Archives for posts with tag: João Feliciano Marques Pereira

Livro de José dos Santos Ferreira publicado em 1967, (1) composto e impresso na Tipografia da Missão do Padroado (2), com versos (Laia-laia rabusénga) e prosas no dialecto macaense e breve vocabulário de alguns termos utilizados. A maioria dos versos foram publicados anteriormente no jornal «O Clarim», de 1953 a 1955 e depois na «Gazeta Macaense» de 1963. Inclui ainda uma comédia em 1 acto “Mui-mui Sua Neto” e uma opereta em 2 actos (para rir) “Cabo Tamêm Sã Gente”. A ilustração é de Leonel A. S. Barros.

Retiro da Introdução (pp. 9-11) , o seguinte: “O dialecto macaense, como muito bem ensinou João Feliciano Marques Pereira, (3) não se apresenta sob uma única forma, mas sem debaixo de três pelo menos, que é conveniente distinguir: a) o macaísta cerrado ou macaísta puro (se assim se pode chamar) e que é o mais interessante; era falado principalmente pelas classes humildes; b) o macaísta modificado pela tendência a aproximar-se do português corrente, era usado pela gente mais polida e que estava mais em contacto com o elemento metropolitano; c) o macaísta falado pelos chineses. Das duas primeiras formas, sobretudo a primeira, se aproximam mais os escritos contidos neste volume. Sob a última, vem publicado um original, em simples monólogo – MERENDA AI! – que o autor põe na boca de um conhecido chinês de Macau.

Desenho de Leonel A. S. Barros (pág. 7)

MERENDA AI! “Iou sã Merenda Ai!. Tudo gente na Macau, assi chamá pa iou, Seléa nóme nunca muto agradá. Masqui geniado, tamêm pacéncia… Qui cuza pôde fazê, si ilôtro querê batizá iou com estunga nóme? Merenda Ai tamêm sã nóme cristám… Iou sã Macau-filo. Quelê-modo iou sã Macau-filo ? Iuo sã já nacê na Macau, j´olá? Têm tanto ano-iá … Mamã fica na Básso-mónti, quelóra larga iou vêm fora. Cavá crecê, Mamã já ensiná iou fazê merenda, pa ganhá sapéca. Sã assi que iou nuncassá vai escola, j´olá? “…. (continua)

(1) Na última página “Acabou de se imprimir este livro aos 2 de Janeiro de 1968

(2) Trata-se do primeiro livro impresso de Adé Santos Ferreira em “língu maquista” (patuá). Anteriormente, publicou o 1.º, um relato de viagens “Escandinávia, Região de Encantos Mil, em 1960, FERREIRA, José dos Santos – Macau Sã Assi. Macau, 1967, 138 p + Índice., 20, 5 cm x 14 cm x 0,7 cm.

(3) Pequeno trecho de João Feliciano Marques Pereira assinalado na capa (interior)

Hoje dia 13 de Setembro de 2019, celebra-se o 15.º dia do 8.º mês – Dia do Festival do Outono, mais conhecido como a Festa do «Bate-Pau» ou das «lanternas»
Do “Ta-Ssi-Yang-Kuo – Arquivos e Anais do Extremo Oriente Português” (1) (pp. 392~393), a propósito dos “Costumes e crenças da China” de Francisco Pereira Marques, retiro o seguinte:
A lua corresponde ao mez de setembro é consagrada pelos chins à festa do bate-pau ou das lanternas a que eles chamam Chung – chau e os inglezes Mid Autumn festival, por coincidir com a quadra outomnal.

Caixa contendo quatro bolos bate-pau

Dá-se o nome de bate-pau a um bolo que os chins preparam n´esta ocasião, que é arredondado e parecido com um pastelinho com crosta de farinha, recheado de doces. Há varias espécies de bolos de bate-pau: uns que que só entra feijão; outros o mungo (2); outros a semente de trate (3); e outros o gergelim, amêndoa e toucinho.
Só durante esta lua ou pouco antes é que os chins preparam estes bolos para venda e exportação.
Tambem por este tempo os chins vendem caramelos em forma de castello, embarcação, jarro, etc.; pães de farinha figurando um porco de tamanho de trez e quatro polegadas, metido n´um cesto de bambú de feitio conico; bolos de massa de farinha muito dura coma configuração de um prato com pintura a côres, representando paisagens e figuras humanas, postos n´uma caixinha de papelão de forma circular, polygonal ou oblonga, segundo o feitio do bolo, com uma rede muito fina e transparente de cassa. Este bolo só é feito para ornato e presente às creanças.

