“25-09-1828 – Os Chineses de Mong-há foram proibidos, por edital do mandarim da Casa Branca, de atirar pedras às casas vizinhas e ao Forte de Sto António e de cometer distúrbios para exigirem a abertura das Portas do Campo, antes do tempo determinado, as quais há mais de dois séculos, eram abertas às 5.00 horas da manhã e fechadas às 20.00 horas, conservando-se as chaves em poder do Governo.” (1)
«tendo vós já cometido hum semelhante atentado; os cabeças das ruas, terão todo o cuidado de prender os infractores desta minha ordem, e remeter ao Mandarim. Cso-Tam, para os castigar: os cabeças das ruas, q. forem cúmplices neste crime, serão tbm rigorosamente castigados; e os soldados, q. estiverem de vigia às Portas, não poderão motivar desordem, q. deverão então ser castigados » (Arquivo da Procuratura)» (2)
(1) GOMES, Luís Gonzaga – Efemérides da História de Macau.
(2) TEIXEIRA,, Pe. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I.
“O objectivo das muralhas da cidade, que quase circundavam a primitiva cidade, tinham como função principal proporcionar forças defensivas com capacidade de resistir a um assalto directo da infantaria inimiga. Também protegiam a cidade durante a noite, oferecendo segurança contra os piratas e bandos de assaltantes que infestavam os arredores de Macau.
Estas muralhas estavam fornecidas de duas portas.
A do lado Nascente, perto da actual Igreja de Sto. António, chamava.se porta de Sto. António ou Sto. Antão, enquanto que a de Sudeste, perto da Igreja de S. Lázaro, era conhecida por porta do Campo. Estas portas estavam fechadas à noite, abrindo-se e fechando-se às mesmas horas. Na porta de Sto. António existia um posto alfandegário.”
GRAÇA, Jorge – Fortificações de Macau. Concepção e História.
“Neste dia se nos ofereceram à vista as ilhas de Macau na latitude boreal de 21 graus 10´e, se bem que por ali vagueavam muitas embarcações, não pudemos chegar à fala com alguma, porque, possuídas todas de mêdo do pirata Coxinga, que por ali fazia amiudadas sortidas, ao avistarem qualquer navio maior já se julgavam presa dele, e punham-se em fuga.
Em 16, passando em frente da cidade de Macau, o mais célebre empório de toda a China, observámos a sua posição, quanto do mar e de longe era possível.
Situada numa pequena ilha que se une a outra maior, ocupa esta cidade um monte que surge do mar e do mar está rodeado por todos os lados, excepto pelo norte em que se vê um istmo.
Antiga muralha no Istmo e Porta do Cêrco
Daqui provém que se reputa inexpugnável dos inimigos, tanto pela natureza do lugar, como pelo do mar que a rodeia.
É êste de pequena profundidade e por isso inacessível a maiores navios, excepto por aquela parte por onde se vai ao pôrto, cuja entrada é defendida por uma fortalez seguríssima.
Em parte alguma da China há mais cópia de peças de artelharia de bronze, as quais são fundidas de metal chinês e japonês, espalhando-se depois por toda a Índia com grande lucro.
Da parte do continente, avistam-se dois castelos para repetir qualquer invasão por terra.
Nem arvoredos nem matos se vêm ali por toda a extensão que os olhos alcançam. Foi, em antigas eras, consagrado o lugar em que se acha agora a cidade ao ídolo Ama; e, como os chins dessem ao ancoradoiro o nome de Gau, chamou-se a cidade Amagau e daí, modernamente, Macau.
Edificada por portugueses, com permissão dos chineses, tornou-se bem depressa um empório muito florescente, porque nela desembarcam as mercadorias europeias, comprando-as os chineses com grande lucro.
Acresce a isto a faculdade, que também obtiveram, de ir duas vezes ao ano às feiras de Cantão; daí vem todos os anos, para Macau, grande quantidade de mercadorias chinesas.” (1)
(1) Relato de viagem de John Nienhoff – Voyages and Travels into Brazil and the East Indies (1640-71); with Descriptions of the Countries, the People, and Products. Churchill, Vol. II.
