Transcrevo algumas chapas (1) com assuntos “curiosos” do «Registo em portuguez das Chapas remetidas às autoridades chinezas, pelo Procurador de Macao, sendo este o morador José Baptista Miranda e Lima» (2)
CHAPA I – Chapa de resposta ao M. Cso-tam sobre as escavações no mato da Penha
“Eu o Procurador & respondendo à Chapa do Snr M. Cso-tam sobre as escavaçoens no matto da Penha, sou a dizer-lhe q. examinando eu o motivo das d.as escavaçoens , vim no conhecimt.º , de q. apenas se tem applainado o lugar onde hé prezentemt.e Semiterio de Christaons, cercando-o com pandões (3) para evitar, q. os caens ali entrem, e revolvão as sepulturas. O que partecipo ao Snr. M. para sua intelligencia.
Macáo 28 de Janr.º de 1833 – Lima”
CHAPA II – Chapa ao M. de Hiam-xan sobre a divida de Fonkua com C.A. Pacheco
“Eu o Procurador & faço saber ao Snr M. de Hiam-xan, q. havendo o anno passado, meu Antecessor feito varias chapas sobre a divida do China Fonkua com Cypriano Ant.º Pacheco não tem havido athé agora resposta deciziva sobre aquella divida, motivo por q. requeiro p.r esta a sua decizão; e q. mande entregar Botica ao d.º Pacheco, visto q. a divida excede o dobro do vallor da d.ª Botica
Macáo 2 de Abril de 1833 – Lima”
CHAPA III – Chapa ao M. Cso-tam sobre a divida de Fonkua a C. A. Pacheco
“Eu o Procurador & faço saber ao M. Sr M. Cao-tam, q. p.ª accabar a questão de Fonkua com C. Ant.º Pacheco, se sirva mandar ao d.º Pacheco a botica de Fonkua p.r conta de toda a divida, q. este tem com aquelle.
Mácao 22 de Agosto de 1833 – Lima”
(1) O termo “Chapas” ou “Chapas sínicas” significa ofícios ou ordens (registos) escritos pelos mandarins que eram enviados pelas autoridades chinesas às autoridades macaenses (nomeadamente ao Procurador) durante a Dinastia Qing (1693-1886) e vice-versa
(2) «MOSAICO», Vol. VIII, n.º 47-49, 1954.
(3) pandões – paredões ?
Livro do Padre Manuel Teixeira, publicado em 1942, (1) preparado no rescaldo das celebrações festivas dos Centenários da Fundação e Restauração, 1940. Justifica o autor na Introdução:
Ressoam ainda aos nossos ouvidos os ecos das festas centenárias, em que comemorámos o oitavo centenário da fundação da nossa nacionalidade (1140) e o terceiro centenário da restauração (1640), após 60 longos anos de sujeição ao domínio castelhano…(…)
A avaliar pelo filme “Documentário da Exposição Histórica da Ocupação do Século XIX“, exibido nesta cidade no Ano Áureo Português de 1940 (11 e 12 de Maio) a resposta parece que deveria ser negativa, pois que Macau não figurava nesse aliás interessante Documentário. E, no entanto, Macau pode orgulhar-se de ter também os seus heróis que, pela sua virtude, bravura, ciência, arte e entranhado patriotismo , honraram Portugal nestas remotas paragens do Extremo Oriente…”
Estão biografados 16 ilustres macaenses:
José Baptista de Miranda e Lima (1782-1848)
Francisco José de Paiva (1801-1849)
Guilherme José Dias Pegado (1801-1885)
João Rodrigues Gonçalves (1810-1885)
José Martinho Marques (1810-1867)
Lourenço Caetano Cortela Marques (1811-1902)
Vicente Nicolau de Mesquita (1818-1880)
António Alexandrino de Melo (1837-1885)
Pedro Nolasco da Silva (1842-1912)
José Augusto Ferreira da Veiga (1838-1903)
António Joaquim Bastos (1848-1912) (2)
Leôncio Alfredo Ferreira ( 1849-1920)
Alfredo Pereira (1815-19..) (3)
João Feliciano Marques Pereira (1863-1909)
Vitor Hugo de Azevedo Coutinho (1871 – ….) (4)
José Tomaz de Aquino (1804-1852)
Dos biografados há os que embora nascendo em Macau, nunca exerceram a sua profissão em Macau ou viveram pouco tempo em Macau, nomeadamente:
Vitor Hugo de Azevedo Coutinho, filho de Manuel de Azevedo Coutinho e Leonor Stuart Mendonça de Azevedo Coutinho (comissão em Macau comandante de artilharia e de material de guerra. nomeação do governador José Maria da Ponte e Horta (1866 a 1868. Antes tinha sido escolhido pelo governador Januário Correia de Almeida, (1872 a 1874) na escolha de armamento e artilharia para a defesa do território dirigindo a montagem da bateria da artilharia Conde de S. Januário. Terá regressado a Europa em 1890 onde assentou praça na Armada Portuguesa, sendo admitido como aspirante em 5 de Novembro de 1888. Concluído o curso da Escola Naval, foi promovido a guarda-marinha em 1892, iniciando uma carreira militar naval multifacetada até 1933 – quadro de reserva em 1933 no posto de capitão de mar e guerra. Professor da Universidade de Coimbra e da Escola Naval. Político ligado ao Partido Democrático, exerceu as funções de Ministro da Marinha em 1914-1915. Presidente do Ministério de um dos governos da Primeira República Portuguesa, tendo governado entre 12 de Dezembro de 1914 e 25 de Janeiro de 1915. Novamente Ministro da Marinha em 1915-1917 e pela terceira vez (1922-1923)
Alfredo Pereira, filho de Manuel Pereira e Guilhermina Pereira, aos 6 anos de idade veio para Lisboa onde estudou para engenheiro agrónomo-silvicultor. Ingressou nos C.T.T. em 1875; em 1881 nomeado professor do Curso Prático de Correios e Telégrafos, Inspector-Geral em 1886 e Administrador Geral dos Correios e Telégrafos em 1900. Secretário interino do Ministério das Obras Públicas Político do Partido Regenerador Deputado eleito pelo círculo de Penafiel.
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira Volume 21.
José Augusto Ferreira da Veiga, 1.º visconde de Arneiro concedido por el-rei D. Luiz em 1870, oficial da ordem de S. Tiago, importante proprietário e de Joana Ulmann Veiga. Matriculou-se na Universidade de Coimbra em 1855 e bacharel em Direito em 1859. Deputado por Sabugal 1861 a 1864. Estudou música em Lisboa.
Reprodução do logótipo dos “Centenários da Fundação e da Restauração” em Macau, na 1.ª página
(1) TEIXEIRA, P. Manuel – Galeria de Macaenses Ilustres do Século XIX. Imprensa Nacional, Macau, 1942, 659 p.
(2) Filho de António Joaquim da Costa Basto (1823-1889) que foi baptizado com o apelido «Bastos», mas usou sempre a versão «Basto» que transmitiu definitivamente aos seus descendentes (FORJAZ, Jorge – Famílias Macaenses, Volume I, 1996)
(3) O Padre Teixeira refere ignorar a data do seu falecimento. Terá falecido a 29 de Março de 1925 segundo:
http://toponimiaparatotos.blogspot.pt/2011/07/ruas-com-historia-alfredo-pereira.html
(4) O Padre Teixeira não refere, mas faleceu em 27 de Junho de 1955, em Lisboa segundo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Victor_Hugo_de_Azevedo_Coutinho
No dia 23-02-1837, tomou posse do cargo de Governador e Capitão-Geral de Macau, o major de infantaria, Adrião Acácio da Silveira Pinto, nomeado em 4 de Março de 1836 (1) (2)
O Governador e Capitão-Geral Adrião Acácio da Silveira Pinto que governou Macau até 1843 (3) teve uma governação atribulada e difícil pois durante o seu governo, teve de lidar com o problema do ópio na China que já vinha desde 1832, com a proibição do ópio em Cantão (4), a proibição da importação e tráfico do ópio pela China em 1834 (5), a queima de ópio publicamente em Cantão em 1835 (6), a proibição do comércio do ópio pela China em 1838 (7), terminando com a chamada “I Guerra do Ópio”, em 1839. (8)
“Barrier Wall, Macao” (1844)
“The barrier on the land bridge separating Macao from China is viewed here from a British encampment in Macao, with British warships to the left and Chinese war junks close to the barrier on the right.”
