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Rompia a manhã.
O sol despontava
E já o tam-tam
Ao longe soava:

Tam, tam-tam, tam-tam-tam
O gongo tangia
E tam-tam, tam-tam
O écho repetia

 Ao som d´esse monótono apello
Despertei, n´uma enorme anciedade.
Que doença, que desgraça, que flagello
Assolaria os bairros da cidade.

Para que, àquella matutina hora
Houvesse já sahído a multidão
E assim fosse, seguindo ruas fóra,
Atrás do tocador em procissão?

Epidemia? Ou espíritos dispersos
Occultos na neblina, a propalar.
Seus males? Há espíritos perversos
Que ao som do gongo fogem para o mar.

Mas não; porque havia
Sol resplandecente,
E o gongo tangia
Continuadamente

Tam, tam-tam, tam-tam,
O bronze vibrava
E tantã, tantã,
Ao longe echoava.

Assômo á varanda
Curiosamente.
Já nas ruas anda
Muita, muita gente.

 E assim, a procissão vai augmentando,
Distingo-o ao longe. A volta que ella dá!
Tenho agora a impressão que estão tocando
Parados, junto ao templo de «Mong Ha».

É certo que este ano os arrozaes
Mal reverdecem, fracos, estiolados,
E ficaram nos grandes temporais
Os juncos e os tankás despedaçados.

Talvez que, na sua crença de budhistas,
Elles tentem os deuses despertar
D´aquelle sono eterno, de egoístas
Que não acordam para não chorar.

Não deve ser esta,
Porém, a razão.
Vem em ar de festa
Toda a multidão

Á frente, em corrida
Surgem chinezitos
De calça comprida
E olhos exquisitos

Trazendo ballões
P´rá noite accender
Estalam «panchões»
Nos ares a arder

E, continuamente
Por entre a algazarra,
Vibrante, estridente,
Música bizarra

Pelos tocadores !
Um ruído infernal
De pratos, tambores
E o gongo oriental.

Sonóro a tanger:
Tam, tam-tam, tam-tam
……………………………………

…………………………………

Mas, que andará o gongo a annunciar?
Tristezas? Não por certo, que as não sente
Com música e «panchões» a estralejar,
Toda essa bicha, exótica, de gente!

Ah! Eclipse de lua, pelos sábios
Previstos para o fim d´esta semana
Sinto voltar o meu sorriso aos lábios
Compreendo agora: É a serpente humana,

Coberta de pano avermelhado,
Que se coleia e alonga pela rua.
A simular esse dragão irado,
Que tenta á força devorar a lua;

Enquanto esta, pequenina bola,
Entregue a um china ágil, saltitante,
Nas suas mãos esguias, brilha, rola,
Sem que a consiga esse dragão gigante.

E, ai de nós, se esse monstro do inferno
A conseguisse um dia devorar …
O eclipse seria eterno, eterno,
Nunca mais uma noite de luar!

              Maria Anna Acciaioli Tamagnini

NOTA: Na China, o gongo anuncia o visitante, afugenta os espíritos maus e as epidemias. Acorda os deuses nos Templos e afasia os supostos perigos dos eclipses da lua, que a lenda representa como um dragão tentando devorá-la.

TAMAGNINI, Maria Anna Acciaioli – LIN TCHI FÁ – Flor de Lótus. Lisboa, 1925, 99 p.
Referências anteriores a esta poetisa, em
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/maria-anna-tamagnini/ 

Monografias, Art, Mapas SEVILHA 1929A Exposição Iberoamericana de Sevilha foi inaugurada a 9 de Maio de 1929 e encerrada a 21 de Junho de 1930. Foi a primeira exposição internacional envolvendo a Península Ibérica e os países da América Latina. (1)

O Governo de Macau (Governador Arthur Tamagnini), publicou um livro, em 1929, intitulado “MONOGRAFIAS, ARTIGOS, MAPAS E GRÁFICOS ESTATÍSTICOS” onde foram coligidos todos os artigos, mapas, monografias e gráficos estatísticos, que foram enviados como “Representação da Colónia de Macau” e integrados na “Exposição Portuguesa em Sevilha” de 1929. (2)

Monografias, Art, Mapas CAPA 1929

O livro com 103 p. e mais 25 folhas em anexo, de ” Gráficos e Estatística coordenadas pela Propaganda de Macau“, foi composto na Tipografia Mercantil de N. T. Fernandes & Filhos (Macau-1929) (3)

Monografias, Art, Mapas 1.ª Pág 1929INTRODUÇÃO do Governador Artur Tamagnini (como vem na folha assinada):
À generosidade de amigos, deve Macau gentís apreciações, coleccionadas no album destinado a correr mundo no intuíto de atraír a êste pequeno cantinho português as atenções dos que visitam o extrêmo-oriente.
É um louvável esfôrço de propaganda só possível com tão honroso e interessante concurso.
Como Governador da Colónia, ao escrever a primeira página, reservo-a para testemunho de intimo reconhecimento.”

