Archives for posts with tag: José Gomes da Silva
Extraído de «O Correio de Macau», Vol. I -13, 21 de Janeiro de 1883, p. 60

Para os festejos de gala para celebração do IV Centenário do Descobrimento do Caminho Marítimo para a Índia por Vasco da Gama, (1498 -1898) que começou a 17 de Maio de 1898, em Macau, estavam programados para o dia 20 de Maio – feriado no território – o Te-Deum na Sé Catedral, a abertura solene da Avenida Vasco da Gama, (1) o lançamento da 1.ª pedra para o monumento a Vasco da Gama (2) no Jardim do mesmo nome (3)  e a publicação de um jornal ilustrado que se chamou “Jornal Único” (4).
Este jornal foi publicada sob a direcção de uma subcomissão composta pelo comendador António Joaquim Basto, conselheiro Arthur Tamagnini da Motta Barbosa, Dr. José Gomes da Silva, Dr. Horácio Poiares, Eduardo Cyrillo Lourenço. Pedro Nolasco da Silva e João Pereira Vasco.
O Presidente da comissão executiva da celebração em Macau do IV Centenário do Descobrimento do Caminho Marítimo para a Índia por Vasco da Gama, (1498 -1898), foi o Conselheiro Eduardo Augusto Rodrigues Galhardo (governador de Macau)
Sumário dos artigos publicados e seus autores:
1 – Glorificar os heroes da Pátria comemorando os seus altos, é honrar a mesma Pátria – Eduardo Augusto Rodrigues Galhard
2 – 8 de Julho de 1497 – 20 de Maio de 1498 – José, Bispo de Macau (D. José Manuel de Carvalho)
3 – A Caminho da Índia – João Pereira Vasco. Tradução para chinês por Pedro Nolasco da Silva
4 – Praia Grande – António Joaquim Basto
5 – S. Gabriel – sonetos -Camilo Pessanha (5)
6 – O Centenário em Macau – José Gomes da Silva
7 – Portugal – Macau – Wenceslau de Moraes
8 – O edifício do Leal Senado – António Joaquim Basto
9 – O assalto do Passaleão – E. A. Marques
10 – Hontem, hoje e amanhã – G. S.
11 – Na China, conto pueril – Horácio Poiares
12 – Currente calamo – Mário B. de Lima
13 – Avenida Vasco da Gama – Augusto Cezar d´Abreu
14 – A Vasco da Gama – soneto – J. L. Marques
15 – Querer é poder – Domingos M. Amaral
16 – Sé Catedral – Arthur Tamagnini Motta Barbosa
17 – Cam Pau Sai – Abeillard Gomes da Silva
18 – A gruta de Camões –G. S.
19 – A Voz da Infância – Anna Caldas
20 – Fachada do antigo convento de S. Paulo – António Joaquim Basto
21 – Pharol da Guia – Eduardo Cyrillo Lourenço
22 – O patois de Macau – Pedro Nolasco da Silva
23 – O pagode da Barra – António Joaquim Basto
24- A Porta do Cerco – Arthur Tamagnini Barbosa
25 – O Porto Interior de Macau – A. Talone da Costa e Silva

Projecto do Monumento a Vasco da Gama

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/avenida-vasco-da-gama/
(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/monumento-a-vasco-da-gama/
(3) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jardim-de-vasco-da-gama/
(4) O “Jornal Único” publicou-se, num único número, no dia 20 de Maio de 1898, com óptima apresentação e interessante colaboração, em comemoração do 4. º Centenário do Descobrimento do Caminho Marítimo para a Índia por vasco da Gama (GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954)
Impresso nas Tipografia « N. T. Fernandes e Filhos» e «Noronha & Ca», 1898, 65 p.
Disponível para leitura em:
http://purl.pt/32511
(5) Dois poemas inéditos de Camilo Pessanha publicadas na revista Contemporânea, 3.ª Série, n.º1, de Maio de 1926.
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/01/24/poesia-dois-sonetos-ineditos-de-camillo-pessanha/

