Archives for posts with tag: José Pedro Castanheira
Ho Yin – He Xian – 何賢 (1908-1983) Foto de 1950

O correspondente em Macau do jornal diário de Singapura “The Straits Times, do dia 9 de Maio de 1966, na sua página 3, (1) com o título “Bomb injures Macao´s unofficial go-between with Peking, noticiava o atentado bombista ao Sr. Ho Yin. (2)

“A THROWN bomb or grenade today injured the Chinese millionaire who doubles as this Portuguese colony´s unofficial go-between with China. Mr. Ho Yin, 56, his wife, two companions and two bystanders were cut by bomb or grenade fragments as they leave the dog track stadium shortly before 1 a. m.. The police said the explosive was apparently hurled from an upper floor . It appeared to be a deliberate attempt on Mr. Ho´s life. His condition was not serious and so was that of others injured. All were admitted to hospital.”

Sobre Ho Yin, o articulista salienta o seguinte:

“Highly regarded as a businessman, philanthropist and educationist, in this colony on the South China coast, M. Ho also apparently enjoys the trust and respect of Chinese leaders in Peking. Starting his business career in Canton as a junior clerk in a money exchange, he now holds controlling interests in Macao´s only bus and taxi companies, all 10 cinemas, two Chinese language newspapers, five hotels, four banks and the modern greyhound track where the bomb or grenade was thrown at him.”

Nunca ficou bem esclarecido o motivo deste atentado embora atribuíssem as culpas aos membros dos nacionalistas (Kuomintang) que estavam insatisfeitos pela relação íntima que Ho Yin possuía com o Partido Comunista Chinês, Roque Choi, (3) em entrevista a José Pedro Castanheira, publicado no livro “Roque Choi um homem dois sistemas”, de Cecília Jorge e Rogério Beltrão Coelho, na p. 85, (4) afirma:

foram os nacionalistas”; “nunca pensaram em matá-lo. Foi só para o ameaçar”; “Todos reconheciam, incluindo os nacionalistas, que Ho Yin era um elemento insubstituível para o sossego de Macau”.

 (1) “Bomb injures Macao´s unofficial go-between with Peking” – The Straits Times, 9 May 1966, page 3. https://eresources.nlb.gov.sg/newspapers/Digitised/Article/straitstimes19660509-1.2.14.4

(2) Ho Yin 何賢; pinyin: Hé Xián; jyutping: Ho4 Jin4) , 1908 – 1983). Anteriores referências em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/ho-yin-he-xian-%E4%BD%95%E8%B3%A2-1908-1983/

(3) Roque Choi segundo o seu depoimento:

Quando não havia relações diplomáticas entre Portugal e a China, ambos os governos confiavam numa única pessoa: Ho Yin. Eu era o único intérprete dele, em assuntos políticos. Fui-o durante quase trinta anos”.

(4) JORGE, Cecília; COELHO, Rogério Beltrão – Roque Choi  um Homem dois sistemas (apontamentos para uma biografia”. Livros do Oriente, 2015, 221 p.

Entrevista em exclusivo com o “patrão” de Macau, Stanley Ho, dada ao jornalista José Pedro Castanheira em 1987, num dos escritórios do casino do Hotel Lisboa e publicada no “O Jornal Ilustrado”, suplemento da edição n.º 627 de “O Jornal” de 27 de Fevereiro a 5 de Março de 1987.

Algumas das frases mais chamativas:
“Se Macau prospera, eu também”
“Gostaria de ver mais mudanças em Portugal sobretudo na legislação laboral”
“Preferia um Governo maioritário”
“Volume de negócios? Não posso dizer!
“No Casino Estoril só temos tido trabalho, problemas e alguns pedidos de ajuda”
Ver anteriores referências em
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/stanley-ho/

Livro publicado recentemente (Novembro de 2016) em que os autores (Dalila Cabrita Mateus e Álvaro Mateus) (1) descrevem e analisam sob o ponto de vista muito pessoal, oito episódios que aconteceram nas antigas colónias portuguesas (um por cada antiga colónia portuguesa) onde (segundo os autores) “retratam a violência e a brutalidade de uma dominação colonial insensível aos problemas das populações…

historias-coloniais-capaCAPA

De Macau, focam e descrevem os acontecimentos de 1966 conhecido como 1-2-3 (“Macau: O Motim 1-2-3” – pp. 159-181), baseando em documentos oficiais do Arquivo Histórico-Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros (“Incidentes em Macau, 1966-1967”) e Arquivos da Pide (“Macau-Motim 1-2-3, Serviços de Escuta”).
Cito a parte final da conclusão tirada pelos autores destes acontecimentos (pp. 179-180).
“… As responsabilidades por este incidente são, pois evidentes.
Autoridades coloniais e forças repressivas atuaram em Macau como o faziam em Angola, na Guiné  ou em Moçambique, isto é, com extrema brutalidade  e em absoluto desprezo pelas populações. E na ausência do governador, o encarregado de governo terá, então, sido o primeiro responsável, ao mostrar-se intransigente e ao manifestar uma completa falta de tato e sensibilidade para com as especificidades socioculturais do território. Este encarregado de governo era o coronel Carlos Mota Cerveira, «militarão, centralizador, sem sensibilidade política». O próprio ministro do Ultramar, Silva Cunha, terá reconhecido que «não esteve à altura das circunstâncias, dando prova de falta de tato e de não possuir senso político. … »

historias-coloniais-contra-capaCONTRACAPA

Citam ainda os autores: “O governador José Nobre de Carvalho, culpou o Governo de Salazar por muitos dos factos registados.
«Há grandes erros nos últimos anos, que agora se estão a pagar com juros.» E se o encarregado de governo foi um «especial responsável» não há que esquecer que «há grande responsabilidade por quem o nomeou” (CASTANHEIRA, José Pedro – Revolução Cultural em Macau, Expresso Revista, n.º 1257, 30.11.1969)

Nos ANEXOS, os autores juntaram as “Cláusulas do acordo secreto celebrado com as autoridades chinesas” (pp. 220-222), assinadas pelo governador de Macau, em 29 de Janeiro de 1967, José Nobre de Carvalho (Fonte: Arquivos da Pide pastas “Macau: Motim 1-2-3) e “Resposta do Governo de Macau ao protesto que lhe foi apresentado pelos representantes dos habitantes chineses de Macau “, (pp. 223-225), assinada pelo mesmo governador na mesma data.
(1) Livro póstumo concluído em 2012 por Dalila Cabrita que faleceu em 2014 e Álvaro Mateus falecido em 2013.
MATEUS, Dalila Cabrita; MATEUS, Álvaro – Histórias Coloniais. A Esfera dos Livros, 1.ª edição: novembro de 2016, 270 p. ISBN 978-989-626-792-6; 23,5 cm x 16 cm.