“Junto à embocadura do rio, existia uma povoação de pescadores que trocava o peixe, recolhido no alto mar, por arroz e legumes cultivados por agricultores que viviam para além dos muros da cidade, no local hoje conhecido por Bairro de Mong-Há.
Um dia, quando os pescadores andavam na faina, foi visto um grande cardume de peixe, nadando e saltitando em alta velocidade, em direcção às nove ilhas. Desde logo, os pescadores concluíram que qualquer coisa de anormal provocara aquele súbito movimento colectivo.
Minutos mais tarde, o céu cobriu-se de nuvens escuras e um forte vendaval veio colocar em perigo a maioria dos juncos de pesca, devido às gigantescas ondas que se formavam . Numa luta desesperada contra as forças da natureza, os pescadores tentaram chegar à Ponta da Cabrita, na ilha da Taipa, mas algumas embarcações foram de encontro aos enormes calhaus que havia naquelas bandas.
Pormenor de um Mapa de 1934 onde se assinala a localização da Ponta Cabrita
(arrasada para construção do aeroporto de Macau)
Quando o vendaval começou a abrandar, por entre as negras nuvens que cobriam o firmamento, os pescadores depararam-se coma presença de um vulto sobre o mar, semelhante à imagem de uma mulher, que, de braços abertos e girando em tornos dos quatro pontos cardinais , parecia ordenar fim ao temporal.
De facto, assim aconteceu: de repente, o Sol tornou a brilhar sobre o azul do firmamento, como se nada tivesse acontecido, deixando os homens do mar boquiabertos.
De regresso a Macau, os pescadores ancoraram na Praia do Manduco e imediatamente foram agradecer à deusa A-Má, a quem atribuíram ele bondoso milagre que lhes poupara a vida, acendendo pivetes e oferecendo bons acepipes, como manda a tradição.
Pormenor de um Mapa da Colónia de Macau, de 1929
Sinalizada a zona de Macau Siac, já com os aterros efectuados.
Nessa mesma tarde, os pescadores reuniram-se numa residência, a fim de trocarem impressões sobre o acontecimento, tendo a maioria concluído que tinham tido a mesma visão.
A partir de então, resolveram destinar parte do lucro da venda do pescado para a construção de um novo templo (Macau-Siac) que foi, entretanto, erguido no topo de um pequeno outeiro existente nas proximidades do reservatório de água.
BARROS, Leonel – Tradições Populares, Macau. Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM), 2004.
Sobre o Templo de Ma Kau Seak /Macau-Siac, e a Ponta de Cabrita, ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/07/15/o-pagode-de-macau-seac-jaime-do-inso-1929/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/ponta-cabrita/