Monografias, Art, Mapas Praia Grande 1928Macau – Praia Grande (1928)

Contém artigos (alguns publicados  já neste blogue) de várias personalidades sendo as mais conhecidos, Maria Anna A. Tamagnini (4), Bella Sidney Woolf (5), – texto em inglês (o mesmo texto foi traduzido e publicado no Boletim da Agência Geral das Colónias, n.º 53 – Novembro de 1929) (6) , J. da Costa Nunes (Bispo de Macau), Jayme do Inso ( um artigo sobre «Os Pagodes de Macau», escrito “a bordo da Canhoneira PATRIA, em Macau, Dezembro de 1928) (7) e o Padre A. da Silva Rego.

Monografias, Art, Mapas MAPA MACAU 1929Mapa da Colónia de Macau, numa escala de 1:80,000
estando assinalados os terrenos conquistados e os territórios em litígio com a China

(1) “Fue la primera Exposición Internacional para dar muestra del hermanamiento entre los dos países de la Península Ibérica con América; España e Hispanoamérica y Estados Unidos y Portugal con Brasil y Macao. La exposición coincidió en el tiempo con la Exposición Internacional de Barcelona de 1929. A Exposição Internacional de Barcelona decorreu de 20 de Maio de 1929 a 15 de janeiro de 1930 em Barcelona (Espanha)
http://es.wikipedia.org/wiki/Exposici%C3%B3n_Iberoamericana_de_Sevilla_(1929)
(2) sobre a participação de Macau nessa exposição ver também o “post” anterior:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/07/20/leitura-macau-na-exposicao-ibero-americana-de-sevilha-1929/
(3) sobre esta Tipografia ver anteriores “posts” em
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/04/04/anuncios-tipografia-mercantil-de-n-t-fernandes-e-filhos/
(4)
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/02/06/leitura-uma-exposicao-de-arte-no-palacete-da-flora-1929/
(5) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/01/25/leitura-an-impression-of-macao/
(6) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/11/10/leitura-macau-no-boletim-da-agencia-geral-das-colonias-1929/
(7) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/07/15/o-pagode-de-macau-seac-jaime-do-inso-1929/

Poema de Maria Anna Acciaioli Tamagnini, feito a favor do Asilo de Santa Infância em 1 de Abril de 1929.

Quebra o silêncio da noite
A sineta do convento
Dlão … Dlão…
Como é triste o seu lamento!
Ouvem-se tímidos passos
E o ranger soturno e lento

De um portão
…………………………………………….
Com um filhinho nos braços
Implora a voz da desgraça …
Responde-lhe uma opção:
«Ave Maria cheia de Graça».

Em míseros farrapos embrulhada
A criança, a arder em febre, debilmente,
Põe-se a chorar …
Pálida e calma, a dor já costumada,
A irmã porteira embala-a, docemente,
Para a calar.

Range de novo a porta do convento
E a mãe, surge, a tremer, na noite escura,
Hirta de espanto …
Tem medo de si mesma, o sofrimento
Embrureceu-lhe o olhar; a desventura
Secou-lhe o pranto.

Corpo sem alma! Mulher inconsciente!
Que razão poderosa te levou
A abandonar
O filho pequenino, o inocente
Que em teu seio dorido se gerou
Para te amar? …

E o meu olhar fitou na noite escura
Uns olhos quietos, vgos, sem expressão,
Olhar de alguém.
Que deixou de sentir, porque a amargura
Lhe esmagara no peito o coração!
Ó pobre Mãe,

Não olhes para mim tão desvairada!
Eu adivinho a dor que te consome
E a razão forte …
Eu vejo-a, na tua face macerada:
Abandonaste-o para evitar-lhe a fome,
Talvez, a morte

Um suspiro de mágoa ouve-se ainda.
E ela lá vai gemendo o seu tormento,
Triste destino!
……………………………………………………..
Nos céus surgiu a lua branca e linda
A iluminar a rua; e no convento
O pequenino,

Deitado num bercito de madeira,
A custo abre os olhitos, magoados,
Fitando a luz.
Sorri-lhe ternamente a enfermeira
E enchendo-o de carinhos e cuidados
Reza a Jesus.

