Archives for posts with tag: Outeiro de S. Francisco

No livro “Tellurologie et Climatologie Medicales de Macau”, estão publicados quatro mapas da região de Macau. Um dos mapas foi já reproduzido em (1). Hoje mais um deles, – MACAU (Relief du Sol) – com a descrição do relevo do solo e subsolo.

MAPA do Relevo de Macau 1921 Tellurologie et ClimatologieEste mapa (escala de 1/50.000) foca o relevo do solo da cidade de Macau, em 1921, estando assinaladas as colinas e a Ilha Verde.

 “Le squelette de Macao est granitique. Les noyaux éruptifs sont indiqués par ses collines. Les rochers et la colline de Mong-Ha, celle qui est appelée Montanha Russa, les collines de Dona Maria, Guia, San Jerónimo, de Patane ou de la Grotte de Camoens, San Miguel, San Paulo do Monte, Santo Agostinho et Penha, – sont como les points d´ossification du squelette… (…)
L´isthme réunit cette terre à l´île de Hiong-Chan – et voilà formée la presqu´ile de Macao.
Un autre noyau, Ilha Verde (35 m. de alt), un peu plus isolé, est resté aussi sous línfluence dynamique du fleuve, et on a vu de nos jours l´oeuvre de la liaison naturelle au plus proche noyau, Mong-Ha, laquelle a été aidée par l´homme.
Les collines de Macao peuvent être divisées en deux groupes, délimités par la continuité qu´on remarque en chacaux d´eux. Appartenant au premier groupe, je citerai: Mong-Ha, Montanha Russa, Dona Maria, Guia, San Jerónimo, – dont la ligne d´enemble est une courbe sensible de concavité vers l´Ouest, les plus hautes cotes de niveau étant à Mong-Ha (59 mètres) et à Guia (76 à 99 mètres). La ligne du second groupr, courbe aussi en partie et envelippée par celle-là, évoque, en sa planification, la forme d´un bâton pastoral, dont la crosse est formée par les collines de Camoens, San Miguel, San Paulo do Monte, – se prolongeant selon l´axe de la presqu´île jusqu´à son extremité, passant para la Sé, Santo Agostinho, San Lourenço, Bom Jesus et Penha, et la cime atteignant les cotes plus élevées à San Paulo do Monte (40 m) et à Penha (70m).
Les terrains bas de Tap-Seac, Long-Tin-Chin, Mong-Ha, Sa-Kong, San-Kiu et Patane, oú coulent les eaux et les ruissellements des ravines voisines, sont développés en une grande superficie sub-urbaine, entre les deus courbes. Tap-Seac a un facile accés vers la mer, entre da Sé et San Francisco, et les autres terrains qui , naguère n´étaient que des marécages, ont été comblés aux dépens de l´aplanissement des colines de Mong-Há et San Miguel, et ils sont convenablement drainés et amplement libres vers le fleuve.
La zone base de la ville se développe dans la concavité de la courbe de rayon plus petit, en quartiers riverains qui s´appelent Tarrafeiro, Matapao, Bazar, et qui sont continués par les terrains marginaux de Praia Manduco et Barra.
Au dehors de la courbe plus grande on remarque, au Nord, les terrains bas de l´isthme et la plage Areia Preta. Dans le rest de la courbe, la petite plage de Cacilhas, exceptée, il ný a pas dáutres terrains bas, puisque le versant de la Guia coule vers la mer en pente brusque.” (1)
NOTA: o negrito é da minha autoria.

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/06/01/leitura-tellurolo-gie-et-climatolo-gie-medicales-de-macao/

“Na noite de 27 para 28 de Outubro (1872), ruíra com assustador estrondo o tecto da Igreja de S.to Agostinho, em cujo convento anexo se encontrava instalado o hospital militar.
Ninguém esperava tal desabamento, porquanto o tecto não denunciava, exteriormente, qualquer sinal de o vigamento interior se encontrar completamente carcomido pela formiga branca. A parede comum à igreja e ao hospital, pôs em perigo, na sua queda, a vida de um enfermo, que se encontrava internado num quarto contíguo, não tendo havido, por sorte, qualquer morte a lamentar. Toda a noite se trabalhou afanosamente, na colocação de espeques e  anteparos para escoar as paredes que ofereciam menos segurança.” (1)
Esta informação de Luís Gonzaga Gomes, não está correcta, nem a data nem “o que caiu“. Padre Manuel Teixeira (2) transcreve de “A Gazeta de Macau e Timor, n.º de 6-X-1872″
Na noite de 27 para 28 p.p. (portanto 27 para 28 de Setembro) os habitantes do bairro de S. Lourenço foram despertados por um ruído assustador, que semelhava o estrondo precursor dos terramotos. Era a Igreja matriz de Santo Agostinho, a que  está anexo o hospital militar que desabava. Este antigo edifício não apresentava muito sinais aparentes de decadência e era julgado suficientemente sólido para durar ainda alguns anos; por isso causou geral espanto a sua ruína.
A parede comum da igreja e do hospital ameaçou da sua queda a vida de um enfermo que habitava um quarto contíguo. No meio das enormes traves e da cantaria que se despenhava, estava esse pobre homem sem se poder mexer, pedindo socorro em tão angustioso transe, e decerto teria perecido se lhe não valesse a dedicação de alguns intrépidos soldados
O que desabou foi apenas a capela mor da Igreja…”
Não caiu parte do hospital nem o tecto da Igreja, mas só a cobertura da capela mor da Igreja e a parede comum da igreja e do hospital.

