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Extraído de «Gazeta de Macao», n.º IV de 24 de Janeiro de 1824, pp. 310 e 312

No dia 20 de Janeiro de 1824, embarcaram na fragata Salamandra o Comandante dela, Capitão de Mar-e-Guerra Joaquim Mourão Gracez Palha, futuro governador de Macau. (1) Foi muito obsequiado e saudado à hora da partida, tendo a fortaleza de S. Francisco salvado quando, dirigindo-se do Hopu da Praia Grande para bordo, a lancha que o conduzia passou a frente.“ (2) A fragata que esteve em Macau desde 23 de Setembro de 1823 até à partida em 20 de Janeiro de 1824, trouxe uma força de 200 marinheiros e oficiais vindos de Goa, (3) sob o comando do Major João Cabral de Estefique ocupando as fortalezas e impondo um Conselho do Governo. (2) (3) (4)

(1) De 1825 a 1827 é Governador de Macau, Joaquim Mourão Garcês Palha. Teve problemas financeiros e políticos, nomeadamente com as autoridades chinesas quer de Cantão quer de Pequim. Garcês Palha chegou a ser em 1848 governador geral da Índia. (2) Anteriores referências de Joaquim Mourão Garcez Palha em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/joaquim-mourao-garces-palha/

(2) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume II, 2015, pp. 38-40.

(3) De 1 de Julho a 23 de Setembro de 1823, a Cidade de Macau, foi governada exclusivamente pelo Senado. Em 23-09-1823, toma posse, em substituição do Senado, um conselho presidido pelo Bispo D. Fr. Francisco de Nossa Senhora da Luz Chacim, dele fazendo parte p Major João Cabral d´Estefique e um vereador aos meses (liberal). O termo de posse foi lido no Senado, mas a provisão era do Governador de Goa, D. Manuel da Câmara. Exactamente por este motivo, as nomeações não foram bem acolhidas. Entre outras razões, foi invocado que “se o povo de Goa pode dar autoridade, por que o não poderá o de Macau? (2)

(4) “23-09-1823 – Segundo os liberais do Senado, a fragata Salamandra era o centro do alegado movimento despótico e anti-constitucional que ameaçava Macau.” (2)

NOTA: “03-01-1824- Primeiro número do periódico “Gazeta de Macao”, substituto de “A Abelha da China”. Durou até fins de Dezembro de 1826. De periodicidade semanal, era impresso na Tipografia do Governo, a cargo do Leal Senado. O parque tipográfico veio a ser posteriormente emprestado ao Superior do Colégio de S. José, P.e Nicolau Rodrigues Pereira de Borja. (2)

De 1-07-1823 a 23-09-1823, a cidade de Macau foi governada exclusivamente pelo Senado. A 23 de Setembro de 1823 foi dado posse, em substituição do senado, de um conselho presidido pelo Bispo D. Fr. Francisco de Nossa Senhora da Luz Chacim, dele fazendo também parte o tenente-coronel João Cabral d´Estefique e um vereador do mês do Leal Senado que durou até 1825. Em 25 de Julho de 1825 foi nomeado novo governador Joaquim Mourão Garcez Palha (até 1827). (1) (2)

Segundo os liberais do Senado, a fragata Salamandra que chegou a Macau a 23 de Setembro de 1823, era o centro do alegado movimento despótico e anticonstitucional que ameaçava Macau. Era comandada pelo futuro Governador Joaquim Mourão Garcez Palha, e trazia uma força de 200 marinheiros e oficiais vindos de Goa ocupando as fortalezas e impondo um Conselho do Governo. (1)

Extraído de «A Abelha da China», LVI-11 de Outubro de 1823

NOTA: No dia 28 de Agosto de 1823, foi judicialmente queimado às portas da Ouvidoria o virulento número desta data de «A Abelha da China» (o 1.º jornal de Macau). O editor Fr. Gonçalo Amarante deste jornal (órgão do partido constitucional) fundado pelos dominicanos, com a queda do Governo Constitucional, em 23 de Setembro de 1823, refugiou-se em Cantão com os liberais Domingos José Gomes e João Nepomuceno Maher. No dia 27 de Setembro reapareceu, jornal agora editado por António José da Rocha mas o último número (n.º 67) foi a 27-12-1823. (1)

(1) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume II, 2015, pp. 38 e 39.

(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/joaquim-mourao-garces-palha/

Retrato do Dr. Thomas Colledge – pintura de George Chinnery (1838?)

José Baptista de Miranda e Lima (1) dedicou um “EPIGRAMA” ao Dr. Thomas R. Colledge, por altura da partida de Macau deste médico-cirurgião, versos esses recitados pelo autor em casa do pintor George Chinnery.

