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Era véspera de Natal de 1929 e muitas pessoas abandonavam a cidade na espectativa de os revoltosos cumprirem as suas ameaças de bombardeamento indiscriminado de ruas e casas. (1)

Foi rapidamente sufocada a tresloucada insubordinação dumas 50 praças de artilharia recentemente chegadas que, chefiadas pelo 2.º sargento Manuel dos Santos Guerra, exigiram um aumento de vencimentos a que se julgavam com direito e que o Governo não podia conceder, por falta de disposição legal. Os tresloucados que se insubordinaram na Fortaleza do Monte, onde se encontrava o Quartel de Artilharia de Guarnição, ameaçaram bombardear a cidade. Esgotados todos os meios suasórios e, após um cerco de 26 horas, pela polícia e outros elementos da guarnição desta província e de os subordinados terem sido intimados a renderem-se por intermédio de ordem lançadas pelos aviões da Aviação Naval, (2) dentro de 10 minutos, foram disparados uns tiros de peça, acompanhados de algumas rajadas de metralhadoras, (3) o que bastou para obrigar os insubordinados a entregarem-se às autoridades. (4) |Respeitada a linguagem da época no resumo apresentado|. (5) (6)

(1) , Luís Andrade de – Aviação em Macau, um século de aventuras, 1990, pp. 59-60

(2) “1-05-1928 – Foi criado o Centro de Aviação Naval, dependente dos Serviços de Marinha (DL 22 de 14Jun28) CAÇÃO, Armando António Azenha – Unidades Militares de Macau. 1999, p. 24. Ver anteriores referências em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/aviacao-naval/

(3) “O tenente José Cabral, comandante da Aviação Naval de Macau, sugeriu que o ataque fosse feito com metralhadoras por não existirem bombas próprias contra tropas mas apenas destinadas a destruir fortificações e navios de guerra. Os chefes militares decidiram intervir e ficou assente que a Aviação Naval despejaria não bombas nem balas mas sim panfletos sobre o Monte e a Guia. Às 8 horas e 45 minutos dessa manhã, o “Farey 20”, tripulado pelo tenente Cabral e pelo sargento mecânico Francisco José Júnior, voou sobre as duas fortalezas à altura de 1000 a 1200 metros, fora do alcance de tiro. Com o ruído do motor foi impossível ouvir o fogo de terra, mas um tal major Andrade, das forças fiéis, garantiria mais tarde que foram disparados tiros contra o avião. Horas depois o sargento Guerra ordenaria aos seus homens que se rendessem incondicionalmente.” (1)

(4) Julgamento em Abril de 1930, no hangar da Taipa: “No ano de 1930 não começara da melhor maneira para a Aviação Naval de Macau cujo hangar servia em Abril de 1930, de sala de julgamento de militares implicados numa rebelião armada. Os réus eram vinte e sete praças de artilharia e um sargento Manuel dos Santos Guerra, que, no Natal de 1929, tinham posto Macau em estado de sítio” (1)

(5) Extraído de SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume III, 2015, p. 222

(6) Embora as fontes citadas apontam o acontecimento na véspera de Natal de 1929 (dia 24), uma notícia do dia 23 do correspondente da “Reuter”,  foi publicada num jornal de Singapura no dia 24 com o título de “INSUBORDINATE MACAO GARRISON. Exaggerated Report of Mutiny. (Reuter´s Far Eastern Service). Macao, Dec. 23.

