Archives for posts with tag: Lancha Demétrio Cinatti

Henrique de Senna Fernandes nas suas memórias: (1)
“Em princípios de Março (8 de Março de 1935), as atenções de Macau concentravam-se na visita do aviso “Gonçalves Zarco” que, em viagem de soberania, mostrava ao Oriente o que era a proclamada Renovação da Marinha de Guerra Portuguesa. Era um navio de guerra novo que trazia a estas paragens a bandeira das Quinas, preenchendo uma lacuna deixada pelo velho cruzador “Adamastor”, que regressara a Lisboa um ano e tal atrás, para ser abatido. A visita fora esperada com orgulho e nervosismo, pois todos queriam admirar essa “moderna unidade de guerra”. Em 8 de Março, Sexta-Feira, Macau engalanava-se para a receber. Diz “A Voz de Macau“, em termos líricos:
“Às 13:30 horas, avistou-se o ‘Gonçalves Zarco’, ao longe, todo cinzento e cuja elegante silhueta se desenhava altiva no horizonte, primeira unidade naval das que o ilustre Chefe do Governo, Dr. Olivera Salazar, mandou construir em Inglaterra e veio até nós, os portugueses do Extremo Oriente, que comovidamente a contemplávamos, como se contempla amorosamente o torrão da Mãe-Pátria”.
As unidades da Marinha Privativa da Colónia dirigiram-se ao largo para fazer a escolta. Comandava-as a lancha-canhoneira “Macau”, onde se encontrava o Capitão dos Portos, 1° tenente Samuel Vieira. Atrás seguiam com altivez as lanchas “Demétrio Cinatti”, “Talone” e “Coloane”, os rebocadores “Neptuno” e “Berta”, dois motores da Capitania dos Portos, as lanchas n° 5 e 6 e duas lanchas mandarinas. A incorporar no cortejo figuravam também a lancha “Luntsing” das Alfândegas Chinesas e outras lanchas e motores particulares. Nessa “esquadra” iam funcionários civis e militares; muitas senhoras; escoteiros de Macau; Banda Municipal; pessoal civil e militar das ilhas de Taipa e Coloane; representantes de “A Voz de Macau” e dos periódicos chineses; representantes do comércio e indústria desta cidade; Leal Senado, Clero, etc.
As boas vindas foram dadas por meio de apitos e queima de panchões das lanchas. Ao entrar no canal, o “Gonçalves Zarco” deu a salva da ordenança, sendo respondido pela bateria de artilharia da Fortaleza da Guia. Então os juncos de pesca que se encontravam no porto, embandeirados, salvaram também o aviso ‘Gonçalves Zarco’ com as suas peças de carregar pela boca e queimando inúmeros panchões”.
Nunca em Macau assistimos a tão grandiosa recepção, imponentíssima, majestosa”, diz o articulista do “A Voz de Macau“. No Porto Exterior e na encosta da Guia, havia lágrimas em muitas pessoas, o patriotismo a tocar-lhes na corda sensível.
“Gonçalves Zarco”, sob o comando do então capitão-de-fragata Manuel Cardoso Quintão Meireles, (2) teve um acolhimento inesquecível. A hospitalidade de Macau, sempre fidalga, não regateou esforços para obsequiar os 133 homens, entre os quais 120 oficiais. Para muitos, depois de uma tão longa viagem pelo Oriente, Macau foi uma autêntica Ilha dos Amores. Voltando ao cinema, a inauguração do Apolo constituiu um rival para o Capitol. Já não estava sozinho em campo e, por isso, os filmes passaram a ser melhores do que quando se achava o único em campo. Com o desaparecimento do Vitória, o Apollo ficou com o exclusivo das películas da MGM, da United Artists e da Paramount. O Capitol reteve os filmes da RKO e da FOX”
(1) FERNANDES, Henrique de Senna – Cinema em Macau III (1932-1936)
(2) Trata-se, se não me engano, de Manuel Carlos Quintão Meireles (1880 – 1962), oficial da Marinha que combateu na I Guerra Mundial e em 1926, participou no golpe militar, tornando-se ministro dos Negócios Estrangeiros no segundo Governo de José Vicente de Freitas. Em 1951, foi candidato da oposição moderada às eleições presidenciais desse ano, mas acabou por desistir. (LOFF, Sofia Ferreira Manuel in
http://resistencia.centenariorepublica.pt/expo/index.php/bibliografias/52-meireles-manuel-carlos-quintao
Anteriores referências ao Aviso «Gonçalves Zarco»
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/aviso-goncalves-zarco/

NOTA: Documentário de 1936 da Cinemateca Digital onde se vê um desfile naval na frente ribeirinha de Lisboa, de vários Avisos, entre eles, o aviso de 2ª classe Gonçalves Zarco
http://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Ficha.aspx?obraid=8425&type=Video

Página do «Boletim da Sociedade Luso Africana do Rio de Janeiro», publicado aquando da 1.ª Exposição Colonial Portuguesa no Porto, em 1934, com fotos dos governadores de cada uma das antigas colónias, entre eles, o do Governador de Macau, Coronel Bernardo de Miranda (2)

Major Dr. Raúl Manso Peto (Governador de Timor)
Coronel  José Ricardo Cabral (Governador Geral de Moçambique)
General João Craveiro Lopes (Governador do Estado da Índia)
Capitão  Amadeu de Figueiredo (Governador de Cabo Verde)
Capitão Ricardo Vaz Monteiro (Governador de São Tomé)
Major Luiz de Carvalho Viegas (Governador da Guiné)
Coronel Eduardo Ferreira Viana (Governador Geral de Angola)
Coronel António Bernardes de Miranda (Governador de Macau)