Extraído de «O Macaísta Imparcial», n.º 152 (Vol. 2; n.º 47) de 23 de Maio de 1838, p. 190.
Dr. Thomas R. Colledge e o seu assistente Afun, após uma operação oftalmológica a uma chinesa, quadro pintado por George Chinnery em 1833. Quadro em “Peabody Essex Museum, Salem, MA” http://visualizingcultures.mit.edu/rise_fall_canton_02/cw_essay02.html
Extraído de «O Macaísta Imparcial», n.º 152 (Vol. 2; n.º 47) de 23 de Maio de 1838, p. 190.

A 16 de Maio de 1838 partiu de Macau para Inglaterra (via Nova York) o médico-cirurgião Dr. Thomas R. Colledge (1797 – 1879) (2) que, em 1827, fundou em Macau um “hospital” oftalmológico em Macau que funcionou de 1827/28 a 1832, totalmente financiado pelo próprio. O hospital acudia a todo o tipo de doenças, embora concentrasse em problemas oculares. Terá atendido cerca de 4000 doentes. Foi um dos primeiros médicos europeus que enquanto trabalhava para a “British East India Company”, em Guangzhou (Cantão) e em Macau, como missionário fundou o primeiro hospital de medicina ocidental, em Cantão para os doentes chineses. Na partida, deixou como responsável o cirurgião americano, Dr. Peter Parker que se tornou o primeiro médico missionário a tempo inteiro para a comunidade chinesa. Em 1837, fundou e foi o primeiro presidente da Sociedade Médica Missionária da China (até à sua morte).

NOTA: O médico casou em Macau com a americana Carolina Mary Shillaber na capela do Cemitério protestante de Macau, em 1932, e o Governador João Cabral d´Estefique foi um dos convivas. Nesse mesmo cemitério (antigo Cemitério da Companhia das Índias Orientais) estão sepultadas três crianças irmãs, filhas do casal.

(1) Anteriores referências ao poeta J. B. Miranda e Lima https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jose-baptista-de-miranda-e-lima/

(2) Anteriores referências ao Dr. Thomas Colledge em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2020/03/25/noticia-de-25-de-marco-de-1820-introducao-da-vacinacao-na-china/

No dia 28 de Agosto de 1855, um violento temporal de nordeste causou vários estragos na cidade e a morte do marinheiro Francisco dos Santos, por alcunha o Caparica, da corveta D. João I (1) que caiu ao mar, na ocasião em que, com mais alguns, tentava desembaraçar a corveta de uma embarcação chinesa, que estava encostada à proa. (2)
A corveta “D. João I” foi a última corveta de vela da Marinha Portuguesa. A carranca da proa era um busto de deus Marte, barbudo, de capacete romano emplumado, cota de combate.

Corveta D. João ICORVETA «D. JOÃO I»
Fotografia tirada em Luanda em 1874 pertencente à Biblioteca da Marinha

