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Continuação da publicação dos postais constantes da Colecção intitulada “澳門老照片 / Fotografias Antigas de Macau / Old Photographs of Macao”, emitida em Setembro de 2009 pelo Instituto Cultural do Governo da R. A. E. de Macau/Museu de Macau (1)

Coreto da Avenida Vasco da Gama

Contíguo a este largo (onde está o monumento a Vasco da Gama, planeado para ser levantado em 1898, mas só inaugurado a 31 de Janeiro de 1911) e do lado da estrada da Victoria procede-se actualmente à construção d´um coreto para música, ao centro d´um pequeno jardim, sendo este jardim fechado por duas rampas circulares d´acesso da Avenida para a estrada da Victoria que devem produzir um lindo efeito.” (artigo do engenheiro Augusto César d´ Abreu Nunes (2) , em 1898, publicado no “Jornal Único”) (3)
Os actuais Jardim da Vitória e Jardim de Vasco da Gama, são o que resta da antiga Avenida Vasco da Gama, aberta em 1898, por ocasião do IV Centenário do Descobrimento do Caminho Marítimo para a Índia.
Essa avenida, que com mais propriedade, se deveria chamar alameda ou mesmo pequeno parque, tinha 500 metros de comprimento e 65 de largura. Progressivamente, a partir de 1935, foi retalhada para receber equipamentos urbanos como o campo desportivo do Tap Seac, as escolas primária oficial Pedro Nolasco da Silva e Luso-chinesa Sir Robert Ho Tung, uma piscina municipal e mais tarde, uma unidade hoteleira (Hotel Estoril)” (4)
Ao longo da Avenida corriam dois parques de árvores de S. José (Ficus chloro-carpas) que lhe davam um aspecto bucólico de frescura campestre… (… ) Do lado N. a Avenida terminava pelo Jardim da Vitória , que era de forma circular com 58 m de diâmetro, sendo torneado pela rua central da Avenida. (5)
(1) Ver anteriores referências em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/category/postais/
(2) A avenida Vasco da Gama foi projectada pelo engenheiro Augusto César d´Abreu Nunes.
(3) O “Jornal Único” publicou-se, num único número, no dia 20 de Maio de 1898,
com óptima apresentação e interessante colaboração, em comemoração do 4. º Centenário do Descobrimento do Caminho Marítimo para a Índia (GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954)
(4) ESTÁCIO, António J. E.; SARAIVA, António M. P. – Jardins e Parques de Macau. Instituto Português do Oriente, 1993, p. 36.
(5) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Vol. I, 1999, pp. 228.

Continuação da publicação dos postais constantes da Colecção intitulada “澳門老照片 / Fotografias Antigas de Macau / Old Photographs of Macao”, emitida em Setembro de 2009 pelo Instituto Cultural do Governo da R. A. E. de Macau/Museu de Macau (1)

加思欄花園 (2)  – Jardim de S. Francisco – S. Francisco Garden
Década de 1890

Na encosta situada nos limites da “cidade cristã” e sobranceira à Baía da Praia Grande, estabeleceram os franciscanos espanhóis, em 1580, um convento que tinha anexo uma horta ou jardim conhecido como “Jardim do Bispo” Parte deste jardim, ao que supomos, compreendia um pouco da zona superior do actual Jardim de S. Francisco.
É o único jardim situado no que é hoje a “baixa” da cidade. No entanto o seu aspecto e localização em relação ao mar são bem diferentes do inicial. Construído em meados do século XIX, foi projectado por Matias Soares. (3) Era fechado por uma balaustrada e portas, tendo um horário variável de abertura ao público, consoante se tratasse do Verão ou do Inverno. (4) Foi um verdadeiro passeio público pois era frequentado pelos membros de abastada famílias macaenses, que ali se deslocavam a fim de ouvir a Banda Militar, e mais tarde, a Municipal, actuar num coreto que existiu até 1935. (5) Era limitado, a sul, pelas águas da Baía da Praia Grande, antes da execução dos aterros que alargavam a área da cidade mas provocaram a perda de vistas e a alteração da insolação do jardim” (6)

