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Emissão / 1.º dia de circulação dos selos dos Correios de Macau / CTT MACAU, referentes à “Literatura e Personagens Literárias – Li Sao”, no dia 28 de Maio de 2004. Os desenhos são da autoria de Poon Kam Ling.
São seis selos (3 cm x 4 cm)  todos com o valor de 1.50 patacas.

CIMA (da esquerda para a direita): 1 – Orientação; 2 – Cultivo 3 – Aconselhamento pela irmã
BAIXO (da esquerda para a direita): 4 – Transmissão de esperança pela fénix; 5 – Viagens e reflexões; 6 – Local da vida eterna.

Também foi lançado um Bloco Filatélico (13,8 cm x 9 cm)  (este exemplar: n.º 146617) contendo um selo (4 cm x 3 cm) de 8.00 patacas.

文學與人物離騷mandarim pīnyīn: wén xué yǔ rén wù – lí sāo; cantonense jyutping: man4 hok6 jyu4 jan4 mat6 – lei4 sou1
離騷 – “Li Sao” (Encontro da Tristeza) é um poema chinês que data do período dos Reinos Combatentes da China antiga. O “Li Sao” é o poema principal de um aristocrata do Reino de Chu, que morreu por volta de 278 a.C., chamado Qu Yuan 屈原
O “Li Sao” começa com a introdução do poeta de si mesmo, sua ancestralidade e algumas referências à sua situação atual e, em seguida, passa a narrar a fantástica viagem física e espiritual do poeta pelas paisagens da China antiga, real e mitológica. “Li Sao” é um trabalho seminal na grande tradição chinesa de paisagem e literatura de viagens-
https://en.wikipedia.org/wiki/Li_Sao

Recorda-se hoje, nesta dia de 1930, o falecimento em Macau do escritor, poeta, dramaturgo, contista, médico, matemático, diplomata, António Patrício.(1)

António PatrícioAntónio Patrício, formado em medicina em 1908 (Escola Médica do Porto) ingressou em 1911 na carreira diplomática (por sugestão de Guerra Junqueiro) tendo desempenhado entre outros cargos diplomáticos, cônsul em Cantão (廣州; Guǎngzhōu). Em 1930 foi nomeado Ministro Plenipotenciário de Portugal na China e tinha chegado a  Macau no dia 3 de Junho, de passagem a caminho de Pequim (北京, Beijing),  afim de assumir o seu cargo na Legação Portuguesa quando foi vítima de uma “síncope cardíaca” no Palacete de Santa Sancha (2) onde se hospedara.
Os jornais da época atribuíram ao forte calor que nesse mês de Junho, Macau se encontrava, para a má disposição do diplomata que já depois de ter sido observado pelo médico após uma síncope  “passageira”, um novo ataque “fulminante”, o mataria.

O enterro realizou-se no dia seguinte, 5 de Junho, pelas 18 horas tendo o caixão de chumbo sido colocado no cemitério municipal, onde aguardaria lugar no vapor para Lisboa.

Segundo o «Jornal de Macau», o funeral terá sido um autêntico acontecimento que alterou o sossego de uma cidade pacata no princípio da década de trinta. Na frente seguiam as cruzes das três freguesias de Macau e, formando alas, os colégios dos revdos  Salesianos, Seminário de S. José, madres Canossianas e Asiladas, Contingentes do  Exército de Terra, da Marinha, Polícia Civil e Marítima e Corpo de Salvação Pública. Ladeado de muitas coroas de flores seguia o féretro coberto com  a bandeira nacional e, após o estandarte do Leal Senado, o Governador da colónia, director dos Serviços de Administração Civil, Bispo de Macau, Conselho de Governo e Corpo Consular, Magistratura, Leal Senado da Câmara, funcionalismo civil, militar e eclesiástico, banda municipal e povo” (3)

Serão Inquieto - António Patrício

NOTA: recentemente, em Fevereiro de 2013, foi lançado uma nova edição (edição e posfácio de David João Neves Antunes), pela  Assírio &Alvim, 157 p. (Colecção Obras de António Patrício / n.º 2), do primeiro livro de contos de António Patrício “Serão Inquieto“.

“Serão Inquieto” foi o livro de estreia, em 1910,  na prosa (o único livro de contos) e terá recebido boas críticas na época de lançamento (incluindo o de Fernando Pessoa). Esta edição inclui ainda alguns aforismos de «Words” que estava integrada na 2.ª edição.

 (1) António Patrício (Porto,1878 – Macau de 1930)  é um dos nomes cimeiros do simbolismo português.  Poeta, dramaturgo, escritor e contista, é no entanto um autor de uma obra muita curta já que deixou muitos livros e projectos inacabados.
(2) Sobre o Palacete de Santa Sancha, ver: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/palacete-de-santa-sancha/
(3) Informações recolhidas dum artigo, não assinado no “NAM VAN“, n.º 19, 1985, p. 25.