“An exaggerated report is being circulated of a mutiny of the garrison here. The facts are that between 60 and 70 artillerymen, headed by a sergeant, stationed at Monte Fort, became insubordinate, demanding higher pay. The resto of the garrison was loyal, and the Government compelled the disaffected men to surrender without a shot being fired. All is quiet in the city and business is as usual”. The Singapore Free Press and Mercantile Advertiser, 24 December 1929, p. 11. ” https://eresources.nlb.gov.sg/newspapers/digitised/issue/singfreepressb19291224-1

Pequeno extracto dum artigo de 1940, (pp.127-134) escrito pelo 1.º tenente A. Gomes Namorado, comandante do Centro de Aviação Naval (1)  para a publicação “ U N de Macau”,  (137 p.) da União Nacional de Macau no ano XIV da Revolução, 1940.
“… Interessante seria registar nestas páginas as milhares de toneladas, em especial correio, e as centenas de milhares de passageiros hoje transportados por aviões. Aqui mesmo, Macau, é um exemplo, talvez quási despercebido. Efectivamente, saber-se-á que em 1938 e 1939 o número de cartas enviadas por correio ordinário e aéreo foi respectivamente de 1.829.662, 4.032.945 e 39.434 e 92.577. A consideração destes números mereceria talvez a atenção de capitais da Colónia, adiantando-se a iniciativas estranhas que à Colónia veem buscar rendimentos que nela deveriam ficar.
Macau precedeu êste movimento pro-aviação. Data de 1921 a criação da sua primeira escola de aviação, criada pelo Governador Paço d´Arcos. A sua vida foi efémera; 6 alunos pilotos a frequentaram e destes apenas 2 concluíram as provas.
Em 1939, por proposta do actual Governador, o Governador que primeiro e melhor viu as possibilidades da aviação, Sua Exa. o Ministro das Colónias, a quem a aviação nas Colónias tudo deve, criou a Escola de Aviação de Macau para formação de pilotos, mecânicos, artífices e radiotelegrafistas. Dotada, desta vez, com os meios necessários, a Escola poderá desempenhar cabalmente da sua missão, desta forma contribuindo para o desenvolvimento da Colónia.” (2)

(1) Recorda-se que nesse ano, o Serviço de Aviação de Macau tinha aparelhos velhos e dos quatro aparelhos apenas um conseguia voar e, mesmo assim não muito bem. Em 1939, a aviação tinha três pilotos em Macau, o primeiro-tenente José de Freitas Ribeiro (2.º comandante do Centro de Aviação Naval) o 1.º tenente aviador Pedro Correia de Barros e o 2.º tenente aviador Rodrigo Henriques Silveirinha (morreria no acidente aéreo em 26 de Junho de 1942, queda do Osprey n.º 6 no Bairro do Tap Seac) auxiliados pelo 1. º Sargento mecânico aviação, Joaquim Macedo Girão e os 2.ºs sargentos artífices de aviação, Rafael Afonso de Sousa e João dos Santos Louceiro.
O 1.º Comandante, capitão-tenente António Gomes Namorado júnior, encontrava-se em Lisboa a frequentar o curso naval de guerra e o Governo decidia-se pela construção de um novo hangar no Porto Exterior, onde coubessem, em condições razoáveis, os aparelhos. Namorado Júnior regressa a Macau e ao comando do Centro em 1940 até Maio de 1941, sendo substituído por Freitas Ribeiro que , por doença de sua mulher – tuberculose- pediu demissão do cargo e regressaria à metrópole, em 1941. O comando passou para o primeiro tenente Pedro Correia de Barros, então com 30 anos de idade.

A construção do hangar no Porto Exterior, cerca de 1941

Informações de Anuário de Macau 1940-1941 e SÁ, Luís Andrade de – Aviação em Macau, Um Século de Aventuras, 1990 p.79
Anteriores referências ao Centro de Aviação Naval em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/centro-de-aviacao-naval/

https://www.marinha.pt/conteudos_externos/RevistaArmada/423/HTML/files/ra_423_sut08.pdf

