem fala d´este modo, meus senhores?
Falam aqueles que nunca subiram essas escadas, aquelles  que talvez hoje pela primeira vez entram dentro d´este recinto, aquelles que há trinta, quarenta e mais anos não visitam esta ruína!
E são estes pretensos admiradores de monumentos archeologicos que falam em conservar esta ruina! Elles que a votaram sacrilegamente a todas as profanações as mais odiosas! Conservar esta ruina, quando tanto se tem feito pela derruir! Conservar esta ruina sagrada ao pé d´um templo idolatra! Conservar esta preciosa relíquia da arte christã no meio d´um foco de peste, d´essa montureira que se estende por ali abaixo, com centenares de suínos a refocilarem-se dentro e fóra d´ella! Conservar a mais bela ruina de Macau, a mais bela ruina do Oriente, no meio d´um bairro, talvez o mais sujo e repelente, que existirá sobre a face da terra!
Oh! Não, nunca! Venha mais depressa uma horda vandálica, sacrílega e brutal, e derrua tudo! Saccudam essas columnas, fundam esses bronzes, revolvam esses alicerces, varram essa mole de granito, rasguem essa pagina gloriosa da historia de Macau, apaguem esse pharol inexistingivel da fé dos nossos maiores! Façam tudo isso, se podem!
Mas se não podem, se o vandalismo em arte e o sacrilégio em religião os faz recuar, se o dedo oculto de Deus sustenta essa mole de granito, então nada mais resta que reedificar….”

CONTRA CAPA com as letras vermelhas de difícil visualização
Qualquer donativo que seja oferecido em troca d´este
Opusculo reverterá em benefício da reconstrução
De S. Paulo e podem ser enviado ao auctor
Parochia de Santo Antonio
China Macau

Na última página, com letras pouco visíveis:

IMPRIMATUR
Macai die XVI Januari 1905
JOANNES PAULINUS, Episcopus Macaonensis

(1) O Padre António José Gomes, fundou em Macau a «Obra do Pão dos Pobres», em 1903, agregada à Paróquia de Santo António. Nomeado em diversas ocasiões encarregado do Governo Eclesiástico de Macau durante as ausências do Bispo D. José da Costa Nunes (1920 a 1941). Editor do jornal diário “A Pátria” (2) em 1926, substituindo Francisco Xavier dos Remédios.
(2) “01-07-1923 – Aparecimento do semanário “A Pátria” que, em 1 de Dezembro de 1925, passou a publicar-se diariamente. Cessou a publicação, em 30 de abril de 1928.” Jornal de inspiração cristã, ligada à Igreja, tinha a redação no Seminário de S. José e era impresso no Insituto Salesiano.
(GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954) e (SILVA, Beatriz B. –Cronologia da História de Macau,  Vol. 4)
Ver anteriores referências em
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/padre-antonio-jose-gomes/
(2) Ver anteriores postagens – “Notícia de 4 de Dezembro de 1904 – Programa do lançamento da primeira pedra (I) e (II) em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2018/12/04/noticia-de-4-de-dezembro-de-1904-programa-do-lancamento-da-primeira-pedra-i/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2018/12/04/noticia-de-4-de-dezembro-de-1904-programa-do-lancamento-da-primeira-pedra-ii/

Programa do lançamento da primeira pedra de 4 de Dezembro de 1904, (dimensões: 45,5 cm x 14 cm), dobrável em cinco páginas (cada página de 9 cm x 14 cm), impresso em ambos os lados (tipo álbum de postais) sendo o “exterior”, constituído por 5 “postais”:
1 – colocação do endereço do convidado.
2 – Programa do Lançamento da primeira Pedra (Ordem das Ceremonias, dentro das ruinas da antiga Egreja) para a reconstrução da Egreja de S: PAULO em Macau por Sua Ex.ª Rev.ma o Sr. D. João Paulino d´Azevedo e Castro, (1) Bispo da antiga e histórica Diocese de Macau. Bacharel formado em Theologia pela Universidade de Coimbra. Do Conselho de sua Mejestade Fidelissima o Rei de Portugal. Etc,     etc,     etc.
Domingo, 4 de dezembro de 1904, às 3 horas da tarde.
Ordem das Ceremonias (dentro das ruinas da antiga Egreja)
I – O Bispo revestido de Pluvial e Mitra benze o sal e a agua.
II – Quando o Bispo põe a Mitra o côro canta a Antiphona – Signum salutis e o Psalmo 83 Judica Me, durante o qual o Bispo benze o lugar em volta da Cruz.
3 – continuação da Ordem das Ceremonias:
III – O Bispo benze a PEDRA, e com a colher faz o signal da cruz em cada umas das faces d´ella.
IV – Estende-se um tapete, o Bispo ajoelha e recita a Ladainha de todos os Santos.
V – O Bispo levanta-se e canta uma Oração; toma a colher de prata e o cimento, e entoa a Antiphona Mane Surgens Jacob, que o côro repete, cantando em seguida o Psalmo 50, Nisi Dominus
VI – O Bispo toca a Pedra, coloca-a na terra e asperge-a com agua benta, dizendo o Asperges me e o Psalmo 50, Miserere.
VII – O Bispo asparge agua benta sobre os alicerces e entoa a Antiphona O quam metuendus est locus iste; o côro continua, canta o psalmo 86 Fundamenta e repete a Antiphona. Entretanto o Bispo vae aspergindo uma terça parte dos alicerces.
VIII – O Bispo canta Oremus e uma Oração, depois entoa o Pax eterna; o côro prossegue e o Bispo asperge a segunda terça parte dos alicerces e canta uma Oração.
IX – O Bispo entoa a antífona Bene fundata est e o côro continua e canta o Psalmo 121 – Lactatus sum, no fim do qual repete a Antiphona. Entretanto o Bispo asperge a ultima parte dos alicerces, voltando ao lugar onde está a primeira Pedra. Depois d´isto o Bispo diz uma Oração
X – O Bispo entoa o hymno Veni Creator Spiritus e o côro prossegue. O Bispo ajoelha-se e levanta-se depois do primeiro versículo.
XI – Terminado o Psalmo o Bispo diz duas Orações.
XII – o Rev. Dr. P. António José Gomes pregará um sermão adequado ao acto ao qual seguirá a bênção do Bispo.
4 – O convite em inglês:
Laying of the Foundation Stone for The Reconstruction of St. PAUL´S Church – Macao, by His Lordsship Don João Paulino d´Azevedo e Castro, D. D. (Coimbra University). Bishop of the historical and ancient Diocese of Macao, and Member of the Council of His Most Faithful Majesty, The King of Portugal.
Sunday, 4th December, 1904, at 3 p.m.
5 – em branco
(1) D. João Paulino Azevedo e Castro (1852-1918) foi nomeado Bispo de Macau em 1902. Fundou o «Boletim do Governo Eclesiástico da Diocese de Macau». Convidou as Franciscanas Missionárias de Maria para dirigirem o Colégio de Santa Rosa e os Salesianos a quem confiou o Orfanato da Imaculada Conceição. Faleceu na residência da Penha, sendo sepultado na Gruta de Nossa Senhora de Lourdes. Os seus restos mortais foram posteriormente transladados para a terra natal, Pico, Açores.
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/d-joao-paulino-azevedo-e-castro/
(2) Ver próxima postagem referente ao “Sermão Pregado dentro das ruínas da egreja da Immaculada Conceição”.

