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CAPA

Nas comemorações da “Semana Verde” de 1982, associado à plantação de árvores na Praia de Hac Sá (1), os Serviços Florestais e Agrícolas de Macau, publicaram em Abril de 1982, um pequeno opúsculo (biligue: português e chinês) de 4 folhas (8 páginas) (29,5 cm x 20,5 cm) com o título: “A ÁRVORE 樹”, texto de António Estácio (2)  e desenhos de Leonel Barros.(3)

1.ª página
2.ª página
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7.ª página
8.ª página
Contracapa

mandarim pīnyīn: shù; cantonense jyutping: syu6

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/03/21/noticia-de-21-de-marco-de-1978-dia-mundial-da-arvore/ Outras referências relacionadas ao Dia Mundial da Floresta/Dia Mundial da Árvore, neste blogue: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/gabinete-tecnico-do-ambiente/

(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/antonio-estacio/

(3) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/leonel-barros/

Livro de José dos Santos Ferreira publicado em 1967, (1) composto e impresso na Tipografia da Missão do Padroado (2), com versos (Laia-laia rabusénga) e prosas no dialecto macaense e breve vocabulário de alguns termos utilizados. A maioria dos versos foram publicados anteriormente no jornal «O Clarim», de 1953 a 1955 e depois na «Gazeta Macaense» de 1963. Inclui ainda uma comédia em 1 acto “Mui-mui Sua Neto” e uma opereta em 2 actos (para rir) “Cabo Tamêm Sã Gente”. A ilustração é de Leonel A. S. Barros.

Retiro da Introdução (pp. 9-11) , o seguinte: “O dialecto macaense, como muito bem ensinou João Feliciano Marques Pereira, (3) não se apresenta sob uma única forma, mas sem debaixo de três pelo menos, que é conveniente distinguir: a) o macaísta cerrado ou macaísta puro (se assim se pode chamar) e que é o mais interessante; era falado principalmente pelas classes humildes; b) o macaísta modificado pela tendência a aproximar-se do português corrente, era usado pela gente mais polida e que estava mais em contacto com o elemento metropolitano; c) o macaísta falado pelos chineses. Das duas primeiras formas, sobretudo a primeira, se aproximam mais os escritos contidos neste volume. Sob a última, vem publicado um original, em simples monólogo – MERENDA AI! – que o autor põe na boca de um conhecido chinês de Macau.

Desenho de Leonel A. S. Barros (pág. 7)

MERENDA AI! “Iou sã Merenda Ai!. Tudo gente na Macau, assi chamá pa iou, Seléa nóme nunca muto agradá. Masqui geniado, tamêm pacéncia… Qui cuza pôde fazê, si ilôtro querê batizá iou com estunga nóme? Merenda Ai tamêm sã nóme cristám… Iou sã Macau-filo. Quelê-modo iou sã Macau-filo ? Iuo sã já nacê na Macau, j´olá? Têm tanto ano-iá … Mamã fica na Básso-mónti, quelóra larga iou vêm fora. Cavá crecê, Mamã já ensiná iou fazê merenda, pa ganhá sapéca. Sã assi que iou nuncassá vai escola, j´olá? “…. (continua)

(1) Na última página “Acabou de se imprimir este livro aos 2 de Janeiro de 1968

(2) Trata-se do primeiro livro impresso de Adé Santos Ferreira em “língu maquista” (patuá). Anteriormente, publicou o 1.º, um relato de viagens “Escandinávia, Região de Encantos Mil, em 1960, FERREIRA, José dos Santos – Macau Sã Assi. Macau, 1967, 138 p + Índice., 20, 5 cm x 14 cm x 0,7 cm.

(3) Pequeno trecho de João Feliciano Marques Pereira assinalado na capa (interior)

Na continuação da notícia de 18 de Abril de 1991 (1) – lançamento pelos Correios e Telecomunicações de Macau, (C. T. M.) de um sobrescrito de 1. º dia de circulação, quatro selos e obliteração de 1.º dia com o motivo: «Conchas da Região», apresento hoje a pagela e os quatro selos (estes sem obliteração) dentro de um envelope (15,8 cm x 12 cm), transparente, dos Correios e Telecomunicações de Macau (sector da filatelia, Largo do Senado, Macau).