NOTA: Há já muito que Dr. Lúcio Augusto da Silva (Director dos Serviços de Saúde) reclamava a construção do novo hospital. O Governador Visconde de S. Januário (empossado 23 de Março de 1872) resolveu então a construção do novo hospital que viria a ficar situado no Outeiro de S. Francisco.  A data que  Luís G. Gomes atribui na obra citada (1) como inauguração do hospital, corresponde ao lançamento da primeira pedra . O Hospital seria  só inaugurado a 6 de Janeiro de 1874 (projecto do Barão de Cercal, direcção do capitão Henrique Dias de Carvalho).
A foto acima é de um cartão do Boas Festas dos Serviços de Saúde de Macau.

Esta foto foi retirada de (2)

 (1) GOMES, Luís Gonzaga – Macau Factos e Lendas páginas escolhidas. Edição da Quinzena de Macau, Outubro de 1979 – Lisboa, 152 p., 19,5 x 14,5 cm
(2) TEIXEIRA, Pe. Manuel – A Medicina em Macau, Volumes I-II. Edição do Governo de Macau/Gabinete do Secretário-Adjunto para os Assuntos Sociais e Orçamento, Macau, 1998, 502 p. , ISBN 972-97934-1-7

“Corria, suavemente, o Outono, em Macau, no ano de 1872, Outubro……(…)…
Vivia-se assim, despreocupadamente, pensando cada um em divertir-se da melhor forma que pudesse, sem precisar de pensar no dia de amanhã, pois o próspero negócio da emigração (1) dava para que toda a gente andasse ocupada e passasse os dias sem problemas económicos que a atribulassem.
Surtos no porto, viam-se três barcos de guerra nacionais, a corveta a vapor «Duque de Palmela»(2), a escuna de guerra «Príncipe Carlos » (3) e o vapor de guerra «Camões», além dos navios mercantes como a galera «Viajante» do comando de Francisco Jerónimo de Mendonça; a barca « Cecília» comandada por H. Mesquita e o brigue «Concórdia». Naves doutras nações demandavam também o nosso porto, como o vapor italiano «Glensannox», o vapor espanhol «Buenaventura», que sairia no dia 30, com destino a Havana, levando a bordo 84 colonos chineses, a galera da mesma nacionalidade «Alaveza», as barcas francesas «Blanche Marie» e «Veloce», os brigues «Maggie» e «Water Lily» e a galera «Star of China», que navegavam sob bandeira inglesa, a barca da confederação germânica «Vidal» e os vapores de guerra chineses «An-Lan», «Chien-Jui» e «Ngan-Tien»….
As disponibilidades que abarrotavam os cofres do tesouro público foram, no entanto, bem aproveitadas, pelo inteligente governador, Visconde de S. Januário, de nome, Januário Correia de Almeida (4), bacharel formado em Matemática, que chegara a Macau, com o posto de capitão do Estado-maior, tendo exercido, anteriormente, o cargo de governador geral da Índia. Assim grandes melhoramentos se efectuaram, no seu áureo governo, como:

  • a construção da estrada da Barra, até aos depósitos de lixo que existiam por aquelas bandas, saneando um local que constituía um foco de infecção, obra dispendiosa, pois muita rocha nos sopés das colinas de Penha e de Barra teve de ser arrebentada para se poder abrir esta via pública; (5)
  • a estrada de D. Maria II;
  • os trabalhos de pesquisa de água com a abertura duma mina na parte posterior do jardim da Flora;
  • a bateria rasante na ponta da praia em S. Francisco; (5)
  • uma nova casa para a guarda principal na Praia Grande (as outras foram construídas no campal das Portas do Cerco, no campo de Santo António, no largo de Matapau e na Flora, respectivamente, as duas primeiras em 1863, e as duas restantes em 1866 e 1869;(5)
  • uma carreira de tiro no campo da VItória;
  • ao alargamento do aterro marginal do porto interior; (5)
  • à canalização geral das ruas, próximas do bazar e teatro chinês; (5)
  • à construção de um quartel, destinado a uma bateria de artilharia, na fortaleza do Monte;
  • ao aterro marginal e construção da muralha da Praia Grande para o lado sul, (5) e
  • de muitos outros melhoramentos, mas nenhum sobrelevou ao da construção do hospital, que veio a ter o seu nome….