(2) António Gomes Namorado Júnior (1901-?) foi um oficial de Marinha que serviu na Aviação Naval desde 1926 como piloto-aviadGomes or e deixando-a em 1948 como cap.-frag. RF
É autor de vários artigos e textos aeronáuticos (“Crónicas de Aviação”) publicados nos “Anais do Clube Militar Naval” entre 1927 e 1933 (22 dos 26 textos publicados neste período),
Participou na “Lisboa-Madeira-Açores-Lisboa”,  a primeira viagem com aviões em grupo realizada pela aviação da Armada entre 30 de junho e 31 de julho de 1935.  Tinha como objetivo o treino de manobras e navegação. Os três aviões eram tripulados por Namorado Júnior, Ferreira da Silva, Aires de Sousa, Carlos Sanches, Bernardino Nogueira, Correia Matoso, Brandão, Falcoeira e Nascimento.
Quanto às crónicas de Namorado Júnior, no seu primeiro texto de 1928 (janeiro e fevereiro) de 1928 (assinado N.J.) inserido, tal como o anterior e os restantes, na “Crónica Naval”/”Crónica Marítima” o autor defende a importância de os governos comparticiparem as viagens aéreas (raids) como forma de conhecerem melhor as suas potencialidades a nível económico e militar. Também é defendido que o desenvolvimento e apoio da aviação civil é importante no sentido em que esta pode servir os fins militares em caso de guerra”
https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/25055/1/ASPOF%20Faria%20Pinheiro%20-%20A%20Avia%C3%A7%C3%A3o%20Naval%20nos%20Anais%20do%20Clube%20Militar%20Naval.pdf

O Centro da Aviação Marítima de Macau foi criado pelo Diploma Executivo n. 22 de 14-06-1928 (publicado no Boletim Oficial  da Colónia de Macau, n.º 24 de 16-06-1928),  após autorização de Lisboa da passagem dos Serviços da Aviação da Marinha de Guerra (1) para a Marinha Privativa da Colónia, do material, pessoal e equipamento do anterior centro, em 1 de Maio de 1928,
O chefe dos Serviços de Marinha em 1928, apetrechou o Centro com dois aviões (Fairey equipados com motor Rolls Royce) (2) e metralhadoras antiquadas) e um quadro de pessoal europeu que nunca ultrapassou a meai dúzia (o diploma no seu artigo 3, estipulava um quadro de 8 elementos)  um piloto (o primeiro-tenente, José Cabral) (3) dois sargentos (um deles, o ajudante  de carpinteiro Joaquim Carpeita), dois cabos e um Havia ainda ao serviço, seis loucanes e um guarda africano, um cavalo e algumas cabras que quando em liberdade, insistiam em destruir as árvores e plantas do jardim da Taipa perante o desespero e indignação do comandante da Aviação Naval.(4)

A leste da Taipa Grande, onde é hoje a Avenida da Praia, esteve até 1940, estabelecida a base da aviação naval da Colónia.

(1) Em 1927, havia apenas três centros de Aviação naval dependentes do Chefe dos Serviços de Marinha de Guerra: Lisboa, Aveiro e Macau.
(2) Em abril de 1927, por necessidade de vigilância das águas territoriais, face à pirataria e às contingências da guerra civil na China, foi estabelecida uma Secção da Aviação Naval em Macau sob o comando de José Cabral, com ao três hidroaviões Fairey (um deles era o “Santa Cruz”, o F – 17 que fez a travessia do Atlântico Sul, com Gago Coutinho e Sacadura Cabral) baseados na Ilha da Taipa.O avião “Santa Cruz” regressou a Portugal em 1928. A extinção dessa unidade aviação-naval foi em Abril de 1933.

Fairey IIID

(3) José Cabral, primeiro-tenente, ex-combatente da I Grande Guerra, de “valentia indispensável para ser o único que só tinha aviões decrépitos que nunca caíram.”, em Macau de 1928 a 1931, (4)  esteve integrado inicialmente num projecto inicial de Sacadura Cabral, de viagem aérea à volta do mundo, que retomado em 1926 pelo major Sarmento de Beires (travessia aérea Lisboa-Macau, em 1924) (5)  viria a transformar-se na 1ª travessia nocturna do Atlântico Sul, mas por ter sido colocado em Macau, foi substituído pelo capitão Dovalle Portugal.
(4) , Luís Andrade de – Aviação em Macau, um século de aventuras, 1990.
(5) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jose-m-sarmento-beires/
Outras referências ao Centro de Aviação Naval
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/centro-de-aviacao-naval/