E quase todas as noites
Se ouve a sineta tocar,
Dlão… Dlão …
E há corações a velar
No velho e pobre convento,
Que abnegação!

São as mães do sentimento,
Que, pelo divino amor,
Dão fé a quem a não tem
E aconchego aos pobrezinhos,
Aos pequeninos sem mãe!

1 de Abril de 1929
Maria Anna Acciaioli Tamagnini (1)

NOTA: Além do Hospital dos Pobres e dos Lázaros, a Santa Casa tinha, quase desde os seus primórdios, a Casa dos Expostos, ou a Roda, vulgarmente se lhe chamava, a fim de recolher os enjeitados, geralmente filhos de chinesas e escravas. A Santa Casa cuidava deles através de uma regente e de amas, para cuja escolha existiam exigências rigorosas. A taxa de mortalidade entre estas crianças abandonadas era muito elevada e, mais do que salvar-lhes a vida, a Misericórdia procurava salvar-lhes a alma através do baptismo. José Caetano Soares, Macau e a Assistência: Panorama médico-social, p. 342.

O Governador José Maria da Ponte e Horta, pela Portaria de 1867, proibiu a Roda, em Macau, mas sem resultados práticos. E só em 1867 foi abolida quando a Santa Casa confiou os Expostos às Filhas de Caridade Canossianas, que tomaram conta deles, a princípio no próprio edifício dos Expostos e, mais tarde, no Asilo da Santa Infância, em Santo António.Pe. Manuel Teixeira, Bispos, Missionários, Igrejas e Escolas: no IV Centenário da Diocese de Macau, (Macau e a sua Diocese, Vol. 12), p. 2

O asilo da Santa Casa da Misericórdia apenas recebe e sustenta 30 a 40 órfãos e somente lhes ministra instrução primária e instrução comercial, mandando-os à escola pública e onde aquelas disciplinas se ensinam. Mas isto não basta, porque o número dos órfãos em Macau vai muitíssimo além daquele, e nem todos se dedicam ao comércio. Se para o sexo feminino se têm adoptado acertadíssimas providências pela creação e manutenção do Asilo de Santa Infância, e da Casa de Beneficência e do Colégio de Perseverança; para os órfãos do sexo masculino, tudo o que se tem até hoje feito se reduz ao Asilo da Santa Infância que os não pode agasalhar além dos 8 ou 10 anos e ao Asilo da Santa Casa da Misericórdia cuja acção benéfica não sae dos acanhados limites que deixo indicados e cuja organização deixa a desejar.
Carta de João Paulino de Azevedo e Castro de Singapura 29 de Julho de 1904
http://www.library.gov.mo/macreturn/DATA/PP126/PP126132.HTM

(1) TAMAGNINI, Maria Anna Acciaioli – LIN TCHI FÁ – Flor de Lótus. Editorial Tágide, Lta. 2006, 99 pp. + |Glossário|, 21 cm x 15 cm. ISBN 989-95179-0-9.

Livro de poesia de Maria Anna Acciaioli Tamagnini, de 1925.  Exemplar com a capa e contracapa em mau estado, sujas e lombada rasgada. (1)

Lin Tchi Fá 1925

Sobre folhas de lótus escrevi
As letras do teu nome, meu amor,
N´aquellas folhas que a sorrir colhi
Ao debruçar-me sobre o lago em flôr.

Sobre folhas de lótus desenhei
O mais risonho trecho da cidade;
E esse leve desenho que tracei
Dir-se-hia uma paisagem feita em jáde.

O teu nome mais bello se fizéra
No relèvo das letras bem gravadas.
A paisagem lembrava primavera
Sobre o verde das folhas espalmadas.

Apertei-as de encontro ao coração.
Senti meu peito como flôr a abrir …
E todo o Oriente feérico e pagão,
Sobre folhas de lótus vi surgir

Ah! Se eu pudesse, como outr´ora, ao luar,
Por esses lagos nos jardins dispersos,
Ir as folhas de lótus apanhar
Para sobre ellas escrever meus versos,

Essas folhas de extranha singeleza
Dariam á poesia outro valor,
E eu realizava um sonho de belleza:
Um livro cheio de perfume e côr.

