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Extraído do «Diário Illustrado», III Ano, nº  535. 1873

Nesse mesmo dia 18 de Dezembro de 1873, o Governador, Visconde de S. Januário, oficiou ao Vice Rei dos dois Kuangs, protestando contra a proibição da vinda do arroz da China para Macau e nesse mês deu-se por concluída a obra da construção do Hospital Militar de S. Januário.

SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume II, 2015, p. 207

Na sequência da postagem de ontem sobre a  “soireé musical” no dia 30 de Outubro, (1) realizou-se  no dia seguinte, 31 de Outubro, a grande festa de arromba para assinalar o aniversário natalício do rei D. Luís

Extraído de «Gazeta de Macau e Timor», I- 6 de Novembro de 1872 p. 2 http://purl.pt/26918/1/PT/index.html

Reproduzo a seguir a descrição do mesmo acontecimento feito por Luís Gonzaga Gomes (na continuação de anteriores crónicas “A Vida em Macau no Ano de 1872“, deste mesmo autor) (2) focando o baile dado pelo governador, Visconde de S. Januário no Palácio do Governo.

Constitui novidade a inovação de dois porta-machados a ladearem o retrato do Rei D. Luís, colocado sob o dossel, e cujos vistosos uniformes causaram grande agrado no público, que os viu marchar, pela manhã, à frente da guarda de honra. Duzentos e vinte cavalheiros com as suas impecáveis casacas ou reluzentes fardas e setenta e nove daas, elegantemente trajadas e ostentando ofuscantes brilhantes, estonteantes adereços, outras jóias de grande riqueza e raridade, emprestaram inusitado brilho a tão animado baile. As damas que apresentaram com maior elegância, distinção e bom gosto foram a esposa do Governador de Hong Kong, Lady Kennedy, com o seu lindo vestido de faille gris guarnecido de cetim da mesma cor e ricas rendas de Malines; e sua filha, senhorita Kennedy, de faille branco, encantadora na sua simplicidade; e esposa do Secretário-geral do Governo, D. Rosa Pinto Basto de moirée lilás, impondo-se pela sua esbelteza; a esposa do superintendente da emigração chinesa, D. Maria Amália Bruschy Pereira Rodrigues, de branco e azul com rendas de Bruxelas; a esposa do Cônsul do Sião D. Ana de Sena Fernandes, de cetim branco com enfeites verdes e brilhantes; a senhora Pyke, de cetim azul e rendas brancas; a senhorinha May, graciosa no seu vestido de amarelo de brilhantes; a Baronesa do Cercal, de preto e branco; e esposa do Administrador do Concelho, D. Maria Leite Baracho, de seda verde; D. Amélia Pacheco, de grenadine branco com rendas pretas e cetim amarelo, D. Florentina Carneiro, vistosa na sua toilette de faile branco, enfeitado de cetim cor de rosa; D. Idalina Velez, impante de natural elegância (ainda chegamos a conhecê-la na sua triste decadência física e económica), de preto e brilhantes e todas as restantes trajadas com requintes de ajanotamento e no último tom, num verdadeiro alarde de luxo e sumptuosidade. De entre os cavalheiros destacavam-se o Governador de Hong Kong, sir Arthur Kennedy, o General Whitefield, seu ajudante d´ordem; Mr Pauncefote, Juiz da vizinha colónia; o Barão do Cercal, D. Pedro de Lencastre; Mr. Deacon, Cônsul de Portugal em Cantão; Herr Ebel, Cônsul da Prússia, D. Juan Ortiz, Cônsul da Espanha; Alexandre Menacho, Cônsul do Peru; Comendador Bernardino de Sena Fernandes, Cônsul do Sião; João dos Remédios, Cônsul de Portugal em Hong Kong, Lourenço Pereira Marques, Presidente do Leal Senado; Júlio Pereira Pinto Basto, Procurador dos Negócios Sínicos; H. A. Pereira Rodrigues, Superintendente da Emigração Chinesa; Capitão-de-fragata João Eduardo Scarnichia, Capitão do porto; Capitão-de-fragata Tomas de Vila Nova Ferrari, comandante da estação naval e da corveta “Duque de Palmela”; Francisco de Melo Baracho, Administrador do concelho; o tenente-coronel Jerónimo Pereira Leite, Comandante da Polícia e muitas outras individualidades. Este baile deu brado e, pelos tempos adiante, ainda se referia a ele com entusiasmo e saudosas recordações, na sociedade macaense, cujo modo de vida viria a ser profundamente perturbado com a crise económica que se avizinhava. “ (3)