O Chefe dos Serviços de Saúde, Dr. José Gomes da Silva, no seu Relatório de 1886, informava que “a raposa, vulpes hoole sin, (1) muito semelhante à que que se encontra em Portugal, tem sido caçada na própria península de Macau”
Na China (como na Europa) a raposa (2) é conhecida pela sua esperteza e por isso, conseguir viver por muitos anos. Além disso, transforma-se numa mulher quando atingisse a idade de 50 anos, numa rapariga jovem e bonita quando atingisse cem anos e depois aos mil anos, tornar-se-ia numa raposa celestial, mas muitas poucas raposas conseguem atingir este estadio.
(1) O «Vulpes vulpes hoole” é uma subespécie de mamíferos carnívoros da família “canidae, subespécie que se encontra no sul da China.
https://es.wikipedia.org/wiki/Vulpes_vulpes_hoole
(2) 狐狸 – mandarim pīnyīn: hú lí; cantonense jyutping: wu4 lei4
WILLIAMS Charles Alfred Speed – Chinese Symbolism and Art Motifs – A Comprehensive Handbook on Symbolism in Chinese Art Through the Ages. Fourth Revised Edition:
https://books.google.pt/books?id=xwnRAgAAQBAJ&pg=PT244&lpg=PT244&dq=vulpes+hoole+sin

Foi inaugurado no dia 28 de Setembro de 1894, o Liceu Nacional de Macau criado pelo decreto de 27 de Julho de 1893 (assinado pelo Ministro da Marinha, João António de Brissac das Neves Ferreira), instalado no Convento de Santo Agostinho com uma simples visita do Governador Horta e Costa. Não se realizou nenhuma solenidade por a família real se encontrar de luto. Estiveram presentes na inauguração os professores do Seminário e da Escola Central  (1)
Portaria n.º 92, de 14 de Abril de 1894: «Tendo sido posta em vigor na província por portaria provincial n.º 89 desta data a carta de lei de 27 de Julho de 1893 que criou o Lyceu Nacional de Macau: Hei por conveniente determinar que o edifício do extincto convento de Santo Agostinho seja entregue ao reitor do mesmo Lyceu para alli serem devidamente instalados os estabelecimentos criados pela citada carta de lei»

Convento de Santo Agostinho – o primeiro edifício que albergou o Liceu em Macau

Segundo Pedro Nolasco da Silva, o primeiro a solicitar do Governo da Metrópole a criação do liceu foi D. António Joaquim Medeiros, bispo de Macau. O Liceu era sustentado pelo Governo, mas recebeu para a sua criação de um subsídio do cofre municipal, atribuído pela vereação do
Leal Senado de 1893-1894, no valor de $ 4 000 anuais para a manutenção do ensino. Teve apoio também da Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (subsídio anual de 500 mil reis)
O Regulamento foi aprovado pelo Governador José Maria de Sousa Horta e Costa  por Portaria n.º 164, de 14-08-1894.
No dia 16 de Abril de 1894, no palácio do governo de Macau, foi conferido auto de posse aos seguintes professores:
1.ª cadeira – língua e literatura portuguesa – Horácio Poiares
2.ª cadeira – língua francesa –Mateus de Lima
3.ª cadeira – língua inglesa – P.e Baltazar Estrócio Faleiro
4.ª cadeira – língua latina – João Albino Ribeiro Cabral
5.ª cadeira  – matemática elementar – Wenceslau de Morias
6.ª cadeira – física, química e história natural – Dr. José Gomes da Silva
7.ª cadeira – geografia e história – João Pereira Vasco – tomou posse a 14-05-1894
8.ª cadeira – filosofia elementar – Camilo Pessanha
9.ª cadeira – desenho – Abreu Nunes
O reitor interino foi Dr. José Gomes da Silva.
No mesmo dia e local se fez a primeira reunião do Conselho Escolar, numa das salas do palácio (posta à disposição pelo Governador. Nessa sessão foi resolvido por unanimidade a eleição de Camilo Pessanha como Secretário do Conselho.
Começou apenas com 30 alunos.
O porteiro – Francisco Xavier Brandão
O contínuo – Clementino José Borges
Guarda da Biblioteca – Damião Maximiano Rodrigues (2)
(1) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954.
(2) Informações retiradas do livro TEIXEIRA, Monsenhor Manuel – Liceu de Macau, 1986.

