Archives for posts with tag: José Marcos Batalha

“Macau, era, quando lá estive, entre 1949 e 1961, uma cidade cheia de encanto – pelo menos para mim que lá vivi 12 anos, numa idade em que se é excecionalmente receptivo à novidade e ao exotismo. (…)
Vivi 12 anos em Macau. Fui como médico militar, na sequência de uma conversa, na Bijou, com um meu amigo que, sabendo da necessidade que eu tinha de começar a ganhar a minha vida e cortar o cordão umbilical familiar, em falou, sem grandes pormenores, do exotismo daquelas paragens. Num dos repentes que às vezes me dão, fui aos Restauradores e ofereci-me como voluntário. (…)
Foi um desilusão geral:  (aquando da visita a Macau em 1972, integrado na romagem da saudade, organizado pela Casa de Macau de Lisboa) cheia de arranha-céus de arquitectura pelintra , com tráfico intenso, suja e desordenada – Macau pagava o preço do progresso, como me disse a presidente do leal Senado de então. Esta questão do chamado «progresso» é, nos nossos dias, um grave problema que degrada o meio ambiente e constantemente nos agride em todas as latitudes. (1)

Ao centro (de óculos) o Director dos Serviços de Saúde, Dr. Paiva Martins (3) por inerência, Director do Hospital Central Conde de S. Januário (o autor no livro regista-o erradamente como Dr. Costa Martins).
À direita em primeiro plano o Delegado da Saúde de Macau e Ilhas, médico de 1.ª classe do quadro médico comum do Ultramar, Dr. João Albino Ribeiro Cabral.
Muito possivelmente a fotografia é de 1957, ano em que o Dr. José Marcos Batalha, (à direita, em segundo plano) foi nomeado médico oftalmologista do Hospital (embora já trabalhasse desde 1949, no Hospital S. Rafael).
No fundo à direita, o então jovem enfermeiro António Fernandes (um grande abraço para este amigo e parente).
(1) MORAES, Álvaro de – Macau Memórias Década de 50. Livros do Oriente , 1994, 187 p. ISBN 972.9418-26-8, 19cm x 12,5 cm.
(2) Álvaro Ferrão Antunes de Moraes, médico cirurgião, veio para Macau, em 1949, como médico voluntário da guarnição militar de Macau. Foi nomeado em 1951 cirurgião militar. Em 1955, concorreu ao lugar cirurgião dos Serviços de Saúde de Macau. Durante os 12 anos que viveu em Macau (1949-1961), além da sua clínica privada (consultório de clínica geral na Travessa do Paralelo, n.º1 – 1.ª; n.º telefone: 3513), foi também cirurgião do Hospital de S. Rafael (1956-57) e trabalhou na clinica Anticancerosa Lara Reis, que mais tarde dirigiu. Foi também director do Serviço de Radiologia e Agentes Físicos (1956-1957).
(3) – José de Paiva Martins  – médico chefe do quadro médico comum do Ultramar e  Director dos Serviços de Saúde de  15-10-1955 até 26-06-1963 (data da portaria ministerial da sua nomeação de inspetor provincial dos Serviços de Saúde de Moçambique.

A cerimonia pública promovida pelo Conselho de Instrução, que não pode realizar no dia 10 de Junho de 1955, por causa da chuva, teve lugar no dia 12, domingo, pelas 12 horas.
Presidiu à cerimónia o Governador da Província, Almirante Joaquim Marques Esparteiro, que se fez acompanhar de  sua esposa e o pessoal do seu gabinete. Estiveram ainda presentes as principais autoridades da Província, representações das escolas portuguesas e chinesas de Macau e filiados da Mocidade Portuguesa.
Proferiu o discurso, Leonel Adalberto Jorge Batalha, professor primário, alocução que foi sobretudo dirigida à mocidade escolar ali presente.

MBI II-45 15JUN55 10 de Junho-Camões (I)O professor da instrução primária, Leonel Adalberto Jorge Batalha proferindo a sua alocução.

Finda a alocução do sr. Leonel Batalha proferiu uma alocução em chinês sobre Camões, o professor primário chinês, sr. Hong Hin Seng.

MBI II-45 15JUN55 10 de Junho-Camões (II)Hong Hin Seng, professor primário chinês proferindo a sua alocução.
Na tribuna à direita, o governador, Almirante Joaquim Marques Esparteiro, ladeado pelo Comissário da Mocidade Portuguesa, Intendente José Peile da Costa Pereira e pelo representante do Leal Senado , Dr. José Marcos Batalha

MBI II-45 15JUN55 10 de Junho-Camões (III)Quatro filiados da Mocidade Portuguesa, empunhando os estandartes da organização, prestaram «Guarda de Honra» ao busto do Poeta , durante a cerimónia pública.

