Archives for posts with tag: Monumento às Vítimas da fragata D. Maria II

 Notícias de Macau do dia 5 de Maio de 1950, publicado na imprensa portuguesa (BGC), em Julho desse ano, acerca da «Semana da Marinha» iniciada a 1 de Maio com uma missa de sufrágio pelos antigos mareantes, na Ermida de Nossa Senhora da Penha.

Os avisos «Pedro Nunes» e «João de Lisboa» iluminados em arco
Macau à noite,  vista da colina da Penha
Desfile dos marinheiros

A tribuna de honra durante o desafio entre as selecções do Exército e Marinha, vendo-se o governador da Colónia
O tenente Dr. Ruben Lavoura proferindo a alocução junto da memória às vítimas da explosão da fragata «D. Maria II»

“No dia 14 de Fevereiro de 1851, saiu para Goa a corveta Iris, (1) para ir fazer concerto geral do lume de água para cima, e conduziu algumas praças inválidas. O segundo-tenente Celestino (2) que pertencera à guarnição da fragata D. Maria II (3) foi nesta corveta. Este indivíduo é notável na marinha portuguesa, e talvez em toda a nação, pela sua extraordinária obesidade, e pelo muito que bebe; no tempo em que esteve mais gordo pesou 14 arrobas e 7 arráteis.(4) 
Não é excessivo em comer, mas bebe extraordinariamente. Está nos seus 38 anos e já se diz um bebedor decadente, uma barcaça arruinada. No seu tempo dourado, como ele diz, enxugava 18 garrafas de vinho de meia canada (5) a uma comida, mas hoje declara que qualquer meio almude (5) lhe faz dar a borda. Nunca porém tomou bebedeira completa, ou encalhou o espírito, na frase dele. Viu-se-lhe numa ocasião beber 4 copos a fio, cheios com a genebra (6) contida em duas botijas de Holanda. (7) 
É um homem muito engraçado, e apesar da sua gordura é ligeiro, e trepa pelas enxárcias. (8) 
Falando desta circunstâncias, por serem raras, estamos certos que não ofendemos o tenente Celestino, porque conhecemos o seu carácter folgazão, sendo ele o próprio que a todos as declara, e sobre elas graceja.” (9)
(1) Corveta “Íris” construída em Lisboa, concluída em 1845, de 35 m de comprimento e com 24 peças. Em Fevereiro de 1850, largou do Rio de Janeiro para a Estação Naval de Macau. Em Fevereiro de 1851, largou de Macau para a Estação de Goa para receber fabricos. Foi desmanchada em 1853 por inútil.
corveta-irishttps://arquivohistorico.marinha.pt/details?id=2817
Revista Universal Lisbonense redigido por António Feliciano de Castilho Tomo III ANNO DE 1843 -1844.
https://books.google.pt/books?id=9Q4XAAAAYAAJ&pg=PR5&lpg=PR5&dq=Corveta+
(2) O Segundo Tenente, João Maria Celestino (e não “Celestiniano” como refere Padre Teixeira em «Os Militares em Macau», 1975) da guarnição da Fragata D. Maria II foi o oficial (e único) mais graduado que escapou à explosão pois estava destacado na Vila da Taipa, não se encontrando na fragata na altura da explosão.
A tragédia – Explosão da Fragata D. Maria II – ocorreu na Taipa a 29 de Outubro de 1850. A guarnição de 224 praças apenas dela restou 36 tendo perecido 188.
João Maria Celestino vem referenciado no «Livro Mestre do Corpo da Armada Real – Volume IV» como Primeiro-tenente. (https://arquivohistorico.marinha.pt/details?id=9039)
segundo-tenente-joao-maria-celestinoRepartição da Marinha e do Ultramar,. Disposições Governativas. Secção de Marinha N.º 144- Quartel General da Marinha 30 de Junho de 1846.
https://books.google.pt/books?id=aQQ5AQAAIAAJ&pg=RA1-PA28&lpg=RA1-
taipa-sepulturas-vitimas-d-maria-iiFONTE: Sepultura das vítimas da exposição da fragata D. Maria II na bahia de D. João
Autor: não identificado; Data: ?
IICT/Cartografia; Centro de Documentação e Informação; Centro de História do Instituto de Investigação Cientifica Tropical, Lisboa Portugal
http://actd.iict.pt/view/actd:AHUD5094
(3) Sobre este assunto:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/fragata-d-maria-ii/
(4) Arroba – Unidade de medida equivalente a 14,69 kg.
Arratel – antigo pêso de 16 onças que equivale aos 459 gramas.
(5) Canada – Antiga medida de líquidos que era a 12ª parte do almude.
Almude antiga medida de capacidade correspondente às 12 canadas, cerca de 32 litros.
(6) Genebra – Licor espirituoso feito de aguardente e bagas de zimbro.
(7) Botija ou garrafa de grés destinado a bebidas alcoólicas, principalmente genebra.
(8) Enxárcias – conjunto de todos os cabos de um navio que seguram os mastros e mastaréus.
https://www.priberam.pt/dlpo/genebra 
(9) CALDEIRA, Carlos José – Macau em 1850. Crónica de Viagem. Quetzal Editores, 1997.