Não podia deixar passar também uma notícia deste dia, 1 de Setembro de 1887, relacionada a um edifício histórico -VILA BRANCA – que não sei se vai fazer parte do plano de destruição para futura construção de um novo edifício que irá servir de Bloco Hospitalar destinado às doenças infecto-contagiosas do Centro Hospitalar Conde de S. Januário. De certeza serão demolidos (ou já estarão ?) os edifícios que foram o  Pavilhão de Isolamento e a Farmácia do Hospital de S. Januário – e assim se vão perdendo os lugares de outrora com passado histórico.
01-09-1887 – Pedido feito pelo Chefe de Saúde desta Colónia, Dr. José Gomes da Silva, de aforamento de um terreno junto ao planalto do Hospital de S. Januário para construção duma casa de habitação (1)

ÁLBUM 2005 - Antiga farmácia do Hospital S. JanuárioFoto de 2005 – edifício da antiga farmácia do Hospital S. Januário (traseiras)

VILA BRANCA situa-se na  vertente Sul da Colina de S. Januário onde estão (ou estavam) edificados os pavilhões de isolamento e a farmácia do Hospital de S. Januário, entre o hospital e a Estrada Nova.
A  Vila Branca era a residência do Dr. José Gomes da Silva, que deu à sua casa o nome de sua esposa.
Gomes da Silva nasceu no Porto  em  1853  sendo filho de Joaquim Gomes da Silva e de Ana Rosa Gomes da Silva. Casou com Branca Chaves nascida em Bordeaux, França, em 1851, sendo filha de João José Lopes e de Casimira Esperança Douguel Branca. Formou-se na Escola Médica do Porto.
O Dr Gomes da Silva faleceu na Vila Branca, no posto de coronel-médico, a 1 de Novembro de 1905, (2) com 52 anos de idade, 22 dos quais passados  em Macau, sendo chefe do Serviço de Saúde desde 1884; foi ele também o 1.º reitor do Liceu de Macau, inaugurado no extinto convento de S. Agostinho a 28 de Setembro de 1894. Sua esposa, Branca Chaves Gomes da Silva, faleceu na Vila Branca a 9 de Dezembro de 1895, com 44 anos de idade, deixando 11 filhos.
O Dr. Gomes da Silva foi também, botânico, músico, jornalista e professor além do liceu, no Seminário
A  vila Branca foi comprada pelo Governo em 1917, por ocasião da epidemia da varíola para isolamento dos variolosos; em 1919, foi lá instalado o serviço de parturientes e puérperas.” (3)
NOTA: Foi dada o nome de «Rua de Gomes da Silva», à rua que começa na Rua da Erva, entre os prédios n.º 29 e 31, e termina na Rua de João de Araújo, entre os prédios n.ºs 22 e 24.

UN de Macau no ano XIV da Revolução -1940 Pavilhão do IsolamentoFoto de 1940 – edifício do Pavilhão de Isolamento (frente e parede lateral direita) do Hospital S. Januário

O edifício do antigo pavilhão de isolamento e o edifício da  farmácia do Hospital de S. Januário, entre o hospital e a Estrada Nova foram restaurados para servir de residência de médicos. Posteriormente à frente do antigo Pavilhão de Isolamento construíram o chamado “Edifício Residencial dos Médicos” dentro do projecto do então novo Centro Hospitalar da década de 80 (século XX).  Na data desta fotografia (1998) estava a residir no primeiro andar, o médico pediatra Dr. Jorge Humberto e família; no rés-do-chão (trás) o médico dermatologista e Director dos Serviços de Saúde, Dr. Larguito Claro e família e no rés-do-chão esquerdo (à direita na foto) estava a sede da Associação dos Médicos de Clínica Geral de Macau (A. M. C. G.M.)

Vila Branca - 1998Foto de  1998 – edifício do antigo pavilhão de isolamento (frente e parede lateral esquerda) do Hospital S. Januário

(1) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 3, 1995.
(2) Na sessão de 11 de Novembro de 1905 do Conselho Escolar do Liceu, o reitor Dr. Manuel da Silva Mendes «pediu que se exarasse na acta um voto de sentimento pelo fallecimento do sr. dr. José Gomes da Silva, que foi reitor e professor deste lyceu durante o estabelecimento delle nesta colónia, pedindo mais que se desse conhecimento do sentir de todo o conselho à família do finado»
(3) TEIXEIRA, Pe. Manuel – Toponímia de Macau, Volume II, 1997 .