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2020/10/30/noticias-de-30-e-31-de-outubro-de-1872-soiree-musical-recepcao-e-iluminacao-para-assinalar-o-aniversario-natalicio-do-rei-d-luis-i/

(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2019/10/31/noticia-de-31-de-outubro-de-1872-leitura-a-vida-em-macau-no-ano-de-1872-iii/

(3) GOMES, Luís Gonzaga – Páginas da História de Macau, 2010, p.301.

Extraído de «TSYK» III ano, n.º 1, de 5 de Outubro de 1865 p. 2
Extraído de «TSYK» III ano, n.º 2, de 12 de Outubro de 1865 p.6

NOTA – o termo “garrar” utilizado na marinha significa:  ir a embarcação à mercê da água por ter rebentado a amarra ou por a âncora não ficar presa.

Ver a mesma notícia e outras referências deste farol em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/09/24/noticia-24-de-setembro-de-1865-farol-da-guia/ https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/farol-da-guia/

Poesia de J. M. da Fonseca datada de Novembro de 1854 e publicada no «Boletim do Governo da Província de Macau, Timor e Solor», de Dezembro desse ano (1) com o título “A AMASONA” (lorcha de guerra «Amazona») e dedicado ao 1.º Tenente J. E. Scarnichia (2) que em 10 de Novembro de 1854, passou a comandar já no posto de 2.º tenente, a lorcha de guerra Amazona.(1) Extraído de «BGPMTS» I-7 de 2 de Dezembro de 1854, p. 27
(2) João Eduardo Scarnichia (1832- 1888) guarda marinha em 1841, colocado na corveta D. João I em 1853 e em 10 de Novembro de 1854, passou a comandar no posto de 2.º tenente, a lorcha de guerra Amazona. Por esta brilhante acção de 12 de Novembro de 1854, foi promovido por distinção em 12-11-1854, a 1.º Tenente. Do comando da Amazona passou a desempenhar o cargo de Capitão do Porto de 1861 a 1876. Depois foi comandante da Polícia Marítima durante 8 anos (1868-1876) e posteriormente em 1877 foi eleito deputado pelo círculo de Macau. Reeleito, exerceu o cargo de deputado até à morte. (TEIXEIRA, Mons. Manuel – Marinheiros Ilustres Relacionados com Macau)
Anteriores referências em
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/joao-eduardo-scarnichia/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/lorcha-amazona/

No dia 24 de Abril de 1864, virou-se, no rio de Macau, a barca portuguesa «Tremelga», por estar à cunha e sem lastro a bordo (1)
A barca Tremelga de 371 ton., comandado por G. Marques, deu entrada a 25 de Junho de 1863 no porto de Macau, vindo de Singapura, tenho ancorado no rio. O consignatário da barca era L. Marques.

TSYK, I-30, 28 de Abril de 1864

O relatório do sinistro elaborado em 3 de Maio pelo Capitão do Porto de Macau, João Eduardo Scharnichia (2) de 1864 e dirigido ao Presidente do Conselho do Governo, Dr. João Ferreira Pinto (3) foi publicado no «Boletim Governo de Macao», X-19 de 9 de Maio de 1864, p. 75.

O mesmo Boletim traz o “Expediente Geral” n.º 124, assinado pelo secretário do Governo, Gregório José Ribeiro, de 4 de Maio de 1863 (sic) que confirma a recepção do relatório e aprova as medidas que foram tomadas por João Eduardo Scharnichia desde que o sinistro teve lugar até que o navio voltasse à sua posição natural, bem como louvar os indivíduos indicados no ofício.

