“Cartas do Extremo Oriente», livro de António da Santa Clara publicado em 1938, pela Livraria Editora (Lisboa) com Parceria António Maria Pereira. (1)
Impressão de viagem que o jovem oficial português António da Santa Clara realizou de Marselha a Hong Kong na década de 20 (séc. XX) com destino a Macau.
O autor classifica –o como um “Romance que não chegou a ser escrito; na minha tenda – Ac. Sa – Ilha de Coloane” (2) na página 7 (Capítulo I)
António de Santa Clara que foi para Macau como ajudante do Governador, dedicou o livro (pág. 5):
“A João Pereira Barbosa,
com admiração pela maneiracomo governou Macau (3)
pp. 4-5
Índice p. 231
(1) SANTA CLARA, António de – Cartas do Extremo Oriente. Parceria António Maria Pereira/Livraria Editora, Lisboa, 1938, 230 p. + |1|, 18,5 cm x 12 cm x 2,3 cm. Exemplar com manchas de humidade nas capas e muitas das primeiras folhas.
(2) Aldeia de Hac Sá/Praia de Hac Sá na Ilha de Coloane (Macau)
(3) O Governador era João Pereira Barbosa. Foi nomeado Governador interino em 4 de Janeiro de 1936 (exoneração do governador António José Bernardes de Miranda) e cessou funções a 24 de Dezembro de 1936., com a nomeação do Governador A. Tamagnini Barbosa (B.O. n.º 51)
O Dr. João Pereira Barbosa seguiu depois para Goa onde foi Director dos Serviços de Administração Civil. (4)
“Aliás conta-se que Pedro José Lobo, braço direito de todos os governadores do seu tempo excepto de um… precisamente do Governador João Pereira Barbosa, que o mandou prender e acabou talvez por isso, … por ser “demitido”. Recorda-se também que foi nesse ano de 1936 que a importação do ópio cru e sua posterior preparação foi colocada sob o exclusivo do Governo de Macau, fechando-se o licenciamento para mais fumatórios de ópio no Território.” (5)
(4) ”Enquanto não chegou o titular, ficou como Encarregado do Governo o Major de Engenharia António Joaquim Ferreira da Silva Júnior (B. O. n.º 15 de 10 de Abril de 1937). (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume III, 2015, p. 255.)
(5) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Século XX, Volume 4. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, Macau, 1997, 454 p. ISBN-972-8091-11-7
O Boletim Oficial do Governo da Colonia de Macau n.º 1 de 4 de Janeiro de 1936 (p. 4) publicava o despacho da Direcção Geral dos Serviços Centrais, de 2 de Dezembro de 1935, em que exonerava, a seu pedido, o governador da colónia de Macau António José Bernardes de Miranda. (1)
«BOGCM» n.º 1 de 4 de Janeiro de 1936, p. 4
O Boletim Oficial do Governo da Colonia de Macau n.º 7 de 15 de Fevereiro de 1936 (p. 180) publicava o despacho da Direcção Geral de Administração Política e Civil, de 16 de Janeiro de 1936, em que foi nomeado em 28 de Dezembro de 1935 o bacharel João Pereira Barbosa governador interino de Macau. (2)
«BOGCM», n.º 7 de 15 de Fevereiro de 1936, p.180
O mesmo Boletim no seu n.º 9, de 29 de Fevereiro (p. 216) publicava a tomada de posse do cargo de Governador interino, em 27 de Fevereiro, do bacharel João Pereira Barbosa.
«BOGCM», n.º 9 de 29 de Fevereiro de 1936, p. 216.
(1) António José Bernardes de Miranda, foi governador de 21 de Junho de 1932 a 4 de Janeiro de 1936. Residiu no Palácio da Praia Grande, entregando o Palacete de Santa Sancha ao seu secretário. A 19 de Setembro de 1935 o Governador deixou o cargo, embarcando no dia seguinte para Lisboa. (3)
«BOGCM», n.º 50 de 14 de Dezembro de 1935, p. 1469
(2) Nomeado por Decreto de 28 de Dezembro de 1935, governador interino, por vacatura do lugar, João Pereira Barbosa esteve neste cargo de 29 de Fevereiro de 1936 a 19 de Dezembro deste ano. No seu tempo foi inaugurado o reservatório do Porto Exterior. Teve a seu cargo acudir a reedificação depois dos estragos do tufão de 17 de Agosto de 1936 e viu reabrir, no fim do ano o Hotel Boa Vista com a denominação de Bela Vista. Embora nomeado governador a 19 de Dezembro de 1936, Artur Tamagnini Barbosa (pela 3.º vez) somente assumiu no território esse cargo a 11 de Abril de 1937. Assim, de 19 de Dezembro de 1936 a 10 de Abril de 1937, António Joaquim Ferreira da Silva Júnior e depois João Pinto Crisóstomo estiveram como encarregados do Governo.