Bolo Bate.pau embalado

O bolo de bate-pau é o symbolo da lua, e os chins chamam-n´o em dialecto mandarim Yué-ping 月餅 e em cantonense Yut—peang. Geralmente o seu peso nao atinge meia libra.
Os macaístas conhecem-n´o pelo nome de bate-pau, por ser preparado com um pau em forma de ferula, com um orifício no centro onde se mettem a massa de farinha e os recheios, carregando com a palma da mão para comprimil-o bem; e em seguida batem o pau com força, por duas ou tres vezes sobre a meza, para fazer expellir o bolo que é levado acto contínuo ao forno, a assar.
Todo este mez lunar é consagrado a esta festa, mas o decimo quinto dia da lua é o mais solemne.
As lojas, onde se fazem e vendem stes bolos, costumam ter nos seus terraços ou telhados um mastro com bandeiras e ou lanternas.”
(1) PEREIRA, J. F. Marques (“coligidos, coordenados e anotados” )- Ta-Ssi-Yang-Kuo, Archivos e annaes do Extremo-Oriente Português. 1899-1900. Série II, – Vols. III e IV. Edição S.E.C., !984.
(2) Mungo é uma espécie de feijãosinho que os chins do sul chamam Loc tau 綠豆(feijão verde) e, se não me engano, é o Phaseolus mungo, conhecido entre os ingleses pelo nome de “kidney beans”. Os chins cozem o mungo com jagra (melaço) fezes de assucar mascavado, a que chamam Wong-tong 黃糖 (assucar amarello) e vende-se em pães e se serve quente em chávenas como refrigerante, com o nome de Loc-tau-choc 綠豆粥(cozimento de mungo com jagra) e Loc-tau-sá  綠豆沙 (cozimento de mungo) , segundo o modo de o prepararem.
Quasi todos os navegantes que fazem viagens longas nas embarcações, costumam prover-se de mungo, e, quando a bordo há falta de hortaliça, os chinas borrifam agua sobre uma porção de mungo, que, ao cabo de dois ou três dias, gréla em espiga tenra.. Cozem-n´o como hervas e dão-lhe o nome de Teang-ká-choi 蛋家菜,, isto é, hortaliça dos barqueiros.
(3) Trate é uma planta aquática muito apreciada no Oriente. Os chins aproveitam toda esta planta, desde a flôr até a raiz, e denominam-na Lin-chi 蓮子… (…)
Os chins gostam muito da semente d´esta planta, que cosem com sopa e carne. Aproveitam esta semente para fazer doce e também preparam uma bebida, cosida com assucar e ovo de galinha e que servem ás chávenas, conhecida pelo nome de Lin-chi-kang 蓮子 羹 A sua raiz denominam Lin-ngan 蓮藕 e é apreciada para se cozer com carne de porco ou de vacca, e também fazem d´ella doce. Attribuem-lhe propriedades sedativas e anti-aphrosidíacas.
Anteriores referência a este festa em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/bolo-lunar-bolo-de-bate-pau-%E6%9C%88%E9%A5%BC/

Festa Chineza do Outono

Do livro de  Chrétien-Louis-Joseph de Guignes (1759-1845),  “Voyages à Peking, Manille et l’Île de France, faits dans l’intervalle des années 1784 à 1801”. 8vo. 3 vol. Avec Atlas in folio. Paris 1808
https://www.chineancienne.fr/17e-18e-s/de-guignes-voyage-%C3%A0-peking/

Pescu (1) já dâ fula, (2)
Câbóla  contente:
Nhonha (3) bixigosa
sab´inganá gente

Ade (4) pide chúa (5)
Sápu pidi vento:
Nhonhónha (6) bunita.
Pidi casamento.

Nhonha na jinella
Cô úla mogarim (7)
Sua mài tankaréra (8)
Sua pai canarim

Casamento fêto
Na ponta de lenço;
Quim casá cô preto
Tem pôco sintimento.

Eu masqui (9) sã preto
Sã minha naçan:
Panhá vento suzo (10)
Ficá côr de jambulan (11)

Eu passá na vôsso pórta,
Já tócá na fichadura,
Vanda dêntro (12) respondê:
Passá fóra criatura!

Ingrata, ingrata
Côraçan de vidro:
Sem nada, sem nada,
Ficá mal cômigo!

Eu querê pra vôs,
vôs querê pra ôtro;
Deus lô (13) castigá,
Fazê vôsso ôlo (14) tôrto,

Eu pra olá pra vôs,
Passá vanda hórta,
Espinho chuchú (15) pê,
Sangui góta góta  (16)

Quim querê pr´a eu
Passá vanda gudan (17);
Andá manso, manso (18),
Nomestê québrá buian (19)

(1) Pescu – pêssego; Arvre de pescu – pessegueiro
(2) Dá fula – deu flôr, floresceu
(3) Nhonha – menina solteira ou senhora casada nova
(4) Ade – pato; em português, adem = pato real
(5) Chúa – chuva. Mulá é corrupção de molhar
(6) Nhonhónha – plural de nhonha
(7) Mogarim – do indiano mogra ou mogri : flôr, de forte e delicioso perfume, do Jasminum Sambac. As mulheres chinesas, principalmente as prostitutas, enfeitavam-se com essa perfumada flôr.
(8) Tankaréra – Tancareira – mulher chinesa que tripula o “tancar” – barco
(9) Masqui – vem do malaio – masqui seza – apesar de ser, ainda que seja
(10) Vento suzo Panhá vento suzo = apanhar vento sujo
(11) Ficá côr de jambulan – ficar negro pois jambulan, a fruta tem a cor roxa-escura.
(12) Vanda dêntro – da banda de dentro; do lado de dentro me responderam
(13) por lôgo – lógo
(14) Ôlo – olho
(15) Chuchú – espetar (provalvelmente derivado de chuço)
(16) Góta góta – gotas sobre gotas, em quantidade
(17) Gudan  – gudão – rés-do-chão, loja. Também significa armazéns, csas térreas para arrecadação de mercadorias.
(18) Manso manso – de mansinho, de vagar, com cuidado, com cautela.
(19) Québrá buian – partir  o boião
PEREIRA, J. F. Marques – TA-SSI-YANG-KUO, série I -Vols I e II. Lisboa, 1899-1900, 812 p.

