INSO, Jaime do – O caminho do Oriente, edição do autor, Lisboa, 1932,Tip. Élite, 374 p., [3], 19 cm x 12 cm (1)
(o exemplar que possuo tem a lombada parcialmente rasgada)

Na capa do livro (obra de ficção) vem anunciado “Premiado no VI Concurso de Literatura Colonial” (2)
O VI Concurso de Literatura Colonial, organizado pela Agência Geral das Colónias, teve os seguintes premiados (3) no ano 1931:
1° – Não atribuído
2° – José Ferreira Martins, Poetas e prosadores; Jaime do Inso, O caminho do Oriente; Henrique Galvão, O vêlo de oiro (3)
O livro tem dois prefácios, um assinado pelo Conde de Penha Garcia (4), “Lisboa, Dezembro de 1931” (7-10 pp.) e outro, do próprio autor (11-12 pp.) datado “Lisboa, Agosto de 1931”
Jaime do Inso, (1880-1967), oficial de Marinha (foi desde aspirante, guarda marinha, capitão de fragat até capitão-tenente) (o livro na 1.ª página vem expresso: Jaime do Inso Capitão-Tenente), viveu em Macau no final da década de 1920 e escreveu vários livros sobre a China e Macau
Pode-se ler uma análise crítica desta obra, de David Brookshaw em “Entre o Real e o Imaginado: O Oriente na Narrativa Colonial Portuguesa“: (5)
“O Caminho do Oriente é, no fundo, um romance colonial, escrito por um «Old China Hand» que se tornou membro do lobby asiático em Portugal.
Os dois protagonistas principais, Rodolfo e Frazão, são amigos de infância, ligados por uma empresa comercial familiar. Irão representar duas maneiras distintas de focalizar o Oriente, uma das quais idealista, sonhadora, atraída por um sentimento de exotismo, a outra, sólida, sensata e materialista. Rodolfo e Frazão encarnam qualidades necessárias para a regeneração de Portugal e da sua vocação imperialista: «Rodolfo Moreira, o mais novo, era um tipo insinuante e fino, apurado no trato e no trajar, mordendo nervosamente os cigarros que acendia, uns após outros, sem os queimar completamente./ Frazão Antunes, o mais velho, um tanto prosaico e calmo, revelava-se, a um simples exame, uma antítese perfeita do seu amigo, a não ser nas qualidades de carácter em que ambos irmanavam no mesmo timbre de finura e honradez». ( p. 18). Re-invenção, em outras circunstâncias, de um D. Quixote e Sancho (com algumas caraterísticas do Fernandes e Jacinto do Eça, ou Sherlock Holmes e Dr Watson do Conan Doyle), os dois amigos partem para Macau em busca de novos mercados para a firma de Moreira e Antunes Lda. Rodolfo vem a conhecer a sua Dulcinéia a bordo, na viagem para o Oriente: Tininha é uma moça de origem étnica incerta. Portuguesa de Macau, «moça de cabelos loiros» de «olhos infantis», a descrição sugere uma heroína surgida diretamente das convenções românticas européias. Por outro lado, os olhos, em vez de estereotipicamente azuis, são «dum verde jade» (p. 19), que poderia indicar uma ascendência mais complexa, embora remota. Muito menos complicada é a parceira do Frazão, Pepita, filipina casada, de regresso a Hong Kong, mas o contraste serve para realçar as caraterísticas morais dos dois protagonistas, o romântico Rodolfo, o prosaico Frazão, qualidades necessárias para a empresa colonial. Na realidade, o autor indica que o prototipo ideal seria um compromisso entre os dois, tal como o modelo cervantino: Rodolfo, no fim, é salvado de um excesso de romantismo, enquanto o Frazão, materialista provinciano, adquire um gosto por roupas elegantes e outros acessórios de uma burguesia cosmopolita.”
(1) Este livro foi reeditado pelo Instituto Cultural de Macau em 1996.
INSO, Jaime do – O caminho do oriente. 2ª ed. Macau : Instituto Cultural, 1996, 209 p., 5 f. desdobr. – Rua Central; 10).
(2) Sobre a importância deste concurso aconselho uma leitura ao trabalho de Flávia Arruda Rodrigues : “A legitimação da colonialidade portuguesa: narrativas da dominação no Concurso de Literatura Colonial da Agência Geral das Colónias”
http://www.brasa.org/_sitemason/files/huOZeo/Flavia%20Arruda%20Rodrigues.pdf
“A compreensão do que foram e do que historicamente representaram as edições do Concurso de Literatura Colonial da hoje extinta Agência Geral das Colônias (AGC) passa pelo entendimento do papel social exercido pelos intelectuais que participaram dessas disputas, especialmente entre os anos de 1926 e 1951. Durante esse período de 25 anos, que vai do lançamento da premiação à revogação do Ato Colonial, os regulamentos dos concursos deram conta da necessidade explícita de se premiar obras que funcionassem como propaganda do regime colonialista do Estado Novo português. Esses produtos culturais de então foram úteis como subsídio para o financiamento e sustento do governo metropolitano, à época sediado em Lisboa. Foi com a ajuda deles, e da propaganda que fizeram do governo central, que as engrenagens político econômicas instaladas em territórios além-mar como Angola, Moçambique, Macau, Timor ou Cabo Verde continuaram a girar, prolongando a situação colonial.”
(3) Concurso e vencedores do Prémio de Literatura Colonial da AGC (1926-1951)
http://literaturacolonialportuguesa.blogspot.com/
(4) Trata-se de José Capelo Franco Frazão (1872-1940) (1.º Conde de Penha Garcia, título criado e atribuído em 1900, pelo rei D. Carlos I). Em Março de 1897, (6) “filiou-se no Partido Progressista e formalizou a sua candidatura a deputado pelo círculo do Fundão, que se revelou inconsequente. No entanto, por pressão de José Luciano de Castro, chefe daquele partido, acabará por prestar juramento na Câmara dos Deputados em 18 de Janeiro de 1898, como deputado pelos territórios coloniais de Macau e Timor.“. Em 28 de Dezembro de 1905 foi nomeado ministro dos Negócios da fazenda, durante 82 dias pois, a governação dos progressistas chefiado por José Luciano somente durou até 19 de Março de 1906 (1904-1906).
É precisamente como representante dos povos de Macau e Timor que o próprio, no Prefácio (p. 8) afirma:
” Em determinada época, e já não foi hontem por mal dos meus pecados, os eleitores de Macau e Timor por uma daquelas misteriosas atracções que são o encanto do sistema parlamentar, elegeram seu representante nas Cortes, um modesto beirão, que jámais tinham visto e de quem aprendiam o nome pela primeira vez.
Esse beirão era eu, assim consagrado pelo sufrágio popular representante dos povos de Macau e Timor no Parlamento português. Devo dizer em abono e justificação de mim próprio e do sistema parlamentar, que tomei o caso a sério e me puz a estudar a fundo a vida passada e presente das duas colónias que tinha a honra de representar….
Não tendo tido possibilidade de ir visitar as duas colónias que tinha a honra de representar, procurei conhece-las de longe.”
(5)http://www.ueangola.com/index.php/criticas-e-ensaios/item/256-entre-o-real-e-o-imaginado-o-oriente-na-narrativa-colonial-portuguesa.html.
(6)http://213.58.158.155/NR/rdonlyres/73754648-7B44-4099-A44D 30B36A9A3288/3046/Jos%C3%A9CapeloFrancoFraz%C3%A3o.pdf