

“Os quatro selos postais aqui reproduzidos, comemorativos do 4.º centenário do estabelecimento dos portugueses em Macau deveriam ter sido postos a circular a 1 de Novembro de 1955. Impressos com um mínimo de cinco cores cada um, os selos apresentam quatro figuras dos mais proeminentes da história de Macau: Jorge Álvares, o primeiro português que aportou à China, em 1513; Tomé Pires, o primeiro embaixador de Portugal à China, que entrou em Pequim em 1521; Miguel de Arriaga Brum da Silveira, o destemido português a quem, em 1810, se entregou, com toda a sua esquadra, o célebre pirata Cam Pau Sai; e D Belchior Carneiro, o primeiro prelado que governou a diocese de Macau, erecta por bula de Gregório XIII, de 1575, e piedoso fundador da Santa Casa da Misericórdia de Macau. Os selos da emissão comemorativa seriam das taxas de 20, 24, 40 e 90 avos. Juntamente com os selos, seriam vendidos, no primeiro dia de circulação, um envelope especial, com desenhos coloridos, reproduzindo a chegada dos portugueses a Amagao.

Estavam programados para todo o mês de Novembro desse ano, os C.T.T. de Macau fariam apor em todas as cartas que passassem pela Estação Postal, carimbos com os seguintes dizeres:
No dia 1 – «1.º Dia – 4.º Centenário de Macau 1555-1955»
De 2 a 8 -«Macau, testemunho da secular amizade luso-chinesa – 1555-1955»
De 9 a 17 – «Macau, símbolo de paz e trabalho -1555 – 1955»
De 18 a 25 – «Macau, exemplo de patriotismo e de solidariedade humana – 1555 – 1955»
De 26 a 30 -«Macau, espelho da civilização cristã – 1555 – 1955». (1)
No entanto estes selos (autorização da emissão e circulação, em Macau publicada no B. O. n.º 43 de 22 de Outubro de 1955) nunca entraram em circulação.
A razão, segundo informações de Beatriz Basto da Silva (2):
“Os 4 selos não entram em circulação em Macau por motivos óbvios que transparecem na contra ordem de 4 de Outubro de 1955 , publicada no B. O. n.º 50 de 10 de Dezembro do mesmo ano. Algumas colecções foram enviadas como oferta a personalidades importantes, pela «Agência Geral do Ultramar». É cancelada, em 20 de Novembro de 1955, por receio a melindres, a pequena cerimónia para assinalar os quatro séculos da presença portuguesa em Macau.” (3)
Sobre este cancelamento, comenta o investigador Moisés Silva Fernandes (4):
“Graças a pressões públicas e particularidades exercidas por círculos nacionalistas macaenses, a administração portuguesa de Macau, foi persuadida a comemorar o 4.º centenário de Macau, em Novembro de 1955. A China não reagiu bem às comemorações e fez saber a nível particular e em público o seu desagrado. Zhou En Lai interviu pessoalmente na matéria e a administração portuguesa viu-se na necessidade de cancelar as comemorações para evitar a deterioração da situação política”
(1) Macau Boletim Informativo, n.º 51, 1955
(2) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Século XX, Volume 5. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, Macau, 1998, 320 p., ISBN 972-8091-64-8
(3) NOTA: o Leal Senado, em sessão camarária, tinha resolvido convidar os cidadãos honorários de Macau para assistir a essas comemorações do IV Centenário do estabelecimento dos portugueses em Macau, encarregando-se o mesmo Leal Senado das despesas de hospedagem durante a estadia daquelas individualidades: comandante Manuel Maria Sarmento Rodrigues, antigo ministro do ultramar, Comandante Gabriel Teixeira e Albano Rodrigues de Oliveira, antigos Governadores de Macau, Dr. José Caetano Soares, antigo médico municipal de Macau e Jorge Grave Leite, antigo Presidente do Leal Senado de Macau.
(4) FERNANDES, Moisés Silva – Sinopse de Macau nas Relações Luso-Chinesas, 1945-1995: Cronologia e Documentos. Fundação Oriente, Lisboa, 2000, 849 p. + |Documentos LIX|