Na sequência da LITERATURA ULTRAMARINA, OS PROSADORES, colectânea de contos organizado por Amândio César (1) lembrei-me doutra colectânea de contos (enxertos de contos) organizada pelo mesmo autor que foi publicado há muitos anos numa série de livros de bolso da RTP – Biblioteca Básica Verbo (2)

Intitulada Antologia do Conto Ultramarino (3), era o n.º 85 dessa colecção chamada Biblioteca Básica Verbo e continha contos de Cabo Verde (dois), Guiné (dois), S Tomé (dois) Angola (oito), Moçambique (sete), Estado Português da Índia (dois), Macau (dois) e Timor (dois).
De Macau os contos publicados foram:
O calvário de Lin Fong (Deolinda da Conceição)
História do pequeno Afat (Wenceslau de Moraes)
Na ” explicação em norma de posfácio”  (pp.279-280) o autor afirma:
“… Deu-se relevo, intencionalmente, ao natural da terra e só, de longe, ao radicado, e quando este fosse representativo ou a radicação significasse uma nova personalidade dentro do homem. Os exemplos de Fausto Duarte e de João Augusto Silva, de Reis Ventura e de Orlando de Albuquerque; de Castro Soromenho, de Campos Monteiro Filho e de Rodrigues Júnior; de Wenceslau de Moraes e de Ferreira da Costa, nesta integração é curioso notar-se que, na Guiné, os seus escritores angolanos tenham nascido em Moçambique; que dois pioneiros da novelística moçambicana sejam naturais da Metrópole e, no caso de Macau e de Timor, sejam ainda escritores metropolitanos que lançam mão do tema, por simpatia, experiência, tragédia e deslumbramento.”

Creio ter havido engano do autor (frase que realcei em negrito) quanto a um dos dois escritores seleccionados de Macau. Se Wenceslau de Moraes é da Metrópole, o outro conto é de Deolinda da Conceição, macaense,  nascida e falecida em Macau (1913  – 1957).
Na altura e depois da publicação do livro “Cheong-Sam – A Cabaia” onde contém o conto publicado, a autora  recebeu elogios de diversos escritores e críticos de Portugal e de Macau, entre eles de Amândio César que referiu no Diário Popular, Junho de 1970:
“Narrativas feitas de experiência, carregadas de sentimentos íntimos e de íntimas dores e alegrias
e  “Uma obra curta, pelo curto viver da escritora, mas uma obra definitiva.” (4)
(1) Quanto ao autor, ver anterior post:  LEITURAS – LITERATURA ULTRAMARINA – DENTRO DO BARCO DA VELHA
   https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/03/02/leitura-literatura-ultramari-na-dentro-do-barco-da-velha/
e
    https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/05/08/leitura-literatura-ultramari-na-a-lorcha/
(2) “Em 1970, em colaboração com a RTP, a Editorial Verbo lança a Biblioteca Básica Verbo – Livros RTP, uma colecção de livros de bolso…(…)… Foram estudados incansavelmente cada um dos 100 títulos a incluir; a periodicidade, acabando por se optar pela semanal; o papel a utilizar nos livros; a cartolina das capas; o tipo de letra; o formato do livro; o grafismo das capas (da autoria de Sebastião Rodrigues, o pai do design gráfico português) e a distribuição…(…)… A Editorial Verbo previu quase tudo pensado que tinha previsto tudo e imprimiu 50.000 exemplares dos dois primeiros volumes (o segundo livro era oferecido na compra do primeiro). O que não previa era que esses 50.000 exemplares se iriam esgotar na própria manhã do dia do lançamento, 6 de Novembro de 1970, e que as pessoas os disputariam a murro nos armazéns da editora, a ponto de impedirem a entrada a um dos administradores da Verbo, porque as centenas de homens e mulheres que formavam fila para serem abastecidos pensaram que ele lhes ia passar à frente e tirar o lugar!…(…)… Dos dois primeiros volumes – a novela Maria Moisés, de Camilo, e 100 Obras–Primas da Pintura Europeia – acabaram por se imprimir, à lufa-lufa, e vender 230.000 exemplares de cada. Em Outubro de 1972, do 100º título, Os Lusíadas, ainda se venderam mais de 100.000 volumes.
http://lisboacity.olx.pt/livros-rtp-coleccao-completa-100-volumes-aceito-ofertas-iid-44965894
(3) CÉSAR, Amândio – Antologia do Conto Ultramarino. Editorial Verbo, Livros RTP, n.º 85, 280 p.|6|
(4) http://pt.wikipedia.org/wiki/Deolinda_do_Carmo_Salvado_da_Concei%C3%A7%C3%A3o