Liceu Macau - Pe. Teixeira IInauguração do complexo Escolar denominado Liceu de Macau que era constituída por duas escolas: a Escola Secundária do Infante D. Henrique  e a Escola Preparatória do Dr. José Gomes da Silva.
Ocupava uma área de 18000 m2 numa zona de aterros do Porto Exterior, vizinha ao então Forum do Território.
NAM VAN n.º 21 - 1986 Liceu de Macau IEste edifício (1) foi projectado em 1978, com início das obras  2 de  Setembro de 1982 e foi inaugurado pelo governador Contra-Almirante Almeida e Costa a 4 de Janeiro de 1986. O autor do projecto foi o arquitecto Tomás Taveira.

Liceu Macau - Pe. Teixeira IIPlaca comemorativa de inauguração do Complexo Escolar, denominado Liceu de Macau

O Liceu ocupa uma área de 18.000 m2, dos quais 8.000 m2 foram destinados à construção do edifício. Uma ampla zona de espaços exteriores permitiu a criação de vários campos desportivos, de zonas para convívio e pátios interiores para os alunos utilizarem no dias de mau tempo.
NAM VAN n.º 21 - 1986 Liceu de Macau IINo último piso funciona o Centro Pedagógico-Didáctico (C.A.P.D.), cujo objectivo principal é, como a sua própria designação indica, o apoio pedagógico e didáctico aos docentes do Liceu e aos das escolas particulares do Território. A televisão educativa é também um das sua principais componentes.
Do Liceu de Macau faz parte um Auditório com capacidade para 450 lugares, concebido para a realização de seminários, encontros, palestras, peças teatrais, etc. A Biblioteca, cujo espólio documental é, na sua maior parte, composto por documentos que idos das antigas instalações, foi devidamente equipada, quer em meios humanos, quer em meios materiais para permitir o seu cabal funcionamento.
Possuiu, também, o Liceu de Macau salas específicas apetrechadas com material moderno, havendo a destacar a sala de informática, que conta com 24 terminais, laboratórios de línguas, laboratório de ciências naturais, laboratórios de física e de química, sala de música, sala de audiovisuais, etc. . Para a prática da natação dotou-se o Liceu de uma magnífica piscina, cujas águas podem ser aquecidas no Inverno.” (2)

Liceu Macau - Pe. Teixeira VO primeiro edifício – Convento de St.º Agostinho que albergou o Liceu de Macau aquando da sua inauguração em 1894

“O projecto regulando a instrução secundária em Macau foi aprovado  a 30 de Junho de 1893, com a criação do Liceu Nacional de Macau. Foi inaugurado com 31 alunos a 28 de Setembro de 1894, ficando instalado no convento St.º Agostinho, antigo quartel da extinta Guarda Policial, ficando reitor o dr. José Gomes da Silva.

Liceu Macau - Pe. Teixeira IIIColégio dos Órfãos, depois Asilo das Inválidas, onde funcionou o Liceu de 1924 a 1956

Certo dia ruiu o convento, passando o liceu para um casarão entre a Praia Grande e o Leal Senado; dali passou para o hotel Bela Vista, daqui para o edifício da Avenida Conselheiro de Almeida (antigo Colégio dos Órfãos e depois Asilo das Inválidas) –  actualmente designado Edifício do Instituto Cultural – donde foi transferido para edifício próprio do Porto Exterior, entre as Avenidas Dr. Oliveira Salazar (hoje, Avenida da Amizade) e Infante D. Henrique

Liceu Macau - Pe. Teixeira IVO edifício do Liceu Nacional Infante D. Henrique na Avenida da Amizade (1956-1986)

e em 1986 para novo edifício do Porto Exterior (2)
(1)  Actualmente o edifício está integrado no conjunto de construções que  constituem o chamado Campus do Instituto Politécnico de Macau, (澳門理工學院) – instituição pública de ensino superior – cuja entrada principal é na Rua de Luís Gonzaga Gomes.
(2) TEIXEIRA, Monsenhor Manuel – Liceu de Macau. Direcção dos Serviços de Educação, 1983, 578 p.+ anexos.
Sobre o Liceu, anteriores referências em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/liceu-de-macau/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/liceu-nacional-infante-d-henrique/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/liceu-centralnacional-de-macau/
Fotos retirados de (2) e revista «Nam Van», 1986.