Os desenhos bem como a descrição das conchas são da autoria de Leonel Barros. Os quatro selos (4 cm x 3 cm) com o mesmo valor: 3 patacas.

1 – Harpa harpa – Harpa nobre – Swollen Harp

Estas conchas vivem em águas profundas a 200 metros de profundidade. Totalmente carnívoras, no entanto, há ocasiões em que se alimentam também de corais mortos. Muito abundante no Mar da Chinaa 100 ilhas de Macau

2 – Tonna zonata – Concha abajú – Oil Lamp Cone

Concha circular, grande, de côr acastanhada. Alimenta-se de crustáceos, equinodermes, conchas bivalves e peixes.- Vivem em grandes profundidades e são muito abundantes na ilha de Ainão. Foram até hoje encontradas 25 variedades.

3 – Chicoreus rosarius – Concha fusiforme – Rosary Shell

Concha de tamanho médio, a maioria dos espinhos são recurvados. Muito vulgar na região do Indo-Pacífico até próximo do Japão. Todas as conchas desta família (muricídeos) possuem formas irregulares. Vivem em águas pouco profundas (20 metros) e são totalmente carnívoras. Certas espécies desta família, quando perturbadas expelem um pigmento arroxado que os antigos egípcios utilizvam na tinturaria . oO opérculo é muito mais escuro do que o corpo.

4 – Murex pécten – Concha esqueleto – Skeleton Shell

Pertence também à família dos muricídeos. Corpo coberto de espinhos, uns mais compridos e outros mais curtos. O opérculo tem a forma elíptica e de côr castanho-escuro. Vive também em águas pouco profundas (20 a 30 m). No Japão algumas variedades desta família são encontradas nas ostreiras, principalmente em Hokaido.

Pagela n.º 55 – Correios e Telecomunicações de Macau – Tiragem: 8.500 ex.
Dados Técnicos

Lançamento pelos Correios e Telecomunicações de Macau, em 18 de Abril de 1991, de um sobrescrito de 1. º dia de circulação,quatro selos e obliteração de 1.º dia, todos com o mesmo motivo: «Conchas da Região» Os desenhos bem como a descrição das conchas cujos exemplares constam nos selos, são da autoria de Leonel Barros

Os quatro selos (4 cm x 3cm) com o mesmo valor: 3 patacas. (1)

Este envelope (16,2 cm x 11,4 cm) com a «CONCHA TRAPÉZIO – Pleuroploca trapezium»

CONCHAS DA REGIÂO

Os homens primitivos, utilizavam as conchas como ornamento de protecção contra os maus espíritos, sendo o molusco utilizado na alimentação. As conchas que possuem superfície polida e brilhante, o que geralmente acontece com a família das Cypracidae, eram muito procuradas devido ao seu tamanho reduzido quando jovens, tendo sido utilizadas como moeda, ma antiguidade, até ao aparecimento do cobre na dinastia Ching. Ainda hoje muitos dos pescadores trazem-nas penduradas ao pescoço como amuleto com o fim de conseguirem bom pescado, enquanto que os camponeses enterram essas conchas debaixo da terra com o fim de conseguirem boas colheitas.

As conchas marinhas são verdadeiras joias do mar. São lindas e cada espécie é distintamente diferente. A maior zona zoogeográfica marinha que se conhece abrange o Oceano Índico e o Oceano Pacífico, onde se situam a Polinésia e Melanésia, a Malásia, o Arquipélago da Indonésia, as Filipinas, as Ilhas Havaianas, o Golfo de Bengala e o Golfo de Omam. Todo este aglomerado de ilhas são banhadas por águas mornas tropicais que formam a corrente marítima de Kuroshio.Essas águas cristalinas oferecem à vida marinha tropical boa alimentação e boas condições de vida do que resulta a presença de uma grande variedade de conchas – univalves e bivalves – todas elas possuindo feitios e cores variadíssimas.