http://ocw.mit.edu/ans7870/21f/21f.027/opium_wars_01/ow1_essay03.html
A sua governação foi um constante equilíbrio diplomático entre a ingerência e imposição pela força dos ingleses em Macau (9), expulsão dos súbditos britânicos da China (10) e a necessidade de manter a neutralidade neste conflito com os mandarins de Cantão. (11) Em 1838, assiste-se em Macau ao enforcamento por ordem dos mandarins, do chinês Kuo Si Peng por ter sido apanhado em flagrante delito a vender ópio. (12)
Foi deste Governador a ideia de demolir o Convento e Igreja de S. Francisco, para edificar um palacete residencial para si, tendo o Leal Senado pronunciado contra essa ideia. (13)
Adrião Acácio da Silveira Pinto, após sido substituído por José Gregório Pegado foi por este indicado e depois nomeado em 10 de Outubro de 1843, embaixador de Portugal para tratar com os plenipotenciários chineses sobre o estabelecimento de Macau. (14)
Faleceu em Lisboa a 23 de Março de 1868, no posto de marechal de campo. (1)
Macau, vista da Praia Grande, ca. 1840, guache em papel
Museu Peabody Essex Foto de Jeffrey R. Dykes 2007
http://ocw.mit.edu/ans7870/21f/21f.027/rise_fall_canton_04/cw_gal_01_thumb.html
(1) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954.
(2) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 3, 1995).
(3) 03-10-1843 ou 04-10-1843 (autores consultados): “tomou posse do governo o Chefe da Divisão da Armada José Gregório Pegado, que foi nomeado, em 14 de Dezembro de 1843. Durante o seu governo, iniciou-se a ocupação da ilha da Taipa, depois de uma memorável visita de cortesia ao vice-rei Ki-Yin, alto comissário de Cantão que prometeu «fechar os olhos» ao nosso estabelecimento na mencionada ilha”. José Gregório Pegado faleceu em Aden no seu regresso a Portugal em 1846 tendo embarcado em Macau em 28 de Maio desse ano.” (1) (2)
(4) 09-02-1832 – Proibição de importação de ópio em Cantão.(2)
(5) 07-11-1834 – O Imperador Tou-Kuóng decretou a proibição do tráfico do ópio.(1)
(6) “1835- Queima de ópio, publicamente, em Cantão, em frente à feitoria europeia, como prova de desagrado da China. Mais tarde (1838-1839) são também ali executados contrabandistas de ópio chineses...”(2)
(7) 1838 – A China proíbe o comércio do ópio.(1)
(8) 03-11-1839 – Data geralmente apontada para o início da I Guerra do Ópio (1839-1842).(2)
(9) “12-07-1838 – Chegou a Macau num navio de guerra o Almirante Maitland com instruções para proteger o comércio inglês”. (2)
“28-04-1839 – Governador Silveira Pinto escreve ao Comandante Blake, agradecendo mas recusando a oferta inglesa de ajuda para defesa da cidade, proposta por ofício da véspera“. (2)
“01-09-1839 – O capitão Charles Elliot que chega a Macau em 26-05-1839, propõe que os ingleses regressem a Macau, pondo à disposição do Governador Silveira Pinto o navio de guerra inglês «Volage» e mais de 800 homens para cooperarem na defesa da Cidade”.(2)
(10) “22-03-1839– o Capitão Elliot pede ao Governador de Macau protecção para os súbditos britânicos: o Governador Silveira Pinto consentiu mas exceptuou todos os que estivessem envolvidos no tráfico do ópio.”(2)
“13-04-1839 – O Superintendente do Comércio Britânico na China, Charles Elliot, perante a ordem de expulsão que recebeu, avisou os súbditos britânicos, em nome de Sua Majestade a Rainha de Inglaterra para, encontrando-se em águas chineses, se porem «imediatamente sob o comando de S. S.ª o Governador de Macau para a defesa dos Direitos de Sua Majestade Fidelíssima, e para a geral protecção das vidas, propriedades e liberdades de todos os súbditos dos Governos Cristãos que frequentam aquele Estabelecimento.”(2)
“12-09-1839 – Elliot pede licença ao Governador Silveira Pinto para que os negociantes ingleses se refugiassem em Macau e propõe-lhe que este porto se tornasse no centro do comércio inglês, mas Pinto recusa.“(2)
“23-01-1840 – Os súbitos britânicos expulsos da China desembarcam e passam a viver em Macau, o que desencadeou a reacção das autoridades chinesas, que se apresentaram, na pessoa do Tou T´oi a 31 do mesmo mês, na cidade portuguesa, dando um prazo de 5 dias para a limpar dos ingleses. O Governador Adrião Acácio da Silveira Pinto reuniu com o Senado e, na sequência da correspondência trocada com o Comandante H. Smith, da corveta «Hyacinth», este acabou por retirar, o mesmo fazendo as forças chinesas estacionadas junto do Templo da Barra. Macau procurou, como em tantas outras vezes estribar-se na neutralidade ... “(2)