FILATELIA -LXXV Aniversário LNIDH 1969

Em 1969, esta data foi dia de lançamento do envelope (16,5 cm x 10,5cm) e carimbo comemorativos do 75.º Aniversário do Liceu Nacional Infante D. Henrique /Exposição Biográfica, Bibliográfica e Filatélica.

Os selos de 10 avos (tambor 1548) e 15 avos (soldado com montante 1548) são de uma colecção anterior a esta data: Uniformes Militares do Exército (8 selos com motivos uniformes utilizados pelo exército português em missão de serviço em Macau, nos anos de 1548 a 1904), emitidos em 1966 (Portaria 22141 de 31 de Julho).

Nesse ano de 1969, em que se celebrava o Jubileu de Diamante do Liceu (1), além da cerimónia oficial, realizaram-se várias actividades ao longo do ano nomeadamente as exposições biográfica, bibliográfica e filatélica.

O Liceu Nacional de Macau aprovado pelo Governo da metrópole a 30 de Junho de 1893, foi inaugurado com 31 alunos (30 alunos, segundo o mesmo autor na reedição do livro, em 1986) (2) a 28 de Setembro de 1894 ficando instalado no convento de Sto. Agostinho, antigo quartel da extinta Guarda Policial, ficando reitor o Dr. José Gomes da Silva.

Nos dias 10 e 11 de Setembro, fizeram-se os exames de admissão ao liceu, a que concorreram os alunos de várias escolas de Macau.

Tomaram posse das respectivas cadeiras, em 16 do mesmo mês, os seguintes professores:

  • O bacharel Horácio Afonso da Silva Poiares
  • O engenheiro civil Mateus António de Lima,
  • O bacharel Camilo de Almeida Pessanha
  • O cónego Baltasar Estrócio Faleiro
  • O tesoureiro-geral João Albino Ribeiro Cabral
  • O imediato da Capitania do porto, capitão-de-fragata Wenceslau de José de Sousa Morais
  • O chefe do Serviço de Saúde, Dr. José Gomes da Silva
  • O director das Obras Públicas, major de engenharia Augusto César de Abreu Nunes. (2)

Certo dia ruiu o Convento, passando o liceu para um casarão entre a Praia Grande e o Leal Senado; dali passou para o hotel Bela Vista, depois para o edifício da Avenida Conselheiro Ferreira de Almeida, donde foi transferido para o edifício próprio construído no Porto Exterior (Liceu Nacional Infante D. Henrique) entre a antiga Avenida Dr. Oliveira Salazar e a de Infante D. Henrique (1) (demolido posteriormente, após construção do novo edifício, nos aterros do Z.A.P.E.) O novo complexo escolar, denominado Liceu de Macau,  foi inaugurado em 4 de Janeiro de 1986.

(1) TEIXEIRA, P. Manuel – Liceu Nacional Infante D. Henrique, Jubileu de Diamante (1894-1969). Macau, 1969, 291 p.
(2) TEIXEIRA, Monsenhor Manuel – Liceu de Macau. Direcção dos Serviços de Educação, 1986, 377 p. +|10|

Vindo de Hong Kong com tropas portuguesas em trânsito, chegou à Baía de Cacilhas no dia 16 de Agosto de 1888, o transporte de guerra “Índia”, tendo-se declarado a bordo «cólera morbus”(1), contraída na colónia britânica.
De 20 de Agosto a 9 de Setembro fez-se um cordão sanitário com centro de operações na Guia, para isolar aquela zona.
O responsável Major José dos Santos Vaquinhas, inspector de incêndios, acabou por ser contagiado e morreu, na sequência de complicações de ordem cerebral e apesar do seu caso ser inicialmente de cólera benigna.
Montaram-se lazaretos improvisados junto à Fonte dA Solidão, na Ilha Verde, na Taipa, e naturalmente em Cacilhas.(2)
Os lazaretos em Cacilhas, junto à Fonte de Solidão eram para os doentes mais graves, tendo ali morrido 32 empestados, curando-se 74; na Ilha Verde, a Casa de Campo do Seminário foi transformada em lazareto, a cargo do Dr. Augusto Tovar de Lemos;  a Igreja de N. Srª do Carmo da Taipa foi cedida para o mesmo fim. As vítimas foram sepultadas na Horta dos Mouros, junto ao Ramal dos Mouros.(3)
Por este motivo a zona da Horta dos Mouros e Mesquita dos Mouros, adjacente veio a estar interdita ao culto por 5 anos, durante os quais a comunidade muçulmana utilizou um terreno perto da Capitania dos Portos onde edificou, com um subsídio de 400 patacas concedido pelo Governo, uma Mesquita provisória.(2)
O combate à epidemia foi dirigida pelo Coronel, Dr. José Gomes da Silva, Chefe dos Serviços de Saúde. Quando declarou a doença «localizada e dominada», fez um relatório pormenorizado da epidemia, com o nome dos falecidos, publicado em Boletim Oficial – 1988, pp. 327-338.
Distinguiram-se, pela sua abnegada entrega as madres canossianas Teresina (Maria Teresa Lucian) (4) e Joana Biancardi. Ambas foram condecoradas pelo Governo Português, a 30 de Julho de 1897. (2)