Fortaleza da Guia -1885Fortaleza da Guia em 1885

“01-09-1637 – Principiou a construção da Fortaleza de Nossa Senhora da Guia tendo terminado um ano depois.” (1)
A fortaleza encontra-se no mesmo sítio onde havia uma bateria pois  desde 1622 (2) foram feitos reparos defensivos a um “rudimentar sistema anterior” (bateria), junto da ermida. (3) A fortaleza sofreu várias alterações ao longo do tempo tendo sido ampliada e prolongada dando origem à actual fortaleza.

Planta de Macau final s. XVII chinês - pormenor fortalezasPormenor da Planta de Macau em finais do século XVII
pertencente ao Arquivo Nacional n.º1 da China,  onde se vê três fortalezas,
a Fortaleza de Nossa Senhora da Guia (no topo, com dois canhões),
a Fortaleza do Monte (à esquerda, com 11 canhões) e
a Fortaleza de S. Francisco (à direita, com 4 canhões)

Esta Fortaleza de Nossa Senhora da Guia ou Fortaleza da Guia encontra-se  a Nordeste da Fortaleza de S. Paulo do Monte, e está situada na colina de Nossa Senhora da Guia, com uma altitude de 94 metros, o ponto mais alto da Península de Macau. As cartas desta parte da costa da China indicam que o farol (4) existentes no seu recinto tem as coordenadas de 22° 11´ 51´´ de latitude Norte e 113° 32´48´´.
Esta fortaleza colocada fora das muralhas defensivas da cidade antiga mas em situação dominante foi edificada como defesa contra a ameaça do continente Chinês. Funcionava também como aviso e posto de observação (5) tem um sino (6) que tocava sempre que se avistava um navio ou  se esperava um tufão“. (7)
ESQUEMA Fortaleza da Guia

Compreende uma área de cerca 800 metros quadrados. O seu plano primitivo era mais regular, com a forma de trapézio de área ligeiramente inferior à presente. Possuía um quartel para uma companhia de soldados e uma cisterna de água assim como uma ermida dentro do seu recinto. O portão de entrada ficava na muralha Norte, com casa da guarda por cima. Tinha também armazéns para equipamento e pólvora e uma casa para o Comandante da guarnição. Tinha de início quatro pequenas torres mas restam apenas duas. A torre no cato Norte não é original, é de construção recente em cimento armado.(7)
(1) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954
(2) A  laje de pedra encaixada sobre o portão de entrada da fortaleza tem gravada uma inscrição que regista que a fortaleza foi erigida e concluída nos anos de 1637-1638.

Fortaleza da Guia - Laje portãoESTE FORTE MANDOV FAZER A CIDADE A SVA
CYSTA PELO CAPITAO DA ARTILHARIA ANT RIBR
RAIA COMESOVSE EN SETEBRO DE 1637 ACABOVSE
EN MARÇO D 1638 SENDO GERAL DA CAMARA
DE NORONHA

A fortaleza de N.ª Senhora da Guia teve princípio em Setembro de 1637 e terminou em Março de 1638. (PEREIRA, J. F. Marques – Ta-Ssi-Yang-Kuo, 1984.)
Padre Manuel Teixeira refere que “vários historiadores, que se limitam a copiar Marques Pereira, afirmam erradamente que a fortaleza da Guia foi construída em 1637 mas afirma que segundo documentos de Bocarro (8) ” Manuel da Câmara Noronha, Capitão-Geral de Macau (1631-1636), demoliu o forte mas, em 1636, foi substituído no governo por seu irmão Domingos da Câmara Noronha, que tinha ideias muito diferentes; este reconstruiu-o com maior perímetro em 1637- 1638, segundo reza a inscrição da fortaleza.” (TEIXEIRA, P.e Manuel – Os Militares e Macau, 1975)
Domingos da Câmara de Noronha foi Capitão-geral de Macau de 1636 a 1638.
(3) No relato da invasão dos holandeses em 22 de Junho de 1622 … Tendo pois o inimigo de passar ao lado d´este bambual, temeu alguma emboscada, e pelo facto de não ver pessoa alguma e estar soffrendo não só os tiros do Monte como tambem descargas successivas do lado da Guia; assim mudou de plano, e diligenciou subir ao alto do oiteiro, sobre o qual já existia uma ermida… (Boletim do Governo de Macau, n.º 30 de 28-06-1862).
(4) O farol é posterior, foi construída por ordem do Governador José Rodrigues Coelho do Amaral em 1864/1865. Acendeu-se pela primeira vez a 24 de Setembro de 1865.
(5) A fortaleza da Guia (e antes a Ermida da Guia) servia durante o dia de guia para os navios  que se dirigiam para Macau e Cantão. Quando aparecia um navio um navio, o governador era avisado da sua aproximação por sinais, e quando se descobre a bandeira, o comandante participava-o por escrito. Se era um a navio português, tocava-se o sino.
(6) O sino que se encontra ao lado da Capela, (mas ali colocada somente em 1707), tem a seguinte inscrição:

ESTE SINO
FOI FEITO PARA UZO DE
STA ERMIDA DE N.S DA GUIA
EM O ANO DE 1707 SENDO
PREZIDENTE DELLA E CAPI
TÃO GERAL DESTA CIDADE
DIOGO DO PINHO TEIXEIRA
Fortaleza da Guia - SINO - 1998Foto de 1998

O italiano Marco d´Avalo diz na «Descrição da Cidade de Macau»: ” Deste último forte recebe a cidade aviso dos navios que se avistam no mar, quer venham do Norte ou do Sul, do Japão ou de Manila, para entrar no seu porto. Logo que se avista qualquer , toca-se o sino na montanha e, segundo as maneiras como for tocado, indica de qual lado eles apparecem”  in  (Ta-Ssi-Yang-Kuo, Vol II).
(7) GRAÇA, Jorge –Fortificações de Macau.
(8) Manuel Tavares Bocarro que possuía uma fundição de canhões em Macau de 1625 a 1664,  informava que em 1635, o baluarte da Guia tinha 5 peças, i. é, uma colubrina, um pedreiro e 3 sagres, todas de metal; Marco d´Avalo afirmava que, em 1638, tinha 4 ou 5 peças.
Anteriores referência à Fortaleza da Guia em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/fortaleza-da-guia/page/4/

Nasceu em Macau, no dia 17 de Maio de 1863, João Feliciano Marques Pereira, filho de António Feliciano Marques Pereira, (1839-1881) (1) nascido em Lisboa, e de Belarmina Inocência de Miranda, natural de Macau.
Muito cedo partiu para Lisboa onde começou a sua educação e os seus estudos. Estudou os preparatórios  no antigo Colégio Luso-Brasileiro, frequentando depois o Curso Superior de Letras onde foi discípulo de Adolfo Coelho e onde se doutorou com distinção.
Ocupou em seguida vários cargos públicos no Ministério dos Negócios Estrangeiros, ingressando depois no  Ministério da Marinha e Ultramar (1888) chegando em pouco tempo a Secretário particular da Conselheiro Barros Gomes, então Ministro da Marinha (1897).
TA-SSI-YANG-KUO CAPA SÉRIE I -VOL I e IIEm 1899, fundou a revista ” Ta-Ssi-Yang-Kuo, archivos e annaes do Extremo-Oriente Português”, (2) que durou até 1903 e cujo título foi inspirado no “seminário de interesses públicos locaes, litterario e noticioso” fundado pelo seu pai, em 1863, ano do seu nascimento. (3)

AMP - Ephemerides Commemorativas - 1863 quatro palavrasRetirado da A. Marques Pereira  “Ephemerides Commemorativas da História de Macau e das Relações da China com os Povos Christãos“, 1868.