Foto pessoal de Maio de 2017

(1) Ver anterior referência em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/category/postais/
(2) 加思欄花園mandarim pīnyīn: jiā sī lán huā yuán; cantonense jyutping: gaa1 si1 laan4 faa1 jyun4.
Este jardim entrou na toponímia chinesa com o nome de «Ká-Si-Lán-Fá Yun» isto é «Jardims dos Castelhanos», devido ao Convento de S. Francisco, que confinava com ele do lado ocidental e que foi fundado pelos franciscanos castelhanos.
(3) Matias Soares que projectou e fiscalizou a construção de S. Francisco foi depois para Hong Kong, onde construiu um magnífico bungalow em Saiyinpun com uma horta e um jardim. Ele transmitiu o gosto das flores a seu filho, Francisco Paulo de Vasconcelos Soares. (TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Vol. I, 1999, pp. 205-207)
Francisco (Frank) Paulo de Vasconcelos Soares foi um rico comerciante em Hong Kong, corrector imobiliário em Kowloon. Faleceu em 1953 e na antiga propriedade da família, hoje urbanizada,  está localizada a “Soares Avenue”-
(4) O Jardim ficava aberto das 6.00 horas às 24.00 horas durante o Verão (Maio a Setembro) e as 7.00 horas às 21.00 horas durante o Inverno (Outubro a Abril)
(5) Em 1861 a banda militar tocava ao sol-pôr nos domingos e quintas feiras. Depois foi substituída pela banda municipal, até que esta última foi dissolvida a 9 de Outubro de 1935.
(6) ESTÁCIO, António J. E.; SARAIVA, António M. P. – Jardins e Parques de Macau. Instituto Português do Oriente, 1993, p. 26

Relatório do Serviço Médico da Província de Macau e Timor referido ao ano de 1985 elaborado pelo Dr. Augusto Pereira Tovar de Lemos (1) e datado de 1 de Fevereiro de 1886. (2)
1885 — Bairro de S. António: “Do lado N fica a casa ou palacete e uma formosissima quinta; cujo dono ha pouco era o sr. Comendador Lourenço Marques, e que actualmente pertence ao estado. N’esta quinta está a gruta histórica de Camões. Foi esta importantissima e formosa propriedade comprada ha pouco pelo Ex. mo Sr. Governador Thomaz Roza, logo que soube que o proprietario a negociava com os missionarios francezes. Por 35:000 patacas se satisfez um dever patriotico, por todos sentido e já pela illustrada sociedade de Geographia lembrado, por ocasião da celebração do tricentenario do Camões. (3)
Descrever a belleza d’aquella quinta, fallar d’aquellas gigantescas arvores, (4) cujas, raizes abraçando caprichosamente as rochas, encantam e extasiam o observador, não é para aqui, nem eu, por incompetente, assumiria tal encargo. Muitas aplicações pode ter tal vivenda, supponho porem que a melhor entre todas, e a que está lembrando aos que a conhecem, é para museu, jardim zoologico e botanico. Em melhores condições naturaes não está decerto o bello e novo museu em Singapura. A idea não é minha, mas seguramente applicação melhor e mais conveniente não pode ter. Corre que ha muito em tão importante e instructivo melhoramento pensa o Ex.mo Sr. Thomaz de Souza Roza. Se conseguir realisal-o, é mais uma obra grandiosa do seu governo.
Em linha com a entrada de tão formosa e encantadora vivenda estão extensas ruínas, esqueletos de dois palacetes, triste recordação do anno de 1874. Pertencem ao mesmo sr. Commendador Lourenço Marques. Diz-se que o seu proprietario tenta de novo erguei-os para arrendar, pois que para si destina parte do grande palacio, que formando do lado SO a face do quadrado do espaçoso largo, foi agora erguido sobre as ruínas d’ um outro palacete que o mesmo tufão em intima alliança com um voraz incendio, conseguira abater. Igual sorte ia tendo a igreja de Santo Antonio que fica ao S. Em geral os edificios d’esta freguezia são de modesta apparencia.”.
(1) Sobre Augusto Pereira Tovar de Lemos, ver em anteriores referências:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/augusto-pereira-tovar-de-lemos/
(2) Augusto Pereira Tovar de Lemos — Relatório do Serviço Médico da Província de Macau e Timor, referido ao ano de 1885, datado de 1 de Fevereiro de 1886- págs. 149 e 154 — in Boletim da Província de Macau e Timor — Série de 1886)
(3) “1885 — “Embora o processo para aquisição do Jardim de Luís de Camões fosse desencadeado pelo antigo Capitão do Porto de Macau, João Eduardo Scarnichia, quando deputado no Parlamento de Lisboa, em Maio de 1880, só perante o desejo dos Padres das Missões Estrangeiras de Paris para ali instalarem um sanatório é que se retomou o processo. Foi então que o Governador Tomás de Souza Roza telegrafou ao Ministro da Marinha e Ultramar, Manuel Pinheiro Chagas e, devidamente autorizado, antecipou-se aos franceses, comprando a propriedade à família Marques“.
(SILVA, Beatriz Basto da — Cronologia da História de Macau — 3. ° Vol., 1995)
(4) “O Jardim Luís de Camões situa-se na colina que é também conhecida por «Colina da Fénix», devido às acácias rubras (delonix regia) que existem naquele local desde a Dinastia Qing que brotam flores vermelhas incandescentes na primavera e verão, tornando o jardim mais belo.”
https://nature.iacm.gov.mo/p/park/detail.aspx?id=b4dd26b1-dd88-4170-9314-9d845834699b

