“Acompanhado do vice-almirante Possiet, ajudante de campo geral do Imperador da Rússia, do sr. Machin, conselheiro de estado efectivo, do capitão O´Callaghan, ajudante de campo de Sir Arthur Kennedy, Governador de Hong Kong, do sr. Tundeer, tenente da Marinha imperial e do sr. Wodehouse, funcionário do governo vizinho, chegou o Grão-Duque Alexis (1) a Macau, num sábado, dia 28 de Setembro de 1872, vindo de Cantão, no barco a vapor da carreira «Spark», que, ao passar em frente da Praia Grande, em demanda da ponte cais no Porto Interior, sustara a marcha, por pouco tempo, a fim de permitir que o Príncipe Herdeiro da Rússia e sua comitiva passassem para a galeota do Governador, momento esta em que troou pelos ares, ribombando, vibrante e alacremente, pelas quebradas dos montes e serrania das ilhas que envolvem esta península, uma salva disparada dos velhos canhões da vetusta fortaleza de S. Francisco.
Vistosamente engalanada, a galera governamental, sob o impulso de vigorosas e cadenciadas remadas de musculosos marinheiros, cortava célere as lodosas águas do delta e, num ápice, em lesta e perfeita manobra, acostou ao cais de pedra, em frente do Palácio do Governo, que estava situado no local hoje ocupado pelo edifício do Palácio das Repartições (2)
Outra salva, desta vez, disparada da fortaleza do Monte, assinalou a ocasião em que o futuro Imperador da Rússia tocou pé em terra, sendo cumprimentado, no cais do desembarque, pelo Secretário Geral do Governo, Henrique de Castro, e outras individualidades. Sua Alteza, com o seu séquito, ascendeu, depois, a rampazita do cais e franqueou a diminuta largura da avenida da Praia Grande, para chegar à porta do Palácio do Governo, frente do qual estava postada a guarda de honra, constituída por uma força do Batalhão de Infantaria, com a sua banda de música e bandeira.
Aguardava a importante personagem, à porta do palácio, o Visconde S. Januário, (3) acompanhado das pessoas mais gradas tanto do meio civil como militar.
Terminado o aparato da recepção e apresentadas as boas-vindas, o Príncipe Real ficou alojado, no Palácio do Governo, e, depois de um pequeno descanso, percorreu de carruagem, na companhia do Governador, dos ajudantes e do seu séquito, algumas das principais ruas da cidade e dos arrabaldes. (4)
Alexandre III da Rússia IAlexandre III com a sua esposa Maria Feodorovna (nascida como princesa Dagmar da Dinamarca) em 1868 (5)
(1)   O Príncipe Imperial Grão-Duque Alexis (1845-1894) viria a ocupar o trono de Czar (Imperador e Autocrata de todas as Rússias, Rei da Polónia e Grão Duque da Finlândia), em 13 de Março de 1881, com o nome de Alexandre III, sucedendo a seu pai Alexandre II, cujas tendências liberais renunciaria, para retomar as tradições absolutistas.
(2)   Sensivelmente onde está colocada, agora, a estátua de Jorge Álvares.
(3)   Januário Correia de Almeida (1829-1901), 1.º Visconde de S. Januário (atribuído a 1867), foi nomeado governador de Macau a 23 de Março de 1872. Terminou o mandato a 7 de Dezembro de 1874 (nomeado neste ano Ministro Plenipotenciário na China, Japão e Sião. O título de 1.º Conde de S. Januário foi-lhe atribuído em 1889, por D. Luís Ide Portugal.
Recordar que o início das obras de terraplanagem do planalto do até então Monte de S. Jerónimo para a construção do Hospital Militar que ficou com o seu nome,  foi a 10 de Agosto de 1972.
(4)   GOMES, Luís Gonzaga. Páginas da História de Macau. Instituto Internacional de Macau. Macau, 2010, p.357, ISBN: 978-99937-45-38-9
(5)   http://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandre_III_da_R%C3%BAssia
CORRECÇÃO E ACTUALIZAÇÃO EM 28/09/2016
Esta postagem contém um erro que rectifico:
O grão duque Alexis que esteve em Macau não foi o Príncipe Imperial Grão Duque Alexander Alexandrovich Romanov (1845-1894), futuro czar Alexandre III (reinou de 1881 a 1894) mas sim, o seu irmão Alexis Alexandrovich Romanoff (1850-1908).  Para mais informações ver a actualização “”Notícias de 28 a 30 de Setembro de 1872 – Visita do Grão Duque Alexis “