Escreveu para inúmeras publicações de que era redactor e de algumas director, sob os mais variados assuntos e crónicas ultramarinas, sob o pseudónimo de Fernão Lopes no Jornal do Comércio e como  colaborador efectivo da Revista Colonial e Marítima.
Por Portaria de 17 de Outubro de 1904, foi nomeado para fazer parte da comissão encarregada de estudar o regime de monopólios e de impostos em Macau.
Quando se criou a Escola Colonial, (1906) foi nomeado professor efectivo de Legislação e Administração Ultramarinas.
TA-SSI-YANG-KUO DedicatóriaRepresentou o círculo de Macau como Deputado no Parlamento, pertencendo ao grupo do Conselheiro Ferreira do Amaral, filho do Governador do mesmo nome.
Foi agraciado com o grau de Oficial da Ordem de S. Tiago de mérito científico, literário e artístico; foi eleito membro honorário da Real Sociedade Asiática de Paris; Vogal da Secção de Arqueologia da Real Associação de Arquitectos e Arqueólogos Portugueses; Sócio correspondente do Instituto Arqueológico e Geográfico Pernambucano.
João Feliciano Marques Pereira faleceu a  7 de Junho de 1909, ano em ainda era deputado às Cortes eleito pelo círculo de Macau.(4)
TA-SSI-YANG-KUO CAPA SÉRIE II-VOL III e IVNOTA – Dados biográficos retirados de artigo não assinado em «MACAU Bol. Inf. 1954»
(1) Ver anteriores referências a António Feliciano Marques Pereira em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/antonio-feliciano-marques-pereira/
(2) Há uma edição da Direcção dos Serviços de Educação e Cultura/Arquivo Histórico de Macau de Dezembro de 1984 do conteúdo desta publicação, em reprodução fiel do original., em dois volumes.
TA-SSI-YANG-KUO – Archivos e annaes do Extremo-Oriente português 1899 -1900Colligidos, coordenados e anotados por J. F. Marques Pereira.  Série I- Vols I e II e Série II, Vol. III e IV.
(3) Ver trabalho de GARMES, Hélder – A Cultura Sino-Portuguesa no Século XIX e o TA-SSi-YANG-KUO em
http://www.revistas.usp.br/viaatlantica/article/viewFile/49743/53855
(4) “João Feliciano Marques Pereira (1863-1909), apesar de ser um defensor do colonialismo e dos direitos legítimos de Portugal em Macau, foi também um investigador e divulgador dedicado sobre a história dos portugueses na China. Considerado o primeiro sinólogo português moderno, vai fundar, em 1899, a revista Ta-Ssi-yang-kuo, archivos e annaes do Extremo-Oriente Português, onde pretendia divulgar a cultura, civilização e actualidades da China, assim como o historial da presença portuguesa no Oriente. A publicação transformou-se progressivamente num órgão de propaganda da linha ideológica defendida por Marques Pereira para a política externa portuguesa relativamente ao império chinês e à chamada “Questão de Macau”.
COUTO, Marcos Miguel Oliveira – Representações do Oriente em “O Mundo Português”  (1934-1947)
http://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/60899/2/TESEMESMARCOSCOUTO000150583.pdf
“Mas o dialecto (patois) teve ainda um intérprete apaixonado no orientalista João Feliciano Marques Pereira.(…)  Embora não tenha editado os seus trabalhos literários em Macau, toda a sua actividade está ligada ao território que o podemos considerar como um verdadeiro escritor macaense. (…)”
AZEVEDO, Rafael Ávila de  – A Influência da Cultura Portuguesa em Macau
file:///C:/Users/ASUS/Downloads/bb095.pdf

Após 134 números, cessou no dia 26 de Abril de 1866, a publicação do hebdomadário «Ta Ssi Yang Kuo «, importante repositório de numerosos artigos de grande interesse para a História de Macau (1) (2)
António Felicinao Marques PereiraO semanário «TA-SSI-YANG-KUO», principiou a publicar-se  no dia 8 de Outubro de 1863 sendo seu fundador José Gabriel Fernandes, natural de Goa, e director, António Feliciano Marques Pereira. (3)  Deste periódico eram redactores entre outros, António Marques Pereira, José Gabriel Fernandes, Pereira Rodrigues, Castro Sampaio, Osório Cabral de Albuquerque e José da Silva e Meireles de Távora.(2)
O filho de António Feliciano Marques Pereira, João Feliciano Marques Pereira, inspirado no mesmo título, publicaria (com dedicatória à memória do seu pai) a revista “TA-SSi-YANG KUO” em 1899-1900. João Feliciano Marques Pereira explicaria no primeiro número (4)  a razão do título.
TA-SSI-YANG-KUO explicação 4 caracteresNOTA: A data de 26 de Abril de 1866 está referenciada em Luís G. Gomes e Beatriz Basto da Silva (edição de 1995) mas os mesmos autores na entrada da data “8-10-1863” referem que o semanário terminou a 22-04-1866.
08-10-1863 -Principiou a publicar-se o semanário TA SSI YANG KUO que terminou em 22 de Abril de 1866, sendo seu fundador José Gabriel Fernandes, natural de Goa e director, António Feliciano Marques Pereira.”(1)(2)
(1) GOMES, Luís Gonzaga – Efemérides da História de Macau, 1954
(2) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 3, 1995.
(3) António Feliciano Marques Pereira  nasceu a 1 de Junho de 1839 em Lisboa. Jornalista profissional, publicou vários romances em folhetins, além de traduções. Em 1859 partiu para Macau, onde se fixou, casando com  Belarmina Inocência Miranda. Em 1862, foi nomeado secretário da missão diplomática portuguesa às cortes de Pequim. Exerceu o cargo de Superintendente da emigração chinesa  e Procurador dos Negócios Sínicos da Cidade de Macau (1860-1869) (5). Foi membro honorário da Real Sociedade Asiática (inglesa) e cavaleiro da Ordem de Nossa Senhora da Conceição. Deixou publicadas as seguintes obras: «Ephemerides Commemorativas da História de Macau e das Relações da China com os povos christãos, 1868»; «Relatório da Emigração Chinesa do Porto de Macau, 1861» «Relatório acerca da atribuições da Procuratura dos Negócios Sínicos da Cidade de Macau …, 1867»; «As alfândegas chinezas de Macau, 1870»; « O Padroado portuguez na China, 1873».
Cônsul de Portugal em Sião de 1875, veio a falecer em 11 de Setembro de 1881, em Bombaim, como Cônsul-Geral de Portugal na Índia Britânica.(1)(2)
(4) PEREIRA, J. F. Marques – Ta-Ssi-Yang-Kuo, Série I (Vols. I e II), 1899-1900.
(5) Em 1869, demitiu-se do cargo de Procurador dos Negócios Sínicos que vinha exercendo desde Maio de 1860  com o fim de processar o redactor do «Eco do Povo» acusando-o de irregularidades. António Jorge da Silva e Sousa que foi redactor do «Eco do Povo» foi condenado, pagando uma multa de cinco mil patacas e custos do processo que ainda foi maior. (BARROS, Leonel – Homens Ilustres e Benfeitores de Macau, 2007)
Referências anteriores ao Ta-Ssi-Yang-Kuo em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/ta-ssi-yang-kuo/