A ponte das Nove Curvas no jardim Lou Lim Ioc em 1973

No dia 28 de Dezembro de 1974, (1) abriu as portas como Jardim Público, o único jardim de estilo chinês que pertenceu em tempos a Lou Lim Ioc e que o Governo adquiriu em 12 de Maio de 1973 (assinatura da compra e venda) (2) ao seu mais recente proprietário, «Sociedade de Fomento Predial Sei Iek Lda.», cujo gerente geral era o Ho Yin. Recuperado foi entregue ao Leal Senado para gestão deste este espaço de grande beleza e serenidade. (3)

O jardim de Lou Lim Ioc em 2017

A abastada família de artistas e letrados de apelido Lou/Lu, de Chiun Lin (distrito de San Wui/ Xinhui/Sunwui), na província de Cantão (Guangdong), cujo chefe de família era Lu Cheok Chin, também conhecido por Lou Kau, ou Lu Cao, um letrado de fino gosto artístico, veio para Macau, em 1870, fixando-se no Largo da Sé. (4) Adquiriu para recreio e “casa de campo” um terreno nas húmidas e pantanosas várzeas do Tap Seac. Contratou em Cantão os serviços de dois artistas, Lau Kat Lok e Lei Tat Chun para construírem um jardim chinês, ao estilo do século XIV, em Sou Chou (Suzhou)

O jardim de Lou Lim Ioc em 2017

O «Jardim das Delícias» ou «Yu Yun» ficou conhecido por «Jardim de Lou Kao» ou de «Lou Lim Ioc». O nome de Lou Lim Ioc (5) deriva do seu filho mais velho, que herdou parte da propriedade e o gosto do pai em receber com fausto as grandes figuras da cidade. O outro irmão, vivendo entre académicos, já que herdara do pai o pendor intelectual e literário, desinteressou-se da metade que lhe cabia na propriedade. (3)

Jardim do Lu-cau (vista interior onde se vê os viveiros, área hoje urbanizada) – “Ilustração Portugueza”, 1908.