Características da corveta “D. João I”
Comprimento fora a fora – 45.54 m, boca – 10.56 m, pontal – 6.27 m, calado a vante – 6027 m; tonelagem – 516 toneladas;
Em 31 de Dezembro de 1855, achava-se armada com a artilharia seguinte:
2 peças de bronze de calibre 18, 1 peça de bronze de calibre 3, 16 caronadas de ferro de calibre 32;
O armamento portátil era constituído por:  60 espingardas de fuzil, 20 pistolas de fuzil, 4 bacamartes de canos de bronze, 45 espadas e respectivos cinturões, 60 baionetas e respectivos cinturões, 20 chuços, 90 cartucheiras de cinto;
Lotação em 1842 – 161 homens. (3)
(1) A corveta “D. João I” foi construída em Damão, em teca, por Jadó Simogi, (4) pelo risco da corveta “Infante D. Miguel”, (5) aproveitando os materiais do desmancho desta corveta que estava podre, aproveitando-se forro, cobre e outros metais. Foi lançada ao mar em 9 de Outubro de 1828. Tinha boas qualidades náuticas.
Alguns dados quanto às comissões/missões desta corveta, relacionados com Macau, recolhidos do Arquivo Histórico da Marinha: (3)
O navio entrou em Goa a 28 de Novembro de 1828.
Em 1830, largou de Goa para Lisboa, conduzindo o ex-Governador de Macau. (6)
Em 1850, largou do Rio de Janeiro para Macau, conduzindo o novo Governador Capitão-de-mar-e-guerra Pedro Alexandrino da Cunha. (7)  Em Janeiro de 1851, a “D. João I” largou de Macau para Hong-Kong, conduzindo o novo Governador, Capitão-de-mar-e-guerra Francisco António Gonçalves Cardoso. (8)
Em 1854, conduzindo o Governador da província (9) e o ministro plenipotenciário francês, largou de Macau para Ning-Pó, fazendo escala por Hong Kong e Amoy.
Em Julho de 1854 a corveta travou combate com os piratas chineses com completo êxito. (10)
Em 1860, o navio preparou-se para desempenhar uma missão importante – conduzir a seu bordo o Capitão-de-mar-e-guerra Isidoro Francisco Guimarães, Governador de Macau, ao Japão, a negociar um tratado de paz, amizade e comércio com os japoneses. (11)
Em 1861, largou em segunda viagem ao Japão, com escala por Xangai, para se proceder ali à ractificação do tratado do comércio luso-japonês. Devido ao mau tempo não chegou ao seu destino.
Em 1869, largou de Lisboa a fim de reforçar a Estação Naval de Macau, durante a travessia o navio sofreu uma violenta tempestade que apenas o seu Comandante Tomás Andreia evitou o pior.
(2) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954
(3)  https://arquivohistorico.marinha.pt/details?id=2375
(4) “Dom Fernando II e Glória” foi uma fragata à vela da Marinha Portuguesa, que navegou entre 1845 e 1878. e o último navio de guerra inteiramente à vela da Marinha Portuguesa. Foi construída em Damão, na Índia Portuguesa, sob a supervisão do engenheiro construtor naval Gil José da Conceição, por uma equipa de operários indianos e portugueses, liderados pelo mouro Yadó Semogi. Na sua construção foi usada madeira de teca de Nagar-Aveli. Depois do lançamento ao mar, em 22 de Outubro de 1843, o navio foi rebocado para Goa onde foi aparelhado. Em 1963, um violento incêndio destruiu uma grande parte do navio, ficando abandonado no Tejo.
Entre 1992 e 1997 a fragata foi recuperada pela Marinha Portuguesa, recorrendo ao Arsenal do Alfeite e aos estaleiros Rio-Marine de Aveiro. O navio esteve exposto na Expo 98. Atualmente é um navio museu, na dependência do Museu da Marinha e classificada como Unidade Auxiliar da Marinha (UAM 203).
pt.wikipedia.org/wiki/Dom_Fernando_II_e_Glória_(fragata)
(5) A corveta “Infante D. Miguel” foi construída no Arsenal da Marinha de Lisboa. Estava no Estaleiro desde 1819 onde aparece como fragatinha “Liberdade”. Foi lançada à água em 1822. Passou a chamar-se “Infante D. Miguel” desde Junho de 1823. Em Março de 1827, entrou em Damão para receber fabricos. O auto de vistoria de Maio de 1827 mandou abater o navio. Em Dezembro de 1827, chegou ordem para começar a desmanchar a corveta e tirar-lhe o risco. (3)
(6) Terá sido João Cabral d´Estefique que embora lhe esteja atribuída o governo de Macau de 7-07-1829 a 1833 (Beatriz Basto da Silva) , o padre Manuel Teixeira indica o fim em 1830.
(7) Pedro Alexandrino da Cunha – governo de 30-05-1850 a 06-07-1850 – falecido de cólera. Ver anterior referência a este governador em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/pedro-alexandrino-da-cunha/
(8) Erro nesta informação: o governador capitão de Mar-e-Guerra Francisco António Gonçalves Cardoso que foi nomeado em 1850, veio de Hong Kong (onde esteve hospedado em casa de Eduardo Pereira) para Macau no dia 26 de Janeiro de 1851. A posse do governo foi a 3 de Fevereiro de 1851 (governador de 3-02-1851 a 19-11-1851). Regressou à Portugal no vapor da mala com partida de Hong Kong sendo transportado pela mesma corveta D- João I no dia 24 -11-1851 de Macau para Hong Kong.
(9) Capitão-tenente da Armada Isidoro Francisco Guimarães (depois Visconde da Praia Grande)
(10) Terá sido em Junho já que o relato dos conflitos havidos entre essa corveta e seis embarcações chinesa no rio Ningpo, feito pelo Comandante da corveta D. João I, Carlos Craveiro Lopes está datado de 27 de Junho de 1854.
(11) O tratado de Paz, Amizade e Comércio Entre Portugal e o Japão foi celebrado a 3 de Julho de 1860
Anteriores referências à corveta “D. João I”
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/corveta-d-joao-i/