Lin Tchi Fá 1925 - desenho japonesaNa primeira página, um desenho de uma japonesa, assinado “Maria Anna

NOTA: Maria Anna de Magalhães Colaço Acciaioli Tamagnini (1900-1933). Casada com o então governador de Macau, Artur Tamagnini de Sousa Barbosa (desposou-a em segundas núpcias), esteve em Macau durante o 2.º mandato deste Governador, de 08-12-1926 a 02-01-1931. Faleceu em Lisboa, à beira de completar 33 anos, de parto do seu quinto filho

(1)TAMAGNINI, Maria Anna Acciaioli – LIN TCHI FÁ – Flor de Lótus – Poesias do Extremo Oriente. Lisboa (composto e impresso no Centro Tipografico Colonial), 1925, 95 p +|4 – Índice, Erratas|, 23 cm x 15 cm.

A edição que possuo, de 1925, traz ainda na 1.ª página a etiqueta: Coimbra Editora, L.da. N.º de ordem 288; Preço 3$50

Lin Tchi Fá 1925 - etiqueta

Em 1991 o livro foi reeditado pelo Instituto Cultural de Macau.

Posteriormente nova edição em 2006 (2)

Lin Tchi Fá 2006

Esta edição tem uma introdução de Natália Correia “ Versos de Brisa Portuguesa Escritos Numa Flor De Lótus” e tem em relação à anterior mais um poema: “Santa Infância” (poema feito a favor do Asilo da Santa Infância em 1 de Abril de 1929)

(2) TAMAGNINI, Maria Anna Acciaioli – LIN TCHI FÁ – Flor de Lótus. Editorial Tágide, Lta. 2006, 99 pp. + |Glossário|, 21 cm x 15 cm. ISBN 989-95179-0-9

Hoje dia 21 de Março, celebra-se o Dia Mundial da Poesia.

Também início da Primavera, recordo aqui, Maria Anna Acciaioli Tamagnini (1) em dois poemas do seu livro, publicado em 1925 (2):

 NO PAVILHÃO DA POESIA

Amanhecera

A brisa da Primavera

Passou ligeira…

Na página, onde eu escrevia

Uma poesia,

Caíram as flores rosadas,

Delicadas,

De um tronco de cerejeira

 NO PAVILHÃO DO CHÁ

 Num vaso precioso, uma peónia,

Em trajes de cerimónia

Alguns velhos, letrados, reunidos,

Conservando, entretidos,

A perfumar o ambiente,

Sobre pequenas mesas de charão,

Em taças, de Cantão

Folhas de chá abrindo lentamente…

 (1) Sobre esta autora, ver anterior “post”:    https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/maria-anna-tamagnini/

(2) TAMAGNINI, Maria Anna Acciaioli – Lin Tchi Fá, Flor de Lótus. Poesias do Extremo Oriente. Lisboa, 1925, 95 p. + |4|

Nova edição em 2006: TAMAGNINI, Maria Anna Acciaioli – Lin Tchi Fá, Flor de Lótus. Editorial Tágide, 2006, 99 p. ISBN 989-95179-0-9.

Boletim da Agência Geral das Colónias (Ano 5.º, Novembro de 1929, n.º 53),  dedicado a Macau, pp. 3 a 175.

Boletim AGC n.º 53 1929 CAPA

SUMÁRIO:
1. O Govêrno de Macau, por Artur Tamagnini Barbosa, Governador de Macau (1)
2. Padroado Português no Extremo Oriente, por J. da Costa Nunes. (2)
3. Vésperas do Ano Novo Chinês, por D. Maria Ana Acciaioli Tamagini. (3)
4. A aclamação del Rei D. João IV em Macau, (subsídios históricos e biográficos) por Frazão de Vasconcelos (4)
5. Aspectos e problemas de Macau, por João dos Santos Monteiro (5)
6. Climatologia de Macau, por Morais Palha (6)
7. À maneira de conto, por Félix Horta (7)
8. Uma página para a História de Macau, por Jaime do Inso (8)
9. Traços impressionistas de Macau, por Bella Sidney Woolf (9)
10. Alguns dados estatísticos sôbre a colónia portuguesa de Xangai (referidos a 31 de Março de 1918), por Francisco de Paula Brito Júnior (10)
11. A Gruta de Camões, por Humberto de Avêlar (11)
12. Alguns dados estatísticos sôbre a colónia de Macau (lista dos governadores de Macau e datas de posse, inquérito sôbre a população de Macau e suas dependências)
13. Lugares selectos da Biblioteca Colonial Portuguesa (o comércio de Macau de 1863 e o princípio de associação como base dom progresso)) – editorial do semanário macaense TA-SSY-YANG-KUO, n.º 18, de 4 de Fevereiro de 1864.
Boletim AGC n.º 53 1929 Índice