Seguidamente, os filiados da Mocidade Portuguesa e as representações dos estabelecimentos escolares desfilaram perante o busto do poeta, junto do qual, à medida que iam passando, deixavam lindos ramos de flores naturais.

MBI II-45 15JUN55 10 de Junho-Camões (IV)Estudantes das escolas portuguesas e chinesas desfilando perante o busto de Luís de Camões

Reportagem de «Macau. Bol. Inf.,1955, »

MOSAICO I-1, 1950 CAPAA revista mensal “Mosaico” era o porta-voz (órgão) do “Circulo Cultural de Macau” (C. C. M.), instituição criada em 5 de Agosto de 1950, pela Portaria  n.º 4808 do Governo da Província. A publicação era mensal, trilingue (português, chinês e inglês).
O primeiro número da revista tinha como director da secção portuguesa e editor, o Dr. José Marcos Batalha (licenciado em Medicina) mas em virtude de ter sido nomeado médico do Quadro dos Serviços de Saúde da Colónia de Macau, o Dr. Batalha foi abrangido pela determinação da Lei da Imprensa para as Colónias que então proibia, expressamente, os funcionários públicos de dirigirem qualquer periódico. Por este motivo, embora continuasse, como sócio do C.C.M. e colaborador da revista, foi substituído nas funções de Director da secção portuguesa, editor e também de Chefe da Secção de Imprensa, pelo Dr. António Nolasco da Silva (licenciado em Direito).
O director da secção inglesa era Maria R. Casimiro, e da secção chinesa, Luís Gonzaga Gomes. Por se tratar da sua apresentação, o primeiro número da revista tem 130 páginas mas o número seria reduzido a cerca dois terços nos números seguintes.
A redacção estava na Av. da República n. 4 e a revista era composta e impressa na Tipografia Soi Sang , no Pátio da Cabaia  n.º 15.
O 1.º número foi publicado em Setembro de 1950 e o último n.º 83-85, abrangendo Julho, Agosto e Setembro de 1957.

MOSAICO I-1, 1950 CONTRACAPACONTRA-CAPA

A tomada de posse dos primeiros  Corpos Gerentes do Círculo Cultural de Macau, para o ano de 1950, foi no dia 1 de Setembro de 1950, no Gabinete do palácio do Governo, à Praia Grande.

MOSAICO I-1, 1950 Tomada de posseO  Governador Presidente-Honorário do C. C. M., no uso da palavra na tomada de posse.

MOSAICO I-1, 1950 Corpos Gerentes de 1950

MOSAICO I-1, 1950 Corpos Gerentes de 1950 (II)Hernâni Anjos num artigo neste primeiro número “O que é o Círculo Cultural de Macau” (pp. 21-31)
“… Instituído em Macau, por Macau e para Macau, principalmente, o C.C.M. é um organismo que se destina, como é natural, aos macaenses, e, a par deles, a todos os portugueses, oriundos de qualquer parte do Império que, em Macau, com carácter definitivo ou temporário, fixem a sua residência. Há nesse organismo, também, idêntico lugar para indivíduos estrangeiros, ingleses e chineses, de preferência, o que não implica a não-admissão de cidadãos de qualquer nacionalidade, tudo única e exclusivamente no sentido de servir os fins para que o C. C. M. foi criado…

MOSAICO I-1, 1950 Condições de Assinatura

A cerimónia da entrega do soldo de Santo António, realizada no dia 18 de Junho de 1955, (1) revestiu-se de especial significado militar, em homenagem ao «Capitão da Cidade», patente que foi dada, em Macau, ao Santo Taumaturgo.(2)
O comandante Militar , coronel Rui Pereira da Cunha e sua esposa, o Chefe do estado maior, major José Alberty Correia e a Comissão Administrativa do Leal Senado, representada pelo Vice -Presidente Dr. José Marcos Batalha, pelo secretário Sr. Veríssimo do Rosário, pelo Tesoureiro, Sr. Mário de Barros Pereira, entregou ao Pároco , Rev. Cónego Manuel Pinto Basaloco, à porta da igreja, a importância de $ 1.200,00, soldo simbólico anual do «Capitão da Cidade»
Esta cerimónia que inicialmente se revestia de maior importância, pois o pároco descia até à porta da igreja de capa magna e debaixo do pálio, foi restaurada novamente em 1951,  quando era pároco interino, o Rev Padre Benjamin Pires Videira, S. J. (3)