Na continuação da leitura do livro LITERATURA ULTRAMARINA , OS PROSADORES (1), publicado em 1972, pela Sociedade de Geografia de Lisboa, colectânea de pequenos textos retirados de livros (uma selecção de textos conforme afirma o autor, Amândio César (2), transcrevo do conto A LORCHA do livro “Cartas do extremo oriente” de António de Santa Clara (3)
Pela madrugada levantou-se uma ligeira brisa. acordei e vesti o casaco; quiz tornar a adormecer mas não o consegui. A lorcha balouçava mais. Ouvia-se já as vozes roucas de gente desperta, vozes que têm de madrugada um outro acento…
A luz de alva surgiu em imperceptíveis gradações, essa primeira luz indecisa do dia, irreal e suave como um resto de luar; parecia que andava entornada no ar e alma duma ópala…
E no nascente adivinhava-se um laivosinho rosa, ténue e delicado…E o milagre da luz não se demorou em trazer-nos, nas suas magníficas vestes de púrpura, a realidade dum novo dia.
A-pesar-da pureza do céu o vento soprava agora furiosamente levantando pequenas vagas na enseada em que nos abrigámos. E o mais velho de bordo decidiu que seria prudente regressar antes que a tempestade nos apanhasse de surpresa.”
A cerca do autor  António de Santa Clara (1902 – ? ), transcrevo de (4):
A viagem de um jovem oficial português de Marselha a Hong Kong em finais da década de 20 do século XX. Hóspede do governador de Hong Kong, Cecil Clementi, ruma a Macau e aí verte as primeiras considerações sobre as diferenças extremas que separam Oriente e Ocidente. Visitas a Hué e Saigão (Indochina), Kota Bahru (Malaya britânica) e Singapura a bordo de um aparelho da Royal Air Force. Visita Shanghai dos excessos e dos contrastes, a paisagem chinesa vista do combio a caminho de Pekin. Os esplendores monumentais da antiga capital, a ocidentalização, os cabarebs animados por russas, um passeio nocturno pelos insalubres hutong. Visita a Moukden (Shenyang) e à Coreia ocupada pelos japoneses. Incursão ao Japão de 1935.”
(1) Sobre este livro e sobre o autor, ver meu anterior blogue – LITERATURA ULTRAMARINA – DENTRO DO BARCO DA VELHA
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/03/02/leitura-literatura-ultramari-na-dentro-do-barco-da-velha/
(2) CÉSAR, Amândio – Literatura Ultramarina, os prosadores. Sociedade de Geografia de Lisboa, Semana do Ultramar, 1972, 197 p + |1|
(3) SANTA CLARA, António de – Cartas do extremo oriente. Lisboa: Livraria Editora, Parceria António Maria Pereira, 1938, 230 p.+ |1|,19 cm
(4) Os portugueses e o Oriente: Sião, China, Japão 1840-1940: http://books.google.com/booksid=4OlFafEy9IMC&pg=PA123&lpg=PA123&dq=Ant%C3%B3nio+Santa+Clara+extremo+Oriente&source=bl&ots=EekWiGbiCh&sig=uTwbbNdA2KAvXKMBMjSp_prG6DQ&hl=pt-PT&ei=4rbWTr-wLc-78gPUobT6AQ&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=2&sqi=2&ved=0CCAQ6AEwAQ#v=onepage&q=Ant%C3%B3nio%20Santa%20Clara%20extremo%20Oriente&f=false

Medo não é temor dos piratas no Rio de Oeste
nem dos tufões no mar.

Não é receio dos tiros, pela noite,
No rio povoado de lorchas e traições;
nem o susto dos enforcados,
Ao luar branco,
No mangal da Areia Preta.

Medo não é terror da guerra,
nem da fome, nem do cólera,
Nem das chagas dos leprosos
na Ilha de D. João:
Não é suspeita
De que a morte espreita,
Continuadamente,
E nos levará.

Medo não é contágio da tristeza
Quando a tarde tomba
E o ocaso ensaguenta
O mar de água barrenta,
As terras e o céu,
Até as ilhas serem tragadas pelo negrume
E as montanhas pelo escuro,
E nada restar senão a treva
E os gritos que atravessam a noite,
Vindos não sei donde,
Para não sei onde.

Medo não é temor das ciladas
Nem dos punhais,
Nem dos beijos vermelhos que enganam
e sorvem lentamente as vidas …

Medo é este pavor de que tu partas
E me deixes só

Joaquim Paço d´Arcos
(Do livro “Poemas Imperfeitos”) (1)

