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Extraído de «A Aurora Macaense», Vol 1, n.º 1 de 14 de Janeiro de 1843, p. 2

James Matheson (1) ao despedir-se de Macau, com partida em 10 de Março de 1842, no navio “Tartar”, ofereceu ao governo de Macau $5 000 (cinco mil patacas espanholas) como agradecimento ao governador e população de Macau pela sua permanência neste território, durante muitos anos.
Publicado no «The Chinese Repository» (2) carta ao Governador de Macau , Adrião A. da Silveira Pinto em inglès (com tradução em português) de 9 de Março de 1842, e a carta de agradecimento do Governador (também nas duas línguas) de 10 de Março.

(1) James Matheson (1796-1878) da “Jardine Matheson & Co” (percursora da actual “Jardine Matheson Holdings”. A empresa comercial (ópio, algodão, chá, seda e outros produtos) foi fundada em 1832 pelos escoceses William Jardine e James Matheson como sócios. O periódico «The Canton Register» foi o primeiro jornal (8 de Novembro de 1827) em língua inglesa na China, fundado por James Matheson e seu sobrinho Alexander junto com o americano William Wigtman Wood, que foi o primeiro editor. https://en.wikipedia.org/wiki/James_Matheson
Ver anteriores referências em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/the-canton-register/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/james-matheson/
(2) «The Chinese Repository» Vol. XI, March 1842, n.º 13 pp. 181-182

Do diário/cartas de Harriet Low, uma descrição de um pic-nic que, em 16 de Dezembro de 1831, se efectuou na ilha da Lapa, em companhia das senhoras Mrs. Davis, Mrs. Hyne e sua irmã, e da senhorinha Petrie; e dos seguintes homens: Matheson (1), e Davis, os dois escoceses que convidaram os outros para o picnic; o tenente George Frederick Dashwood, para o qual Harriet se sentiu atraída logo à primeira vista, Mr. Daniel e Mr. Pausey, os tenentes Pruyn e Mitchell e um missionário alemão,Karl Gutzlaff. (2)
Às 11 da manhã saí de casa acabrunhada, sem prever prazer algum, e nem sequer estava decidida ir; só o fiz ao chegar a casa de Mr. Davis, onde se reuniu o grupo …
Ao meio dia, saímos da casa de Mrs. Davis e fomos para o barco; com a maré e o vento eram contrários, tivemos de ficar ali uma hora.
Mas esta hora passou-se muito agradavelmente; o dia era fresco e confortável, o sol um tanto nublado, o que era ainda melhor. Embarcámos cerca da 1 e caminhamos até às 2,30, em que chegámos ao lugar do nosso destino – o pagode.
Todos estavam animados. Tomámos um belo almoço frio que nos foi fornecido, ou melhor, que nós mesmos levámos connosco, e que se compunha do melhor de cada coisa. Todos lhe fizemos justiça, pois os nossos apetites estavam tão aguçados como lâminas de barbear.
Bebemos água fresca da rocha ao lado.
As montanhas elevam-se sobre as nossas cabeças e, o que não é costume, estavam atapetadas de verdura. Avistávamos o mar à distância, salpicado de numerosas ilhas. E onde imaginas que foi a nossa mesa?
Na varanda do pagode. As deusas destes pobres pagãos estavam aos nossos lados, ao abrigo dum enorme rochedo. Mas a minha descrição não te pode dar ideia do lugar ou do prazer do nosso picnic. Os diferentes pratos vinham e iam na mesma ordem como se estivéssemos num hotel. Tudo correu decentemente e em ordem; à mesa, saltitava a alegria e uma hilaridade inocente.
Admirámos as belezas da natureza, compadecemo-nos das pobres criaturas, que se inclinam perante estes blocos de madeira ou pedra e eu, pelo menos, desejaria sinceramente ter a oportunidade de lhes fazer algum bem. Mas tudo o que posso fazer é rezar por eles. Tomámos uma bela chávena de café e, depois de explorar um pouco o lugar, começámos a viagem de regresso..  (…)
Para guia escolheram-me a mim e ao tenente George Frederick Dashwood. (3) Mas tenho a dizer-te que ele era um rapaz extremamente fascinante e eu não me importaria de ir com ele para qualquer parte. Disse eu então: “Bem, eu não tenho ideia alguma do caminho; mas prometeis seguir-me?”.
Levei-os por uma ravina abaixo, eriçada de imensos blocos de granito, passando uma corrente de água por entre eles. Dirigi a marcha mui ousada e elegantemente (pois pertenço à tribo de Chamois)
Quando já tinha andado meio caminho através de dificuldades e perigos, olhei para ver o grupo e verifiquei que não me haviam seguido. Imagina-me agora só na ravina com este jovem!
Que romântico!
Mas depressa, ouvimos o som duma voz lá em cima a dizer “Desafiadora. Ein!”
Eles haviam tomado um caminho mais fácil no cume da colina, mas eu gostei muito mais disto do que se fosse pelo caminho trilhado de cada dia.
Por fim, juntámo-nos ao grupo e passámos momentos encantadores; entrámos no barco e chegámos a Macau cerca das 7, demasiados excitados para sentir qualquer fadiga.
Tivemos um chá em nossa casa com as senhoras do grupo, que só nos deixaram depois das 11 da noite. Fui então para a cama, mas só consegui dormir às 6 horas da manhã”. (4)
James Matheson em 1837