(1) 2.º mandato como Governador de Macau (1926 -1930). Sobre este Governador ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/artur-tamagnini-barbosa/
(2) D. José da Costa Nunes foi bispo de Macau de 1920 a 1940.
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/d-jose-da-costa-nunes/
(3) Maria Ana Acciaioli Tamagnini, escritora e poetisa, casada com o governador de Macau, Artur Tamagnini Barbosa. Ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/maria-anna-tamagnini/
(4) José Frazão de Vasconcelos, (1889-1970), arqueólogo, historiador, autor de vários livros e artigos relacionados com Macau. Nesse ano, secretário da Secção de Diplomática da Associação dos Arqueólogos Portugueses, correspondente do Instituto de Coimbra, da Arcádia de Roma.
(5) João dos Santos Monteiro, advogado, Sub-Director Geral das Colónias do Oriente, nessa data.
(6) J. António Filipe de Moraes Palha, coronel médico, cirurgião pela Escola de Lisboa, “facultativo” de 1.ª classe do ultramar, chefe dos Serviços de Saúde de Macau. Autor do “Esboço Crítico sobre a Civilização Chinesa”, publicado em 1912, com prefácio de Camilo Pessanha.
(7) Félix Horta, advogado, delegado da colónia de Macau à Exposição de Sevilha, cônsul de Portugal em Cantão.
(8) Sobre Jaime do Inso ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jaime-do-inso/
(9) Bella Sidney Woolf (1877-1960), escritora inglesa, secretária do Governo de Hong Kong e esposa de W. T. Southorn que foi secretário colonial do Governo de Hong Kong. Ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/bella-sidney-woolf/
(10) Francisco de Paula Brito Júnior, cônsul geral de Portugal em Xangai.
(11) Humberto Severino de Avêlar, advogado, professor do Liceu de Macau do 1.º grupo (Português e Latim), reitor do Liceu Central (após exoneração de Camilo de Almeida Pessanha, em 4 de Setembro de 1925), fundador do Instituto de Macau.

 Desembarque Governador Tamagnini Barbosa 12-10-1918 I

Em o dia 12, pelas 15 horas, desembarcou no caes da Praia Grande, em frente das Repartições Públicas, o governador sr. Artur Tamagnini de Sousa Barbosa, vindo de Hong Kong na canhoneira «Pátria».

Desembarque Governador Tamagnini Barbosa 12-10-1918 II“Em Macau – O governador sr. Artur Tamagnini Barbosa, acompanhado do governador interino dr.- Vieira de Matos, passando revista à guarda de honra, que lhe prestou as homenagens militares

Do caes até ao palácio do Governo, estava esse trecho da Praia Grande belamente ornamentado de arcos de folhagem e bandeirolas.
Levantava-se em frente do mesmo caes uma torre de bambu para servir de sustentáculo a um extenso molho de panchões, que é de costume queimarem-se por estas paragens chinesas nos dias de grande gala.

Desembarque Governador Tamagnini Barbosa 12-10-1918 III“Um aspeto dos ornamentos das repartições publicas, junto ao caes, onde desembarcou o sr. Artur Tamagnini Barbosa”

Escusado é dizer que todos os funcionários, como todo o povo o esperou e, diga-se, não foi uma espera curiosa, mas uma esperança e uma prova de aféto que o Governo da Republica dava ao povo de Macau na pessoa do ilustre governador.
Trocados rápidos cumprimentos entre o Governador e as pessoas que d´ele se acercaram, seguiu o sr. Tamagnini Barbosa, no meio da multidão, para os Paços do Conselho do Leal Senado, onde deveria tomar posse do Govêrno da Província.
Foi na sala do Leal Senado, após um breve discurso do governador interino, sr. Fernando A. Vieira de Matos, que fazia entrega do Governo, assegurando a cooperação dos funcionários, como o desejo d´uma administração feliz, que, o sr. Artur Tamagnini, pronunciou um discurso ouvido com o maior respeito, afirmando que hesitára em aceitar o cargo de que se acha investido, por reconhecer a falta dos seus recursos junta aos cuidados que lhe inspiram a governação publica e a política em geral.