No dia 24 de Fevereiro de 1969 , “ficou encerrado o famoso Hotel Riviera, o coração da cidade. Viria a ser demolido em Fevereiro de 1971. (1) Era um dos hotéis mais antigos e nele se hospedaram figuras ilustres da Administração de Macau, além de forasteiros.” (2)
O Hotel Riviera abriu em 17 de Janeiro de 1928, no lugar do anterior “New Macao Hotel» (anterior «Hing Kee») situado na Avenida Almeida Ribeiro, cruzamento da Praia Grande, em frente ao Banco Nacional Ultramarino. A fachada principal com a entrada para o antigo «New Macao Hotel” era na Rua da Praia Grande. Mas as obras de remodelação em 1921, a fachada principal (com a entrada principal) passou a ser na Avenida Almeida Ribeiro, permanecendo aí depois aquando da adaptação para o novo Hotel.
Lembro-me bem dessa entrada pois tinha (não sei se seria ainda  o  único em Macau, naquela altura, década de 60) uma porta giratória e um porteiro que para além de outras funções, estava lá para impedir os miúdos de brincarem “com a porta”.

Hotel Riviera 1936HOTEL RIVIERA 1936

Esta foto de 1936 ainda se vê as arcadas inferiores da Rua da Praia Grande abertas, consideradas via pública; em 1948 foram fechadas, embora com polémica, o Leal Senado questionou sobre a legalidade desse espaço como domínio público.
Quem entrava no Hotel Riviera pela portas principal não deixava de se surpreender. Dali partia um pequeno corredor que dava directamente para a sala de espera, elegantemente iluminada e mobilada ao melhor estilo italiano. De um lado do corredor ficava a sala de jantar onde eram servidas as três refeições diárias e das quais o jantar era  mais cara : duas patacas por pessoa. A sala de espera dava ainda para o lounge, aberto até à meia-noite, onde se tomava chá e comiam pastéis de dez avos. E, no fundo do corredor, o indispensável bar que, quase desde o início, manteve a reputação de ser um dos mais bem fornecidos de Macau.
Imagine-se o pasmo dos visitantes a quem era dada a oportunidade de admirar a escadaria, que conduzia ao piso superior, coberta, à semelhança dos corredores , de grossos tapetes «tão bons como os dos melhores hotéis»
Os quartos em número de vinte e dois, permitiam apenas a ocupação de quarenta e quatro pessoas. Uma ocupação  que, no entalho, poderia conhecer outros números caso os hóspedes concordasse, com os editoriais, sempre práticos e expeditos de “A Pátria” : « quando os visitantes não se importarem de dormir três ou quatro no memso quarto, o número (de hóspedes) poderá subir a oitenta»
A maior parte dos quartos dispunha de casa de banho individual, com água quente e fria e todos os pisos tinham telefone, numa clara demonstração de que os directores do hotel que se substituíra ao «New Macao Hotel», não se haviam poupado à despesas. Aliás, a remodelação custou-lhes cento e vinte mil patacas e importou-se tudo o que havia de bom e do melhor – a concepção arquitectónica à Palmer & Turner (de Hong Kong), a decoração, talheres e pratas à Lane Crawford (também de Hong Kong) e a roupa branca e louças à casa Albert Pick, de Chicago. A mobília era, naturalmente, italiana”. (3)
O investidor foi o milionário Lou Lim Ioc (ou Ieoc)  que faleceu antes da sua inauguração, a 15 de Julho de 1927 com 50 anos de idade.