«BOGCM», n.º 52 de 26 de Dezembro de 1936, p. 1133
(3) SILVA, Beatriz Basto – Cronologia da História de Macau, Volume III, 2015, pp. 237, 246 e 250
Por iniciativa do Padre Francisco Xavier Rôndina, S. J. (1) efectou-se a 3 de Abril de 1864, uma quermesse no teatro D. Pedro V, em benefício dos órfãos do Seminário de S. José. Este mesmo jesuíta que veio para Macau em 1862, para ensinar e dirigir o Seminário de S. José, (2) era um defensor dos direitos humanos, denunciando os problemas sociais dos mais pobres e desfavorecidos, e promovendo os meios para sustentar os asilados nomeadamente os órfãos.
Mas só em 1900 por iniciativa do Provedor da Santa Casa de Misericórdia Pedro Nolasco da Silva (1842-1912) surgiu o “Asilo dos Órfãos” instalado no Tap Seac, mas que por razões económicas em 1918, foi extinta. (3) (4)
Em 1933, a “Associação protectora dos jovens pobres e órfãos”, que tinha o edifício alugado denominado «Novo Asilo dos Órfãos» na Travessa dos Santos n.º 2, encomendou a construção de um edifício próprio que seria denominado “Asilo dos Orfãos”. (5)
«Boletim Geral das Colónias», XII, n.º 134/135, Agosto/Setembro de 1936, pp.181
Para efectivação desta grande obra de beneficência, para angariação de fundos para a sua concretização, em Macau, Abril de 1936, (6) foi impresso e distribuído um “jornal” de 16 páginas (número único) onde se apresenta:
– Uma mensagem do Governador interino, Dr. João Pereira Barbosa
– Um “ante-projecto, para mostrar o partido tomado e em que ainda não há uma preocupação de detalhe”, elaborado por Keil Amaral, (7) acompanhado de uma “descrição do projectado para construção de um edifício na Rua da Horta da Companhia, (8) a pedido da Associação protectora dos jovens pobres e órfãos”, assinado pelo mesmo arquitecto.
– Um artigo intitulado “Querer É Poder”, história resumida do Asilo dos Órfãos até então, por Luís Nolasco (Macau, 18 de Março de 1936) (9)
Com desenho/projecto na 1.ª página da “Fachada principal do novo edifício do Asilo dos Pobres e Órfãos de Macau”
Planta do 1.º pavimento
Planta do 2.º pavimento
Planta da cave
Mensagem manuscrita do governador interino, Dr. João Pereira Barbosa de 8 de Abril de 1936.