Desembarque Governador Tamagnini Barbosa 12-10-1918 IV“O Leal Senado ornamentado, e uma torre de bambu com panchões, no dia da chegada do governador sr. Tamagnini Barbosa”

Acima de tudo, porém, estava o consagrar-se à terra que embalára a sua meninice e dourára os sonhos da sua juventude, terra cheia de recordações, em que seu pae trabalhou longos anos para legar a si e aos irmãos um riquíssimo tesouro: o seu nome.
Felicitava-se pelo regozijo e pelas demonstrações que lhe prestava o povo de Macau, representando tudo uma homenagem que se reflectiu no primeiro magistrado de Portugal e no governo da Republica
Pediu o concurso dos que, pela ordem, progresso, ilegalidade, sempre pugnaram para o engrandecimento da linda colonia de Macau. E esses haviam de ser, talvez, os seus companheiros de outr´ora, alguns dos seus mestres mais diletos que, pela experiência dos anos e pelo saber, seriam imprescindíveis orientadores. “(1)

Artur Tamagnini BarbosaNOTA: Artur Tamagnini de Sousa Barbosa (1881-1940) veio para Macau no transporte África, ainda bebé,  (1882) tinha quatro meses, trazido pelo pai, conselheiro Artur Tamagnini Barbosa.. Fez os estudos em Macau no seminário e no liceu até aos 19 anos de idade regressando a Portugal com o pai. Chefe de Repartição do Ministério das Colónias quando foi nomeado pela primeira vez para o cargo de Governador de Macau (12-X-1918 a 17-VII-1919). Desempenhou por três vezes o cargo de Governador de Macau (2.ª vez de 8-12-1926 a 2-1-1931 (2) e a 3.ª vez, nomeado em 19-12-1936 e tomada de posse a 11-04-1937).  Casado com a poetisa Maria Ana Acciaioli Tamagnini. Faleceu em Macau, a 5-10- 1940, durante o seu terceiro mandato como governador.
Ver anteriores referências a este Governador em;
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/artur-tamagnini-barbosa/ 

(1)   Artigo de Ayres Pires de 20-09-1918, intitulado “Macau”, publicado na revista “Ilustração Portugueza” em Fevereiro de 1919, n.º 679.
Os Clichés é do distinto amador sr. Carlos Cabral, de Macau, que obsequiosamente os cedeu à Ilustração Portuguesa
(2)   SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XX, Volume 4. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, 2.ª Edição, Macau, 1997, 454 p (ISBN 972-8091-11-7).
Outras fontes indicam 1930 (a foto refere 1926-1930)

1929 – Realiza-se neste ano, uma importante Exposição de Arte (mais de 670 trabalhos, entre fotografias e pinturas, vindos de vários pontos do Extremo-Oriente) O certame tem lugar no Palacete da Flora em Macau. (1)

Nésta  terra pequenina mas encantadora, onde a vida para a maior parte da gente desliza sem graves apreensões de espirito e sem grandes dificuldades, a Arte e a cultura intelectual devem encontrar terreno favorável ao seu desenvolvimento. …(…).
Macau, com as suas belezas naturais os seus recantos poéticos surgem trechos da velha arquitectura portuguesa, com o colorido alacre das suas casas risonhas e os seus curiosíssimos aspectos da vida e hábitos chineses, já transmitira à alma de um grande artista. George Chinnery, o seu desejo de se ver reproduzida, cantada em poemas de harmonia e côr. Chinnery ligou o seu nome à história de Macau reproduzindo trechos das suas mais lindas paisagens, imortalisando  alguns  dos seus personagens ilustres e tipos clássicos de hieraticos e serênos mandarins do Celeste Império…(…)…
Os novos ignoravam talvez que além deste grande pintor outros houve  que nesta terra demonstraram incontestável valor artístico como o Barão do Cercal, Marceano Babtista, etc.
Uma exposição de Arte realisada este ano no palacete da Flóra veio familiarisar estes nomes, porventura um pouco esquecidos, com os dos nossos jovens artistas de hoje dando-lhes ensejo a contemplar quadros de mestre, neles aprendendo a vencer hesitação e dando-lhes, pela primeira vez, ocasião de patentearem ao público os esforços do seu trabalho e as faculdades artísticas.

