Neste dia, Camilo Pessanha proferiu no Grémio Militar (actualmente, Clube Militar) uma conferência sobre «Literatura Chinesa» (1)
Esta conferência intitulada «Sôbre a Literatura Chinesa» (2) foi posteriormente publicada no livro “China (Estudos e traduções)”, Capítulo VII (pp. 1103 a 112). (3)

“Exemplificando, desenhou o conferente, no quadro preto, três desses caracteres, traduzindo ideias abstractas em cuja composição entra o elemento ideográficoi, ou radical, má, significando cavalo. O primeiro –ü – significa dirigir, governar, regrar, moderar; o segundo – ts´ân – significa espontâneo, maleável, fluente (v. g., o estilo de um escritor); o terceiro – p´eng – significa companheiros, parceiros, camaradas. Mostrou como essas ideias, quando transmitidas ao espírito por esses caracteres (de outros muito dispõe a escrita chinesa para representá-klos, em diversíssimas modalidades), surgem ali concretizadas em imagens – melhor, em grupos plásticos – de que um ou mais cavalos são a principal componente: – um auriga segura na mão as longas rédeas de uma fila de cavalos fogosos, cujo ímpeto selvagem e dispersivo coordena sem esforço, para fazer voar, ao longo da pista, o seu veículo ligeiro; o estilista, senhor da língua em que escreve, e que, a seu talante, a faz curvetear, como o bom cavaleiro ao cavalo fino; finalmente, os dois camaradas, arrastando pela vida fora um destino comum, como duas azêmolas atreladas à mesma carroça.”
O livro reúne algumas obras de Camilo Pessanha que tinham sido anteriormente publicadas em jornais e revistas, nomeadamente:
I –«Introdução a um estudo sôbre a civilização chinesa», que serviu de prefácio a um livro do médico, José António Filipe de Morais Palha, “Esbôço Crítico da Civilização Chinesa”, publicado em Macau, em Maio de 1912.
II – «Macau e a Gruta de Camões», publicado no semanário “A Pátria”, em 7 de Junho de 1924.
III -« Literatura Chinesa (Prefácio à tradução das Elegias)». Publicada no jornal “O Progresso”, em Macau, de 13 de Setembro de 1914.
IV – «Oito Elegias Chinesas (tradução e notas)», publicadas, pela primeira vez, no semanário “O Progresso”, de Macau, de 13 e 20 de Setembro e 4 e 18 de Outubro de 1914 e depois republicadas (com notas explicativas e eruditas) no n.º 1 da revista “Descobrimentos” (1931 – Director: João de Castro Osório).
V – «Vozes de Outono (tradução do chinês – Dinastia Tang)», publicada ne revista “Atlântida” (ano III, n.º 27, de 15 de Janeiro de 1918.
VI – Legenda Budista (tradução do chinês).
VIII – «Sôbre Estética Chines ( Conferência) », publicada no jornal “A Verdade” de 2 de Junho de 1910.
Este livro traz ainda no Capítulo IX – «Catálogo da colecção de arte chinesa de Camilo Pessanha, hoje no Museu de «Machado de Castro», de Coimbra.» Este catálogo da autoria do próprio Camilo Pessanha, “ficará aqui indicando ao estudioso onde e como, tendo por guia a mesma superior sensibilidade que como escritor a descreveu e criticou, pode conhecer e sentir a velha civilização chinesa” (da Nota explicativa). (3)
NOTA: tenho outra edição da “China – Estudos e Traduções”, com prefácio de Daniel Pires, que foi publicada, em 1993 (2.ª edição), (Colecção Mnésis – Clássicos da Literatura Portuguesa) pela Vega , 126 p. (ISBN 972-699-387-3).

“ Neste livro que, o leitor ora tem nas mãos, China – Estudos e Traduções , todo esse devotamento a um país estranho se exprime, surpreendendo-nos de página para página. Embora sob outros ritmos, outros tons e outros brilhos, o certo é que os deparamos com o exímio autor de Clepsidra – e nos sentimos trambém irmanados, através do rigor de Pessanha de dizer só o que é, com outros mundos que existem para além da nossa casa, da nossa rua, do número da nossa porta ...” (na contracapa).

(1) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XX, Volume 4. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, 2.ª Edição, Macau, 1997, 454 p (ISBN 972-8091-11-7).
(2) Publicada no semanário “O Progresso”, de 21 de Março de 1915.
(3) PESSANHA, Camilo – China (Estudos e traduções). Agência Geral das Colónias, Lisboa, 1944, 31 p.