Em Fevereiro de 1918, registaram-se, em Macau, alguns casos da epidemia de meningite cerebro-espinal, vinda de Hong Kong por contágio de forças australianas em trânsito para o teatro da guerra em França” (1)
A doença “Meningite Cerebro-Espinal” afectou as tropas australianas estacionadas nos campos rurais na cidade de Victória em 1915 e espalhou-se para todos os estados da Austrália em 1916 e 1917, determinando medidas de isolamento e quarentena em toda a Austrália.
meningite-cerebroespinal-1918-iEm 1934, na revista científica médica, (2) William W. Cadbury publicou um artigo “Epidemic Cerebrospinal Meningitis in China” em que apresentava um quadro com a incidência da meningite cérebroespinal (números de casos e de mortes) em cinco cidades da China, de 1918 a 1932. Em 1918, Macau teve quatro casos de meningite (dados recolhido do relatório de Dr. Peregrino da Costa de 1932). (3)
meningite-cerebroespinal-1918-iiUm das primeiras epidemias meningiocócica na China foi em 1918. (4)
O primeiro caso foi declarado em 9 de Fevereiro de 1918 em Hong Kong mas provavelmente teria havido casos em Janeiro. A máxima incidência ocorreu em Março depois um decréscimo rápido durante o mês de April. Reportaram-se 1 232 casos com uma mortalidade de 76 %. (968 mortes) Durante este período nenhum caso foi declarado oficialmente  em Cantão mas durante o ano de 1918, 1 caso fatal num Hospital em Cantão. (5)
Nos anos seguintes, os casos diminuíram em Hong Kong (nenhum caso em Macau) verificando-se novo aumento progressivo a partir de 1926.  Nova epidemia,  em 1932, que se iniciou no distrito vizinho de Chung San atingiu Macau e  a causa foi atribuída aos milhares de refugiados que foram para Macau, Hong Kong e Cantão devido ao ataque de Shanghai pelos japoneses.
Em Macau esta epidemia assumiu proporções (cerca de 600 casos  com uma mortalidade de 58%)  que vieram a ser detalhadamente descritos pelo Dr. Pedro J. Peregrino da Costa. (3)
(1) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 4, 1997.
(2) CADBURY, William W –  Epidemic Cerebrospinal Meningitis in China. American Journal of Public Helth and meningite-cerebroespinal-1918-iiiThe Nation´s Health Vol 24, September, 1934, Number 9
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1558731/pdf/amjphnation00920-0009.pdf
(3) COSTA, P. J. P. da – Relatório da Epidemia de Meningite Cerebro-Espinal em Macau.  Macau, 1932.
Relatório que mereceu o seguinte despacho do Encarregado do Governo, João de Magalhães de 15-06-1932 : «Aprecio muito este relatório do Sr. Dr. Peregrino da Costa, a quem louvo pelos seus relevantes serviços.» O relatório foi publicado no Boletim Oficial e foi traduzido em inglês, de que se tirou separata.
TEIXEIRA, Pe. Manuel – A Medicina em Macau, Volumes III-IV, 1998p.344
Dr. Pedro Joaquim Peregrino Francisco da Costa (1890) tenente-médico em 29-07-1916, embarcou para Macau a 9 de Outubro de 1916 tendo chegado a este território em 12 de Dezembro. Regressou a Portugal em 1919 e de novo foi colocado em Macau em 1920, chegou somente a 12 de Março de 1921. Entre outros cargos em Macau, foi director do Laboratório Bacteriológico e director dos Serviços de Saúde e Higiene da colónia. É também autor dos Relatórios da epidemia de cólera de 1937 e 1938. Reformado no posto de tenente-coronel em 1937, esteve em Macau 14 anos e 14 dias.
(4) Quarentena em Hong Kong
Public Health Reports (1896-1970),Vol. 33, No. 35 (Aug. 30, 1918), pp. 1470-1476
https://www.jstor.org/stable/4574878?seq=1#page_scan_tab_contents
(5) Em Macau, uma das medidas foi a construção em 13 de Março de 1918, de um pavilhão destinado ao isolamento e tratamento de doenças epidémicas, na Colina de D. Maria. Em 6 de Abril de 1918 foi publicada em Boletim Oficial, as medidas profilácticas contra a doença. (1)