No dia 19, realizaram-se missas celebradas desde o alvorecer e missa solene, cantada bem como para as cerimónias da tarde. Procissão presidida (4) pelo Bispo de Macau, Ex.º Rev. mo, D. Policarpo da Costa Vaz” (5)

Segundo Leonel Barros (6), “o dinheiro recolhido pelo pároco era depositado no cofre do “Pão dos Pobres”, obra de beneficiência que, durante muitos anos, teve a seu cargo a distribuição de arroz e esmola por mais de duas centenas de pobres da freguesia de Santo António, no primeiro sábado de cada mês. A cerimónia decorria no adro da Igreja de Santo António, com toda a pompa e circunstância. Durante o acto, via-se grande número de paroquianos, bem como muitos oficiais do Exército, trajando a rigor, um pelotão de soldados armados e corneteiros comandados por um sargento, com o fim de prestar “homenagem de ordenança” ao santo. No momento da chegada dos representantes do Leal Senado, ouvia-se o toque de sentido, seguindo de repiques dos sinos da igreja.A entrega do soldo ao páraco era executada no altar onde se encontra a imagem de Santo António. Após a entrega do cheque, a retirada do sacerdote era assinalada solenemente por novo toque de sentido pelos corneteiros de serviço”
António Rodrigues Baptista no seu livro ” A Última Nau – Estudos  de Macau” (7) refere o seguinte:
“Frisemos que Santo António em Macau, como noutras partes da diáspora lusitana, tem sido considerado o “capitão” da cidade tendo-lhe por isso, até sido atribuído um soldo anual conforme nos dão conta diversos documentos. Desta feita, pelo que a Macau concerne, consta que o Nosso Santo foi alistado como soldado em 1623, ano em que veio de Goa para Macau o primeiro presídio militar, com o primeiro Governador, D. Francisco de Mascarenhas. Em 1780, ter-lhe-á sido suspenso tal soldo; mas, três anos depois, ou seja, em 17 de Setembro de 1783, o Senado mandou-lhe pagar os atrasados, promovendo-o nessa altura a “Capitão”. O montante do salário tem variado com os anos….(…) Em 1975, o Leal Senado pagou 6 mil patacas de soldo anual a Santo António e que, em 1995, o Presidente do Leal Senado entregou 40 mil patacas ao “Santo Capitão”  do Município de Macau.
O Pão dos Pobres foi instituído em 1903, por diligências do pároco de então Dr. António José Gomes. Os benfeitores contavam-se tanto em Macau como em Hong Kong, Xangai e Cantão, principalmente. Digamos ainda que os primeiros vinte e oito anos desta instituição, isto é, de 1903 até 1930, O Pão dos Pobres distribuiu em Macau o elevado número de 7 374 picos de arroz. Em 1931 matava a fome a 200 famílias com a distribuição mensal de 22 picos de arroz, ou seja, se não erramos 1 342 quilos de arroz por mês.”
 
Na nave principal da Igreja de Santo António está colocada uma estátua do St. António com o Menino Jesus ao colo
 
(1) Anualmente e até 1999 (ano da transferência da soberania de Macau para a China) , esta cerimónia (interrompida durante alguns anos e restaurada  em 1951) era habitualmente realizada no dia 13 de Junho (data da festa de S. António) – desconheço porque nesse ano (1955) foi no dia 18 de Junho.
(2) Taumaturgo = o que faz milagres. Santo António é um santo “militar” e “Capitão” de Exército Português. A cerimónia em que o Presidente do Leal Senado lhe entregava o soldo remonta como soldado desde 1623 e como capitão desde 1780,  segundo Leonel Barros:
“soldado em Macau desde que houve presídio (1623) e Capitão da Cidade desde 1780, por decisão do Leal Senado” (6)
(3) Nesse ano, 1955, o Padre Benjamin Videira Pires era  capelão militar nesta Província.
(4) A imagem do Santo era levada em procissão ao redor da Igreja de Santo António até ao Largo de Camões.
(5) Macau, Boletim Quinzenal, Ano II, n.º 46
(6) BARROS, Leonel in JTM 14 JUN 2009
               http://www.jtm.com.mo/view.asp?dT=318202002
(7) BAPTISTA; António Rodrigues – A última nau: estudos de Macau. Macau: Edição do Autor, 2000, 382 p., 23 cm.
Citado por Jorge Rangel in JTM de 11 -JUN 2007:
               http://www.jtm.com.mo/view.asp?dT=248302004