Existem cerca de cento e cinquenta mil variedades de conchas marinhas algumas delas hermafroditas divididas em sete classes. maioria destes animais não vivem mais do que sete anos, não obstante, alguns, os maiores, pesando cerca de trezentos ou mais quilos, vivem cerca de setenta anos.

As que apresentamos aqui na presente colecção de selos são as que existem na região do Indo-Pacífico zona em que o Território de Macau está inserido. Leonel Barros

(1) A descrição das conchas cujos exemplares constam nos selos, e a pagela n.º 55 desta temática, será para uma posterior postagem.

地區貝殼mandarim pīnyīn: dì qū bèi ké; cantonense jyutping: dei6 keoi1 bui3 hok3

Portaria n.º 70/91/M – Emite e põe em circulação selos postais alusivos à emissão extraordinária «Conchas da Região (B. O. 3.º supl., n.º 15 de 18-04-1991)

Anualmente, no dia 23.º dia da 2.ª lua, celebra.se um pouco por todo o mundo chinês o festival de Cheng Meng (Pura Claridade).

Este culto ancestral está ligado à chegada da Primavera. Antigamente, nas grandes cidades da China, a florida estação do ano era celebrada com um ricamente cortejo pelas ruas em que se destacava a imagem de um boi, em barro, ricamente enfeitado com flores e ramos de salgueiro. Durante o cortejo as mulheres e crianças traziam nas mãos um pequeno ramo de salgueiro com a finalidade de não serem vítimas de picadas de insectos nocivos, como o mosquito, a centopeia, o escorpião, etc. Acreditava-se que, se tal precaução não fosse tomada, as pessoas estavam sujeitas a reencarnar num animal quadrúpede., como é o caso do boi, por ocasião da transmigração das almas.

A tradição do ramo de salgueiro vem do tempo do Imperador Kao Sung, (1)da dinastia Tang, que reinou de 650 a 683 A. C. Os chineses do antigamente tinham também o costume de prender, na véspera desta festividade, um ramo de pessegueiro no umbral da porta principal das suas habitações, com o propósito de se protegerem de todos os males.

É durante a celebração de Cheng Meng que as famílias chinesas vão depositar pivetes e velas aromáticas em frente das campas dos seus antepassados, onde são colocadas também pequenas malgas de arroz e pratinhos com guloseimas várias. Sobre o túmulo dos defuntos queimam-se diversos objectos de papel, incluindo o tradicional “Dinheiro do Inferno”

Em vésperas da data do ritual as famílias retiram das sepulturas as ervas daninhas que crescem durante o ano e mandam pintar de novo as inscrições que nelas figuram. No final das cerimónias em honra dos mortos, os familiares realizam uma espécie de piquenique em pleno cemitério, junto à campa dos seus entes desaparecidos, regressando a casa ao final da tarde.

Manda ainda esta tradição que, durante o período em que decorre o festival, as mulheres são utilizem agulhas de costura nem lavem os cabelos”

Retirado de BARROS, Leonel – Templos e Lendas e Rituais – Macau. APIM, 2003.

Ver anteriores referências a esta festividade em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/cheng-mengqingming/

(1) O Imperador Gaozong (唐高宗 – pinyin: Táng Gāozōng;cantonense jyutping: gou1 zung1) (628—683, nascido Li Zhi – 李治), foi o terceiro imperador da Dinastia Tang (618 a 906, considerado o período dourado para as artes e cultura  na China).

Gaozong governou entre 649/650 e 683. embora incapacitado em 665, por ter tido em um acidente vascular cerebral,  o governo ficou praticamente entregue  à  sua segunda esposa, a imperatriz Wu Zetian (武則天 – pinyin: Wǔ Zétiān;cantonense jyutping: mou5 zak1 tin1) (624- 705) e que fora anteriormente uma das concubinas do pai de Gaozong, o imperador  Taizong.