Cercado de altos muros, tem hoje, a sua entrada pela Estrada Adolfo Loureiro, ocupando uma área de 1, 23 hectares (inicialmente registada com uma área de mais de 20 000 m2) mas reduzida por sucessíveis desanexações (por exemplo, a área ocupada actualmente pelas escolas Pui Cheng e Leng Nam). Dispondo das duas portas típicas dos jardins chineses, a “porta da lua” e a “porta da jarra”, encerra um grande lago de margens irregulares, bordejado por uma cortina de bambus e de salgueiros. Sobre o lago o célebre Pavilhão da Relva Primaveril que fica perto da montanha artificial, da qual de desprende uma cascata, e da famosa Ponte das Nove Curvas. (6)
Dentro do jardim havia um coreto inaugurado em 1928, onde, no início, o dono do jardim realizava espectáculos de ópera chinesa, de que era grande apreciador. Este coreto encontrava-se em lugar diferente do actual, visto que a porta dava para a Av. Conselheiro Ferreira de Almeida, e foi um dos edifícios destruídos pela explosão no Paiol da Flora em 13 de Agosto de 1931. (7)
Anteriores referências a este jardim em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jardim-lou-lim-ieoc/

A ponte das Nove Curvas no jardim Lou Lim Ioc em 2017

(1) Esta data vem referenciada na obra da Dra. Beatriz Basto da Silva (3). No entanto em muitos artigos e livros, vem referido como data de  abertura do jardim ao público o dia 28 de Setembro de 1974 – como por exemplo em «Jardins e Parques de Macau », p. 20. (6)
(2) Iniciativa do governador José Manuel Nobre de Carvalho. Foi adquirido com todas as benfeitorias existentes pela quantia de 2, 7 milhões de patacas. Após a assinatura da escritura foi feito o pagamento de $ 1 000 000,00, o restante foi feito no prazo de 18 meses a contar da data da celebração do contrato. Para o pagamento da primeira prestação foi utilizada importância de $ 1 000 000,00, referida no parágrafo segundo da 16.ª cláusula do contrato com a S. T. D. M. e destinada a obras de fomento. Dado que a despesa total excedia a importância fixada na regra 23.ª do artigo 15.º do E. P. A. da província foi necessário obter a autorização ministerial. (Macau B.I.T., 1973)
(3) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 3 (1995) e Volume III (3.ª edição reformulada, 2015).
(4) Lou Cheok Chin ou Lu Cheok Chi ou Lu Cao (1837 – 1906) foi naturalizado português por Carta Régia de 11-05-1886.Teve 29 filhos das suas 10 mulheres. O mais velho e mais célebre foi Lou Lim Ioc.
(5) Lou Lim Ioc (1877 -1927), milionário, letrado, diplomata entre a China e Portugal, membro do Conselho Legislativo de Macau, foi agraciado com a comenda da Ordem de Cristo a 13 de Abril de 1925. Faleceu no dia 15 de Julho de 1927 e o funeral realizou-se com grande pompa e aparato no dia 31 de Julho de 1927. (7)
(6) ESTÁCIO, António Júlio Emerenciano; SARAIVA, António Manuel de Paula – Jardins e Parques de Macau. IPO, 1993
(7) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 4, 1997.
NOTA: Conta-me o meu amigo Fernando Guerra, então alferes em comissão de serviço em Macau e aquartelado na Ilha Verde, onde estavam 90 militares – soldados europeus e macaenses (após a fase de recruta ; vigorava o serviço militar obrigatório) que em 1973 (após a compra pelo Governo do jardim), por ordem superior, foram os militares “encarregados” de limpar a área do jardim que estava em bastante estado de degradação e abandono. Mas entre os chineses e macaenses constava-se que a área (bem como a família) estava amaldiçoada e por isso havia “fantasmas” a circular por lá, pelo que os soldados macaenses recusaram participar na tarefa. Foram os soldados europeus a executar o trabalho.

a-vistors-handbook-to-romantic-macao-capaFolheto turístico em inglês (41 páginas), “ A Visitor´s Hanbook to Romantic Macao”, publicado em 1928, pelo “The Publicity Office Port Works Department, Macao”. Impresso no “N. T. Fernandes e Filhos” (1). Este folheto de 1928 é da 2.ª edição (a 1.ª edição foi em 1927)
PREFACE TO SECOND EDITION
The active demand for this booklet has proved the need for such a publication, and the complete exhaustion of the first edition in less than two weeks has prompted the issue of a second edition, considerably added to with new sections and much further useful information.
The additionod a Bibliography as an appendix was suggested by that in the recently publishedResumo da Historia de Macauby Eudore de Colomban and Captain Jacinto N. Moura, and it is to be hoped that visitors will find Macao sufficiently interesting to make full use of the works enumerated in the short list to gain a better knowledge of “ Romantic Macao”
                                                                           THE PUBLISHERS
                                                                      Macao, 4th February, 1928