Na continuação do post anterior dedicado a Joaquim Paço d´Arcos ( POESIA – FOI NUMA TERRA DISTANTE NA COSTA DA CHINA), este veio para Macau com os pais e irmãos (de S. Francisco a Hong Kong em 1919 no navio “Persia Maru” e de Hong Kong para Macau na canhoneira «Pátria», a 22 de Agosto de 1919, num dia de tufão.
Refere o mesmo:
“Demandei Macau em noite negra de tufão, na companhia do padre Jerónimo, ao qual fiquei talvez devendo a vida, pelas promessas que fez aos bom Deus se nos salvasse. O bom Deus ouviu a sua voz, cristã  e humilde, porque a minha, de pobre pecador, nenhum valor teria…” (2) (pp. 283-284)
NOTA: O Padre Manuel Pereira Jerónimo (1858-1940) que foi  missionário em Timor (1896-1918)  ficou imortalizado no livro de Joaquim Paço d´Arcos, sendo uma das personagens do seu romance “Amores e Viagens de Pedro Manuel” (1935). Figura grotesca, “com uma bizarria da sua personalidade onde havia tudo á mistura: ignorância, anseio de saber, génio, sonho, loucura“, conforme afirma Joaquim Paço d´Arcos, trabalhava nos campos da aldeia onde nasceu (lugar de Balouca, freguesia de Monte Redondo, Leiria), sem ter frequentado a escola, é trazido aos 28 anos de idade (1886) para Macau, pelo Bispo de Macau, D. António Joaquim de Medeiros, como criado particular. Em Macau, aperfeiçoou os seus conhecimentos frequentando as aulas no Seminário de Macau. No entanto tinha dificuldade em memorizar as declinações e conjugações da gramática latina mas com a proteção do Prelado da Diocese foi ordenado padre a 16 de Novembro de 1894. No entanto a sua fealdade e injusta fama de bronco, não permitiu que fosse padre em Macau tendo sido enviado para Timor (3) onde exerceu a sua vocação sacerdotal com uma doação total às missões de Timor. O fim deste grande missionário foi trágico; terá falecido a 4 de Maio de 1940, louco,  perto de Leiria.
Outro conto de Joaquim Paço d´Arcos “Do Niagara a Victoria Falls” tem também como personagem o Padre Jerónimo (4)
(1) PAÇO D´ARCOS, Joaquim. Poemas imperfeitos. Lisboa, Edições Sit, [19–].,144 p. ; 20 cm
(2) TEIXEIRA, P. Manuel – Liceu Nacional Infante D. Henrique, Jubileu de Diamante (1894-1969). Macau Imprensa Nacional, 1969, 291 p. + |VI|, 20,4 x 15,1 cm
(3) http://forum-haksesuk.blogspot.pt/2009/11/padre-manuel-pereira-jeronimo-1858-1940.html.
(4) http://www.novacidadania.pt/content/view/503/67/lang,pt_PT/

Teus olhos cinzentos, teus olhos castanhos,
teus olhos negros, azuis, esverdeados,
– De que cor? Meu Deus !-
Teus olhos fitaram os meus.
Foi numa terra distante, na Costa da China.
Não fixei a cor dos teus olhos,
nem a dos teus cabelos;
Mas os anos passaram e não esqueci teus olhos;
Nem os teus cabelos
Não te esqueci, a ti,
Nem as tardes quentes, húmidas, pegajosas,
Ou as noite mornas,
em que só teus olhos brilhavam
Junto de mim.

Não te esqueci os gritos das mulheres
nos san-pans atracados,
O chapinhar da água lodosa na baixa-mar,
O ruído das pedras do mah-jong,
Aquele baralhar contínuo,
por detrás das persianas cerradas,
Ao longo do nosso caminho !

Foi numa cidade remota na Costa da China…

-Que é feito de ti?
E dos teus olhos em que os meus viram
todas as cores do céu?
Onde pairam os san-pans abrigados na baía?
Onde vãs águas lodosas da baía?
porque não oiço o marulhar das pedras do mah-jong
E o perpétuo marulhar da vaga na enseada?

Porque não fecho mai as portas
e o calafeto as janelas
Em dia de tufão?
Porque não te sentas mais nas pedras
da muralha
Demolida pelo tufão?
Porquenão estraleja o fogo
em noite de noivado,
Ou reboam os gongos em procissão?

Porque não percorremos mais as ruas em
jerinkshá
E nos perdemos nas vielas escusas de
Shi-lu-há?
Porque não havia de perder-me noutros caminhos,
– Mas sem ti?!

Porque não haveria mais de palmilhar os caminhos
em que te encontrei – a ti?!
E porque havia de de sentir toda a vida
o brilho dos teus olhos
De cor indefinida?
Porque havia de me acompanhar toda a vida
A luz dos teus olhos, Se os gongos se calaram,
Se os gritos emudeceram,
Se as muralhas tombaram,
Se os san-pans partiram,
Se as águas secaram,
Se tudo mudou?
porque só tu persistes na lembrança, Se tudo morreu?
Porque vens ainda à minha vida,
Se eu já sou outro, nada subsiste de mim?
Teus olhos cinzentos, azuis, esverdeados,
– De que cor? Meu Deus! –
Ficaram em terra,
Nessa cidade remota na Costa da China,
Todos os mares nos separam,
Mas a água toda do mar não foi bastante
Para apagar dentro de mim o fogo dos teus olhos,
O fogo que arde numa cidade remota,
na Costa da China…

Joaquim Paço d´Arcos
(Do livro “Poemas Imperfeitos”) (1)