Palacete da FloraUm trecho do jardim e Palacete da Flora onde se realizou a Exposição de Arte (2)

Desenhos muitos cuidados, aguarelas, pasteis, óleos de colorido interessante assinados por portuguêses de Hong Kong e Macau revelaram-nos grandes disposições…(…)…
Em provas fotográficas foi mais vasta a exposição …(…) …
Carlos de Souza, Climaco do Rosário, J. Sakai, Yoshiska souberam transmitir-nos a sua artística maneira de sentir e conseguiram oferecer-nos aspectos lindos e inéditos em velhos trechos conhecidos.
Dr. João de Bianchi, nosso Ministro em Pequim deu-nos uma página “Morte dos Lotys”: lento extinguir da seiva nas folhas amarelecidas, triste reflexo na agua estagnada que ensombra o nosso olhar.”
……………………………………………………………………….continua (2)
Maria Anna A. Tamagnini 

Maria Anna de Magalhães Colaço Acciaioli Tamagnini (1900-1933) poetisa e esposa do governador de Macau, Artur Tamagnini Barbosa.  Mais informações, ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/05/19/cotisacao-para-o-asilo-de-mendicidade/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/02/18/poesia-crepuscu-lo-ii/
NOTA: Recorda-se que o Palacete  da Flora foi a perda material mais significativa da explosão do Paiol da Flora (na altura situada num terreno por detrás do actual Jardim Infantil D. José da Costa Nunes), no dia 13 de Agosto de 1931. Foram trinta toneladas de pólvora que destruiram tudo, num raio de 300 metros incluindo o palacete que era a residência de verão dos Governadores;  na altura, estava lá instalado o Museu Luís de Camões e servia também conforme esta descrição, como pavilhão de exposições de arte.

(1) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XX, Volume 4. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, 2.ª Edição, Macau, 1997, 454 p (ISBN 972-8091-11-7).
(2) Monografias, artigos, mapas e gráficos estatísticos, 1929,

Um recibo emitido pelo Conselho Administrativo do Comando da Polícia de Segurança  (Esquadra 4) com a numeração: A 1969, pela contribuição em dinheiro ($0,40 – quarenta avos), para o Asilo de Mendicidade “Dra Maria Ana Tamagnini Barbosa ” (cotisação do mês de Julho de 1937). O Presidente do Conselho Administrativo era o Capitão Carlos de Sousa Gorgulho.
O Asilo de Mendicidade  foi destruído (ano ?) e ficava para os lados da Mong Há onde está hoje o Cemitério de Nossa Senhora da Piedade (1)
Carlos de Sousa Gorgulho foi  Comandante do Corpo de Polícia de Segurança Pública de 05-MAR-1937 a 31-JUL-1939
Carlos Sousa Gorgulho foi posteriormente governador de S. Tomé e Príncipe (1945-1953) (2)  tendo sido responsável pelo chamado “massacre de Batepá, em 3 de Fevereiro de 1953onde terão morrido cerca de mil negros às mãos dos colonos, chacinados e atirados ao mar seguindo a ordem directa do governador” (3)
Muitos foram abatidos a tiro, em verdadeiras caçadas levadas a cabo por milícias de voluntários. Diversos foram queimados. Alguns morreram asfixiados em celas demasiado pequenas para o número de presos que continham. Muitos foram sujeitos a trabalhos forçados na praia de Fernão Dias. Um dos castigos consistia em «vazar o mar»: presos com correntes, eram obrigados a entrar no mar para encher grandes selhas de água salgada, apenas para as despejar em terra, pouco depois. Interrogados sob tortura, chicoteados, submetidos à utilização de uma cadeira eléctrica, os presos eram obrigados a confessar o seu envolvimento numa revolta que pretenderia matar o governador e os colonos e distribuir entre si as mulheres brancas. Mais tarde, a própria PIDE havia de negar a existência da conspiração referida pelo governador.” (4)
(1) «Parte do terreno deste Cemitério foi expropriado em 8-9-1942 à Associação encarregada de zelar pela conservação do Cemitério dos Protestantes, chamado da Bela Vista; acrescentou-se-lhe o tardoz do Asilo de Mendicidade «Ana Maria Acciaiolli Tamagnini Barbosa».
Este Cemitério foi construído em 1942 para a inumação dos restos mortais das sepulturas de 3.ª e 4.ª Cl. do Cemitério de S. Miguel, já quase repleto de cadáveres; e também para os novos enterramentos. A 11-1-1943 foi ali sepultado o primeiro cadáver.
http://www.library.gov.mo/macreturn/DATA/PP271/PP271275.HTM
(2) O site wikipédia apresenta como datas: 5 de Abril de 1945 – Julho de 1948, mas foi governador de 1945-1953 (5)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_governadores_de_S%C3%A3o_Tom%C3%A9_e_Pr%C3%ADncipe
(3) http://www.alvarenga.net/pai.html
(4) http://caminhosdamemoria.wordpress.com/2009/02/04/o-massacre-de-batepa/
(5) Relatório do Governo da Província de S. Tomé e Príncipe: respeitante aos anos de 1948 a 1954 / Carlos de Sousa Gorgulho. – São Tomé : Imprensa Nacional, [19–]. – LXXXIX, 389 p. : il. ; 22 cm
http://memoriaafrica.ua.pt/searchRecords/tabid/166/language/pt/PT/Default.aspx?q=AU%20a%20carlos%20de%20sousa