Versos duma cantilena popular maquista

 Lio-lio (1) lorcha vai Cantão
buscá seda fazê quimão (2)
Novo-novo nina visti,
Vêlo-vêlo limpá chão
 
Roto-roto
caçá marrôto; (3)
Fino-fino
pescá chumbino (4)

outra versão:

Liu-liu (1) lorcha vai Cantão
buscá seda fazê quimão
Novo-novo nina visti,
Roto-roto caçá marrôto;

(1) Liu-liu ou lio-lio
– 1. Remo chinês. P.ext. embarcação a remos: «E usam de outras embarcações menores chamadas lorchas e lyolyos e não usam mais que dois remos em cada lado…» (Eredia – Declaraçam de Malaca) . J. F. Marques Pereira atribui ao termo verbal na expressão Lio-lio lorcha a “«remando a lorcha» ou mais rigorosamente «remando com um remo só e à ré, dando ao barco uma oscilação especial que vai embalando o tripulante ou passageiro».” Contudo , a expressão pode significar apenas lorcha a remos, sendo liu-liu um determinativo”. – 2.  O valor verbal é corrente hoje na linguagem popular com outro sentido; manejar um pau ou um instrumento agudo para tirar qualquer coisa dum espaço apertado, p. ex. lixo duma greta do sobrado, um objecto debaixo dum móvel, etc. Étimo: Chinês liu   (cantonense jyutping: liu1) – levantar, alçar
BATALHA, Graciete – Glossário do Dialecto Macaense, 1977, p. 469
(2) quimão ou quiman (quimono) – casaco de senhora, muito usado antigamente pelas macaistas. Os melhores eram de seda.
Encontramos este termo na poesia «Ajuste de casamento de Nhi Pancha cô Nhum Vicente» “em “macaista cerrado ou puro, devido á penna, segundo uns, do macaense Antonio Haggesborg, que foi tabellião de notas em Macau no princípio d´este século, e, segundo outros, a José Maria de Oliveira Lima, também macaense, professor regio de portuguez e latim”

 Pancha azinha escondê rosto,
limpâ lagri na quimão.
Vicente corê carera
torná vai pâ aguchan

Pancha – diminutivo de Ignácia.
corê carera – correr carreira, dar uma corrida. Neste caso: deu uma corrida.
aguchan /aguchão – rede de abater (pesca).
(Ta-Ssi-Yang Kuo, Vols I e II, 1899-1900, p.59).
(3) A palavra maroto ou marroto com o sentido de “peixinho”.
(4) Chumbino – peixe ou marisco de pequenas dimensões.
Actualmente não se encontra quem conheça o termo e possa identificar o peixe ou marisco. No entanto, como a cantigas se refere à seda do quimono chinês, depreende-se que se trataria dum animal pequeno, para ser pescado com um tecido de malhas finas” (BATALHA, Graciete – Glossário do Dialecto Macaense, 1977, p. 408)

Como é agora o tempo de Natal e do Anno Bom, abramos este capítulo com uma poesia do chistoso poeta macaense Filippe M. de Limas, publicada em 1895, no Almanach Luis de Camões, de Hong Kong “ (Ta-Ssi-Yang-Kuo – Série I-VOLS I e II p. 4).

Em 23 de dezembro

Natal já tem traz de porta (1)
Logo cai na quartafêra;
Venca (2) nôs armá presépio
E aranjá candêa cera.(3)

Nôs tem sagrada familia,
Pastor, vacca tem bastante;
E tem também três Rê mago
Montado na elephante.

Nôs tem Minino Jesús,
Sam José com Nossaiôra;
E tem Bastante pastor
Com dez ou doze pastora.

Mandá fazê unga estrado
D´altura de nosso pêto; (4)
Armá presépio de riba
Logo pôde olá bemfêto,(5)

Nôs dipois di missa-gallo,
Vamos sandê todo luz;
Chomá gente de vizinho
Cantá Minino Jesús.

Na Macau padre Manuel
Com mad dôs ou três sium-sium
Chagá festa de Natal
Canta: gorung, gorungung.(6)

Aqui Adeste fidelis
E venite e más venite;(7)
Como eu nom sábe latim
Ai senti que non tem chiste.

Padre Manuel na Macau
Fica na rua de Pala (8)
Já fazê unga presépio
Que ocupá metade sala.

Sua lapa (9) qui bonito…
De fora enchido de fula (10)
Minino Jesus na pala
No meio de vacas e mula.

Nossiôra e Sam José
Ali perto dozelado (11)
Cobri corpo de sua filo
De frio quasi gelado

A´riba de lapa unga anjo
Aguando (12) descê de ceo
Co´unga letréro escrevido
– Glória in excelsis Deo,

Tem uma estréla na ceo
Qui bonito vôs olá! (13)
E tem tres rês que, de longe,
Botá oculo, observà.