Em 28 de Julho de 1825, tomou posse do cargo de Governador e Capitão-Geral, o Capitão de Mar e Guerra Joaquim Mourão Garcês Palha.(1)
Joaquim Garcês Palha 1825-1827Joaquim Mourão Garcês Palha, filho de Cândido José Mourão Garcês, fidalgo cavaleiro da Casa Real e governador de Damão,  nasceu em Goa, no ano de 1775 e faleceu nessa mesma cidade em 1850.
Em 1800, foi nomeado Governador da fortaleza e cidade de Diu e pertenceu à Junta Provisional da Índia Portuguesa 1822-1823.
Sendo capitão de mar e guerra, foi-lhe entregue o comando da fragata Salamandra, que de Goa partiu para Macau em 1823, afim de libertar a cidade de Macau das mãos dos liberais que em 24 de Agosto 1822, na sequência da Revolução Liberal Portuguesa, instituíram, em Macau, um regime democrático.(2) A fragata regressou a Goa  no dia 15 de Janeiro de 1824.(3)
No desempenho desta comissão houve tanta prudência e bom êxito, que D. João VI, por carta régia de 4 de Maio de 1825 aos juizes, vereadores e procurador do Senado de Macau, e por proposta destes e do vice-rei da Índia, lhe concedeu, além da comenda honorária da Ordem de Cristo, a pensão anual de 500 taés, pelos rendimentos da alfândega de Macau, com sobrevivência aos seus descendentes legítimos.(4)
Regressou a Macau em Julho de 1925, como Governador mantendo essa função de 1825 e 1827. Em 26 de Dezembro de 1825, foi jurada em Macau, a Carta Constitucional.(1)
Em 15 de Novembro de 1927, por doença retirou-se de Macau para Goa, tendo assumido o governo da Colónia, o Conselho Governativo constituído por D. Frei Francisco Chacim, Bispo da Diocese, pelo Desembargador José Filipe Pires da Costa e pelo Major Alexandre Grand-Pré.Este depois substituído pelo Tenente-Coronel Dionísio de Melo Sampaio, Comandante do Batalhão Príncipe Regente. Por morte do bispo ficou servindo o vigário capitular, Inácio da Silva, e depois o deão da Sé.(1)
Joaquim Garçês Palha foi depois Governador da Índia, entre 1843 e 1844.
(1) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954 e SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau , Volume 3, 1995.
(2) “Em 23-09-1923, tomou posse do Governo e Capitania-Geral um Conselho Governativo constituído pelo Bispo da Diocese, D. Francisco Chacim, pelo Major João Cabral de Estefique e por um vereador da Câmara (liberal) nomeado mensalmente. Segundo os liberais do Senado, a fragata Salamandra era o centro do alegado movimento despótico e anti-constitucional que ameaçava Macau. A fragata comandada pelo futuro Governador Joaquim Mourão Garcez Palha, trazia uma força de 200 marinheiros e oficiais vindos de Goa, os quais desembarcaram a 23 de Setembro, ocupando as fortalezas e impondo um Conselho do Governo.“(1)
(3) “8-01-1824 – O Governo de Macau anuncia na Gazeta desta data que no dia 15 seguinte larga do porto de Macau para Goa a fragata Salamandra. Arriaga assina, com Chacim (o Bispo) e Cabral (João Cabral d´Estefique.”
20-01-1824 – Embarcaram na fragata Salamandra o Comandante dela, Capitão de Mar-e-Guerra Joaquim Mourão Gracez Palha. Foi muito obsequiado e saudado à hora da partida, tendo a fortaleza de S. Francisco salvado quando, dirigindo-se do Hopu da Praia Grande para bordo, a lancha que o conduzia passou a frente.“(1)
(4) “04-05-1825 – Por carta régia dirigida aos Juízes, Vereadores e Procurador do Senado de Macau e por proposta destes, foi concedida ao Capitão de Mar-e-Guerra Joaquim Mourão Garcez Palha, além da comenda honorária da Ordem de Cristo, a pensão anual de 500 taéis com sobrevivência nos seus descendentes legítimos.”(1)
NOTA: Joaquim Mourão Garcês Palha casou com D. Lizarda Joaquina de Mendonça Corte Real, filha de Xavier de Mendonça Corte Real, moço fidalgo da Casa Real, capitão de mar e guerra da marinha de Goa, e de sua mulher, D. Violante Luísa Pereira de Castro. Deste consórcio, entre os quatro filhos, houve o 1.º visconde de Bucelas, Cândido José Mourão Garcês Palha, e o 1.º barão de Combarjúa Ludovico Xavier Mourão Garcês Palha.
http://www.arqnet.pt/dicionario/garcezpalhajm.html