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Tal é o que em Macau se chama a Gruta de Camões” (Wenceslau de Moraes)

A Gruta de Camões em 1950

Peregrinos das sombras divididas
A desenhar os sonhos sobre as pedras
Doridas da memória, que feridas
Em bálsamo envolvemos, escondemos
Da luz amanhecida? Repartimos
O perfume dos ramos já pendentes
Em cabelos de cinza no caminho
Mais secreto, por dentro do regresso.

José Augusto Seabra , 1990

SEABRA, José Augusto – Poemas do Nome de Deus. Instituto Cultural de Macau, 1990
Anteriores referências deste poeta em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jose-augusto-seabra/

Arde o infinito
No altar de Paulo
Pelo céu aflito
A rasar as chamas
Voando num grito
Da fachada alta:
A última epístola
Lida pela alma
Da pátria. Tão tarde
Para a eternidade?

José Augusto Seabra (1)

牌坊聖迹  (2)
Ruins of St. Paul
Da colecção MACAU 澳門 LH 121

(1) SEABRA, José Augusto – Poemas do Nome de Deus. Instituto Cultural de Macau, 1990
(2)坊聖迹mandarin pīnyīn: pái fāng shèng jī; cantonense jyutping: paai43 fong1 sing3 zik 1 – tradução literal: ruínas local sagrado residência do bispo

Que porta oculta ainda franqueava
Ao vento a entrada alta para o sul,
Rasando meio céu e serenando
As vagas demoradas do crepúsculo?
Era a sombra dos passos sem pegadas
Que soava nas pedras gasta, nuas

José Augusto Seabra (1)

Porta do Cerco – 關 閘 – Border Gate
Da colecção” Postais de Macau” da Direcção dos Serviços de Turismo s/ data

(1) SEABRA, José Augusto – Poemas do Nome de Deus. Instituto Cultural de Macau, 1990.
關閘, – mandarin pinyīn: guān zhá; cantonense jyutping: gwaan1 zaap6 :

A espaldas ressoava
A ressaca
Do assédio:
Exausta
Na muralha
Errática
Do império

José Augusto Seabra (1)

POSTALSecção das Antigas Muralhas de Defesa
Foto de Kenneth Lei

Postal da colecção “Macau Património Mundial” da Associação dos Embaixadores do Património de Macau, editado por ”Create Macao Co. Limited”. Comprado em Abril de 2015 na Casa do Mandarim.
(1) SEABRA, José Augusto – Poemas do Nome de Deus. Instituto Cultural de Macau, 1990.

Nesta data, 9 de Junho de 1984, José Augusto Seabra dedicou esta poesia ao poeta Camilo Pessanha com a Glosa

«Só, incessante, um som de flauta chora»
 
Gemido de água,
Sombra dorida
De tempo ou mágoa
Esmaecida
– flauta esquecida
No som que cala
Quando se exila
A gotejar
Na clepsidra

José Augusto Seabra
Macau, 9 de Junho de 1984
Oriente, 16 de Junho de 1984 (1)

José Augusto Baptista Lopes e Seabra (1937 — 2004), licenciado em Direito pela Universidade de Lisboa, exilou-se em França., onde se doutorou em Letras pela Sorbonne. Em 1974, regressou a Portugal, onde é professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Deputado à Assembleia Constituinte e depois à Assembleia da República, exerceu as funções de Ministro de Educação entre 1983 e 1985, embaixador na UNESCO (contribuiu neste cargo o reconhecimento de Macau como Património Cultural da Humanidade), e depois em Nova Deli, Bucareste e Buenos Aires).
Poeta e ensaísta, dos livros de poesia publicados, um está relacionado com Macau. Poemas do Nome de Deus (edição bilingue traduzida por Lu Ping Yi). Instituto Cultural de Macau, 1990 (2). A “Revista de Cultura” (Nº 11-12, 1990) publicou  um ensaio de José Augusto Seabra abordando “Camilo Pessanha e as Margens do Texto”.
(1) In p. 174 – Homenagem a Camilo Pessanha (organização, prefácio e notas de Daniel Pires), IPOR, ICM, 1990,.201 p.
(2) Ver em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/03/16/macau-e-o-dragao-iii/

DO DRAGÃO

Teu dorso dorme em séculos de espera
alteando em cor os flancos de acordar
enquanto o sol soergue as suas garras
e abre por dentro a sombra da paciência
prestes a ousar o salto e a rastejar,
nas asas escrevendo  o chão sagrado
onde rebenta a última esperança.

José Augusto Seabra (1)

(1) SEABRA, José Augusto – Poemas do Nome de Deus. Instituto Cultural de Macau, 1990, 83 p., ISBN 972-35-0093-0