NOTA – Apesar de ter havido lançamento da primeira pedra do edifico, em 23 de Junho de 1936, com projecto do arquitecto Keil do Amaral, na Rua de Horta e Companhia, não consta ter havido concretização desta obra pois não encontro nas minhas pesquisas, até hoje, qualquer informação sobre a inauguração ou trabalhos realizados nessa mesma rua e também porque os «Anuários de Macau» de 1938 (p. 442) e 1940/41 (p. 462) referirem uma nova morada para o Asilo dos Órfãos, na «Vila Flora». Acrescenta-se o facto de, em 13 de Fevereiro de 1924, num terreno denominado Horta da Companhia, doado à Irmandade da Misericórdia de Macau pelo Governo da Província, ter sido construído um edifício destinado para Asilo dos Inválidos, (10)
(1) 08-06-1862 – Chegaram a Macau os Padres jesuítas Xavier Rôndina (1827-1897) e José Joaquim de Fonseca Matos, os primeiros professores do reaberto Seminário. O Padre Francesco Saverio Rondina nasceu em Itália e aos 15 anos de idade ingressa na Companhia de Jesus e faz o seu noviciado em Roma. É enviado para Macau, tendo residido primeiramente, em Portugal entre 1859 e 1862, em Lisboa, no colégio de Campolide onde obteve a autorização régia para ensinar em Portugal, e posteriormente em Macau. Em 1862, passa pela ilha de Sanchoão, onde encontrou aí, a primeira sepultura de S. Francisco Xavier, que restaurou. Padre Rondina, depois de ter dirigido o Colégio de S. José em Macau de 1862 a 1871, devido à ordem que veio de Lisboa (os professores do Seminário teriam de ser obrigatoriamente de nacionalidade portuguesa e a aqueles que não cumpriam este requisito teriam de abandonar o território), abandona Macau com alguns colegas jesuítas e dirige-se para o Rio de Janeiro, onde permanecerá durante algum tempo mas, por motivos de saúde, regressa finalmente a Itália, em 1882. Nesse ano, quando conhece a obra educativa de S. João Bosco, sob a inspiração e nome de S. Francisco de Sales – os Salesianos – propôs a ida destes para Macau. D. João Paulino Azevedo (1902-1918) dá sequência à instalação dos salesianos em Macau, em 1906. (10)
Sobre a biografia e obra do Padre Rondina , aconselho leitura de: ARESTA, António – Cinco Figuras do Diálogo Luso-Chinês em Macau em file:///C:/Users/ASUS/Downloads/06-Cinco%20figuras__Antonio%20Aresta873-894.pdf
(2) TEIXEIRA, Padre Manuel – O Teatro D. Pedro V, 1971, p. 31.
(3) “1900 – Sendo Provedor da Santa Casa de Misericórdia Pedro Nolasco da Silva criou este grande vulto macaense o Asilo dos Órfãos, que ficou a cargo da mesma Santa Casa e instalado em edifício próprio, ao Tap Seac (hoje sede do Instituto Cultural do Governo da RAEM). A instituição foi extinta por medidas económicas em 1918, tendo recolhido e educado ao todo 182 rapazes, alguns dos quais atingiram lugares importantes dentro e fora de Macau. (10)
(4) “Havia antigamente o Asilo dos Órfãos da Santa Casa da Misericordia de Macau, instalado no edifício que a mesma Santa Casa propositadamente mandou construir ao Tap Seac e onde hoje funciona o liceu nacional. Um provedor, porém, em hora infeliz de confissão de incompetência e de comodismo propôs, e conseguiu, a sua extinção. Ficou, então, aberta uma lacuna na obra de assistência pública de Macau.” (Luis Nolasco) (6)
(5) “06-01-1933 – Foi inaugurado a 6 de Janeiro de 1933, o «Novo Asilo dos Órfãos», sob o patrocínio da «Associação Pública de Protecção aos jovens Pobres e Órfãos», alimentada com cotas mensais, sessões de animatógrafo e outras representações de benefício. Faltava um prédio adequado, porque o 1.º, ao Tap Seac, passou a ser o Liceu Central de Macau. Com a ajuda de muitas almas boas, entre elas o arquitecto Keil do Amaral e o Dr. Gustavo Nolasco da Silva (11), impulsionados por Pedro Paulo Ângelo, (12) o Asilo foi instalado na Travessa dos Santos n.º 2 e encontrou quem lhe permitisse continuar (10) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/01/06/noticia-de-06-de-janeiro-de-1933-novo-asilo-dos-orfaos/
(6) “O Asilo dos Orfãos”, jornal, número único, de Abril de 1936,Macau.