Sim, padre Manuel falá
Qui aquele são três rês-magro
Mas eu senti bem de gordo
Tudo costa bem de largo (14)

Unga rê são portuguez (15)
Otro môro tem turbante;
Outro cafre beço grosso,
Corpo inchido (16) diamante!

N´unga canto de presépio
Inchido de arve de côcô (17)
Macaco subi, descê.
Igual como jugá sôco.(18)

Rê Herode com sua tropa
Com espada, chuça e lança,
Corê como diabo solto (19)
Matá tudo criança-criança !

De tanto ancuza que tem,
Que eu agora já esquecê;
Mas tem unga crueldade
Eu de medo já tremê !!

Vôs olá p´ra tudo rua,
P´ra tudo canto e travéssa
Inchido criança macho
Tudo morto sem cabeça.

Vae tudo vanda ouvi choro (20)
Tudo mãi berrá, dá grito;
Sam José com Nossiôra
Fuzi com Jesus p´ra Egypto

Padre Manuel são capaz
Elle tem bastante gêto;
Agora não pôde olá
Presepio assim bemfêto.

                   Filipe M. de Lima

Feliz Natal I - 4 1950 IIDesenho da revista “Mosaico“, 1950

(1) Traz de porta – Já vem perto.
(2) Vem cá nos armá – Vamos armar.
(3) Candéa cêra – Velas de cera.
(4) Péto – Peito.
(5) Lógo pôde olá bemfêto – Poder-se-á ver bem.
(6) Refere-se ao cantochão, denominação aplicada à práctica monofónica de canto utilizada nas liturgias cristâs.
(7) Palavras ditas pelo sacerdote na missa do galo, quando apresenta o Menino a beijar aos fiéis.
(8) Pala – Palha.
(9) Em certos presépios, a Sagrada Família está numa gruta ou lapa, em vez da arribana (choupana ou palhoça)  em que o Rei do mundo nasceu.
(10) Fula – Flôr, flores.
(11) Dozelado – Um de cada lado.
(12) Aguando – Voando, avoando.
(13) Que bonito vôs olá! – Que bonita vista que faz.
(14) – É engraçadíssima esta quadra, em que se faz a confusão de reis magros com reis magos … de costas bem largas!
(15) De Rê portuguez – não reza a história lusitana de que houvesse um rei mago português.
(16) Inchido – echido, cheio.
(17) Arve de côco – Árvore ou palmeira de coco.
(18) Em que os macacos sobem e descem como se estivessem a jogar o soco.
(19) Diabo solto ou melhor sorto. Diz-se das pessoas que correm aos saltos, fazendo esgares e gestos desordenados.
(20) Vai tudo vanda ouvi chôro – Por todos os lados se ouve chorar.

NOTA: «Novo Almanach Luiz de Camões para o anno bissexto de 1896 illustrado com o retrato do grande épico portuguez e principe dos poetas, accompanhado daa sua biographia , por Francisco de Azpilqueta Xavier Jorge de Menezes – Typ. Hong Kong Printing Press – 1895». 1 folheto com 98 pag. e 1 retrato grosseiramente gravado de Camões. (Ta-Ssi-Yang-Kuo – Série I-VOLS I e II; nota de rodapé p. 4).
Segundo o editor J. F. Marques Pereira não sei se continuou a sua publicação porque d´esse almanch só vi o exemplar d´esse anno, que me foi obsequiosamente emprestado por um amigo”

Continuação do “post” anterior referente ao livro “Portugal e as Colónias Portuguêsas”. (1)
Reproduzo as três “fotos” do capítulo VII, dedicado a Macau.

Portugal e as Colónias Portuguesas VFig 70 – Macau – Pagode da Barra (pág. 318)

Templo de A-Má

Infelizmente são más cópias, talvez devido à qualidade do papel mas dá-nos uma ideia das paisagens da primeira década do século XX ou mesmo,  final do século XIX.

Portugal e as Colónias Portuguesas VIFig. 71 – Macau – Porto Interior (pág. 320) (2)

“… Na falta de territórios para a exploração agrícola, todas as fontes de riqueza pública em Macau se reduzem à actividade industrial e comercial; e ainda quanto a estas já teve a colónia maior prosperidade quando não sofria tanto a concorrência do pôrto inglês de Hong- Kong e de diversos portos chineses de novo abertos ao comércio estrangeiro.
O mais importante objecto da actividade económica de Macau é o ópio, importado em crú, preparado e reexportado…

Portugal e as Colónias Portuguesas VIIFig. 72 – Macau – Rua da Felicidade (Bazar Chinês) (pág. 322)                  Nota: dúvidas se será Rua da Felicidade

“… Semelhantemente se procede com o chá, que é também importado e preparado para dêle se fazer valiosa exportação, quási toda para Inglaterra.
É muito considerável a indústria da pesca, que abastece de peixe frêsco, sêco e salgado a cidade de Macau, Hong-Kong e outras povoações.
Outras indústrias de Macau: fabrico de sêda, descasca e moagem de arroz, fabrico de esteiras e fogos de artifício….”