A Praia Grande vista da varanda, residência do mercador Nathan Kinsman
Quadro de Lamqua (1843)
Rise & Fall of the Canton Trade System Gallery: PLACES http://ocw.mit.edu/ans7870/21f/21f.027/rise_fall_canton_04/cw_gal_01_thumb.html
(11) “09-03-1839 – Sessão do Leal Senado em que se publica um Edital suspendendo a introdução do ópio em Macau por depósito ou para consumo. Esse Edital determina que nenhum nacional ou estrangeiro dê asilo em suas casas a chineses que, de alguma forma, estejam envolvidos no tráfico do ópio.”(2)
“10-03-1839 – Violenta crise (sentida em Macau profundamente) do comércio do ópio com a China. Por trás o Delegado Imperial, Comissário Lin, chegado a Cantão nesta data. No periódico «O Portuguez na China», publicado por Manuel Maria Dias Pegado, em Macau, iria verificar-se o claro elogio à defesa da China que Lin faria, na perspectiva evidente de se demarcar em relação aos ingleses.”(2)
“01-04-1839 – O Mandarim da Casa envia um ofício ao Procurador de Macau, José Baptista de Miranda e Lima, comunicando a ordem do delegado imperial para se entregar todo o ópio existente em Macau.”(2)
“27-04-1839 – O Mandarim da Casa Branca envia um ofício ao Procurador dando um prazo de três dias para lhe ser entregue o ópio existente nas casas dos Portugueses em Macau, pois, caso contrário o porto seria fechado” (2)
(12) “05-04-1838 – Foi enforcado em Macau por ordem dos mandarins o chinês Kuo Si Peng por ter sido apanhado em flagrante delito a vender ópio“(1)
(13) “05-02-1842 – O Leal Senado reunido em sessão, pronuncia-se contra a ideia de demolir o Convento e Igreja de S. Francisco, que tem contígua a ela um «Campo Santo de Pública devoção. A demolição veio a fazer-se, mas não para edificar um palacete residencial para o Governador Adrião Acácio da Silveira Pinto, que andava desde 1839 a diligenciar nesse sentido.“(2)
(14) “27-10-1843 – O ex Governador Adrião Acácio da Silveira Pinto, que fora nomeado pelo Governador José Gregório Pegado, em sessão do Senado de 10 de Outubro, para tratar com os comissários chineses, no sentido de se melhorarem as condições da existência política deste estabelecimento, seguiu para Cantão no brigue de guerra Tejo, do comando do Capitão-Tenente Domingos Fortunato de Vale. Agregaram-se a esta missão o Procurador da Cidade João Damasceno Coelho dos Santos e o interprete interino José Martinho Marques.”(1)
“Falecimento do professor José Baptista de Miranda e Lima, que nascera em Macau em 10 de Novembro de 1782. Foi filho de José Santos Baptista e Lima, natural da villa de Alpedriz, e da sua mulher D. Anna Pereira de Miranda, nascida em Macau – Nunca saiu d´esta cidade, e o seu nome é justamente havido por uma das glórias d´ella” (1)
José Baptista Miranda e Lima foi um poeta macaense (1782-1848) que compunha em português e em patuá num estilo marcado pela literatura neoclássica. Foi professor Régio de Gramática Portuguesa e Latina do Real Colégio de S. José (2) e Benemérito da instrução da Cidade. Autor dos poemas «Philomena Invicta», «Eustáquio Magnânimo», «Desengano», «Alectorea» ou «Poema das Gallinhas» e outras produções”
Segundo João Reis (3): “Se não foi o primeiro, tornou-se, seguramente o mais importante poeta macaense, não só pela temática substantiva dos seus trabalhos, como pela qualidade literária de uma escrita que se distinguia tanto pela fluência de um estilo incisivo, e não raro brilhante, como pela sua formação académica, da qual o léxico erudito e versátil não constitui único apanágio”
Alectorea ou Poema das Galinhas (4)
(Reprodução das 5 primeiras estâncias)
CANTO PRIMEIRO
I
A Mantuana lyra harmoniosa,
Que ainda soa a prol da Agricultura,
Entro agora a pulsar, querida Esposa,
Sentado junto a ti nesta espessura:
E vou cantar-te o gallo e o povo alado
Sobre o qual elle impera deslevado
II
Mas ainda que eu, à sombra de loureiros
Bebendo da Beotica Hippocrene,
Em vez d´esta que d´entre estes pinheiros
Da rocha fiz brotar lynfa perenne,
Com os seus doces haustos me embriagara,
A ponto que o seu Pegaso cantara
III
Cantasse o grypho, monstro fabulado,
Águia-leão com cauda de serpente,
Por guarda dos thesouros celebrado
Dos frios Seythas contra extranha gente,
Alada fera, mais sanguinolenta
Do que a Lybica yiena truculenta.
