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O suplemento Ilustrado do jornal «Notícias de Macau», de 23 de Dezembro de 1972, documenta a homenagem promovida no dia 18 de Novembro, no jardim da Flora, em memória de Alfredo Augusto d’Almeida, (1) cidadão macaense que, sempre comum perfil modesto, tanto pugnou pela preservação do património histórico, cultural da sua terra, com especial carinho pela flora e aspectos paisagísticos. Foi descerrado um busto deste dedicado funcionário do Leal Senado, esculpido por Oseo Acconci.” (2)
O busto colocado no corredor central do Jardim da Flora, moldado em gesso em 1971, tem uma inscrição em português e chinês

A
ALFREDO AUGUSTO DE ALMEIDA QUE EM VIDA
TANTO AMOR DEDICOU A ESTE JARDIM
1898-1971

(1) Alfredo Augusto de Almeida (21 de Janeiro de 1898 – 13 de Novembro de 1971) –Autodidacta,naturalista e botanista amador, funcionário municipal e público por muitos anos, trabalhou no Serviço de  Obras Públicas e ao serviço do Leal Senado, renovou e transformou o espaço verde do Jardim da Flora, introduzindo novas espécies de flores, árvores de fruto e até uma pequena fauna.
Foi devido ao seu interesse e entusiasmo pelas plantas e jardins que planeou muitos espaços públicos de Macau. Preservou e recuperou muitas pedras que tinham alguma ligação histórica à cidade que estavam para destruição mormente aqueles que foram sujeitos ao vandalismo no período «1-2-3» de 1966, preservadas nas paredes do Leal Senado e na Fortaleza do Monte.
Era Tetraneto do Primeiro Barão de Porto Alegre, Januário Agostinho de Almeida (1759 -1825), um dos comerciantes de ópio mais ricos de Macau nos inícios do século XIX.
Segundo o que refere Jorge Forjaz (3) «Alfredo Augusto de Almeida não herdou a fortuna dos seus antepassados e, por isso, foi toda a vida um humilde funcionário público e municipal. Mas herdou as suas virtudes, a sua grandeza de alma e um nobre coração.
Filho de Macau, da mais ilustre aristocracia macaense, este homem foi sempre leal e honesto, nobre e respeitador no trato social e amigo da sua terra como poucos. Os jardins de Macau devem-lhe muito e o da Flora deve-lhe quase tudo, inclusivamente a classificação científica de todas as plantas e animais que lá existiam.
O Museu Arqueológico da Fortaleza do Monte foi ele que o salvou, foi ele que o colocou ali.
Era um self made man, lia e consultava as autoridades em botânica e na arqueologia; por isso o Prof. Williams, de St. Francis Xavier College, perito em botânica, nunca vinha a Macau que não fosse a sua casa; o mesmo fez sempre o brigadeiro e historiador Sir Lindsay Ride, que tinha por ele o maior apreço; o então Governador Jaime Silvério Marques (1959-1962) correspondia-se frequentemente com este funcionário, a quem tanto apreciara e elogiara durante o seu Governo de Macau.
Em 1935, ele reconstruiu o jardim da Igreja de S. Lourenço, sob as indicações da Srª D. Laura Lobato.
Oseo Acconci, que tanto o estimava, moldou o seu busto, um mês antes da sua morte.». (3)
(2) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Vol. 5, 1998
(3) FORJAZ, Jorge – Famílias Macaenses , Volume I, 1996
Outra bibliografia consultada:
RIDE, Lindsay; RIDE, May; WORDIE, Jason –  The Voices of Macao Stones,1999.
ARAÚJO, Amadeu Gomes de – Diálogos em Bronze, Memórias de Macau, 2001-

Data de 15 de Agosto de 1791, o Édito de Quianlong (1) aos mandarins para que pedissem auxílio a Macau contra a pirataria.
Neste dia, que era 13 da sétima lua do ano 56 do Imperador Kien Long (Kien-Lung), o mandarim de Ansan (Heong-San) escreveu uma chapa ao Senado pedindo auxílio contra os piratas. O Governador Capitão Vasco Luís Carneiro de Sousa e Faro, (2) no Conselho do Senado de 25 de Agosto de 1791, disse: «Que reflectindo no principal ponto de prezente Chapa, que hé limpar estes mares de Piratarias, considerava, que a nossa introdução neste vasto Imperio, não fora senão por outra semelhante cauza, que felizmente conseguindo os nossos primeiros Portuguses (sic) destruírem os ladroens que naqueles princípios infestavam, e perturbavão o socego publico nos permitirão o estabellecimento desta cidade, com taes vantagens, q´já nestes infelizes tempos se vêm sprimidas, e cada vez absorvendo a malícia indecorosamente os nossos antigos privilégios, que ganhamos com trabalho, vendo tudo na mais decadente situação, experimentando de continuo reiterados insultos: Que não achava outro caminho, nem outro meyo mais efficaz para conseguirmos o nosso primitivo domínio, e ainda explendor que dirigirmos as nossas idêas por aquella mesma porta, que nos facilitou a entrada, para termos áquella mesma firme constancia, e senhorio, que possuiamos, e perdemos insencívelmente, e que com bem magoa o sentimos, já sem remedio. Em huma palavra: Que era de parecer; que se desse o socorro que pedia, debaixo das condiçoens, que lhe ocorria se pudesse ser … (…)…» (3)
O mesmo Governador encarregou-se de responder ao Mandarim que era autorizada o socorro se fosse restituído os privilégios antigos concedidos pelo Imperador.
Passaram os meses sem que os Chineses nada resolvessem, mas no dia 6 de Fevereiro do ano seguinte, 1792, o Senado recebia novas chapas sínicas a pedir socorro a esta Cidade «…de duas Embarcações para compreender os Ladroens, que se achão nas Ilhas vizinhas desta Cidade…».
No Conselho de Estado reunida a 15 de Fevereiro de 1792, o Procurador Joaquim Carneiro Machado propôs que fossem fornecidos dois navios, por o mandarim ter prometido que os restituiria, logo que fosse apresadas duas ou três embarcações de piratas, bem como a concessão dos privilégios que haviam sido concedidos pelos imperadores passados e que pareciam andar esquecidos dos presentes.
Não sei se foram enviadas as duas embarcações mas em 8 de Julho de 1793, outro Conselho de Estado dava o parecer de envio de três embarcações: Manuel Vicente Roza de Barros «offerece a chalupa Effigenia com todos os seus preparos, artelharias, e todas as mais Armas defensivas, …»; Januário Agostinho de Almeida «offerece o seu Navio declarando estar seguro em quarenta mil patacas, com a condição de suspender ancora deste Porto para Benagalla…» e Jozé Nunes da Silveira «offerece a chalupa Activa, no cazo q´possa servir….»(3)
(1) O Imperador Qianlong (乾隆 Qiánlóng) (Hongli (弘历) (1711 – 1799) foi o quinto imperador manchu da Dinastia Qing, e o quarto imperador Qing da China. Quarto filho do imperador Yongzheng, ele reinou oficialmente a partir de 18 de outubro de 1735 até 9 de fevereiro de 1796, quando abdicou em favor de seu filho, Jiaqing.
(2) D. Vasco Luiz Carneiro de Souza e Faro,  governador de Macau de 29-07-1790 a 26-07-1793.
(3) «Arquivos de Macau», 3.ª série, Vol IV, n.º 5 Novembro de 1965.1965.