(1) A cólera morbus (ou cólera asiática) é uma doença causada pelo vibrião colérico (Vibrio cholerae), que se multiplica rapidamente no intestino humano (o reservatório do vibrião é exclusivamente humano) produzindo uma potente toxina que provoca diarreia intensa. A sua transmissão é diretamente dos dejectos fecais de doentes por ingestão oral, principalmente em água contaminada. Embora existisse de forma endémica desde a antiguidade, na parte oriental da Índia e Bangladesh (delta do Rio Ganges), as grandes epidemias (as primeiras para África e Ásia e depois para todo o mundo) foram no século XIX, após 1820.
Em Macau já em 1862 teve uma epidemia, após ter passado por vários portos da China, tendo sido atacados indivíduos, entre chineses e portugueses, com 106 mortos.(2)
O cirurgião-mór da cidade, Dr. Lúcio Augusto da Silva, fez nesse ano, uma descrição desta doença no “Relatório Sobre a Epidemia de Cólera-Morbus em Macau
(2) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XIX, Volume 3. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, Macau, 1995, 467 p (ISBN 972-8091-10-9).
(3) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume II Rua com Nomes de Pessoas. Instituto Cultural de Macau, 1997, 667 p. ISBN 972-35-0244-5
(4) Foi dado o seu nome a uma rua de Macau: Rua da Madre Terezina: começa na Av. Do Coronel Mesquita e termina na Estrada de Fernão Mendes Pinto. A Madre Maria Teresa Lucian (1845 -1909), italiana, veio para Macau em 1869 e nomeada em 1878 superiora da nova Casa de Beneficência, no Largo de Camões (demolida em 1981). Em 1896, foi eleita superiora da Comunidade Canossiana de Macau (quando esta se separou da de Hong Kong)
Segundo Padre Teixeira (3) ao receber a medalha de prata em 1907, a Madre Lucian teria comentado «Se em vez duma medalha, me dessem um hábito novo, ser-me-ia mais útil». Baptizou por suas mãos mais de 15 000 crianças.

NOTA FINAL: Destacou-se também nessa epidemia de cólera em Macau, o médico João Jacques Floriano Álvares (Goa, 1819 – Macau, São Lourenço, 1885) e por isso foi condecorado com o grau de Cavaleiro da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, pelos serviços prestados durante a epidemia.
Médico pela Escola Médico-Cirúrgica de Goa (Carta de 11 de Junho de 1849), Físico da Guarda Policial de Macau e Cirurgião-Ajudante e depois Cirurgião-Mor do Batalhão Nacional de Macau (1872).
Casou em Macau, na Sé, a 7 de Junho de 1853 com Ana Maria Brandão Gomes (1833 – Macau, São Lourenço, 1912)  , uma macaense, com linhagem goesa, de quem teve doze filhos e filhas.
FORJAZ, Jorge – Famílias Macaenses, Vols I e II. Fundação Oriente, 1.ª Edição, 1996.