IV
Certo ao Rei das serpentes venenosas,
Que mata e morre, dizem, de quebranto,
Não darião suas asas fabulosas
Lugar entre os objectos d´este canto;
Embora filho o finjão ser do gallo,
Qual de Medusa, o aligero cavalo.
V
Dos numes vãos a sordida manada
A prol do canto meu invoco agora?
Servil imitação! Que podem? Nada,
Vénus, Dryades, Baccho, Pan, e Flora.
Invoco sim da paz o bafo ameno,
Que os versos nascem de ânimo sereno. (5)
Ver outro poema deste autor, em patuá em “POÉMA- DIÁLOGO ENTRE DOIS PACATOS NA RUA DIREITA NA NOITE DE 13 DE MAIO”
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jose-baptista-de-miranda-e-lima/
(1) PEREIRA, António Feliciano Marques – Ephemerides Commemorativas da História de Macau.
(2) Foi suspenso do lugar por suspeita de ser miguelista e quando depois de alguns anos foi reintegrado, os desgostos já tinham minado a sua saúde, e morreu pouco depois.
(3) REIS, João C. – Trovas Macaenses. Mar-Oceano Editora, Macau, 1992, 485 p. + |9 |
(4) “Alectorea” é uma palavra derivada das palavras gregas Alector e Alectoris, que significam galo e galinha. Este poema consta de 4 cantos, tendo 233 estâncias e 14 folhas de anotações.
(5) TEIXEIRA, P. Manuel – Galeria de Macaenses Ilustres do Século XIX. Macau, 1942, 659 p.
NENE……. E…….CHICO
N. Bonote [1] Chico, qui nova?[2]
Tudo banda luminado[3]
Nom basta de andá cansado,
Inda quente
C. Caranguejo stá contente;
Com que gosto, com que brio,
Cada qual com sua pavio[4]
Fazê festa
N. Cuidado com nosso testa
De chintoe[5] de camarão
Se no meu de função
Sahe foguete.
C. Rancho, Rancho[6] cô vivete[7]
Cada tempo de enculido[8]
Agora já tezo, e empido[9]
Como gente.
N. São sussesso de repente,
Caranguejo respirá;
Aquele outro virá,
Fico frio:
Qual com cara de subio[10]
Porque já não tem remede[11]
Qual com cara de fêde[12]
Pensativo
C. São pensamento altivo,
Lembrá de perturbação,
Elle outro[13] tem Coração
Pequinino
Se não q´foi [14]perde tino[15]
Quando Fragatta já entrá
Ma rua nunca encontrará
Cara murcha[16]
N. Como tem vento na burcha[17]
Alguma vez sae sua bazofia;
Mas tudo são farofia
De Quixote
C. Que tanto[18] são deste lote,[19]
Por isso na medo nada;
Se restá algum cambada,
Stá capido.[20]
N. Emprega nosso sentido
Na paz e na sociedade;
Disfarçá tudo maldade
D´este gente.
C. Tudo nos vive contente,
Nom tem cuza[21] mais melhor
Viva El-rey Nosso Senhor
E Macau!
N. Nada já de alcunha mau;
Nunca ouvi padre pregá
E que pode negá
A verdade
C. Viva tudo este cidade
Governo, Tropa e Senado !
N. Seja tudo abençoado
AMBOS Em afião[22]
De José Baptista de Miranda e Lima (1)
(1) Poéma retirado de
TEIXEIRA, P. Manuel – Galeria de Macaenses Ilustres do Século XIX. Macau, Imprensa Nacional, 1942, 659 p.
Esta poesia foi cedida por J. Leite de Vasconcelos a J. F. Marques Pereira, que as publicou no Vol. II do Livro TA-SSI YANG KUO , p. 779, segundo
REIS, João C. – Trovas Macaenses. Mar-Oceano Editora, Macau, 1992, 485 p. + |10|
José Baptista de Miranda e Lima (Macau 1782- Macau 1848), se não foi o primeiro, tornou-se seguramente o mais importante poeta macaense. Foi professor Régio de Gramática Portuguesa e Latina do Colégio de S. José, benemérito da instrução da Cidade.