Algumas notícias relacionadas com este Hotel, ao longo dos anos:(4)
12-09-1936 – Publicada no B. O. n.º 37 a constituição da Sociedade «Irmãos Unidos, Lda», dos irmãos Leitão, vocacionada sobretudo para a indústria hoteleira  que envolvia os hotéis «Riviera» e «Majestic», os teatros «Capitol» e «Apollo», a «Vacaria» e «Leitaria Macaense».(5)
“03-11-1942 – O jantar dançante realizado no sábado último no Hotel Riviera, inaugurando a sua orquestra sob a regência do distinto músico sr. Artur Carneiro, foi um grande sucesso. Mais de 150 pessoas assistiram ao jantar e muitos não conseguiram entrada devido à falta de lugares. Informa-nos a gerência do mesmo hotel que todas as tardes haverá chá dançante das 5 às 7.30 horas e jantares dançantes das 9 às 23.30 horas exceptuando sábados, que é das 9 à 1 a.m., com menu especial, sendo o preço do jantar nesse dia de $5.00 e nos outros dia de $2.75. Aos domingos a  mesma orquestra tocará música ligeira durante o almoço, das 12.30 horas às 14.30. Para o jantar de sábado podem ser marcados lugares desde hoje . (A Voz de Macau de 3 de Novembro de 1942).(5)
O Hotel possuía um restaurante bastante amplo no seu rés-do-chão, que a gerente Olga Pacheco da Silva queria transformar em salão de dança, daqueles existentes nos grande hotéis de países do primeiro mundo”. Só que também queria manter a ambiência familiar, pois era o único do género no território. Para tal, a Olga teria que contratar uma boa orquestra de Hong Kong., porque não havia nenhuma disponível em Macau. Foi então apontada a orquestra de Art Carneiro (“Art” de Artur, pianista e maestro), com músicos filipinos, e que na altura tocava no Península Hotel de Kowloon – ainda hoje o mais emblemático e luxuoso de Hong Kong…(…) A escolha desse maestro deveu-se precisamente ao facto de, além de ser um bom profissional, descender de portugueses de Xangai.(7)
Segundo Rigoberto do Rosário Jr, (7) a artista Abbe Lane, esposa de Xavier Cugat, referido em anterior postagem, (8) foi uma atracção estrangeira que fez furor no Riviera em finais de 50” ( não foi em finais de 50, mas no ano de 1953).
(1) “FEVEREIRO de 1971 – Demolição do Hotel Riviera, situado  no cruzamento da Av. Almeida Ribeiro com a  Rua da Praia Grande, em frente do edifício do BNU. Dará lugar a um edifício de 8 andares, também já demolido. E assim se vai descaracterizando o centro histórico de Macau”.(2)
Demolido para construir o prédio, sede do Banco “Nam Tung” que em 1987 foi autorizado a mudar de nome para “Banco da China – Filial Macau” (Bank of China Macau Branch).
(2) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 5, 1998.
(3) , Luís Andrade de – A História na Bagagem. Instituto Cultural de Macau, 1989, 152 p., ISBN 972-35-0075-2.
(4) Para além das anteriores referências em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/hotel-riviera/
(5) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 4, 1997.
(6) Retirado de  ORTET, Luís – 1942 in ” MacaU, II série, n.º 8, Dez. 92, pp. XXIII”.
(7) ROSÁRIO JR, Rigoberto – Memórias de Um Músico Macaense. MacaU, II série n.º 74, Junho de 98, pp.39-54.
(8) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/11/29/noticia-de-29-de-novembro-de-1953-xavier-cugat-em-macau/