«TSYK» I-36 de 9 de Junho de 1864

(1) GOMES. Luís G. – Efemérides da Historia de Macau, 1952.
(2) Ver anteriores referências em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/joao-eduardo-scarnichia/
(3) Na ausência do Governador José Rodrigues Coelho do Amaral (de 22-06-1863 a 25-10-1866) que partiu de Macau a 26 de Abril de 1864, para Tientsin, (4) como Ministro Plenipotenciário Enviado Extraordinário de Portugal na China, na intentada missão das ratificações do tratado de 13 de Agosto de 1862, o Conselho do Governo foi chefiada pelo Dr João Ferreira Pinto, como aconteceu anteriormente aquando da partida do anterior governador Isidoro Francisco Guimarães em 30 de Janeiro de 1863 até à chegada do governador Coelho do Amaral em 22 de Junho de 1863.
Sobre o governador José Rodrigues do Amaral, ver em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jose-rodrigues-coelho-do-amaral/
(4) O Conselheiro Isidoro Francisco Guimarães, governador de Macau de 1851 a 1863 presidiu à missão diplomática que partiu de Macau em 23 de Abril de 1862, chegando a Xangai a 3 de Maio e a Tien-Tsin a 26 do mesmo mês. O Tratado de Tien-Tsin (天津 条约 – Tratado de Tianjin) foi assinado a 13 de Agosto. Regressou a Macau em 9 de Setembro.

NOTA: No 2.º parágrafo do artigo, há um erro de datação: Deveria ser: “ A 22 de Outubro de 1872, ele teve conhecimento….”.
Este artigo foi escrito pelo Padre Manuel Teixeira, em “A Polícia de Macau” (1) e reproduzida em (2) donde extraí este relato.
(1) TEIXEIRA, Manuel – A Polícia de Macau – 2ª ed. rev. e aum. – Macau : Imprensa Oficial, 1991. – 248 p.
(2) Extraído de https://www.fsm.gov.mo/psp/cht/revista%20da%20psp/pdf/09.pdf