a-vistors-handbook-to-romantic-macao-1-a-pagina1-ª Página

Tópicos abordados: “The Charm of Old Macao”; “Topographical”; “Clmate”; “Historical”; “A Suggeste Itenerary”; “ Beautiful Macao”; “General Information”; “Harbour Works”; “Shipping”; “ Banking”; “ Hotels, & C.”; “Transport”; “ Commerce and Enterprise”; “ Industry and Crade”; “Buyers Guide”; “ Public Services”; “Bibliography”.

a-vistors-handbook-to-romantic-macao-mapa-1928MAPA DE MACAU E ILHA DA TAIPA (escala 1:80.000)

Na página 12, uma interessante sugestão de um percurso a pé por Macau pelos pontos turísticos principais, com a romanização para o inglês dos caracteres chineses desses locais.

a-vistors-handbook-to-romantic-macao-sugestao-de-itenerarioComeça na Avenida Almeida Ribeiro, passando pelo Jardim de São Francisco e Jardim de Vasco da Gama; subindo para a Colina da Guia, descendo para Flora, passando pela Montanha Russa e a Praia da Areia Preta (inexistente actualmente) até à Porta do Cerco. Depois, o Hipódromo (inexistente hoje) e o Templo Lin Fong. A seguir o Cemitério Protestante (antigo),  a Gruta de Camões e as Ruínas de S. Paulo. Depois a Sé Catedral e o Colégio de S. José, subindo para a Penha. Descida para a Santa Sancha e seguindo pela Avenida da República até ao Templo de Á Má, terminando o percurso pelo Porto Interior até à Avenida Almeida Ribeiro.

jardim-de-s-francisco-poema-iNuma cavaqueira com um amigo, falando de Macau, este referiu que gostava dos versos de Camões que estavam no Jardim de S. Francisco.
Perguntei-lhe: – Tens a certeza … os versos são de Camões?
Resposta pronta: – Mas é o que diz lá na placa.
Bem, apesar de muita gente, mesmo em Macau, continuar a atribuir estes versos a Camões, e assim faz supor a indicação nessa placa que foi colocada em 1883 numa parede lateral de pedra, à direita, logo após os primeiros degraus de pedra para quem sobe o actual Jardim de S. Francisco, (1) a partir da Rua de Santa Clara. Na verdade, pertencem a Almeida Garrett.  Fazem parte do livro de poesia « Camões. Poema» escrita por Almeida Garrett (1799-1854) , publicado em 1825. (2)

O “poiso” referido no poema é a Gruta do Patane «Nas penhas dessa ilha abriu natura, cava na rocha, solitária gruta…»
jardim-de-s-francisco-poema-iijardim-de-s-francisco-poema-iii

(1) O jardim de S. Francisco estava murado desde c. de 1860 e era um belíssimo campo de lazer, com três portões e uma porta pequena em frente do Convento de St. Clara. Nos finais do século XIX era local de passeio, com vista para o mar, fresco e agradável para os dias de maior calor e pontualmente com apresentação de bandas de música. Em 1927­, os muros foram-se abaixos assim como parte dos canteiros e o caramanchão, para se abrirem nele duas vias alternativas ao trânsito da rua principal, para facilitar o tráfego com o Porto Exterior. Ficou o quiosque, «falando do passado, e pouco mais» (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 4, 1997).
(2) Canto IV na primeira edição do livro publicado em Paris, nas pp. 87-88. Edições e revisões posteriores, Canto XIV)
GARRETT, João Baptista da Silva Leitão d´Almeida – Camões. Poema. Paris, Livraria Nacional e Estrangeira,1825, 216 p.
Disponível para leitura em:
http://purl.pt/16/4/cam-423-p_PDF/cam-423-p_PDF_24-C-R0150/cam-423-p_0000_1-236_t24-C-R0150.pdf
“A obra «Camões» de Almeida Garret é um poema lírico-narrativo, escrito provavelmente durante o primeiro exílio do escritor e é considerada a primeira obra romântica da história da literatura portuguesa. O tema desta obra é a vida de Luís de Camões, em particular, os momentos em que Camões escreveu «Os Lusíadas»”.
http://www.livros-digitais.com/almeida-garret/camoes/sinopse
Anterior referência a este poeta em
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/joao-bsl-almeida-garrett/