23OUT1936 China Clipper em Macau I23-10-1936 – Chegou o primeiro hidro avião da »Pan American Airways» (1) em viagem de experiência. Foi um «Philippine Clipper” (2) de quatro motores e vinte e cinco toneladas de peso que vindo de Manila, (rota S. Francisco – Manila – S. Francisco) sobrevoou por duas vezes a cidade e pousou nas águas do Porto Exterior. À tarde partia para Hong Kong.  (3)
23OUT1936 China Clipper em Macau II(1) O contrato foi celebrado em 21 de Outubro de 1936 entre o Governo Português e a «Pan-American Airways», pelo qual os aviões desta empresa aérea ficaram com o direito de utilizar o aeroporto de Macau, no Porto Exterior, o que fizeram com regularidade (desde 28 de Abril de 1937) até Março de 1939. No princípio desse ano (o Despacho n.º 21 de 18-01-1936, já anunciava a chegada, para breve, do 1.º hidroavião) a «Pan-American Airways Company» da carreira de S. Francisco, abria um escritório em Macau e preparava um posto meteorológico e de radar na Colina da Penha. Em 16 de Outubro constituía a “Sociedade Aeroportos Pan Americana de Macau, Limitada” com sede no Pavilhão de Abrigo do Porto Exterior (Hangar) (2)
“Manila was Pan Am’s first air terminus, not the British crown colony of Hong Kong, because His Majesty’s government refused Trippe landing rights. In fact, one of their own carriers, Imperial Airways, had plans to develop the territory, and the British were not about to let an impudent Yankee in.
But Juan Trippe was an old hand at overcoming obstacles. He simply entered into negotiations with the Portuguese for landing rights at nearby Macao. When Lisbon granted these rights in 1936, the British reluctantly allowed Pan Am to use Hong Kong as well. The first passenger flight to Hong Kong scheduled for 21 October 1936.
http://www.historynet.com/martin-m-130-flying-boat-china-clippers-trans-pacific-flights.htm
(2) A base da «Pan Am Philippine» estava em Cavite, na Baía de Manila. O avião era um “China Clipper“. Pode-se ver o seu voo inaugural em 21 de Outubro de 1936 no trajecto Honolulu -Manila em:
http://www.yourepeat.com/watch/?v=FBLP3VKnZcQ
CARTAZ China Clipper 1936Idêntico hidro-avião “China Clipper”, foi “protagonista” do filme do mesmo nome:  “China Clipper”, de 1936, realizado por Frank McDonald para a Warner Brothers e protagonizado por Pat O´Brien, Beverly Roberts e Humphrey Bogart.
O filme dramático tem por base, a vida de Juan Trippe, no tempo da fundação da «Pan American Airways», em 1927. Ver “trailers” do filme em:
https://www.youtube.com/watch?v=ILa3z3wdcoo
https://www.youtube.com/watch?v=KKq1WUmjSBw
Poster retirado de:
https://en.wikipedia.org/wiki/China_Clipper_(1936_film)#/media/File:ChinaClipper.jpg
(3) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954 e SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 4, 1997.
“Mais de duas mil pessoas estiveram presentes na amarragem. Os passageiros saídos do avião prateado, pilotado pelo próprio fundador  patrão da companhia Juan Trippe, foram quase levados em ombros até aos sítios que Macau tinha para mostrar: a gruta de Camões, o farol da Guia, o templo da Barra… Depois às três e meia da tarde, após um banquete oferecido à tripulação e passageiros,  o «Phillippine Clipper» partiu para Hong Kong ” (, Luís Andrade de – Avião em Macau Um Século de Aventuras, 1990″)
Sobre este  tema, nas minhas anteriores postagens, ver em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/transportes-aereos/

HANGAR Porto Exterior (1940)O hangar do Centro de Aviação Naval em construção no Porto Exterior. (1940)
Vê-se à esquerda, a casa do Alferes Luís na Estrada de Cacilhas. Ao fundo e no alto, o Farol da Guia.

O Centro de Aviação Naval (ou Marítima) de Macau (1) foi extinta a 11 de Abril de 1933. Foi depois reactivada em 1937 (2) ou 1938 (3) (4) como Centro de Aviação Naval da Colónia de Macau. Desta vez, com aviões OSPREY, dois embarcados nos navios «Afonso de Albuquerque» e «Bartolomeu Dias», a que se juntaram mais tarde quatro aviões também OSPREY, comprados ao governo inglês.
Em 1942, em plena II Guerra Mundial, o Centro de Aviação Naval, foi definitivamente extinta. O hangar inaugurado em 1940, foi bombardeado  por cinco  bombardeiros americanos pertencentes à esquadrilha sino-americana a 16 de Janeiro (duas vezes), a 25 de Fevereiro e a 11 de Junho de 1945. Depois da Guerra, foi reconstruído mas serviu mais para depósitos de materiais e residência para família de militares.