Transcrevo uma pequena parte referente aos “Macaenses” do “RELATÓRIO DO SERVIÇO DE SAÚDE DA PROVÍNCIA DE MACAU E TIMOR RELATIVO AO ANO de 1886” do Dr. Gomes da Silva (1)
 
Sob o ponto de vista etnológico, os habitantes de Macau podem ser divididos em três grandes grupos: europeus, chinas e mestiços.
O primeiro grupo subdivide-se em: europeus propriamente ditos ou nascidos na Europa; descendentes de europeus por sucessão directa sem cruzamento de raça, mas nascidos em Macau.
O segundo grupo compreende: os chinas propriamente ditos; conservando a feição característica dos seus hábitos, costumes e religião originais ; os chinas europeizados ou tendo adoptado os nossos costumes, religião e hábitos.
O terceiro grupo é formado pelos mestiços ou descendentes do cruzamento das raças branca e amarela. A subdivisão deste grupo seria talvez importante, havendo como há, em Macau tanta mistura de sangue europeu, sínico e malaio, em proporções diversíssimas.
As causas do erro, porém, a que seria fatalmente sujeita essa subdivisão, levam-me o reunir num só grupo , sob a designação de mestiços, todos os descendentes do cruzamento das famílias latina e sínica, sem ou com a intervenção do elemento malaio.
Quanto aos europeus propriamente ditos, são funcionários públicos, civis, militares e eclesiásticos e uns raros comerciantes estrangeiros. Todos eles conservam os costumes pátrios com uma ligeira adaptação ao meio.
Quanto aos europeus descendentes, são raros. O europeu, que aqui casa com uma europeia, regressa ao pátrio lar, depois de terminados os seus anos de serviço, sem aqui se estabelecer nem colonizar. É que, para um metropolitano se radicar aqui, seria preciso que o prendessem interesses locais. Ora sendo ele funcionário público e sendo-lhe, por isso, vedado o comércio nada tem a prendê-lo. Terminado a sua missão desfaz a tenda  e regressa.
Quanto aos chinas propriamente ditos, conservam os seus usos e costumes, respeitam as nossas leis sem as adoptarem e só as conveniências de ordem material os levam a acolher-se à sombra da bandeira.
Uma percentagem mínima é católica sem, por isso, deitar pela janela fora as tradições pátrias no vestido, na culinária, na mentalidade, em tudo.
Quanto aos chinas europeizados, são os que transportados para o nosso meio identificam-se com ele, europeizando-se. estes, porém, são avis rara in gurgite vasto.
Se tivessemos de avaliar os productos afastados da mistura do sangue latino com o sangue sínico pela actual população indígena de Macau, pouco favoráveis seriam as conclusões a tirar de tais dados. A parte válida, robusta e útil dos filhos da terra acha-se dispersa por vários portos do Oriente, Singapura, Sião, Xangai, Yokohama e, sobretudo, Hong Kong, onde constitui em número a segunda colónia estrangeira sendo a primeira a chinesa.”

 (1) José Gomes da Silva (Porto, 1853 – Macau, 1905)
Coronel médico, formado pela Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Jornalista, escritor e
botânico. Colocado em Macau como “Facultativo de 2.ª classe do Quadro dos Serviços de Saúde de Macau e Timor“. Chefe dos Serviços de Saúde de Macau, foi o primeiro reitor do Liceu de Macau, nomeado em 24 de Março de 1894 (foi também professor de Física, de Química e de História Natural.
Em 1892, presidiu à secção histórico-cultural de Macau e de Timor, na Comissão Organizadora da Exposição Colonial que se realizou no Palácio de Cristal, no Porto
Autor de vários livros sobre Timor e Macau. De Macau, destacam-se:
Catálogo de Plantas de Macau e Timor”, 1887; (2)
Relatório da Epidemia da Cólera-Morbus a bordo do Transporte Índia e nos Lazaretos de Macau“, 1988
Relatório do Serviço de Saúde da Província de Macau e Timor em relação ao ano de 1886“;
Relatório da  epidemia de Peste Bubónica em Macau“, 1895 (3)
A República de Macau – História Amena”, 1896;
(2) Exemplares botânicos enviados pelo Dr. Gomes da Silva encontram-se Universidade de Coimbra (envio datado de Macau, 3 de Janeiro de 1887.
Sobre a flora de Macau e Timor, pode-se consultar o trabalho de Paulo Emílio Cavique Santos em:
http://purl.pt/915/1/cd1/ta000/Ta046.pdf
(3) Sobre “Relatório – A Epidemia de Peste Bubónica em Macau“, consultar
http://macauantigo.blogspot.pt/2012_06_01_archive.html
NOTA: mais informações sobre este distinto médico, ver artigo de António Aresta in
http://www.jtm.com.mo/view.asp?dT=357202001