(1) James Matheson (1796-1878) da “Jardine Matheson & Co” (percursora da actual “Jardine Matheson Holdings” . A empresa comercial (ópio, algodão, chá, seda e outros produtos) foi fundada em 1832 pelos escoceses William Jardine e James Matheson como sócios.
https://en.wikipedia.org/wiki/James_Matheson
Karl Gutzlaff, cerca de 1834

(2) Reverendo Karl Friedrich August Gutzlaff (1803-1851) da Prússia, que viveu muitos anos de Macau e faleceu em Hong Kong de 1851 com 49 anos de idade. Um dos primeiros missionários protestantes em Singapura, na Tailândia (1828) e Coreia do Sul (1832). Este pastor falava 12 línguas diferentes e tinha uma conversa interessantíssima como interessantes eram os seus sermões. Penetrou em Pequim e até mais além vestido à chinesa. Quando missionava no Sião, faleceu durante o parto a sua esposa e o filho. Deixou então esse país e, voltou a Macau. Casou em 1834 de novo, com Mary Wanstall que em Macau dirigiu uma escola e uma casa para cegos. Não tiveram filhos mas adoptaram duas raparigas chinesas cegas (uma delas foi educada em Inglaterra e voltou para uma escola de cegos em Ningbo. Mary Wanstall faleceu em Singapura em 1849. Terceiro casamento em 1850 na Inglaterra.
Em Macau, e depois em Hong Kong, Gutzlaff trabalhou (com outras pessoas) numa tradução Chinesa da Bíblia, (iniciou em 1840 e terminou em 1847), publicou uma revista em chinês, “Eastern Western Monthly Magazine”, fundou a “Sociedade Evangélica Chinesa”  e escreveu livros em chinês sobre assuntos práticos. Em 1834, publicou o “Jornal das Três Viagens além da Costa da China em 1831, 1832 e 1833”. Morreu em Hong Kong em 1851.
http://haudenschild-com.blogspot.com/2011/01/karl-friederich-gutzlaff-anglicized-as.html

Karl Gutzlaff em traje de Fujian
https://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_G%C3%BCtzlaff

Tem uma placa de toponímia com o seu nome em Hong Kong: Gutzlaff Street 吉士笠街
“Gutzlaff Street is a lane in the Central district of Hong Kong, crossing Stanley Street, Wellington Street, Gage Street and Lyndhurst Terrace” .
https://en.wikipedia.org/wiki/Gutzlaff_Street
NOTA: Em homenagem a Karl Gutzlaff , foi atribuído o seu nome a uma Ilha no distrito de Zhejiang. Gutzilaff , de 1840 a 1843,  serviu como intérprete/tradutor nos barcos britânicos, do Governo inglês em Hong Kong.  Foi portanto nomeado pelos britânicos  para magistrado em três cidades: na China Central – Dinghai; em Zhouhan (Chusan) – ilha na costa de Zhejiang; Ningbo (centro comercial da Província de Zheijiang) e em Zhenjiang (Chinkiang) – cidade do Rio Yangzi.

Ilha de Gutzlaff em Zhejiang, China.
https://en.wikipedia.org/wiki/Karl_G%C3%BCtzlaff

George Frederick Dashwood em 1850

(3) George Frederick Daswood (1806-1881). Entrou para o “Royal Naval College” em 1819. Depois da estadia em Macau, esteve entre 1832 e 1833 no “HMS Challenger“ e em 1833, como “commissioned lieutenant” no navio “Sulphur”. Devido a problemas de saúde (reumatismo acentuado) retirou-se em 1837. Casou em 1839, e com a família emigrou para Adelaide (Austrália) em 1841. Na Austrália, desde 1842 até ao seu falecimento, desempenhou diversos postos públicos (“Collector of Customs, “Police Magistrate” e Stipendiary Magistrate”)
https://collections.slsa.sa.gov.au/resource/B+31064 
https://en.wikipedia.org/wiki/George_Frederick_Dashwood
(4) Retirado de TEIXEIRA, Padre Manuel – Macau no Séc. XIX visto por uma jovem americana, 1981.