Foi a 13 de Setembro de 1903 que o Padre José António Gomes, então Pároco de Santo António, (1) fundou nesta igreja a benemérita «Obra do Pão dos Pobres», (2) cujo jubileu se celebrou no dia 13 de Setembro de 1953, com toda a solenidade. O 50.º aniversário da fundação do Pão dos Pobres em Macau foi um dia de duplo agradecimento: a Sto. António pelos inumeráveis favores dispensados a todos os benfeitores dos seus pobres; e a todos os benfeitores desta simpática obra de caridade. Socorreu milhares de lares indigentes, continuando no ano de 1953 a minorar a fome a 200 famílias com os dez picos de arroz que lhes distribui mensalmente, além de outras esmolas particulares em dinheiro. (3) Em 1955, a acção benéfica alargava-se para 250 pobres, na sua maioria chineses e concedia esmolas, no valor de $150,00 a pobres a quem o arroz não era distribuído.

O altar do Pão dos Pobres na igreja de Santo António (1953)

Durante os 50 anos (1903 – 1953), o Pão dos Pobres de Santo António distribuiu o elevado número de 17.790 picos de arroz, estendendo também por vezes a sua caridade aos pobres das suas missões da China.
O cofre colocado na Igreja Paroquial representava a maior fonte de receitas da Ora. Tinha um letreiro com uma indicação: “pão dos pobres”. O cofre rendia, em média, mensalmente a quantia de $300,00, pelo que com as ofertas generosas de algumas pessoas, não era preciso recorrer-se a peditórios. Outra fonte da receita provinha da Comissão Central de Assistência Pública que contribuía para esta Obra a soma de $166,66 mensais. Também o soldo de Santo António, (4) como Capitão da Cidade, concedido pelo Leal Senado das Câmara de Macau, na importância de $1.200,00anuais, revertia integralmente a favor desta Obra.
(1) O aparecimento da «Obra do Pão dos Pobres» deveu-se ao Reverendo Dr. António José Gomes, sacerdote ligado às iniciativas no campo do apostolado missionário e caritativo, pois a Santa Infância e as leprosarias muito ficaram a dever a este homem. Em 1953 era pároco o padre José António Monteiro. Após o seu falecimento ficou o Cónego Manuel Pinto Basaloco.
(2) A Obra Pão dos Pobres nasceu e cresceu em Toulon (França), sob os auspícios de Santo António e rapidamente se estabeleceu em um grande número de cidades da França, depois em Itália, Espanha, Portugal e outras nações da Europa. e depois em todos os continentes. Esta obra, em Macau, encontrava-se agregada à Paróquia de Sto. António e a sua administração estava a cargo do respectivo pároco.
(3) Recebeu dos seus generosos amigos e benfeitores, durante o mesmo período, a avultada soma de $ 187.421,43, contribuição sobretudo dos católicos macaenses e chineses.
(4) É muito remota a origem da concessão deste soldo, talvez se remonte às origens desta cidade. É curioso notar que este soldo esteve interrompido durante três anos, pelos meados do último quartel do século XVIII. Por esta altura pesadas tribulações caíram sobre Macau, o que levou o povo a considerar a crise como castigo pelo corte do soldo a Santo António. O que é certo é que o Senado se viu na contingência de lhe mandar «assentar a sua praça com o vencimento de Capitão da Cidade».
Informações e fotos retiradas de «Macau B. I.»,  1953 e 1955.