Gaozong faleceu em 683 e embora tivesse dois filhos, Wu Zétian manteve o controle do governo e em 690. proclamou-se Imperatriz (a única mulher na história da China que ocupou o trono imperial) e iniciou uma nova dinastia, Zhōu – 周 – que somente durou até 705., ano em que foi restaurada a dinastia Tang.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Imperador_Gaozong_de_Tang https://pt.wikipedia.org/wiki/Wu_Zetian

Hoje comemora-se em Macau a festa anual a Pak Tai (北帝 – Běidì imperador do norte) que no terceiro dia da terceira lua. É nessa altura que o templo chinês Pak Tai (o mais antigo da ilha da Taipa e um dos mais antigos de Macau), regista maior afluência.
Estavam programados espectáculos de ópera chinesa que habitualmente eram levados á cena num teatro improvisado feito com canas de bambu em frente do templo dedicado a Pak Tai na vila da Taipa, mas devido às restrições por cauda do corona vírus  “Covid-19″, foram cancelados.
Segundo a lenda Pak Tai venceu o Rei dos Demónios que aterrorizava o universo. Como forma de gratidão foi-lhe dado o título de Divindade Superior do Profundo Paraíso Negro e também Verdadeiro Soldado do Norte. Considerado um “deus” com origem na dinastia Shang (1600.1046 AC) e é protector das artes marciais e dos desastres naturais.

Templo de Pak Tai – anos 50 do século XX

O templo de Pak Tai está localizado na Rua do Regedor, (1) tendo em frente o recinto quadrado denominado Largo Camões, e em frente ao então Canal dos Estaleiros da Taipa.
Fundado há cerca de trezentos anos, (2) foi outrora muito frequentado pelos devotos da ilha, mas encontra-se hoje particularmente esquecido. O seu interior conserva ainda vários relíquias que valem uma verdadeira fortuna.
Pak Tai era um príncipe que, devido à sua coragem, recebeu o título de Imperador do Norte. Foi comandante de doze legiões celestes com o fim de lutar contra o Rei-Demónio que pretendia devastara Terra. A lenda chinesa que lhe está associada conta que teve de lutar contra uma enorme tartaruga e uma comprida serpente que, o final, acabou por derrotar, derrubando assim o demoníaco soberano. Com este feito, Pak Tai acabaria por ser proclamado Supremo Imperador do Céu Negro.
Os portões estão protegidos por duas figuras representativas de antigos guerreiros com ar colérico e de espada desembainhada. O altar do deus Pak Tai encontra-se no pavilhão central, e ali figura uma estátua deste ídolo, que ostenta na mão direita uma haste com uma bandeira encarnada bordada a ouro.
Contam os habitantes que, certa vez, quando uma epidemia de cólera alastrou na ilha, um doente já moribundo pediu ao bonzo que organizasse uma procissão pelas ruas da vila. Após a cerimónia, o doente ficou subitamente curado, regressando a casa como se nada tivesse acontecido. O episódio terá sido testemunhado por centenas de pessoas.
Numa outra ocasião, uma povoação da Taipa foi devorada por um incêndio. Sem saber o que fazer, os populares resolveram solicitar a alguém que fosse buscar a tal bandeira encarnada na posse do ídolo de Pak Tai. Agitaram-na, fazendo com que o forte vento que soprava do quadrante Norte virasse para Sul, o que evitou que o fogo atingisse outras povoações”.
Conta-se ainda que, em tempos remotos, havia um grupo de piratas que pretendia saquear a ilha. Uma vez mais, o misericordioso Pak Tai veio em auxílio da população, mandando uma legião de soldados, enfileirar-se no local de desembarque, provocando a retirada dos invasores. Na verdade, não havia um único soldado na praia – o que aconteceu foi mais um milagre de Pak Tai” (3)
(1) A Rua do Regedor começa no cruzamento da Rua do Pai Kok e a Rua Governador Tamagnini Barbosa, a sul e termina a nordeste no cruzamento da Rua da Ponta Negra com o largo dos Bombeiros, na Ilha da Taipa.
(2) Terá sido construído durante 1843, dinastia Qing, no reinado do imperador Daoguang – Tao Kuang 宣宗 – sétimo imperador da dinastia manchu (sexto imperador Qing.
(3) Extraído de BARROS, Leonel – Templos Lendas e Rituais – Macau. APIM, 2003, pp. 43-44
NOTA: anterior referência a este Templo budista em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2017/11/26/postal-da-ilha-da-taipa-da-decada-de-90-seculo-xx-vi-templo-de-pak-tai/