Faleceu a 14 de Julho de 1870, dum ataque repentino que o privou dos sentidos, o padre Jorge António Lopes da Silva, nascido em Macau, em 8 de Maio de 1817. Foi muito estimado por toda a população, tendo recebido, em Manila, aos 24 anos de idade a sagrada ordem de presbítero. Na volta a Macau, regeu a cadeira de Português, no Colégio de S. José e abriu, em sua casa, uma escola, donde saíram alguns padres e muitos guarda-livros. Foi depois convidado, pela Câmara Municipal para exercer a cadeira de professor de liceu, que fora então aberto, em Macau (1)
Não foi professor de liceu pois não havia ainda liceu em Macau. O Senado de Macau convidou a 14 de Abril de 1847 o Padre Jorge António Lopes da Silva para ser um dos primeiros mestres da futura Escola Principal de Instrução Primária. (2) O Padre respondeu a 27 do mesmo mês que aceitava ser um dos mestres das primeiras letras com o ordenado de 350 patacas anuais, pondo no entanto as seguintes condições: 1) levar consigo os meninos que estudavam em sua casa; 2) os requerimentos para admissão deveriam ser dirigidos não a ele, mas ao Senado; 3) que se alterasse o horário de inverno, pois o tempo do meio-dia às 2 horas lhe parecia curto para descanso de professores e alunos”, O Senado concordou e o Padre Jorge foi nomeado director e mestre da Escola Principal de Instrução Primária que foi inaugurada a 16 de Junho de 1847. A Escola ficou instalada em metade das casas do Recolhimento de S. Rosa de Lima. (3) (4)
A 14 de Junho de 1847, dois pretendentes oficiaram ao Senado: José Vicente Pereira oferecendo-se para mestre de inglês e francês dessa escola e John Hamilton pedindo-lhe um lugar de professor; a 22 de Novembro de 1847, o Senado comunicou ao Padre Jorge a nomeação de José Pereira e perguntando-lhe se carecia de mais outro professor. A Escola compreendia 3 cadeiras: uma de ensino primário, a cargo de Joaquim Gil Pereira, outra de português a cargo do Padre Jorge Lopes da Silva e outra de inglês e francês a cargo de José Vicente Pereira (3)
Apesar do seu limitado pessoal chegou a ter mais de 300 alunos.
Em fim de 1853, o Padre Jorge António Lopes da Silva pediu a demissão de director e mestre da escola. (5) Para a direcção da Escola foi nomeado o Padre Vitorino José de Sousa Almeida (6) que ficou só um ano pois o Senado teve de o despedir, ou por ter achado nele inaptidão ou por sua severidade pois que no cabo de um ano, estava deserta a aula das línguas portuguesas e latina.

Planta da Colónia Portuguesa de Macau
1870
Desenhada  por M. Azevedo Coutinho (7)

(1) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954
(2) A 27 de Janeiro de 1847, o Senado de Macau oficiou a José Vicente Jorge, Francisco António Pereira da Silveira, Francisco João Marques e Padre António José Victor, comunicando-lhes que haviam sido nomeados para fazer parte duma comissão a fim de elaborar um plano de educação para a mocidade deste estabelecimento. A Escola Principal de Instrução Primária foi fundada pelo Senado de Macau por meio de uma subscrição pública. O  Senado comunicou a João Maria Ferreira do Amaral, governador de Macau entre 1846 e 1849, a 17 de Fevereiro de 1847 que
deliberou com os eleitos das freguesias  solicitar dentre os moradores abastados desta Cidade
Huma subscrição, cujo produto incorporado ao Capital agora existente de $ 5 000 (doado pelo inglês James Matheson feita a Adrião Acácio da Silveira Pinto, governador de Macau de 1837 a 1843), constitua hum fundo capaz de produzir hum rendimento, que junto  ao que este Senado agora despende com a sua escola de primeiras letras seja sufficiente para cubrir as despezas de huma Escola Principal de Instrução Primária: e na qual … se ensine também as línguas Ingleza e Franceza, cujo conhecimento he hoje reconhecidamente de suma utilidade, senão indispensável neste pais”. (3)
(3) TEIXEIRA, Padre Manuel – A Educação em Macau, 1982
(4) Em Abril de 1849, a escola foi transferida para o Convento de S. Francisco; mas a 28 do mesmo ano, o Conselho de Governo comunicou ao Senado que, tendo de aquartelar nesse convento a força auxiliar vinda de Goa, a escola devia ser mudada para outro lugar; regressou então ao Recolhimento. (3)
(5) Segundo artigo publicado no «Echo do Povo» n.º 68 de 15-07-1960, o Padre Jorge Lopes da Silva deixou a direcção que ocupava porque obrigaram-no a aceitar o vicariato de S. Lourenço. Foi portanto, nomeado pároco de S. Lourenço e a 5 de Fevereiro de 1866, foi nomeado Governador do Bispado. O Padre Jorge Lopes da Silva foi nomeado em 1867 presidente duma comissão encarregada de estudar as necessidades da Santa Casa de Misericórdia, nomeadamente do recolhimento das raparigas abandonas à porta da Santa Casa, que levou posteriormente ao decreto do Governador José Maria da Ponte e Horta à abolição da Roda dos Expostos da Santa Casa, a 2 de Fevereiro de 1867.
(6) Padre Vitorino José de Sousa Almeida chegou a Macau a 2 de Janeiro de 1832 no Novo Paquete. Foi pároco de S. Lourenço de 1842 a 1852. (3)
(7) Ver referência a este Capitão em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/08/22/noticia-de-agosto-de-1952-clube-militar/