Inauguração Hangar Porto Exterior 1940Inauguração do interior do Hangar do Centro da Aviação Naval de Macau (1940)

Efectivos da Aviação Naval 1940/1941 (5)
1.º Comandante – Capitão-tenente aviador, António Gomes Namorado.
2.º Comandante – 1.º tenente aviador, José de Freitas Ribeiro
1.º tenente aviador – Pedro Correia de Barros
2.º tenente aviador – Rodrigo Henriques Silveirinha
1.º sargento mecânico aviação – Joaquim Macedo Girão
2.º sargentos artífice de aviação – Rafael Afonso de Sousa e João dos Santos Loureiro

Inauguração Hangar Porto Exterior II 1940Inauguração do Hangar do Centro da Aviação Naval de Macau (1940)

(1) Em 1927, havia apenas três centros de Aviação Naval dependentes da Marinha de Guerra: Lisboa, Aveiro e Macau. Em 1928 o Governo aprovou a transferência, para a Marinha privativa da colónia de Macau, do material pessoal e equipamento do anterior centro de Aviação Naval.

HANGAR DA AVIAÇÃO TAIPANa primeira praia, a leste da Taipa Grande, onde é hoje a Avenida da Praia, esteve até 1940, estabelecida a base da aviação naval da Colónia.

O primeiro tenente, José Cabral ex-combatente da I Grande Guerra, foi apresentado voluntariamente em Macau para dirigir o Centro de Aviação Naval.
Esteve três anos no território e escreveu no relatório o que fora a sua actividade na Colónia: quase 500 voos, num total  de 218 horas e 15 minutos. Os aviões , só podiam ser usados em certas condições, com a maré cheia ou quando a água tivesse pelo menos sete pés de profundidade; o pessoal europeu da Aviação Naval não ultrapassava a meia dúzia  com ele e com o sargento, ajudante de carpinteiro, Joaquim Carpeta; havia ainda seis  loucanes e um guarda africano, um cavalo e algumas cabras que querendo em liberdade, insistiam em destruir as árvores e plantas do jardim da Taipa, perante o desespero e indignação da Comissão Municipal das Ilhas e a bonomia do comandante da Aviação Naval que não via como pôr termo a tal abuso ( SÁ, Luís Andrade de – Aviação em Macau, um Século de Aventuras, 1990)

Outro Aspecto da InauguraçãoOutro aspecto da inauguração do interior do Hangar

(2) “1937 – É Criado o Centro de Aviação Naval da Colónia de Macau pelo artigo 144.º do Decreto n.º 28 263, de 8 de Dezembro de 1937, publicado no Suplemento ao B. O. N,º 4 de 26-I-1938. Fica fazendo parte da marinha privativa, nos termos do decreto n.º 28 641 de 9 de Maio de 1938, publicado no B.O. n.º 26, de 25 de Junho de 1938. Logo no início de 1938 é nomeado o capitão-tenente piloto aviador José Cabral para ira Inglaterra receber e verificar o material de aviação destinado a Macau” (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 4.)
(3) 1938 – Reactivado o Centro de Aviação Naval desta vez com aviões OSPREY, primeiro os n.ºs 71 e 72, aviões que tinham embarcado nos navios «Afonso de Albuquerque» e «Bartolomeu Dias», a que se juntam mais tarde quatro aviões também OSPREY. Em 1942, em plena II Guerra Mundial, o Centro de Aviação Naval, é definitivamente extinta. (VILARINHO, Manuel – entrevista à Revista «MACAU», n.º18, 1989, p.50)
(4) “Só em 1938, quando o conflito sino-nipónico, assinalava o agravamento da situação no continente chinês, o Governo da República decidiu enviar para a colónia de Macau o aviso Afonso de Albuquerque com dois aparelhos Osprey e elementos da aeronáutica. O navio chegou a Macau no dia 22 de Outubro de 1937 e na colónia encontrou um hangar desactivado,  com dois aviões de tela apodrecida, guardado por uma companhia indígena, cujas portas, baixas, eram demasiadas pequenas para que um dos Osprey pudesse ficar abrigado do mau tempo. Em Dezembro desse ano comprou-se ao Governo inglês mais quatro aviões Osprey, além de peças e motores sobresselentes. (, Luís Andrade de – Aviação em Macau, um Século de Aventuras, 1990).
(5) Anuário de Macau 1940/1941