No mesmo dia em que foram lançados pelo «Correio de Macau», no dia 15 de Novembro de 1990, o sobrescrito, os quatro selos e o carimbo de 1º dia de circulação (1)  –  emissão extraordinária filatélica sob o tema:

“JOGOS COM ANIMAIS”

– foram também postos em circulação quatro postais (14,5 cm x 10,5 cm) da mesma temática, numa emissão especial dos Correios e Telecomunicações de Macau.
No verso tem a seguinte informação:
BP – MACAU – 38
Jogos com Animais
Luta de Grilos
60 avos
Emissão Especial dos CORREIOS E TELECOMUNICAÇÕES DE MACAU.

O combate de grilos é disputado no início do Outono, principalmente durante o período da Sétima Lua (Lap T chau)… (…)
Outubro é o mês tradicional dos combates de grilos, visto corresponder à época em que estes insectos hibernam, o que facilita a sua captura, em plena toca, por mãos camponesas. Uma vez capturados, os grilos são metidos em pequenos cilindros (com 10 cm x 4 cm) feitos com o colmo de bambu… (…)
Há dezenas de anos, Macau era palco dos combates de grilos nesta região. Quando a prática era comum nestas paragens, os grilos eram transportados até Macau por camponeses oriundos de diversos pontos da China.
Inúmeros hotéis, hospedarias e casas particulares de gente rica enchiam-se de apostadores, vendedores e curiosos. Os mais conhecidos eram o Hotel Central e o Hotel Ung Chau, bem como algumas residências da Rua dos Cules, Travessa dos Anjos e Calçada do Gamboa… (…) ” (2)
No verso tem a seguinte informação:
BP – MACAU – 39
Jogos com Animais
Luta de Pássaros
60 avos
Emissão Especial dos CORREIOS E TELECOMUNICAÇÕES DE MACAU.

“A época de luta de pássaros em Macau é curta. Durante três ou quatro dias por ano, os aficionados deste tipo de combate reúnem-se na Rua Cinco de Outubro, num edifício muito antigo transformado em casa de pasto. Neste período, não se ouve o habitual ruído das tijelas e dos “fai-chis”, nem tão pouco as amenas cavaqueiras, em voz alta, dos clientes saboreando os “dim-sam”. Qualquer coisa estranha paira no ar, misturada com a invulgar animação provocada pelo chilreio de dezenas de pássaros, enfiados em gaiolas, prontos para entrarem em combate.
Os donos dos pássaros, principais aficionados deste tipo de apostas, combinam entre si os combates, passam a palavra e, no dia marcado, aparecem com as suas gaiolas cuidadosamente protegidas com capas de pano branco… (…)
No local, faz-se silêncio absoluto e quatro regras são escrupulosamente cumpridas antes e durante o combate; proibição de fumar; de falar; de aplaudir : ou de envergar qualquer tipo de chapéu – a fim de não influenciar o desenlace da luta. Também não é permitido fotografar com “flash”, visto que o clarão produzido assusta as aves. … (…)”
(1) Ver a postagem de ontem neste mesmo blogue:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2018/11/15/noticia-de-15-novembro-de-1990-filatelia-jogos-com-animais-i/
(2) BARROS, Leonel – Tradições Populares. APIM, 2004.

A imprensa escrita em Portugal (nomeadamente a «BGC») noticiou o bombardeamento aéreo de Macau do dia 16 de Janeiro de 1945

Extraído do «BGC» XXI – 236,  Fevereiro 1945.