CREPÚSCULO

Raios de luz, caindo ao sol poente,
Polvilham de oiro os cumes das montanhas;
E nesse último afago, loiro e quente,
Os montes têm fulgurações estranhas.

O sol vai a sumir-se, e pelo céu,
As manchas de cor rubra empalidecem.
Cobrem-se as serras de arroxeado véu…
As imensas planícies entristecem.

No lago, extenso até perder de vista,
Os lótus são já pérolas sombrias,
Engastadas no róseo ametista
Das suas águas límpidas e frias.

A noite envolve no seu denso manto
Toda a paisagem. No silêncio, as fontes
Deixam correr, magoadas, o seu pranto
……………………………………………………
E a lua nasce por detrás dos montes.
(De Maria Anna Tamagnini publicada na p. 77 do livro “Lin Tchi Fá Flor de lótus” ) (1)

Maria Anna de Magalhães Colaço Acciaioli Tamagnini (Torres Vedras 1900-1933).
Casada com o governador de Macau, Artur Tamagnini Barbosa. Este livro foi publicado pela primeira vez em 1925 e reeditada pelo Instituto Cultural de Macau em 1991 (N.B. do editor. Mantém a anterior introdução de Natália Correia onde este grande vulto da cultura portuguesa se refere “à primeira mulher de letras portuguesa que publicou um livro de poemas de temática extremo-oriental concretamente respirada na atmosfera em que viveu” (…). Como uma “atraente criatura compósita de emoção e brisa, a sua poesia floresce da estranha osmose da comoção feminil da alma lusa e desse Oriente que guarda o arcano do mistério do supramundo no mundo.”)
O livro traz uma ilustração da própria autora.
Ainda a  propósito desta autora, Ellen Thompson de 2009 (?), da Universidade Brigham Young, no trabalho académico (em inglês) intitulada : “Maria Anna Acciaioli Tamagnini: o quadro da mulher feliz?” (2):
“Maria Anna Acciaioli Tamagnini was a woman of special circumstances. She enjoyed many opportunities in regards to travel, education, as well as liberty of thought. These factors, in conjunction with her youth and ability to write, placed her in a unique situation in which it was possible to publish a book accessible to a large audience. With these opportunities, she searched for happiness, not only for herself, but for women everywhere. The picture of the Chinese woman that she paints with her poetry in the book Lin-Tchi-Fá: Flor da lotus opens a discourse about the situation of women in Macau, in Portugal, and in China. During the 19th and 20th centuries in China, Portugal and Macau, women increasingly fought for their rights. The political climate in which Tamagnini found herself was turbulent in many ways. Of notable importance in Tamagnini’s work is the feminist movement what was gaining strength with sharp voices against traditional norms as well as the deep-rooted traditions that had for centuries oppressed women. Tamagnini, because of society’s attitude in regard to these feminists, packaged her feminine message with much subtlety. Thus, readers who only wanted to hear a pretty story of the exotic Orient were satisfied, while to those readers with sensibility, she told the story of the woman’s search for happiness. This happiness did not come by pleasing any man, but in the self-actualization of each woman.”
 
(1) TAMAGNINI, Maria Anna Acciaioli – Lin Tchi Fá Flor de lótus. Editorial Tágide, 2006, 99 p. ISBN 989-95179-0-9
(2) http://155.97.12.155/mwdl/index.php/record/view/11768