(1) Ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/03/31/leitura-portugal-e-as-colonias-portugue-sas-i/

ALMEIDA, Fortunato de – Portugal e as colónias portuguêsas: com um apêndice sôbre a história da geografia e uma nota bibliográfica sôbre a geografia de Portugal e dos seus domínios. Segunda edição. Editor: Fortunato de Almeida, Coimbra, 1920, 484 p. + mapas, 21 cm x 13 cm.

(2) Embora o livro tenha sido publicado em 1920, as fotos são muito mais antigas. Por exemplo, esta foto que foi posteriormente publicada no Resumo da História de Macau, de Eudore de Colomban de 1927, 

Resumo Hx Macau Eudore Colomban 1927 Porto Interioré a mesma, com uma melhor impressão, publicada na Revista Serões de 1902

Revista Serões 1902 Porto Interiore também anteriormente reproduzida na Revista TA-SSI-YANG-KUO, Vol I , de J. F. Marques Pereira (Est.XV) (1899-1900)
com o seguinte indicação:

Margem do porto interior, visto da Lapa – Photog. de P. Marinho, segundo uma photographia do sr. Carlos Cabral (1898)

Mais um desenho do álbum da colecção Duarte de Sousa (1), presente no livro “Macau, Cidade do Nome de Deus na China” (2).

 Macau cidade do nome de Deus na China Gruta de Camões“Camoens Cave at the Casa. Macao.”

O alpendre em forma de pombal, sobre a gruta, já aparece em 1797, na gravura do livro de Sir George Staunton, intitulado “An Authentic Account of an Embassy from the King of Great Britain to the Emperor of China”.
O caramanchão ou pavilhão chinês encimado pelo tal pombal apareceu em 1558, na revista «Archivo Pitoresco», e em 1900 na revista de João Feliciano Marques Pereira, «Ta-Ssi-Yang-Kuo»,  Vol II, p. 534.
Talvez este alpendre circular semelhante a um pombal terá dado origem à nomenclatura chinesa de Pak Kap Tch´au, dada ao Largo e ao Jardim de Camões.
Esta pintura está datada de 1831/1832. Nessa altura já lá havia um busto, pois Harriet Low (3) no seu diário do dia 18 de Outubro de 1829, anotava:
“…Noutra parte, há uma gruta nos rochedos, onde o famoso Camões escreveu os Lusíadas. Na gruta ergue-se o busto de Camões…é um lugar selvático e aprazível…”
E creio que este desenho terá sido feito antes de 3 de Setembro de 1832, dia do grande tufão que assolou Macau e fez grandes estragos na casa Garden e os jardins.
No mesmo diário de 8 de Setembro de 1832 :
… Agora está inteiramente delapidado; as paredes foram arrombadas pelo tufão, as árvores arrancadas pelas raízes, os templos e as casas de verão, demolidos….” .
O busto foi mutilado entre 1837 e 1840, e a pedido de Lourenço Marques, o antigo Vice-Cônsul da França em Macau, Chalave, encomendou em Paris um busto em bronze do poeta ao escultor Jules Droz (pediu 600 francos pelo trabalho). Mas tanto quanto se sabe, o busto de bronze nunca chegou ao seu destino embora a obra fosse executada e enviada para Macau. No entanto foi colocado em 1840 um busto de greda, de cor bronzeada feito em Macau por um artista chinês.
O primeiro busto seria colocado em 1840, por iniciativa do Comendador Lourenço Marques, que herdou a Gruta, por ter casado com uma filha do Conselheiro Manuel pereira (falecido em Macau a 10 de Março de 1826 que já anteriormente tinha mandado branquear o alpendre), e o mesmo Lourenço Marques “na senda tortuosa do mau gosto”, em 1840 mandou revestir de alvenaria o corpo do rochedo da Gruta e circundar o local por um muro de alvenaria. As paredes do rochedo foram cobertas com 3 ou 4 lápides de granito com inscrições.
(1) Ver:
Álbum de Desenhos a Lápis Sobre Macau e Ilhas do Atlântico e Índico – 50 desenhos.
http://purl.pt/index/porCulture/aut/EN/933589_P6.html.
(2) Ver
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/01/24/leitura-macau-cidade-do-nome-de-deus-na-china-nao-ha-outra-mais-leal/
(3) Outra referência de Harriet Low é a descrição do tufão que atingiu Macau nos dias 23 e 24 de Setembro de 1831, in
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/09/23/leitura-diario-de-harriet-low-tufao-de-1831/

23-09-1831 – Grande tufão assolou Macau e destruiu todo o traçado e muitos edifícios da Praia Grande, além de inúmeros outros da cidade. Em 3 de Outubro de 1831 e em 14 de Maio de 1832 o Senado tentou minorizar os efeitos dos estragos deste tufão, com obras cujas despesas procurou repartir com alguns dos moradores”
SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XIX, Volume 3. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, Macau, 1995, 467 p. (ISBN 972-8091-10-9)