Sobre este episódio, o relato de Leonel Barros (1)
Às nove e meia do dia 16 de Janeiro de 1945, numa manhã de sol e a poucos meses do fim da guerra, eu estava de sentinela junto à Porta de Armas do quartel de São Francisco quando vi uma esquadrilha d seis caças. Voavam muito baixo e faziam evoluções sobre o centro da cidade. Momentos depois, voaram em direcção ao hangar do antigo Centro de Aviação Naval no Porto Exterior e lançaram sobre o local algumas bombas, ao mesmo tempo que disparavam tiros de metralhadoras.
Inicialmente pensei tratar-se de um combate aéreo entre aviões americanos e japoneses. No entanto, apercebi-me que estava errado quando o fumo negro e espesso começou a subir ao céu e o hangar da Aviação Naval ficou em chamas.
O meu comandante, capitão Álvaro Salgado, dirigiu-se ao terraço do quartel, donde se podia perceber melhor o que se estava a passar. Mandou de imediato formar a companhia, selecionado pessoal especializado em fogo antiaéreo. Álvaro Salgado colocou homens nos postos de defesa, construídos com sacos de areia no terraço do quartel.

Desenho de Leonel Barros (1)

Lembro-me de ter olhado para o céu e ver que dois dos seis caças estavam a “picar” em direcção ao local onde me encontrava. Pressentindo que iam abrir fogo, não tive outra solução senão esconder.me atrás da guarita. Nesse mesmo instante, ouviram-se tiros que atingiram a Porta de Armas e o interior do edifício. As balas partiram vidros, causaram estragos no terraço, perfuraram as canalizações e os esgotos. Tive sorte, apenas fui atingido no capacete e nas costas por vidros, estilhaços de tijolos e areia. No interior do quartel, alguns soldados estavam com ferimentos ligeiros. O pânico foi maior por ninguém saber como transportar os feridos para o Hospital Conde de São Januário. Um dos soldados conseguiu retirar da garagem do quartel uma moto com side-car, onde foram transportados os feridos. O percurso até ao hospital foi muito arriscado, tendo sido necessárias muitas manobras. Ao longo da subida da Calçada de S. Francisco, o condutor da moto foi tentando escapar aos disparos de um dos caças que o perseguia. Ao mesmo tempo, o quartel continuava a ser atacado e, por isso, os militares não conseguiram sair das instalações para montar o material de defesa antiaéreo no ponto mais alto da Colina da Guia. Só conseguimos sair do quartel após a retirada de todos os aviões por volta das 11 e 45 minutos. O rancho, normalmente servido às 11 da manhã, só chegou duas horas depois. Enquanto almoçávamos, sobrevoavam Macau cerca de 45 aviões fortalezas voadoras que, vistos de baixo, pareciam não ser maiores do que a palma da mão…(…)” (1)
(1) BARROS, Leonel – Memórias do Oriente em Guerra, APIM, 2006
Anteriores referências a Leonel Barros:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/leonel-barros/

Macau sã divera têm su chiste;
Têm ora, quele bom pandegá,
Têm ora, vêm co estória triste,
Fazê nôs cucús, sentá churá.

Gente bom co grándi coraçam,
Sã nosso Macau têm quelê tanto;
Nhum mau, capaz rasteja na chám
Ramendá cobra, tamêm têm quánto.

Cobra virá ficá camaliám
Sã têm, pa mal di nosso pecado;
Quelóra nôs andá, vizá chám,
Cobra na arvre ta pindurado.

Desenho de Leonel Barros

Má-língu co má-língu juntá,
Sã língu co língu ta dá nó;
Tagaláng qui ilôtro cortá,
Lô cai fino-fino, fica pó.

Têm gente bom, têm cachorro-china,
Atirá pedra, iscondê mám …
Quelóra nôs ta dobrá esquina,
Cachôro fuzí, rabo na chám.