“ABRIL DE 1936 – Publicado um Jornal do Asilo com o título de “O Asilo dos Orfãos”, Número Único, com a história e o projeto de construção do edifício destinado a esta obra de assistência; ainda instalado na Travessa dos Santos, ali se utilizou a política de self-supporting-concern, com oficinas de tipografia e encadernação e professores (e material) concedidos pela Comissão Administrativa de Município, por proposta do Tenente Guedes Pinto. O projecto foi feito gratuitamente pelo arquitecto Keil do Amaral, sendo-lhe destinado um espaço cedido gratuitamente por diligência do Governador Interino, Dr. João Pereira Barbosa.” (10)
(7) Francisco Caetano Keil Coelho do Amaral (1910 — 1975) foi um arquiteto português ligado ao Modernismo, com destaque ao longo dos anos de 1940 e 1950, com responsabilidade projectual de importantes obras públicas, como por exemplo, Aeroporto de Lisboa, Feira das Indústrias de Lisboa, Parque Florestal de Monsanto, Lisboa etc. Completa o curso de Arquitetura da Escola de Belas Artes de Lisboa e a primeira obra é de 1934 (Instituto Pasteur, Porto). Este projecto para Macau terá sido um dos primeiros trabalhos encomendados (não consta na sua biografia) já que só em 1936, é referenciado o concurso para o Pavilhão de Portugal na Feira Universal de Paris, onde esteve durante 1 ano para acompanhar a construção do pavilhão. (https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Keil_do_Amaral)
(8) A Rua de Horta da Companhia, em 1969, foi redenominada Rua de D. Belchior Carneiro (actual designação) nas comemorações dos 400 anos da chagada a Macau do Bispo D. Melchior.
(9) Dr Luís Gonzaga Nolasco da Silva (1881-1954; filho de Pedro Nolasco da Silva) foi presidente do Asilo dos Órfãos de 1933 (Travessa dos Santos, n.º 2) a 1938/1939 (Vila Flor) (Directório de Macau, 1933, p. 518 e Anuário de Macau, 1938, p. 442) (https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/luis-gonzaga-nolasco-da-silva/)
(10) (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, 2015, Volume II, p. 338; Volume III, pp. 161, 230,239, 251, 283)
(12) 14-07-1931- O Sr. Pedro Paulo Ângelo, fazendo parte da Mesa Directora da Sta. Casa, inicia uma subscrição pública para reerguer o Asilo dos Orfãos, instituição onde crescera e sustentada pela Santa Casa da Misericórdia até 1918 quando foi fechado por medidas económicas. Em 13 de Agosto de 1931, os Estatutos foram aprovados pela Portaria n.º 936 do Governo de Macau. Com a subscrição e mais algumas achegas finais, adquiriu-se uma soma de 10 mil patacas.” (10)
No dia 2 de Abril de 1936, veio a bordo da canhoneira «Falmouth», (1) em visita oficial, o Vice-Almirante Charles Little (2), Comandante-Chefe da esquadra Inglesa na China (3)
Foi recebido pelo Governador interino, João Pereira Barbosa (29-02-1936 a 19-12-1936) (4) (1) HMS FALMOUTH (L 34) – corveta da marinha inglesa (1.060 tons, 250 x 34 ft, 2-4in.) Construído e lançado a 27 de Outubro de 1932, foi colocado ao serviço naval do comandante-em-chefe da estação da China. Em Setembro de 1939, fazia o patrulhamento na área de Hong Kong, interceptando navios inimigos. Como o navio não estava equipado com armamento adequado, foi entre Outubro e Dezembro especialmente modificado para a Guerra do Pacífico, instalando equipamento para detecção de submarinos. Em Março de 1940 foi colocado na base naval de Singapura e depois durante a guerra missões no Golfo Pérsico.
Após a guerra, foi readaptado para o transporte civiil https://www.naval-history.net/xGM-Chrono-18SL-HMS_Falmouth.htm https://www.naval-history.net/Photo18slFalmouth1PS.JPG
Vice-Almirante Charles Little em 1937
(2), Sir Charles James Colebrooke Little (1882 – 1973) ao serviço da marinha inglesa de 1897 a 1945, participou na I Guerra Mundial e foi nomeado em 1936, Comandante-Chefe da esquadra Inglesa na Estação da China. Em 1938 nomeado “Second Sea Lord and Chief of Naval Personnel”. Durante a II Grande Guerra, tornou-se “Head of British Joint Staff Mission” em Washington D. C. em 1941. Nomeado Comandante-Chefe em Portsmouth em 1942. Aposentou-se em 1945. https://en.wikipedia.org/wiki/Charles_Little_(Royal_Navy_officer)
(3) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 4, 1997.