………………………………………………………………………………continua………

GOMES, Luís Gonzaga – Macau Factos e Lendas, páginas escolhidas. Edição da Quinzena de Macau, 1979, 152 p.

MACAU, 1870 – FOTO de JOHN THOMSON (8)

(1) Sobre o negócio e a emigração de Cules, aconselho a leitura do livro de
SILVA, Beatriz Basto da – Emigração de Cules Dossier Macau 1851-1894. Fundação Oriente, 1994, ISBN-972-9440-35-2.

O último Regulamento do Governo de Macau sobre Cules foi promulgado a 28 de Maio de 1872 (estabelecia a liberdade de emigrar e de ser repatriado no caso de mudar de intenções), embora posteriormente tivesse surgido acrescentos a este regulamento.
(2) “8 de Novembro de 1871 – Uma força composta de 60 praças de marinhagem da corveta «Duque de Palmela», com dois guarda-marinhas, 18 soldados da polícia do porto e de loucanes (marujos chineses) da guarnição dos escaleres, transportados, na lancha a vapor Sergio, em dois escaleres da polícia do porto levados a reboque e na lancha da corveta, desembarcaram em Uong-K´am (Ilha da Montanha), sob o comando do 2.º Tenente Vicente Silveira Maciel da lorcha Amazona, e conseguiram destruir um couto de piratas”
Em 2 de Setembro desse ano, a corveta «Duque de  Palmela» tinha sofrido grandes avarias, em consequência dos embates com os barcos chineses, por causa de um tufão.
 (3) “No dia 20 de Novembro de 1873, pelas 19.00 horas, o 1.º Tenente da Armada Vicente Silveira Maciel, comandante da escuna «Príncipe Carlos», acompanhado do guarda-marinha Caminha e do capitão de Infantaria Caetano Gomes da Silva, que jantara a bordo, quando seguiam numa baleeira para terra, veio um “fai-ai”, com uma equipagem de 60 a 70 homens, «abalroou premeditadamente contra a baleeira» ficando atravessada na proa do barco chinês, que mudou de rumo para a Lapa. Tendo conseguido trepar até ao “fai-ai”, os oficiais e dois ou três marinheiros que iam na baleeira travaram rijo combate com os chineses, caindo o Tenente Maciel ao mar; mas foi salvo por um marinheiro, agarrando-se ambos a um bambu. Salvaram-se também o guarda-marinha Caminha e um marinheiro. O capitão Silva e outros marinheiros foram considerados como desaparecidos” (7)
 (4) “23 de Março de 1872 – Januário Corrêa de Almeida, Visconde de S. Januário, capitão de cavalaria e bacharel de matemática, toma posse do cargo de Governador de Macau (para que tinha sido nomeado em 19 de Janeiro anterior)”. O Visconde fez entrega do governo ao seu sucessor em 7 de Dezembro de 1874, José Maria Lobo d´Ávila (tinha sido nomeado em 7 de Maio de 1874) (7)
(5) “17 de Janeiro de 1873 – O Governador ordenou a execução da primeira fase do alargamento do aterro marginal do Porto Interior e simultânea regularização do regime da corrente do rio, numa extenção de 160 metros desde a Fortaleza da Barra até à Doca de Uong-Tch´oi, a canalização geral das ruas próximas do novo bazar e teatro china, junto da doca, que acabava de ser aterrada, denominada de Manuel Pereira, construção de um edifício destinado a quartel de uma bateria de artilharia, na Fortaleza do Monte; e a continuação da muralha e aterro marginal no Chunambeiro, próximo da Fortaleza do Bom Parto até à chácara de Maximiano António dos Remédios (antigo Hotel Bela Vista)” (7)
(6) Há duas informações sobre S. Francisco:
“26 de Julho de 1872 – A portaria Provincial n.º 48 determina a construção de uma bateria «em forma de luneta» na ponta da praia de S. Francisco para as peças de grosso calibre”
e outra
“1 de Dezembro de 1872 – Lançamento da primeira pedra para a construção da Bateria Rasante 1.º Dezembro. A planta é do capitão de engenharia Dias de Carvalho e do Barão de Cercal, macaense e vice-presidente da Câmara
Para esta última bateria foi necessário fazer o corte do “Outeiro de S. Francisco
(7) SILVA, Beatriz Basto da –Cronologia da História de Macau Século XIX, Volume 3. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, Macau, 1995, 467 p., ISBN 972-8091-10-9
(8) http://images.wellcome.ac.uk/indexplus/image/L0055556.html