Jardim Lou Lim Ioc entrada actualEntrada actual

 O Jardim Lou Lim loc /Lou Lim Ieoc, também conhecido por Lou Iun ou Lou Kau ou Yu Yun (Jardim das Delícias) foi  mandado construir por Lou Cheok Chin (pai de Lou Lim Ioc), no século XIX. É o mais chinês ( e único, no estilo clássico Suzhou) dos jardins históricos de Macau.
Depois da morte de Lou Lim Ioc, o Governo de Macau durante o mandato do Governador Nobre de Carvalho, em 1973, adquiriu-o e após restauro abriu ao público a 28 de Setembro de 1974. 
Jardim Lou Lim Ioc bilheteBilhete de entrada no valor de $1.00 (uma pataca) para o Jardim Municipal Lou Lim Iok, sob a gestão do Leal Senado de Macau, com o número 80931, da década de 80 (muito possivelmente no ano de 1985/86).
Infelizmente mal conservado, encontrado como marcador de um livro, com marcas de dobras.

POSTAL - Jardim Lou Lim Ioc 1984POST CARD-MACAO H. T. 17 – Lou Lim Ioc Garden (1984)
Produced by Chan Yan Min Distributed by Wai Hung Printing Co.

O Pavilhão Chun Chou Tong, assemelha-se a um pavilhão flutuante num lago de forma irregular onde se encontram peixes e tartarugas e muita verdura. Num canto do lago existe uma estátua da deusa Kun Iam. Actualmente, o Pavilhão constitui uma sala de exposições para as principais actividades culturais do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais.

POSTAL - Jardim Lou Lim Ioc 1985POSTAL – M 9407 – Jardim Lou Lim Iôc / Lou Lim Ioc Garden (1985)
Produced by Tak Lee Trading Co. Macau

A ponte das nove curvas em ziguezague (segundo crença chinesa, os maus espíritos só se deslocam em linha recta) que atravessa o Lago dos Nenúfares , elementos característicos de um jardim em estilo de Suzhou.
Referências anteriores a este jardim:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jardim-lou-lim-ieoc/
Sobre este jardim, aconselho leitura do artigo de Ana Catarina Antunes na «Revista Macau» de 2014, em:
http://www.revistamacau.com/2014/04/16/o-jardim-lou-lim-ioc/
e pode visualizar um video desse lugar, de 2011 em:
https://www.youtube.com/watch?v=uSmLFgc41VQ
盧廉若花園mandarim pinyin: Lú Lián ruò huāyuán; cantonense jyutping: lou4 lim4 joek6 faa1 jyun – Jardim de Lou Lim Ioc. Também conhecida por:
盧廉若公園mandarim pinyin: Lú Lián ruò gōngyuán;cantonense jyutping: lou4 lim4 joek6 gung1 jyun – parque (público) Lou Lim Ioc.

