O macaense Carlos Humberto da Silva (1) pronunciou no Leal Senado uma conferência integrada na Semana do Ultramar intitulada «Alguns Aspectos Antropológicos das Influências Portuguesa e Chinesa em Macau”
Distinguiu dois tipos de macaenses: o «pioneiro» e o «recente».
Disse ele que o primeiro, também conhecido por «português oriundo de Macau» é sob o ponto de vista, um ocidental completamente português no pensar, no sentir, nos hábitos, nos costumes e até tem o que vulgarmente se chamam os «defeitos da raça». Quanto ao segundo tipo, disse que, «a partir da segunda metade do século passado, quebradas as barreiras artificiais do afastamento entre os portugueses e chineses, uns e outros entraram em franco contacto de onde resultou um entendimento que fez desabrochar uma atracção mútua que se diria existir em estado latente de ambos os lados.
Como é natural essa aproximação não tem cessado, de então para cá, bem antes pelo contrário. Nestas três ou quatro décadas pode-se dizer que o número de cruzamentos em relação à população portuguesa de Macau, atinge cifras importantes. O ritmo crescente de casamentos e cruzamentos dá a impressão duma avalanche pela sofreguidão com que parecem querer reaver o tempo perdido.
Não devemos estar longe da verdade se dissermos que este novo elemento da vida macaense é hoje o elemento mais numeroso da sua população portuguesa, porque, evidentemente, este «macaense recente» está posto em pé de igualdade, como é natural, com todos os outros portugueses. É igualmente evidente que a influência chinesa na sua vida é decisiva, para o que, bastaria o facto de geralmente a mãe ser chinesa ou de, em muitos casos, ambos os pais terem ascendência chinesa próxima também. “ (2)
(1) Carlos Humberto da Silva (1908-1990), diplomado pelo Instituto Superior de Estudos Ultramarinos, foi secretário do Leal Senado da Câmara de Macau, do qual também foi presidente (2-01-1965 a 9-03-1965, por motivos de saúde, substituído pelo Vereador Francisco de Paula Barros e pelo Vice Presidente José dos Santos Maneiras). (3) Bibliotecário do Centro de Estudos de Antropologia Cultural e do Museu de Etnologia de Lisboa. Co-fundador do Grande Prémio de Macau. Agraciado com a Medalha de Mérito Desportivo do Governo de Macau. Casado com Beatriz Emília Nolasco da Silva.
FORJAZ, Jorge – Famílias Macaenses, vol. III, 1996, p.720. Veja-se https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/carlos-humberto-da-silva/
(2) TEIXEIRA, Pe. Manuel – A Medicina em Macau, Volumes III-IV, 1998, pp. 182-183.
(3) SILVA, Beatriz Basto – Cronologia da História de Macau, Vol. IV, 2015, p. 64