Joaquim Belford Correia da Silva (Paço d’Arcos) (1908-1979), conhecido como Joaquim Paço d´Arcos, romancista, dramaturgo, ensaísta e poeta (único livro de poemas publicado “Poemas Imperfeitos em 1952), premiado diversas vezes, foi muito lido nos anos 40 e 50. Após a sua morte, em 1979, foi praticamente esquecido. Uma das suas obras mais conhecidas é o conjunto de seis romances “Crónicas da Vida Lisboeta“. (2) (3)
Em Junho de 1918, veio para Macau (via América) juntamente com os seus irmãos  Pedro, Henrique e Manuel, a acompanhar o seu pai (Henrique Monteiro Corrêa da Silva, que nasceu em Macau em 08-12-1878, capitão de mar e guerra da Armada) que governou Macau de 23-08-1919 a 1922 (4). Aliás seu avô, Carlos Eugénio Correia da Silva, primeiro visconde e conde de Paço d´Arcos também governou Macau (1876-1879).
Esteve em Macau até 22-6-1922, tendo regressado a Lisboa.
Joaquim Paço d´Arcos tem duas obras com temas macaenses: “Amores e Viagens de Pedro Manuel(1935) e “Navio dos Mortos e outras Novelas(1952). A primeira tem como personagem um chefe da polícia secreta de Macau que era também capitão de piratas nos mares da China. A segunda conta a história da filha de um rico chinês residente em Macau, assassinada pelo marido que, por princípios ideológicos, não admitia poder sua mulher herdara fortuna do pai. O navio, que fazia o transporte de mortos chineses do estrangeiro, trouxe os corpos de ambos, pois o marido, condenado pela justiça inglesa, morrera na forca. (5)

(1) PAÇO D´ARCOS, Joaquim. Poemas imperfeitos. Lisboa : Edições Sit, 1952, 144 p. ; 20 cm
(2) http://www.dglb.pt/sites/DGLB/Portugues/autores/Paginas/PesquisaAutores1.aspx?AutorId=9989.
(3) http://pt.wikipedia.org/wiki/Joaquim_Pa%C3%A7o_d’Arcos.
(4) http://www.geneall.net/P/per_page.php?id=21141
(5) http://www.fflch.usp.br/dlcv/posgraduacao/ecl/pdf/via01/via01_16.pdf.

DO DRAGÃO

Teu dorso dorme em séculos de espera
alteando em cor os flancos de acordar
enquanto o sol soergue as suas garras
e abre por dentro a sombra da paciência
prestes a ousar o salto e a rastejar,
nas asas escrevendo  o chão sagrado
onde rebenta a última esperança.

José Augusto Seabra (1)

(1) SEABRA, José Augusto – Poemas do Nome de Deus. Instituto Cultural de Macau, 1990, 83 p., ISBN 972-35-0093-0

O livro que apresento, foi publicado em 1972, pela Sociedade de Geografia de Lisboa: LITERATURA ULTRAMARINA, OS PROSADORES. (1) É uma colectânea de pequenos textos retirados de livros (uma selecção de textos conforme afirma o autor).
No fim do prólogo, o autor, Amândio César (2), justifica as escolhas dos textos:
Finalmente: presidiu a esta mostra de autores, não a selecção exaustiva mas a selecção de valia individual, sem olhar a origem, religião ou filiação ideológica. Tudo isso pareceu supérfluo. Na realidade somos um todo e como todo seremos julgados, absolvido ou condenados. O acidental importa menos ou mesmo nada, quando o essencial está presente: do Minho a Timor termos uma literatura que é uma arte, servida por uma língua que é dos mais válidos instrumentos de comunicação, no mundo em que vivemos.”
O livro contém, assim enxertos de 6 textos de Cabo Verde, 3 de Guiné, 2 de S. Tomé e Príncipe, 15 de Angola, 14 de Moçambique, 7 do Estado da Índia, 7 de Macau, 4 de Timor e 3  do Brasil.
De Macau, os textos seleccionados, foram dos seguintes livros:
“Aguarela Chinesa”  do livro de Emílio de San Bruno ” O Caso da Rua Volong“- romance
“O Bazar” do livro de Jaime do Inso “O Caminho do Oriente” – romance
“A Lorcha”  de António de Santa Clara “Cartas do Extremo Oriente” – crónicas
“A cabaia” de Deolinda da Conceição “Cheong-Sam” – contos
“A Casa Ensombrada da Rua do Campo” de Luís Gonzaga Gomes de “Lendas Chinesas de Macau” – contos
“A-Chan, A Tancareira” de Henrique de Senna Fernandes de “A-Chan a Tancareira” – contos
“Dentro do barco da velha” de Ernesto Leal “A Velha e o Barco” – contos