Em princípios de 1854, andava na costa da China nas imediações da cidade de Neng-Pó (Ningbo-寧波) (1) onde tinha a sua base, um pirata chamado Apak, que gozava de impunidade absoluta pois os mandarins nada podiam (ou não queriam pois toleravam a situação mediante a irresistível peita) fazer perante uma esquadra constituída por um junco Haipó (barco caranguejo) de grandes dimensões, armado com 32 peças (2) e por outras seis velozes taumões (T´au mang – cabeça violenta – barco com 3 mastros para transporte de carga) mais pequenos e tripulados por aguerridos piratas. A esquadra surpreendia desprevenidamente no alto mar e longe da terra os juncos mercantes cumulados de valiosas fazendas ou aqueles como as lorchas mercantes portuguesas de Macau que transportavam carregamentos mais preciosos.
Para evitar os constantes ataques e pilhagens com prejuízos à navegação e ao comércio de Macau, o Governador de Macau, Isidoro Francisco Guimarães mandou a corveta D. João I, (3) partir de Macau, em 14 de Maio de 1854, com destino ao porto de Neng Pó, fazendo escala por Hong Kong e Amoy. Entrou em Hong Kong no dia seguinte e largou a 17 para Amoy.
Fundeou diante da cidade de Neng Pó a 22 de Junho. Dois dias depois da chegada, o comandante e os restantes oficiais envergando uniforme de gala apresentaram cumprimentos ao Tau-tai (mandarim de Neng Pó), visita que foi retribuída, no dia 28 sendo, nessa ocasião, a autoridade chinesa saudada, tanto à entrada como a saída da corveta, com uma salva de três tiros, de conformidade com a pragmática do país.
E quatro dias mais tarde, tiveram início as negociações com as autoridades locais (acompanhava a delegação macaense, o sinólogo macaense João Rodrigues Gonçalves) pois a missão do comandante Craveiro Lopes era exigir das autoridades competentes uma satisfação oficial e se possível uma adequada indemnização pecuniária pelos danos causados ao comércio português, negociações essas que falharam quanto à indemnização pedida.
A 6 de Julho, a corveta fundeou na boca de um afluente do rio Iông (4), entre Neng Pó e Com-Po, onde estavam os barcos dos piratas, alinhados junto à terra. Juntou-se à corveta, dezanove lorchas de Macau que já se encontravam em Neng Po.
Ao amanhecer do dia 10 um taumão tentou evadir-se saindo do rio sendo impedido. Pelas 9.00 hora tendo recebido um oficio do vice-cônsul inglês, que foi informado pelo da decisão portuguesa de responder a qualquer represália,  o comandante da corveta capitão-de-fragata Carlos Craveiro Lopes (5) reuniu o conselho de oficiais, ficando resolvido fazer-se fogo contra os barcos piratas, no caso deles continuarem a não obedecer às suas intimações. Pelas 11 horas silvou uma bala por entre os mastros da corveta, tendo Craveiro Lopes içado a bandeira nacional no tope do mastro da gata da corveta – sinal combinado com as 19 lorchas para romper o fogo – e consequentemente lançaram ferro e fogo sobre os taumões estabelecendo o pânico entre os piratas que abandonaram precipitamente os seus barcos, deixando além dos estragos, os mortos e feridos. As equipagens da corveta e das lorchas devidamente armadas, não perderam tempo em se meterem nos seus escaleres, para se lançarem à abordagem dos taumões que se encontravam sem viva alma mas atestados de riquíssimo despojos – uma enorme quantidade e variedade de armas brancas e de fogo, caixas de bolas de ópio, riquíssimas cabaias de delicadíssimo brocado, muito delas bordadas a primor, figuras de marfim, barro e madeira, charões, vasos, porcelana, (“sendo tudo escaqueirado”, segundo Padre Teixeira). A artilharia foi recolhida a bordo da corveta, excepto aquela que era demasiado grande e pesada, que foi lançado ao mar.