(1) «Boletim da Sociedade Luso Africana do Rio de Janeiro», n.º 9, p. 72. Número especial Comemorativo da 1.ª Exposição Colonial Portuguesa – Porto 1934.
(2 António José Bernardes de Miranda, tenente-coronel de Artilharia com o curso do Estado Maior, tomou posse como governador de Macau a 21 de Junho de 1932 e foi exonerado a 4 de Janeiro de 1936.
O B.O. – S. n.º 25 de 20 de Junho, publica o convite e programa de festas pela chegada a Macau no dia 21 de Junho, a bordo da lancha “Cinati” e tomada de posse no Leal Senado.
No B. O. n.º 26 de 26-06-1932) o governador e esposa fazem saber que recebem as pessoas que desejem visitá-los no Palacete de Santa Sancha, aos sábados, das 15 às 17 horas.
Anteriores referências em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/antonio-jose-bernardes-de-miranda/

O Comodoro Guilherme Ivens Ferraz descreve no seu diário de bordo publicado em livro «O cruzador “República” na China» (referenciado em anterior “post”) (1), no dia 8 de Junho ( 1926) sobre os aviadores espanhóis em Macau (referido em anterior “post”) (2)
Macau, 8 de Junho:
… Um acontecimento sensacional se deu em Macau, o qual foi a chegada do aviador espanhol Gallarza (3) no dia 1 de Maio, ficando a cidade em ansiedade por se desconhecer o paradeiro do capitão Loriga (4) e seu mecânico, saídos de Hanoi na mesma ocasião.

Eduardo GallarzaCapitão Eduardo Gonzalez Gallarza Iragorri (1898-1986)
http://www.valvanera.com/rigallarza.htm

O aparelho de Gallarza, ao aterrar foi de encontro a umas árvores de Mong-Ha, deformando as azas inferiores e partindo o montante esquerdo de duro-alumínio. Esta última avaria era de tal gravidade que o próprio aviador perdeu por completo o ânimo, considerando-se impossibilitado de concluir o vôo Madrid-Manila. (5)
Tal não sucedeu porém, tendo as avarias sido reparadas com a maior perfeição, apenas com os recursos da terra e muita boa vontade.
Apesar de todos os esforços feitos para obter notícias do paradeiro do aparelho do capitão Loriga, não se conseguiu ao menos a resposta aos instantes telegramas mandados às autoridades francesas da Indo-China.
No dia 3, Sua Ex.ª o Governador da Província ordenou-me que empregasse todos os esforços, para descoberta do paradeiro dos aviadores espanhóis extraviados. Para esse fim mandei aprontar com urgência a canhoneira, a lancha-canhoneira Macau e a lancha Demétrio Cinatti, dando-lhes instruções… (…).

Joaquin  TaboadaCapitão Joaquin Loriga Taboada (1895-1927)
http://www.biografiasyvidas.com/biografia/l/loriga.htm

… (…) Por uma feliz coincidência, logo na manhã seguinte a Pátria aproximando-se do vapor chinês Tejo o qual, nas alturas de Kokok seguia para o Norte em direcção a Cantão, verificou que a bordo dêsse vapor seguiam fazendo sinais, o capitão Loriga e o seu mecânico, sargento Perez. 
Transmitida em rádio esta notícia, foi grande e alvoroçado o regozijo de todos, que motivos tinham para julgarem perdidos os heroicos aviadores.Ao princípio da tarde entrou a Pátria no pôrto, trazendo os dois citados aviadores, que foram recebidos co o maior regozijo, seguindo-se festas deslumbrantes durante dias consecutivos.” (1)

Os aviadores espanhóis partiram de Macau, no dia 11 de Maio de 1926, tendo o avião levantado voo às 7.30 horas da manhã, no prosseguimento da viagem para Manila. A esquadrilha que saiu de Madrid era composta por três aviões “Breguet 19” e somente um chegou a Manila, percorrendo em 39 dias os 17.500 Km entre Madrid e Manila.
O Comodoro Guilherme Ivens Ferraz no mesmo diário:
No dia 9, saiu o República não só com o fim de marcar um ponto da derrota do avião, como para o socorrer, caso fosse necessário.
No dia 11 passou o avião sobre o República a uma altura sw cêrca 1:800 metros, verificando-se que seguia exactamentew na direcção que condizia a Aparri.” (1)

Tabela de Voo Madrid Manila 1926(1) LEITURA – O CRUZADOR “REPUBLICA” NA CHINA
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/01/02/leitura-o-cruzador-republica-na-china/
(2) (3) (4) Anterior referência a essa aventura bem como biografia dos dois aviadores em: MAIS NOTÍCIAS DE 11 DE MAIO – RAID MADRID – MANILA
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/05/11/mais-noticias-de-11-de-maio-raid-madrid-manila/
(5) “Gallarza no tuvo más remedio que intentar el aterrizaje en Macao, en una explanada de 400 metros de longitud por 100 de anchura rodeada de árboles y líneas de alta tensión por los cuatro costados. El campo estaba señalizado con una gran T en el centro y una cruz blanca a 50 metros de ella; el piloto creyó que esta cruz sería una indicación de terreno blando, que debería evitarse, lo que redujo aún más el escaso espacio útil y propició el fatal desenlace. Aunque el choque se produjo a escassa velocidad el borde de ataque del plano inferior quedó destrozado y se dobló el montante soporte de las alas izquierdas, así como una pieza en el fuselaje. La reparación del borde de ataque no presentaba dificultades importantes, pero el montante era de dura luminio y no se veía forma de poderlo enderezar sin romperlo o degradar su resistencia.”
http://www.ejercitodelaire.mde.es/stweb/ea/ficheros/pdf/1BD09937E85D784CC12575450033F65F.pdf