Continuação da publicação das fotografias deste pequeno álbum (1)

“SOUVENIR DE MACAU”

Souvenir de Macau 1910 jardim Chinez

 “UM JARDIM CHINEZ”

Jaime do Inso escreve sobre este “Jardim Chinez” – o jardim de Lou Lim Ioc (também conhecido por Jardim de Lou Kao):
“Estes jardins, ali para os lados do Campo do Tap Seac, encerram uma vivenda cheia de verdadeiras fantasias orientais, formada por um palacete, pavilhões, lagos com pontes caprichosas, grutas artificiais, cascatas, flores, muitas flores, sendo de admirar como so chineses, com a aparência que nos manifestam tanto as apreciam.
Encontram-se ali recantos de verdura, fechados, discretos, com mesas e bancos, em redor, caramanchões exóticos, cheios de dragões decorativos, quiosques com vidros de cores casinhas misteriosas dispersas pelos cantos, que bem revelam quando Lu Lim Ieoc era um pagão adorador da vida…
E os trabalhos de embelezamento do famoso jardim nunca se acabavam, havia sempre mais uma gruta, uma cascata, uma árvore a dispor, etc, para não fugir à superstição de que, acabada a casa, o dono morrerá.” (2)
E na verdade, com a morte de Lou Lim Ioc, em 1927, o jardim entrou em decadência e os herdeiros (filhos) após a Segunda Guerra Mundial, em 1951,por questões financeiras venderam a extensa área (parte do jardim foi para construções urbanas, outras partes ocupadas pelas escolas Pui Cheng e Leng Nam) restando pouco, residência, pavilhões, lago que foram adquiridos pelo Governo em 1974. Após restauro abriu como jardim público.

Souvenir de Macau 1910 Um aspecto da Gruta de CamõesOUTRO ASPECTO DA GRUTA DE CAMÕES

Escreve Luís G. Gomes no Boletim do Instituto Camões, Vol. VII, n.º3, Outono de 1973:
Situado no Jardim da Gruta de Camões, está instalado em vetusto palacete, um dos raros exemplos de construção arquitectural dos meados do século XVIII, que sobreviveu ao camartelo inexorável do incessante progresso.
Foi dono, tanto deste edifício como do amplo parque que o rodeia, o abastado negociante Manuel Pereira, Fidalgo Cavaleiro da Casa Real do Conselho de Sua Majestade, Conselheiro da Fazenda, Comendador das Ordens de Cristo e da Senhora da Conceição de Vila Viçosa, um dos fundadores da Casa de Seguros de Macau e seu Vice-Presidente e Tesoureiro. Tendo-se radicado nesta cidade, aqui constituiu família, casando três vezes e aqui faleceu em 10 de Março de 1826, tendo sido sepultado na igreja do extinto Convento, hoje Quartel de S. Francisco” (2)
(1)  https://nenotavaiconta.wordpress.com/category/artes/
(2) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Vol I, 1997

Continuação da publicação das fotografias deste pequeno álbum (1) (2)

“SOUVENIR DE MACAU”

com as legendas originais, nenhuma das duas, “bem legendadas”

Souvenir de Macau 1910 Um aspecto da Gruta de CamõesUM ASPECTO DA GRUTA DE CAMÕES
(entrada do jardim, «Casa Gardens»)

“It is situated in the Casa Gardens which are entered by a gateway in the corner of the Plaza de Camoens. On entering, a small garden is seen in front of a large house; but hearing off to the right instead of going to the house and descending some steps one enters a large garden with many broad paths leading in different directions under umbrageous trees, while many ferns grow in the rocks, great masses of which are piled about in certain parts in nature’s wild confusion. The garden until recently was private property but a few years sime the Portuguese Government bought it from its owner for $35,000. Since its purchase a hand-stand has been erected and a fountain put up, the paths ivoemented (though they still retain their slipperyness as in other days) and ornamental walks and vases and borders made at certain places of little cubes or chips of white and red stone which have a somewhat bright and pleasing effect. 

Souvenir de Macau 1910 Praça de CamõesPRAÇA DE CAMÕES
(interior do jardim de Camões)

Fortunately the Government has had the good taste not to carry this ornamentation to too great an extent and many parts of the garden are delicious in their wild condition. In one on two places, especially in one corner of the garden, gigantic boulders are piled one on the top of the other and a banian is perched on the topmost, while it sends its roots down in a perfect network over the masses of rocks on their way to mother earth, for the sustenance which the unique position of the tree prevents it from absorbing otherwise.
On one of the mass of rocks thrown together in wild confusion was a small terrace where one might sit and view the landscape o’er. A flight of steps led up to it; but it has now been removed. A circular building with a slit through its roof at one side of the garden overlooking Inner Harbour will also attract attention. It was built for Laperouse and in it the scientific officers of his squadron, the Astrolabe and Boussole, made astronomical observations during the stay of those vessels in the Taipa in January 1787.” (3)