Seis dos juncos dos piratas encontravam-se em mau estado pelo que Craveiro Lopes resolveu mandá-los afundar no próprio local depois de terem sido inutilizadas as peças A este combate puseram os marinheiros portugueses o nome de «combate das cabaias»
As negociações com as autoridades chinesas continuaram até finais de Julho, acabando aquela por satisfazer toas as exigências incluindo o pagamento de uma indeminização de 3 000 pesos. No dia 11 de Agosto foram afixados editais por parte do Governo da China e do Cônsul Português em Neng Po, Francisco Marques, com as declarações que a questão com os portugueses se achava terminada e que entre as duas Nações continuavam a existir as antigas relações de comércio e amizade.
Todos os membros da guarnição na corveta tiveram direito ao seguinte averbamento nas suas notas de assentamento «Ataque e aprisionamento pela corveta D. João I das forças navais do pirata Apak, no rio Yung-Kiong, em 10 de Julho de 1854»
(1) Neng Pó ou Ning Pó actual Ningbo (寧波) (Meng-Tchau como era conhecida na dinastia Meng) e o Porto de Neng Po, (Port of Ningbo-Zhoushan 宁波舟山港) ficam na Província de Zhejiang (Chekiam / Tchit-Kóng), no norte da China. Para o norte, a baía de Hangzhou separa Ningbo de Xangai; a leste fica Zhoushan no Mar da China Oriental; no oeste e no sul, Ningbo faz fronteira com Shaoxing e Taizhou, respectivamente.
A cidade de Ningpo foi identificada, erradamente, como a famosa Liampó citada por Fernão Mendes Pinto e João de Barros No entanto, hoje, segundo investigadores, identifica Liampó com a actual Zhenhai (鎮海 – Tchân-Hói), na embocadura do rio Iông (Yung) – um distrito municipal em Ningpo.
Ver:
https://en.wikipedia.org/wiki/Ningbo
https://en.wikipedia.org/wiki/Zhenhai_District
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/11/04/noticia-de-4-de-novembro-de-1843-conferencia-luso-chinesa-em-cantao/
(2) Algumas das peças faziam parte do armamento da malograda fragata D. Maria II, que no dia 19 de Outubro de 1850, teve uma explosão na Ilha da Taipa.
Ver anteriores referências em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/fragata-d-maria-ii/
(3) A corveta D. João I largou de Lisboa a 6 de Outubro de 1853 sob o comando do capitão-de-fragata Carlos Craveiro Lopes para a segunda comissão na estação naval de Macau, fazendo escala pelo Cabo de Boa Esperança e Timor. Veio como imediato do navio o 1.º tenente Joaquim de Fraga Pery de Linde e faziam quartos os tenentes Zeferino Teixeira, João António da Silva Costa, José Maria da Fonseca e João Eduardo Scarnichia. O médico era Faustino José Cabral.
Ver anterior referência em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2018/04/20/leitura-a-corveta-d-joao-i-e-o-ultramar-portugues/
4) Rio Yong – 甬江, um dos principais rios da China localizado em Ningbo. Formado pela convergência de dois rios rio Fenghua e rio Yao.
(5) Carlos Craveiro Lopes (1807 – 1865) militar português.. Ver biografia em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Craveiro_Lopes
Informações recolhidas de
GOMES, Luís Gonzaga – Páginas da História de Macau, 2010.
MONTEIRO, Saturnino – Batalhas e Combates da Marinha Portuguesa, Vol VIII (1808-1975), 1997, pp 109-110.
TEIXEIRA, Mons. Manuel – Marinheiros Ilustres Relacionados com Macau, 1988, p.91.