Parte do texto retirado do livro escolar de 1970 (autorizado, para cinco anos -1/8/970 a 31/7/975-, por despacho ministerial de 2 de Julho de 1970) “História e Geografia” para o 2.º ano Ciclo Preparatório (1)

História e Geografia MAPA

Macau, também foi antigamente uma ilha; o istmo, agora chamado da Porta do Cerco, formou-se depois.
O território de Macau é de 16 quilómetros quadrados apenas, – com uma população calculada para 1966 em cerca 280 000 pessoas o que dá a espantosa densidade de 17 500 habitantes por quilómetro quadrado….(…)
            Muitos dos habitantes vivem em barcos, no porto de Macau.

História e Geografia SAMPANAS

Sampanas no porto de Macau

 A  indústria mais importante é a de roupa e confecções.
Mas há muitas outras: de fogo-de-artifício, de fósforos, de tecidos, etc. As matérias-primas para estas indústrias são importadas.
Em 1966, o total das exportações foi de 690 000 contos.
O primeiro lugar coube aos artigos de vestuário e roupas, com quase 270 000 contos, o segundo ao fogo-de-artifício, com 60 000 contos, seguidos por 21 000 contos de peixe e 43 000 de crustáceos e moluscos, 28 000 de tecidos, 13 000 de calçado, etc.
A importação foi de quase um milhão e meio de contos.

História e Geografia HIDROAVIÃOHidroavião da carreira de Hong Kong, na rampa em frente ao Hangar do Porto Exterior (2)

O turismo é uma grande fonte de receita. Com efeito, Macau é visitada por muitos orientais e europeus que aí fazem seus negócios e se distraem…

(1)   FERNANDES, Maria da Graça Lameiras; SIMÕES, Manuela Lobo da Costa; FREITAS, Gustavo de – História e Geografia de Portugal, para o 2.º ano de Ciclo -Preparatório do Ensino Secundário. Porto Editora/ Emp. Lit. Fluminense/Livraria Arnado, 1970, 279 p.

História e Geografia CAPA

(2)   Esta foto será do final da década de 50 ou princípio de 60. A “carreira de Hong Hong” era feita pela “Companhia Limitada de Transportes Aéreos de Macau” (registada em Abril de 1948 por Pedro Lobo e Liang Chang) e era quase exclusivamente ao transporte do ouro, embora pudesse também transportar passageiros, sobretudo nos voos entre Macau e Hong Kong.
Em 1961, as estatísticas indicavam um movimento anual de 48 hidroaviões em Macau, transportando ouro no valor de 305 milhões de patacas. Mas a MATCO (Macao Air Transport Company) estava condenada a desaparecer e mesmo quando foi comprada por Stanley Ho ninguém acreditou na sua viabilidade. Os aviões foram sendo vendidos às companhias da região… (, Luís Andrade de – Aviação em Macau, Um Século de Aventuras. Companhia do Aeroporto de Macau/Gabinete do Aeroporto Internacional de Macau/Livros do Oriente, 1990, 119 p. ISBN 972-9418-07-1)