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/04/29/macau-de-1910-souvenir-de-macau-i/
(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/05/01/macau-de-1910-souvenir-de-macau-ii/
(3) BALL, J. Dyer – Macao: the Holy City,  the Gem of the Orient Earth, 1905

“Inauguração após renovação, em Abril de 1956, do Jardim Público e Miradouro situados à esquerda da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, e junto à praia da Taipa.
MBI III-65 1956 ITrês fogões de cimento, especialmente construídos na extremidade Sul para esse fim, permitem aos visitantes a agradável facilidade de cozinharem ou aquecerem os seus petiscos ao ar livre, enquanto um caramanchão, guardado por dois ciprestes e que a seu tempo se cobrirá de trepadeiras, ensombreia uma grande mesa de marmorite, pronta a aparar as iguarias que farão as delícias dos excursionistas.

Jardim Público da Taipa I 2015O MESMO JARDIM – TAIPA  – ABRIL 2015

A toda a extensão da praia na encosta da Colina do Carmo, viçosas flores espalham seus aromas pelo relvado e pelas graciosas avenidas que levam ao mar, num conjunto harmonioso de singular exotismo e de arrebiques que fazem lembrar as histórias dos Jardins de Castelos de «Fadas e Mouras Encantadas».
Num pequeno lago, também ajardinado, ao lado da Igreja, com dois baloiços e outros tantos escorregadouros de madeira, expande a pequenada suas alegrias e fabrica suas inocentes brincadeiras enquanto não toca o sino para as aulas, ou não chega, nos dias de mais calor, o momento de poder nadar. Um pormenor que nos chamou a atenção: de cada lado duma das escadas que conduzem à praia, um escorregadouro de cimento por onde algumas crianças deslizavam alegremente.

Jardim Público da Taipa II 2015O MESMO JARDIM – TAIPA  – ABRIL 2015

A dominar a paisagem batida pelas ondas e refrescada pela brisa do mar, uma pequena esplanada com mesas e assentos semicirculares de cimento, pintados a vermelho, tendo ao fundo um rico balneário.
O jardim público recente remodelação do que já existia no mesmo local, ornamentado com novas plantas, provido de engenhosos canteiros e enriquecido com larga variedade de flores, ostenta ainda ao centro o aquário-repuxo e ao fundo quatro grandes gaiolas com periquitos, canários e pintassilgos, bicos-escarlates e pardais de Batávia.
MBI III-65 1956 IILá estão ainda a árvore de S. João e a Velha Palmeira, Á direita, e quatro Araqueiras altivas, quase à entrada e ao fundo.” (1)

Jardim Público da Taipa III 2015O  MESMO JARDIM TAIPA – ABRIL 2015

NOTA:Sintoma também da falta de técnicos é um pequeno jardim que se debruçava sobre a zona sul da Taipa (Baía de Nossa Sr.ª da Esperança). Neste espaço o miradouro Dr.ª Laurinda Marques Esparteiro – construído entre Novembro de 1954 e Abril de 1955 a partir de um projecto do então presidente da Junta local das Ilhas, António Maria da Conceição – revela-se de uma cândida imaginação, traduzida na rica inventiva das variadas peças – escadas, floreiras, vedações, mesas e bancos. Dada a semelhança de estilo devem-se certamente ao mesmo autor os jardins junto à antiga Ponte fluvial do Carmo e à Fortaleza da Taipa. Aqui, entretanto, e felizmente as poucas habilitações do projectista funcionaram num sentido positivo, pois dificilmente um técnico com uma formação académica evidenciaria tal liberdade de criação.
SARAIVA, António M. P. – Jardins e a história de Macau in Macau, encontros de divulgação e debate  em estudos sociais, pp. 193-205.
(1) Macau Boletim Informativo ANO III, Abril 1956