Deste livro, (1) transcrevo os dados históricos da corveta «D. João I» relacionados com as comissões em Macau; alguns dados não são condicentes com o publicado nas minhas postagens anteriores (2), dados esses que na altura recolhi do Arquivo Histórico da Marinha (3)
Pelo seu armamento em Goa, assumiu o comando o capitão de mar e guerra José António Marcelino Pereira e entrou pela primeira vez no porto de Lisboa, ido de Goa em 1831. O Governo francês, nas lutas entre liberais e miguelistas, tomou conta de vários navios de guerra portuguesa, entre eles, a corveta «D. João I» que enviou para Brest em 11 de Julho de 1831.
Após negociações ao fim de três anos, foi resgatada em 1834, tendo uma guarnição portuguesa chefiada pelo capitão-tenente João Maria Ferreira do Amaral partido e trazido de Brest com partida a 25 de Julho e chegada ao Tejo a 30 de Julho de 1834.

http://portalbarcosdobrasil.com.br/bitstream/handle/01/643/003101.pdf?sequence=1&isAllowed=y

Na sua oitava comissão (a primeira em direcção a Macau), saiu a 23 de Outubro de 1849, sob o comando do capitão-tenente Isidoro Francisco Guimarães, para a estação naval da América do Sul e dali para a de Macau em viagem sem escalas. Chegou ao seu destino, depois de 105 dias de viagem, isto é, a 25 de Abril de 1851. O comandante Guimarães deixou o comando ao oficial imediato, capitão-tenente Domingos Roberto de Aguiar, em 19 de Novembro por ter sido nomeado Governador de Macau.
A corveta partiu de regresso a Portugal a 27 de Dezembro e chegou a Lisboa em 18 de Agosto de 1852.
Na sua décima comissão, a missão de corveta era exigir das autoridades chinesas uma satisfação oficial e pecuniária pelas depredações e injúrias feitas ao comércio marítimo português pelo famoso pirata Apack que na altura havia atacado e roubado diferentes lorchas macaístas. Largou a 6 e Outubro de 1853 sob o comando do capitão-de-fragata Carlos Craveiro Lopes para a Estação Naval de Macau com escala pelo Cabo de Boa Esperança e Timor.  
Era imediato do navio o 1.º tenente Joaquim de Fraga Pery de Linde e faziam quartos os tenentes Zeferino Teixeira, Silva Costa Fonseca e João Eduardo Scarnichia.
O médico era Faustino José Cabral. Seguiam embarcados 10 guarda marinhas (entre estes Carlos Eugénio Correia da Silva (mais tarde conde de Paço d´Arcos)
Em 1 de Fevereiro de 1854 navegava no arquipélago de Sonda com mar de vaga larga, vento oesnoroeste fresco e céu limpo. Sucederam-se calmas, ventos variáveis e trovoadas que cansaram extraordinariamente a guarnição, pelas repetidas manobras que teve de fazer.
Seguia como intérprete o hábil e honesto João Rodrigues, de Macau. Uma parte da esquadra do pirata encontrava-se entre Ning-Pó e Compó, na força de 6 táo-maus ou juncos e 1 haipó, de 32 peças de artilharia. Parte desta artilharia havia sido da fragata D. Maria II, destruída em Macau pela explosão do seu paiol da pólvora.
Em Macau, cedeu à canhoneira «Camões», 12 carabinas pelo que ficou reduzida a 54 visto terem-se inutilizado as restantes.
Em 14 de Maio de 1854 largou a corveta de Macau com destino a Ning-Pó- Fu, fazendo escala por Hong Kong e Amoy. Entrou em Hong Kong no dia seguinte e largou a 17 para Amoy.
Fundeou diante da cidade de Ning-Pó-Fu a 22 de Junho. (4)
A corveta, em 1856 largou para Portugal e a 18 de Janeiro do ano seguinte entrava o Tejo. Em 1 de Agosto de 1859 tendo terminado as reparações, armou, assumindo o comando o capitão de fragata Feliciano António Marques Pereira.
A Décima primeira Comissão, novamente rumo a Macau (missão: viagem diplomática ao Japão) saiu em 28 de Agosto de 1859, sob o comando do capitão de fragata Feliciano António Marques Pereira, fazendo escala por Luanda, para onde levava passageiros e dinheiro, e por Dili. Apanhou uma tempestade próximo do cabo de Boa Esperança, passou por Batávia (autoridade holandesa) onde esteve 13 dias no porto e de onde saiu em 17 de Janeiro de 1860 em direcção a Dili que alcançou a 24 do mesmo mês – passado 6 dias largou para Macau onde só conseguiu ancorar em 15 de Março, devido a ventos banançosos e contrários.
Em Macau recebeu ordem do Governador para partir para Xangai fazendo escala por Hong Kong. Largou a 27 de Maio, tocou em Hong Kong na madrugada do dia seguinte, e saiu para o norte a 5 de Junho.
No dia 23 fundeou em frente de Wussung, um dos afluentes do Yang-Tsé, e a 29 foi embarcar na corveta o Governador de Macau, capitão-de-mar-e-guerra Isidoro Francisco Guimarães que seguia para o Japão na qualidade de ministro plenipotenciário a negociar um tratado de paz e comércio com os japoneses. A corveta em 5 de Agosto largou para Yokohama a fim de se abastecer e no dia 1 de Setembro subiu o rio Wussung e foi largar âncora em Xangai com a missão de proteger o consulado português (luta na China com os ingleses e franceses) e os mais súbditos portugueses pela maior parte macaístas, que ali se achavam empregados ou estabelecidos.
Em 10 de Outubro por ordem do Governador de Macau, largou para o porto de Amoy a exigir uma indeminização ao governador chino pelos roubos praticados pelos chineses num vapor mercante português. Entrou em Amoy a 14 de Outubro. Por ordem do mesmo governador a corveta largou a 29 para Macau onde entrava a 2 de Novembro para nova missão, em 1861 – segunda viagem diplomática.
A Décima Quinta Comissão foi novamente rumo a Macau, em 1869
A última viagem (décima nona comissão) foi cruzeiro na costa Angolana tendo largado a 22 de Novembro de 1873 e recolheu a Luanda a 10 de Dezembro.
(1) ESPARTEIRO, António Marques (capitão-tenente) – A corveta «D. João I» e o Ultramar Português. Subsídios para a História da Marinha de Guerra XII. Separata n.º 288 do Boletim da Agência das Colónias. 1949.
Este livro está disponível para leitura em:
http://portalbarcosdobrasil.com.br/bitstream/handle/01/643/003101.pdf?equence=1&isAllowed=y
(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/corveta-d-joao-i/
(3) https://arquivohistorico.marinha.pt/details?id=2421)
(4) Sobre este combate publicarei numa próxima postagem.

