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Em Janeiro de 1987 chegaram a Macau cinco Irmãs da Congregação de Caridade de Santa Ana e iniciaram a sua obra no Asilo Betânia; em Maio de 1989 foram para o Asilo de Santa Maria; em Abril de 1992 para o Lar de S. Luís Gonzaga e em Janeiro de 1933 para o Centro de Santa Lúcia em Ká Hó, tratando e servindo todos os necessitados, especialmente os idosos e os doentes mentais que lhes foram confiados. Em 1994, quando foi publicado o opúsculo (1) que apresento, eram já vinte as Irmãs que se dedicavam nos Centros transformados em casas de bem estar e onde eram prestados bons cuidados e apoio a todos que ali se encontravam.

CAPA + CONTRACAPA

Maria Rafols nasceu em 5 de Novembro de 1781 em Villafranca de Panades.Barcelona, Espanha. Um dia encontrou o Pe João Boal, vigário do Hospital de Santa Cruz de Barcelona (falecido em 1829) e tenho sabido que este estava envolvido num projecto ambicioso de caridade para cidade, ofereceu-se para trabalhar ao serviço dos pobres. Aos 23 anos foi nomeada presidente feminina de um grupo de 12 irmãs da Caridade (como eram chamadas) encarregadas de melhorar a situação de 2 000 doentes do Hospital de Nossa Senhora da Graça em Saragoça. O modo de actuação da nova Irmandade foi-se tornando conhecido e o Bispo de Huesca, D. Joaquim Sanchez de Cutanda convidou-as para o serviço do Hospital e da Casa da Misericórdia da cidade (19 de Maio de 1807). Em 1808-1809, nos dois cercos feitos a Saragoça pelas tropas de Napoleão, a Irmandade contava já contava 21 Irmãs, exercendo uma acção contra a fome e a miséria dos feridos e prisioneiros da guerra. A rendição de Saragoça deixou a cidade coberta de cadáveres e em ruínas; nove companheiras sucumbiram de doença.

Em 15 de Julho de 1824, as Constituições da Irmandade foram aprovadas pela autoridade eclesiástica diocesana, e a 16 de Julho de 1825 treze Irmãs fizeram os primeiros votos públicos de pobreza, castidade, obediência e hospitalidade e as três fundadoras, Maria Raflos, Teresa Canti, Raimunda Torella e a irmã Teresa Ribeira fizeram os votos perpétuos no mesmo ano – 15 de Novembro de 1825. Maria Rafols faleceu a 30 de Agosto de 1853 (49 anos de vida religiosa). Em 1994 existia cerca de três mil Irmâs da Caridade.

Página 40 e interior da contracapa

(1) “Maria Rafols, heroína da Caridade do Século XIX, Fundadora da Congregação das Irmãs de Caridade de Santa Ana”. Biografia da vida e obra de Maria Rafols. Opúsculo de 40 páginas, em português, inglês e chinês, 20,5 cm x 14 cm. Impresso em 30 de Outubro de 1994.

NOTA: Sou testemunha das acções contínuas e prontas destas Irmâs sempre ao serviço dos mais pobres, necessitados e doentes. Prestei assistência médica nos anos 80 e 90 (séc. XX) nos Asilos dependentes das Missões nomeadamente no Asilo «Santa Maria» (fundado pelo Padre Luís Ruiz Suarez em 1969, instalando-se na casa do antigo Infantário da Associação das Senhoras Chinesas na Travessa dos Santos n.º 2-4 (entrada principal), depois melhoradas com as obras de beneficiação; tinha uma porta lateral que dava para a Rua do Pato (por onde se entrava) e no «Asilo Betânia» também fundado pelo Padre Luís Ruiz Suarez, em 1970, na Avenida do Conselheiro Borja a caminho da Ilha Verde (eram barracas de latas, antigo centro de refugiados do Instituto de Acção Social de Macau). Por detrás do «Asilo Betânia» ficavam as casas do antigo dormitório para refugiados, onde o mesmo Padre Ruiz Suarez fundou, em 1970, o «Centro «São Luís» destinados aos rapazes com atrasos mentais e doentes crónicos (a entrada era o mesmo do Asilo Betânia). O Centro de Santa Lúcia foi fundado em 1977 para albergar raparigas subdesenvolvidas num edifício (novo com capacidade para 70 pessoas em 1978), em Ká Hó.

Foto publicada no «Boletim da Sociedade Luso Africana do Rio de Janeiro», n.º 9, 1934, p. 142 – Número especial Comemorativo da 1.ª Exposição Colonial Portuguesa – Porto.
São cinco edifícios térreos, de traça portuguesa, dispostos em arco que faziam parte das instalações do antigo Leprosário de Ká Hó, e que ficaram devolutos. O Leprosário foi construído em 1885, para acomodar os leprosos de Macau, bem longe da cidade. Na verdade, uma das primeiras iniciativas dos portugueses, assim que se estabeleceram solidamente em Macau, foi construir um leprosário. Pouco depois de completada a construção da Igreja de S- Lázaro – uma das três igrejas fundacionais erigidas entre 1558 e 1560 – foi construído um leprosário.
Na «Breve Monografia de Macau» (p.204) da autoria dos chineses Yin Guangren e Zhang Rulin, (1) refere que “A sudoeste da cidade, fora das muralhas, existe um Fafengsi (2)  Nesta igreja vivem os leprosos bárbaros, vigiados de fora por soldados. Os internados recebem uma mensalidade para a respectiva manutenção” Ao longo dos séculos, o leprosário de Macau mudou-se várias vezes, desde a Colina de D. Maria até às Portas do Cerco, para o distrito de Basalan (Pac Sá Lan) na Ilha de D. João e finalmente para os confins de Ká Hó .
Em 1991, O Instituto de Acção Social de Macau assumiu o controlo do Leprosário de Ká Hó e transformou parte dos edifícios num Lar de Idosos que passou a ser gerido em 2004 pela Federação das Associações dos Operários de Macau. (3)

Leprosário de Ká Hó, em Coloane, anos 30 de século XX

Sobre a Leprosaria de Ká Hó, em Coloane, ver anteriores referências em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/leprosaria-de-ka-ho/
(1) YIN Guangren; ZHANG Rulin – Breve Monografia de Macau. I. C. do Governo da R.A.E. Macau, 2009.
(2) Fafengsi – templo dos leprosos. Também conhecido como Mafengsi, Igreja de S. Lázaro, que fica na Rua de S. Lázaro. Como havia uma leprosaria atrás da igreja, passou a ser conhecida como Fafengsi. (1)
(3) As Ruas Antigas de Macau, IACM, 2016, p.303.