Deste último, da autoria de Ernesto Leal  (Ver POST : LEITURA – A VELHA E O BARCO) e para quem se lembra dos miúdos (filhos das “tancareiras”  cujos tancares/sampanas se encontravam atracados no Porto Interior) que tinham uma cabaça presa ao tronco/cintura, retiro a seguinte passagem:
Nos portos de China há uma multidão de tancares dentro dos quais uma população nómada feminina nasce, vive e morre. Os homens vão a terra, que as «casa» são pequenas; e trabalham cá fora, no que aparecer; ou não trabalham. As mulheres novas ainda «saem»; porque vão ao mercado; ou porque são bonitas, ou jovens, e vão ao mundo. Quem fica a bordo é a velha e o miúdo. Ao miúdo põem-lhe um cordão por baixo das axilas com uma cabaça amarrada que lhe fica às costas. Se o pequeno cair à água, flutuarão, ele mais a cabaça. E como, de barco a barco, colocam pranchas para o movimento dos peões e dos cães, – quem viver longe terá que passar muitas pranchas e muitos barcos antes de chegar ao seu tancar – o miúdo vai brincar com os outros miúdos para o «quintal», isto é, para as pranchas. Fica a velha. Fica sempre a velha”
(1) CÉSAR, Amândio – Literatura Ultramarina, os prosadores. Sociedade de Geografia de Lisboa, Semana do Ultramar, 1972, 197 p + |1|, 20cm x 15 cm
(2) Segundo http://literaturacolonialportuguesa.blogs.sapo.pt/658.html,
Amândio César, professor, jornalista, contista, poeta e ensaísta foi um elemento solidamente conotado com o regime (publicara Angola, 1961, um conjunto de crónicas sobre os acontecimentos desse ano no norte de Angola) e desempenhou papel fundamental nesse desígnio.
Segundo http://pt.metapedia.org/wiki/Am%C3%A2ndio_C%C3%A9sar,
Amândio César (1921-1987), foi poeta, ficcionista, ensaísta e crítico literário, desenvolveu ainda, em Braga e em Lisboa, a actividade de jornalista comprometido com o Estado Novo. Foi um dos elementos do grupo Poesia Nova e o fundador da revista Quatro Ventos (Braga, 1954-1957). Como ensaísta e crítico literário, dedicou parte da sua actividade à divulgação das literaturas brasileira e africana de expressão portuguesa nomeadamente a angolana, sempre de um ponto de vista “colonial” ou “ultramarino” mas sem discriminar os que politicamente lhe não eram pares. Publicou Elementos para Uma Bibliografia da Literatura e Cultura Portuguesa Ultramarina Contemporânea: Poesia, Ficção, Memorialismo, Ensaio, em colaboração com Mário António (1968), e as antologias Novos Parágrafos da Literatura Ultramarina (1971) e Antologia do Conto Ultramarino (1972). Publicou também alguns trabalhos no domínio da geografia literária, alguns dos quais em publicações como Gil Vicente, Boletim de Trabalhos Históricos, Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, Ultramar, etc. Foi tradutor de Curzio Malaparte e Alberto Moravia. No dizer de Jorge de Sena, “se a sua poesia se integra, apesar de uma certa versatilidade, num lirismo tradicional e tradicionalista, os seus contos aproximam-no do neo-realismo literário na forma de tratar a terra duriense”.

LEAL, Ernesto – A velha e o barco, contos (1960). Edições Ática, 96 p. + |4|; 20 cm x 14 cm

Ernesto Leal, nasceu no Funchal, Madeira, em 9 de Setembro de 1913 (faleceu em Sintra – 2009). Viveu na ilha até aos 11 anos, após os quais foi para Lisboa. Foi oficial do exército, profissão através da qual conheceu Macau (1939-1946), Índia e África. Em 1958-59, concluída a experiência militar e num período em que se encontrava a trabalhar como técnico de transportes na embaixada dos Estados Unidos em Lisboa, dedica-se a escrever contos, vencendo o Prémio Àtica de Conto, em 1959, com o livro “A Velha e o Barco. (1)
A obra seria publicada pela Editora Ática um ano depois.
O exemplar que tenho, traz uma cinta , sinalizando o prémio “Prémio ÁTICA – 1959
A propósito das obras A velha e o barco e O homem que comia névoa, David Mourão
Ferreira
, escreveu:
 (…) os contos de Ernesto Leal constituem quase sempre, não só condensados e preciosos documentos de natureza etnográfica ou costumbrista, mas também conseguidos artefactos de ordem literária, em que as qualidades de observação e análise, de transposição e de síntese vão de par com a fragrância das atmosferas, a economia das descrições, a naturalidade dos diálogos. Mas não menos importante, em tais contos, é a carga de crítica social que deles se desprende sem que o autor tenha necessidade de directamente intervir.(2)
O livro contém 11 contos, mas somente 4 tem como tema Macau (assinalado como Μ)
A velha e o barco dentro do barco da velha (3) – (Μ)
A aldeia de Ou-Mun. (Μ)
– Um carro eléctrico chamado gente – Lisboa
– História dos armários chineses no estado antigo de «shutabrapubardinarh» – indeterminado
– O galo  – Braga
– Pó de café, água quente e açúcar l – Lisboa
–  O ovo e o espetotemática chinesa mas não relacionada com Macau embora algumas frases estão “escritas em cantonense”
– A mulher do ceguinho- Lisboa
– Magia no 5.º andar esquerdo, rua das naus da índia (á Estrela), Lisboa, 2 – Lisboa
– O «trovão do senhor » – Goa
– Uma alegria ! – China