Têm nhum campiám pa fazê intriga,
Más capaz qui nhónha aringuéra;
Botá mascra, vendê su cantiga,
Balí bêço, papiá babuzéra.
…………………………………………..…………continua.

José dos Santos Ferreira
Qui-Nova Chencho, 1973 (1)

(1) Ver anterior referência em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/12/13/lingu-maquista-dos-filo-filo-di-macau/

Faleceu em Hong Kong no dia 24 de Março de 1993, José Santos Ferreira (Adé). (1)
José Inocêncio dos Santos Ferreira, nasceu a 28-07-1919. Foi com a idade de 7 anos que começou a aprender as primeiras letras. Matriculou-se em 1931 no Liceu mas devido a falta de dinheiro para as propinas escolares frequentou até ao 5.º ano. O seu primeiro emprego foi na Repartição das Obras Públicas como amunuense recebendo apenas algumas dezenas de patacas. Cumpriu o serviço militar obrigatório de 1939 a 1940 mas devido à Guerra Sino-nipónica e à Guerra do Pacífico foi forçado a prestar o serviço militar mais alguns meses. Foi chefe de secretaria do Liceu. Trabalhou na Sociedade de Turismo e Diversões de Macau apór reformado.
Quando trabalhou no Liceu colaborava com jornais de Macau como por exemplo: “Notícias de Macau”, o “Clarim”, “Gazeta Macaense”. Foi um grande desportista praticando várias modalidades em especial o hóquei no Campo de Tap-Seac. Além disso tomava parte nas representações no Teatro D. Pedro com diálogo em patuá. Foi Mesário da “Santa Casa da Misericórdia de Macau”, director do “Club de Macau”, presidente do “Rotaty Club de Macau”. Condecorado com a medalha de Cavaleiro da Ordem do Infante D. Henrique em 1979” (2)

JARDIM ABENÇOADO
Nôsso Macau, terá sánto
Sã unga jardim bendito
Co fula di más bonito,
Semeado na tudo cánto
 
Tudo fula são abençoado,
Pôs Dios j´ajudá semeá
Gente antigo regá
Co lágri adocicado.
 
Coraçám, triste, chorá,
Almá fica margurado
Si têm gente mal-prestado
Dessá fula cai, muchá.

Macau sã casa cristám
Qui Portugal já ergui;
Tudo gente vivo aqui
Têm fé na su coraçam.
 
Olá fé co amor juntado,
Sã cuza Dios más querê …
Vôs ne-bom disparecê,
Macau, jardim abençoado
José dos Santos Ferreira (3)

(1) Ver anteriores referências a este grande promotor das récitas em Patuá, além de praticante e dirigente desportivo em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jose-dos-santos-ferreira/
(2) BARROS, LeonelHomens Ilustres e Benfeitores de Macau, 2007, pp. 103-105.
(3) Poesia em dialecto macaense, primeiro poema do livro “Macau Jardim Abençoado” com poesia e prosa em “língu maquista”, publicado em 1988, pelo Instituto Cultural de Macau. Capa de Ung Vai Meng. O livro está dividido em duas partes. A 1.ª parte, os textos são no dialecto macaense e a 2.ª parte,  os textos são em português.
FERREIRA, José dos Santos – Macau Jardim Abençoado. Instituto Cultural de Macau, 1988, 181 p.

“MACAU. JARDIM ABENÇOADO é um livrinho simples e despretensioso, como o são, afinal, a terra de sonhos e o bom povo de quem fala. Tudo que há nele, página a página, de verso em verso, foi ditado pelo coração, escrito com o amor que Macau nos inspira em todos os momentos e actos da nossa vida.
         Macau cristã
         Minha única riqueza,
         Meu tudo na vida…
O maior bocado deste volume é apresentado na doce “língu maquista”, esse aliciante dialecto antigo criado pelos nossos maiores e que constitui, sem dúvida, uma das mais características tradições desta terra repassada de glórias e sentimentos cristãos, bem orgulhosa da Pátria que jurou amar para todo o sempre…” (“Aos leitores” na pág. 9) (3)