John Nieuhoff (holandês) entrou para a Companhia das Índias Ocidentais em 1640 como comissário de bordo encarregado da venda da carga e em 23 de Agosto de 1653 embarcou em Amesterdão para o Oriente integrado na Companhia Holandesa das Índias Orientais.
Tradução deste trecho in
COLOMBAN, Eudore de. Resumo da História de Macau. Macau, Tipografia do Orfanato da I. C., 1927, 148p.
“O pequeno territorio que occupâmos em Macáu tem uma legua escaça de comprimento, e meia legua ainda mais escaça na maior largura: uma muralha de pedra ensôssa, collocada n´uma língua de terra distante das portas da cidade, marca os limites do terreno chamado portuguez, que com todo o ciume e vigilancia são guardados pelos chins, o que não é dado a europeus ultrapassar, salvo em auxílio para apagar fogos, conduzindo agua e instrumentos adequados. Tanto da parte do norte como da do sul é murada a cidade; daquella tem sahida para o campo de S. Paulo do Monte; pela outra a limitam dois fortes os qaues a cavalleiro se vê a ermida de N. S.ª da Penha, que já foi fortificação. Outros tres fortes defendem a bahia e entrada do porto; n´uma alcantilada montanha, fóra das mencionadas portas, apparece o forte de N. S.ª da Guia dominando o mar e todo o espaço adjacente. Um extenso caes, chamado praia-grande, da parte de leste, em frente da bahia, offerece uma morada aprazível, pois alem da vantagem da posição é ventilado pelas aragens refrigerantes no verão, e resguardado das furias das nortadas no inverno.”
Parte do artigo extraído de “Macau – Commercio do Anfião”, s/ autor, in “O Panorama”, 1840.
Destaques a “bold” da minha autoria.
Imagem digitalizada (1) do “Qi shebg yan hai tu” (título no Idioma Original 七省沿海圖), mapa chinês entre 1787 a 1820 (orientado com o norte para a direita), mapa manuscrito colorido, pictórico da costa da China.
Também conhecido como: “Wan li hai fang tu”
“Este mapa da costa da China é um dos vários mapas da Biblioteca do Congresso. O mapa é similar, em conteúdo e forma, aos seis mapas em Hai quo wen jian lu (Relatos de testemunhas das regiões costeiras) de Chen Luntong, feito em 1730. A nomenclatura usada em vários nomes de lugares e outros detalhes, sugere que este mapa seja datado de 1787 – 1820. Um texto introdutório afirma que ele foi compilado no interesse da defesa costeira. O mapa de pergaminho contém centenas de nomes de lugares e deve ser lido da direita para a esquerda. Notas intercaladas com intervalos irregulares nas rotas e roteiros marítimos. As distâncias são dadas em Li, uma medida que mudou de comprimento ao longo do tempo. A qualidade da caligrafia e da cartografia sugere que o mapa tenha sido feito para o imperador” (2)
Deste mapa, o detalhe referente a Macau, retirado de (2),
mostra a foz de Zhu Jiang (Rio Pérola) (3), a área de Macau, a muralha e a Ilha Verde (青洲)
O texto relata: “A região costeira de Xing Hui e Hu Men na província de Cantão consiste em um importante ponto estratégico, ao qual deve ser dada atenção suficiente à sua defesa. Esta região é fortemente infestada de foras da lei no interior do rio e piratas no mar que possuem livre acesso de navegação. Ela também compartilha uma fronteira com Macau, onde barcos e navios estrangeiros visitam frequentemente. Estes navios estrangeiros devem ser sempre vigiados. Macau é o mais antigo assentamento europeu na Ásia, criado em 1557 pelos Portugueses, que na época dominavam o comércio europeu com a Ásia.” (2)
(1) Retirado de “Library of Congress Geography and Map Division Washington, D. C.”: http://memory.loc.gov/cgibin/query/h?ammem/gmd:@field(NUMBER+@band(g7822c+ct000747
(2) Retirado de “Biblioteca Digital Mundial”:http://www.wdl.org/pt/item/314/
(3) 珠江 (mandarim pinyin: zhu jiang; cantonense jyutping: zyu1 gong1)
Livro (1) de J, Dyer Ball (2), de 1905
Acerca da muralha da cidade, (3) relata o autor:
“In the olden days when Macao was growing into a place of greater importance it was felt necessary to protect it from the assaults of covetous enemies and it was determined that a wall should be erected for that purpose.