Deste último conto, transcrevo das pp. 92-93:
” O senhor Anjo, combatente da guerra 1914-1918, tinha 50 anos quando pôs pé na China. Comeu à chinesa, e achou que era bom. Jogou à chinesa. Dois meses depois, havia já negociações sérias e ansiosa para obtenção duma companheira para o Anjo. Perante os intermediários, sempre corteses, e com a ajuda de intérpretes, o Anjo punha os problemas corajosamente, nìtidamente e com habilidade. Foram resolvidos, um a um, todos os problemas contidos numa operação do género: regras, protocolo, despesas, cerimónia.
Não tardou que víssemos o Anjo a passear à tarde em pequenos jardins românticos, trazendo pela mão uma pequena de 17 anos, a menina Flor de jade, de laço  encarnado nos cabelos negros como a noite. mas também não tardou que corressem boatos  de desavenças, de questões e, por fim, de pancada. Porquê, santo Deus ? Ela era pequenina e de cabelo um tudo nada hirsuto ? Pequeno e hirsuto era ele. Ela tinha feito ginástica na Escola, havia americanizado o físico dando-lhe músculos e carnes rijas ? Ginasta era ele. Ela era alegre ?  Alegre era ele. Respeitadora ? Sim. Mas então, os portugueses gostam de mulheres respeitadoras.
Houve quem opinasse, necessariamente, sem base certa, que a questão nasceu, não das suas poucas qualidades, mas das suas muitas. Perfeição a mais. O Anjo endoidecia coma ideia de perdê-la. daí, a pancada.
Com a maior descrição e a mais perfeita dignidade, a pequena Flor de Jade retirou-se para casa do pai”

Outros livros de Ernesto Leal:
O homem que comia névoa. Lisboa Europa-América, 1964
Afonso III. Lisboa Europa-América, 1970
Em Jerusalém, o canalizador (contos). Funchal, Secretaria Regional do Turismo, Cultura e Emigração, 1991,
Tio, Ilha, Anonas e Estrelas  – uma antologia de contos. Edição Funchal 500 Anos , 159 p.

Pode-se ler mais sobre este autor, sua vida e estadia em Macau, no artigo de Carlos Pinto SantosA Invencível Curiosidade de Ernesto Leal” na Revista MACAU, II série n.º 30 (Outubro 94), pp. 57-66
(1) http://www.portuguesetimes.com/Ed_1948/Cronicas/diacron%2010.htm
(2 ) http://bmfunchal.blogs.sapo.pt/11546.html
(3) Pequeno extracto deste conto, foi incluído em:
CÉSAR, Amândio – Literatura Ultramarina, os prosadores. Sociedade de Geografia de Lisboa, Semana do Ultramar, 1972, 197 p + |1|

INSO, Jaime do – O caminho do Oriente, edição do autor, Lisboa, 1932,Tip. Élite, 374 p., [3], 19 cm x 12 cm (1)
(o exemplar que possuo tem a lombada parcialmente rasgada)