(4) O Governador António José Bernardes de Miranda foi exonerado a 4 de janeiro de 1936 (governação de 21-06-1932 a 04-01-1936) e em 29 de Fevereiro desse ano foi nomeado Governador interino João Pereira Barbosa que ficou até 19 de Dezembro de 1936, data em que foi nomeado o novo Governador Artur Tamagnini Barbosa No entanto o governador Tamagnini Barbosa só tomaria posse a 11 de Abril de 1937 pelo que nesse intervalo 19-12-1936 a 11-04-1937, ficou encarregado do governo, António Joaquim Ferreira da Silva Júnior e João Pinto Crisóstomo.
O Dr. João Pereira Barbosa findo a comissão em Macau foi nomeado Director dos Serviços de Administração Civil, em Goa.
Extraído do «Portugal Colonial», n.º 31 Setembro de 1933 O Governador era António José Bernardes de Miranda, de 21 de Junho de 1932 a 4 de Janeiro de 1936. (1) De 29 de Fevereiro de 1936 a 19 de Dezembro desse ano esteve como governador interino, João Pereira Barbosa. Embora nomeado governador a 19 de Dezembro de 1936, Artur Tamagnini Barbosa (pela 3.º vez) somente assumiu no território esse cargo a 11 de Abril de 1937. Assim, de 19 de Dezembro de 1936 a 10 de Abril de 1937, António Joaquim Ferreira da Silva Júnior e depois João Pinto Crisóstomo estiveram como encarregados do Governo.(SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 4, 1977)
(1) Outras fontes para a data de exoneração: segundo informação na revista “Portugal Colonial ”n.º 55/56 de Setembro/Outubro de 1935 : E na mesma revista, n.º 58 de Dezembro de 1935:
“Eis o que se passou ontem. Lei Man, um amigo meu, encontro-me sentado a uma das mesas do «dancing». Sentou-se também e comunicou-me que desejava apresentar-me a uns amigos de Cantão que tinham grande interesse em conhecer o ajudante do governador. Convinha um sítio recatado, fora das vistas do público. Lai Man, com a fisionomia mais calma do mundo – nunca o vi alterar-se – expôs ràpidamente a a natureza do negócio, sem deixar de olhar distraídamente os pares que dançavam, pelo meio da sala. Os seus amigos eram capitalistas que tinham explorado o jôgo em Cantão; com a proibição de se continuar ali o negócio, vinham a Macau para aqui se estabelecerem. Queriam que o jôgo lhes fôsse dado sem ir à praça e ofereciam uma avultada renda. Saímos; e fomos ao tal sítio recatado onde nos esperavam. Uma viela estreita e uma casa sombria. era de facto o que Lei Man tinha dito. Ofereciam a renda de um milhão e oitocentos mil dolares anuais, depositavam a caução respectiva e dava-me duzentos mil dolares – e apenas duzentos mil …- se eu conseguisse, junto do Governador (1) que o jôgo lhes fôsse imediatamente entregue, dispensando-se a praça, e perguntaram-me quanto pensava eu que deveriam oferecer ao Governador. A cêna foi apenas esta: nada mais lhe acrescentarei para a deixar aqui tôda a sua magnífica nudez.” (2)
(1) O Governador era João Pereira Barbosa. Foi nomeado Governador interino em 4 de Janeiro de 1936 e cessou funções a 24 de Dezembro de 1936. O Dr. João Pereira Barbosa seguiu depois para Goa onde foi Director dos Serviços de Administração Civil. Aliás conta-se que Pedro José Lobo, braço direito de todos os governadores do seu tempo excepto de um… precisamente do Governador João Pereira Barbosa, que o mandou prender e acabou talvez por isso, … por ser “demitido”. Recorda-se também que foi nesse ano de 1936 que a importação do ópio cru e sua posterior preparação foi colocada sob o exclusivo do Governo de Macau, fechando-se o licenciamento para mais fumatórios de ópio no Território (3) (2) SANTA CLARA, António de – Cartas do Extremo Oriente. Parceria António Maria Pereira/Livraria Editora, Lisboa, 1938, 230 p. + |1|, 19 cm x 12 cm.
António de Santa Clara que foi para Macau como ajudante do Governador, dedicou o livro: “A João Pereira Barbosa, com admiração pela maneira como governou Macau”
(3) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Século XX, Volume 4. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, Macau, 1997, 454 p. ISBN-972-8091-11-7