One writer informs us that the open consent of the Chinese officials was first sought by a deputation from Macao but failing this, largesses prevented the corrupt mandarins from awkward objections or a hostile attitudeto the undertaking : so that in A. D. 1622 a wall was run from the Monte (the height in the centre of the penuisula) in a north easterly direction to the sea near St. Francis and, it is stated, the work might have been completed in A. D. 1626. This wall may still be seen. It starts from the Place of Luiz Camoens. At this point the author remembers a small arched gate, the San Antonio gate, (Sam Pa Mun) which was closed at night. This has now been pulled down and the road widened. From this place the wall runs along and then up the hill to the Monte Fort from whence it runs down the hill on the opposite side where at the foot there used to be another gate, that of San Francisco, now also abolished. The wall from here runs up the opposite hill towards the sea, to the ruined fort of San Joao, whence it proceeds towards San Francisco fort, which lies at one end of the Praya Grande, then running along the side of the Estrada da San Francisco down the hill facing the fort, mentioned above, where it ends. Thus the city was entirely closed on the land side. Some Dutch prisoners taken in 1622 were employed in the building of this wall.
Another short city wall is to be seen to the south of the city. It runs from the church on Penha Hill to the road above the disused Bom Parto Fort or just about opposite the old Boa Vista Hotel.”
(1) BALL, James Dyer – Macao: The Holy City; The Gem of Orient Earth. Printed by The China Baptist Publication Society, Canton, 1905, 83 p.
O livro está digitalizado pelo “Internet Archive”, em 2007 e poderá consultá-lo em
http://archive.org/details/macaoholycitygem00ballrich
(2) J. Dyer Ball (1847-1919) foi um sinologista nascido em Cantão; trabalhou como funcionário público em Hong Kong durante 35 anos (“Security officer” e ” Chief interpreter”) . Faleceu em Inglaterra, no ano de 1919
http://en.wikipedia.org/wiki/James_Dyer_Ball
É autor de vários livros: “Things Chinese”; “The Cantonese Made Easy Series”; “How to Write Chinese”; “Hakka Made Easy”; “Cantonese Made Easy”; “How to Speak Cantonese”; “Readings in Cantonese Colloquial”; “The Cantonese Made Easy Vocabulary”; “An English-Cantonese Pocket Vocabulary”; “Easy Sentences in Hakka, with a Vocabulary”; “How to Write the Radicals” (in the press)”; “The San Wui Dialect”; “The Tung Kwun Dialect”; “The Hong Shan or Macao Dialect”; “The Shun Tak Dialect”; “The English-Chinese Cookery Book”; “Things Chinese”.
(3) A primeira cerca muralhada, consentida pelos mandarins em Macau, foi mandada levantar em 1568 pelo Capitão-Mor Tristão Vaz da Veiga, em taipa (chunambo). (4) . Mas foi o Capitão-Geral e primeiro Governador da Cidade de Macau, D. Francisco Mascarenhas que assumiu funções a 17 de Julho de 1623 quem mandou cercar a cidade com uma muralha e aperfeiçoou o sistema de fortificação, em geral.
SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Séculos XVI-XVII, Volume 1. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, 2.ª Edição, Macau, 1997, 198 p (ISBN 972-8091-08-7)
(4) “Chunambo” – mistura de barro, terra, areia, palha de arroz, pedras e conchas de ostras moídas, compactado em camadas sucessivas.
Parte da antiga muralha junto ao Templo de Na Tcha (ao lado das Ruínas de S. Paulo)
Publiquei em post anterior, parte de muralhas existentes na Rua Nova à Guia em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/colegio-de-santa-rosa-de-lima/