Na capa do livro (obra de ficção) vem anunciado “Premiado no VI Concurso de Literatura Colonial” (2)
O VI Concurso de Literatura Colonial, organizado pela Agência Geral das Colónias, teve os seguintes premiados (3) no ano 1931:
1° – Não atribuído
2° – José Ferreira Martins, Poetas e prosadores; Jaime do Inso, O caminho do Oriente; Henrique Galvão, O vêlo de oiro (3)
O livro tem dois prefácios, um assinado pelo Conde de Penha Garcia (4), “Lisboa, Dezembro de 1931” (7-10 pp.) e outro, do próprio autor (11-12 pp.) datado “Lisboa, Agosto de 1931
Jaime do Inso, (1880-1967), oficial de Marinha (foi desde aspirante, guarda marinha, capitão de fragat até capitão-tenente) (o livro na 1.ª página vem expresso: Jaime do Inso Capitão-Tenente), viveu em Macau no final da década de 1920 e escreveu vários livros sobre a China e Macau
Pode-se ler uma análise crítica desta obra, de David Brookshaw em “Entre o Real e o Imaginado: O Oriente na Narrativa Colonial Portuguesa“: (5)
“O Caminho do Oriente é, no fundo, um romance colonial, escrito por um «Old China Hand» que se tornou membro do lobby asiático em Portugal.
                    Os dois protagonistas principais, Rodolfo e Frazão, são amigos de infância, ligados por uma empresa comercial familiar. Irão representar duas maneiras distintas de focalizar o Oriente, uma das quais idealista, sonhadora, atraída por um sentimento de exotismo, a outra, sólida, sensata e materialista. Rodolfo e Frazão encarnam qualidades necessárias para a regeneração de Portugal e da sua vocação imperialista: «Rodolfo Moreira, o mais novo, era um tipo insinuante e fino, apurado no trato e no trajar, mordendo nervosamente os cigarros que acendia, uns após outros, sem os queimar completamente./ Frazão Antunes, o mais velho, um tanto prosaico e calmo, revelava-se, a um simples exame, uma antítese perfeita do seu amigo, a não ser nas qualidades de carácter em que ambos irmanavam no mesmo timbre de finura e honradez». ( p. 18). Re-invenção, em outras circunstâncias, de um D. Quixote e Sancho (com algumas caraterísticas do Fernandes e Jacinto do Eça, ou Sherlock Holmes e Dr Watson do Conan Doyle), os dois amigos partem para Macau em busca de novos mercados para a firma de Moreira e Antunes Lda. Rodolfo vem a conhecer a sua Dulcinéia a bordo, na viagem para o Oriente: Tininha é uma moça de origem étnica incerta. Portuguesa de Macau, «moça de cabelos loiros» de «olhos infantis», a descrição sugere uma heroína surgida diretamente das convenções românticas européias. Por outro lado, os olhos, em vez de estereotipicamente azuis, são «dum verde jade» (p. 19), que poderia indicar uma ascendência mais complexa, embora remota. Muito menos complicada é a parceira do Frazão, Pepita, filipina casada, de regresso a Hong Kong, mas o contraste serve para realçar as caraterísticas morais dos dois protagonistas, o romântico Rodolfo, o prosaico Frazão, qualidades necessárias para a empresa colonial. Na realidade, o autor indica que o prototipo ideal seria um compromisso entre os dois, tal como o modelo cervantino: Rodolfo, no fim, é salvado de um excesso de romantismo, enquanto o Frazão, materialista provinciano, adquire um gosto por roupas elegantes e outros acessórios de uma burguesia cosmopolita.”
(1) Este livro foi reeditado pelo Instituto Cultural de Macau em 1996.
INSO, Jaime do – O caminho do oriente. 2ª ed. Macau : Instituto Cultural, 1996, 209 p., 5 f. desdobr. – Rua Central; 10).
(2) Sobre a importância deste concurso aconselho uma leitura ao trabalho de Flávia Arruda Rodrigues : “A legitimação da colonialidade portuguesa: narrativas da dominação no  Concurso de Literatura Colonial da Agência Geral das Colónias”
               http://www.brasa.org/_sitemason/files/huOZeo/Flavia%20Arruda%20Rodrigues.pdf
“A compreensão do que foram e do que historicamente representaram as edições do Concurso de Literatura Colonial da hoje extinta Agência Geral das Colônias (AGC) passa pelo entendimento do papel social exercido pelos intelectuais que participaram dessas disputas, especialmente entre os anos de 1926 e 1951. Durante esse período de 25 anos, que vai do lançamento da premiação à revogação do Ato Colonial, os regulamentos dos concursos deram conta da necessidade explícita de se premiar obras que funcionassem como propaganda do regime colonialista do Estado Novo português. Esses produtos culturais de então foram úteis como subsídio para o financiamento e sustento do governo metropolitano, à época sediado em Lisboa. Foi com a ajuda deles, e da propaganda que fizeram do governo central, que as engrenagens político econômicas instaladas em territórios além-mar como Angola, Moçambique, Macau, Timor ou Cabo Verde continuaram a girar, prolongando a situação colonial.”
(3) Concurso e vencedores do Prémio de Literatura Colonial da AGC (1926-1951)
 http://literaturacolonialportuguesa.blogspot.com/
(4) Trata-se de José Capelo Franco Frazão (1872-1940) (1.º Conde de Penha Garcia, título criado e atribuído em 1900, pelo rei D. Carlos I). Em Março de 1897, (6) “filiou-se no Partido Progressista e formalizou a sua candidatura a deputado pelo círculo do Fundão, que se revelou inconsequente. No entanto, por pressão de José Luciano de Castro, chefe daquele partido, acabará por prestar juramento na Câmara dos Deputados em 18 de Janeiro de 1898, como deputado pelos territórios coloniais de Macau e Timor.“. Em 28 de Dezembro de 1905 foi nomeado ministro dos Negócios da fazenda, durante 82 dias pois, a governação dos progressistas chefiado por José Luciano somente durou até 19 de Março de 1906 (1904-1906).
É precisamente como representante dos povos de Macau e Timor que o próprio, no Prefácio (p. 8) afirma:
” Em determinada época, e já não foi hontem por mal dos meus pecados, os eleitores de Macau e Timor por uma daquelas misteriosas atracções que são o encanto do sistema parlamentar, elegeram seu representante nas Cortes, um modesto beirão, que jámais tinham visto e de quem aprendiam o nome pela primeira vez.
                    Esse beirão era eu, assim consagrado pelo sufrágio popular representante dos povos de Macau e Timor no Parlamento português. Devo dizer em abono e justificação de mim próprio e do sistema parlamentar, que tomei o caso a sério e me puz a estudar a fundo a vida passada e presente das duas colónias que tinha a honra de representar….
                    Não tendo tido possibilidade de ir visitar as duas colónias que tinha a honra de representar, procurei conhece-las de longe.”
(5)http://www.ueangola.com/index.php/criticas-e-ensaios/item/256-entre-o-real-e-o-imaginado-o-oriente-na-narrativa-colonial-portuguesa.html.
(6)http://213.58.158.155/NR/rdonlyres/73754648-7B44-4099-A44D 30B36A9A3288/3046/Jos%C3%A9CapeloFrancoFraz%C3%A3o.pdf