Relatório do Serviço Médico da Província de Macau e Timor referido ao ano de 1985 elaborado pelo Dr. Augusto Pereira Tovar de Lemos (1) e datado de 1 de Fevereiro de 1886. (2)
1885 — Bairro de S. António: “Do lado N fica a casa ou palacete e uma formosissima quinta; cujo dono ha pouco era o sr. Comendador Lourenço Marques, e que actualmente pertence ao estado. N’esta quinta está a gruta histórica de Camões. Foi esta importantissima e formosa propriedade comprada ha pouco pelo Ex. mo Sr. Governador Thomaz Roza, logo que soube que o proprietario a negociava com os missionarios francezes. Por 35:000 patacas se satisfez um dever patriotico, por todos sentido e já pela illustrada sociedade de Geographia lembrado, por ocasião da celebração do tricentenario do Camões. (3)
Descrever a belleza d’aquella quinta, fallar d’aquellas gigantescas arvores, (4) cujas, raizes abraçando caprichosamente as rochas, encantam e extasiam o observador, não é para aqui, nem eu, por incompetente, assumiria tal encargo. Muitas aplicações pode ter tal vivenda, supponho porem que a melhor entre todas, e a que está lembrando aos que a conhecem, é para museu, jardim zoologico e botanico. Em melhores condições naturaes não está decerto o bello e novo museu em Singapura. A idea não é minha, mas seguramente applicação melhor e mais conveniente não pode ter. Corre que ha muito em tão importante e instructivo melhoramento pensa o Ex.mo Sr. Thomaz de Souza Roza. Se conseguir realisal-o, é mais uma obra grandiosa do seu governo.
Em linha com a entrada de tão formosa e encantadora vivenda estão extensas ruínas, esqueletos de dois palacetes, triste recordação do anno de 1874. Pertencem ao mesmo sr. Commendador Lourenço Marques. Diz-se que o seu proprietario tenta de novo erguei-os para arrendar, pois que para si destina parte do grande palacio, que formando do lado SO a face do quadrado do espaçoso largo, foi agora erguido sobre as ruínas d’ um outro palacete que o mesmo tufão em intima alliança com um voraz incendio, conseguira abater. Igual sorte ia tendo a igreja de Santo Antonio que fica ao S. Em geral os edificios d’esta freguezia são de modesta apparencia.”.
(1) Sobre Augusto Pereira Tovar de Lemos, ver em anteriores referências:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/augusto-pereira-tovar-de-lemos/
(2) Augusto Pereira Tovar de Lemos — Relatório do Serviço Médico da Província de Macau e Timor, referido ao ano de 1885, datado de 1 de Fevereiro de 1886- págs. 149 e 154 — in Boletim da Província de Macau e Timor — Série de 1886)
(3) “1885 — “Embora o processo para aquisição do Jardim de Luís de Camões fosse desencadeado pelo antigo Capitão do Porto de Macau, João Eduardo Scarnichia, quando deputado no Parlamento de Lisboa, em Maio de 1880, só perante o desejo dos Padres das Missões Estrangeiras de Paris para ali instalarem um sanatório é que se retomou o processo. Foi então que o Governador Tomás de Souza Roza telegrafou ao Ministro da Marinha e Ultramar, Manuel Pinheiro Chagas e, devidamente autorizado, antecipou-se aos franceses, comprando a propriedade à família Marques“.
(SILVA, Beatriz Basto da — Cronologia da História de Macau — 3. ° Vol., 1995)
(4) “O Jardim Luís de Camões situa-se na colina que é também conhecida por «Colina da Fénix», devido às acácias rubras (delonix regia) que existem naquele local desde a Dinastia Qing que brotam flores vermelhas incandescentes na primavera e verão, tornando o jardim mais belo.”
https://nature.iacm.gov.mo/p/park/detail.aspx?id=b4dd26b1-dd88-4170-9314-9d845834699b

O novo governador, José Maria da Ponte e Horta (1) que tomou posse a 26 de Outubro de 1866 substituindo o anterior, José Rodrigues Coelho do Amaral, visitou os estabelecimentos públicos do território, na semana de 5 a 9 de Novembro de 1866, conforme notícia publicada no Boletim do Governo de Macau (2)
Visitou no dia 5 de Novembro, o palácio episcopal e o “asylo” dos pobres; no dia 6, a Nova Escola Macaense, o Seminário Diocesano e o Colégio da Imaculada Conceição; no dia 8, a Repartição dos incêndios e os quartéis de polícia de mar e terra; e no dia 9, o Mosteiro de Santa Clara.
Em relação aos estabelecimentos visitados e durante o curto mandato deste governador foram emitidos os seguintes despachos: (3)
Nova Escola Macaense: o governador nomeou em 26 de Novembro de 1866, uma comissão composta por Francisco de Assis e Fernandes, presidente; cónego António Marai de Vasconcelos, secretário; João Eduardo Scarnichia, Gregório José Rodrigues e Francisco Joaquim Marques para elaborar um projecto de Regulamento para a Nova Escola Macaense. Infelizmente por falta de meios para a sustentar a Nova Escola Macaense foi encerrada a 21 de Outubro de 1867.
Seminário Diocesano: foi autorizada por Portaria Régia de 21 de Abril de 1868, a fundação duma escola de português para chineses, paga pelo cofre do Seminário Diocesano e superintendida pelo reitor do mesmo.
Colégio da Imaculada Conceição: pela Portaria Provincial n.º 1 de 7 de Janeiro de 1868, foi permitido ao Colégio da Imaculada Conceição continuar aberto enquanto os seus meios o viabilizarem, regendo-se, nesse caso, pelos estatutos que datava de 26 de Dezembro de 1863.
Repartição dos incêndios: em 18 de Março de 1867, foram aprovados provisoriamente, por Portaria Régia, algumas providências do governo de Macau sobre o serviço de incêndios.
Quartéis de polícia de mar e terra: o Batalhão de Macau tomou posse a 30 de Dezembro de 1866 do seu novo quartel construído no lugar do antigo Convento de S. Francisco (desenho e sob a direcção do antigo governador Coelho do Amaral); o Corpo de Polícia de Macau foi, por Portaria de 18 de Outubro de 1867, mandado instalar no Convento de S. Domingos.
(1) José Maria da Ponte e Horta (1824- 1892) foi nomeado governador de Macau em 17-07-1866 (Decreto Régio da mesma data em que é exonerado o governador Coelho do Amaral) e chega a Macau, vindo de Hong Kong a bordo da canhoneira «Camões» em 26 de Outubro de 1866. Acumulou o cargo de enviado extraordinário e ministro plenipotenciário junto dos imperadores da China e Japão e rei do Sião sendo condecorado, a 16-12-1867, por este último com a insígnia do “Elefante Branco.” Por Decreto Régio de 16-05-1868, é exonerado, a seu pedido, e sido substituído pelo Vice-Almirante António Sérgio de Sousa que só chegou a Macau a 1-08-1868 e tomado posse a 3 de Agosto de 1868. Ponte e Horta partiu para Hong Kong a 6 de Agosto de 1868, no «White-Cloud» e dali para a Europa, a 7 no «Malaca».
Foi depois nomeado governador de Cabo Verde em Fevereiro de 1870 e governador de Angola entre 1870 e 1873.
(TEIXEIRA, Padre Manuel – Toponímia de Macau, Volume II, 1997)
Outras referências anteriores deste governador neste blogue:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jose-maria-da-ponte-e-horta/
(2) Do «Boletim do Governo de Macau» XII-46 de 12/Novembro /1866 p. 188.
Por Decreto de 26 de Novembro de 1866, a cidade de Macau e o território português da  Ilha de Timor passaram a constituir uma só província denominada de «Província de Macau e Timor». Os Boletins no entanto, só passaram a serem designados: «Boletim da Província de Macau e Timor» a partir do ano XIII, n.º 7 de 18 de Fevereiro de 1967.
(3) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, 1995.
NOTA: O «Diário Illustrado» de 17 de Março de 1892, aquando do falecimento deste governador, a 9 de Março, vítima de uma “paralysia”, referia o seguinte:
O finado era cavalheiro muito conhecido em Lisboa pela sua vasta erudição de que falam bem alto os muitos trabalhos literários e scientíficos que deixou.
“Matemático distincto, regia na escola polytecnica de Lisboa a quarta cadeira d´esta sciencia.
Desde 1880 que tinha assento na camara dos pares, onde a sua voz, por vezes, se fez ouvir. Era actualmente vice-presidente da academia real das sciencias, onde fez varias conferencias, sendo umas das mais notáveis a que teve por titulo ”Conferência acerca dos infinitamente pequenos (publicado em livro em 1884). Era general de divisão reformado e condecorado com várias ordens militares …”
Em Macau, ficou a recordá-lo na toponímia, a Praça de Ponte e Horta – 柯邦迪前地 (nome oficial) mas mais conhecido em Macau por 司打口 –.“Si Tá Hau”, (4) situada entre as Rua das Lorchas, do Bocage e do Tesouro, (data de 1867, os últimos aterros que iam das Portas do Cerco até à Barra, nomeadamente o aterro dos canais que existiam nessa zona) local onde havia um Porto-cais de Colecta de Impostos a todos os produtos importados, alguns exclusivos para a importação do ópio (e onde estava a “Fábrica do Ópio”)
(4) 柯邦迪前地 – mandarim pīnyīn: kē bāng dí qián dì; cantonense jyutping: o1 bong1 dik6 cin4 deng6.
司打口mandarim pīnyīn: sī dá kǒu; cantonense jyutping: si1 daa2 hau2 – tradução literal: entrada/porta de controle/colecta.