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Duas fotos que estavam incorporadas na “reportagem” “Os tumultos de Macau I e II” (1), mas que pela sua temática, provavelmente não estariam relacionados com esse acontecimento.


“Esquartejando as rezes no matadouro”
“No matadouro municipal, pesando a carne que vae seguir para o mercado”

(1)          https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/10/23/os-tumultos-de-macau-em-1922i/
               https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/10/24/os-tumultos-de-macau-em-1922-ii/
(2) O autor do artigo, não assinado ( Ilustração Portuguesa n,º 860, 1922) refere em nota que as fotografias foram tiradas pelo sr. Barbosa Pires (especialmente tiradas para a Ilustração Portugueza).

 … continuação do post  anterior (1)

“Então a tropa deu uma descarga contra os manifestantes. Um bom número d´eles caiu varado de balas, ao passo que os restantes, que subiam a mais de 4.000, se puzeram em fuga, deixando na sangueira, que cobria o solo, sapatos, leques, lanternas, varapaus e bandeiras.
Se não tomam esta resolução, eram todos varridos por uma metralhadora que pouco depois chegava ao local.
  No quartel de voluntários – Civis preparando-se para ir policiar a cidade

A deserção foi tão completa que nem se importaram com os mortos. Recolheram-nos, os nossos soldados, envolvendo-os em esteiras e removendo-os em «camions» para o cemitério.
                       Paisanos de guarda à fábrica de electricidade
 
Vinte e tantos dos fugitivos haviam-se refugiados n´uma casa em ruínas. Foram lá descobertos empilhados sobre os outros. Quando se sentiram descobertos saíram e puzeram-se de joelhos deante das nossas tropas pedindo misericórdia. No esconderijo ficara só em estendido, porque esse estava morto.
O governo chinez não julgou do seu direito o intervir” (2)

NOTA: Foi,  a pretexto destes conflitos em Macau, que o Governo de Lisboa decidiu enviar o General Manuel Gomes da Costa (1863-1929) ao Oriente para inspeccionar as tropas (Índia, Macau e passou por Xangai). Foi após o regresso que Gomes da Costa insatisfeito com a política do Governo, decidiu  aceitar chefiar o golpe militar em 28 de Maio de 1926.
Conflitos no Oriente – Decretado o estado de sítio em Macau, depois de sangrentos conflitos com cerca de três dezena de mortes (29 de Maio). Governo pensa nomear Gomes da Costa para governador de Timor, mas o grupo parlamentar dos democráticos opõe-se. O general escreve, então, uma carta para o jornal A Capital a denunciar o facto e António Maria da Silva (1872-1950, chefe do Governo em 1922) trata de mandá-lo dar uma grande volta de inspecção extraordinária às colónias do Oriente (15 de Julho). Parte em Agosto de 1922 e só regressa a Lisboa em Maio de 1924.” (3)                
8-10-1922 – Chegou o General Gomes da Costa, acompanhado  do seu filho Carlos Nunes Gomes da Costa, como Secretário, e o tenente Salgueiro Rego, seu ajudante de campo, para inspecionar os serviços militares de Macau” (4)
(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/10/23/os-tumultos-de-macau-em-1922i/
(2) Artigo não assinado da Ilustração Portuguesa n.º 860, 1922
(3) http://maltez.info/respublica/portugalpolitico/anuario/1922.pdf
(4) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XX, Volume 4. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, 2.ª Edição, Macau, 1997, 454 p (ISBN 972-8091-11-7)

“Felizmente não teve maiores consequências o incidente que se deu em Macau entre as tropas da nossa guarnição e a população  chineza que enxameia na cidade. As primieras notícias telegráficas, na sua concisão, deixavam antever acontecimentos graves. Originou esse incidente um das praças indígenas de Moçambique, ali em serviço ter na dua passagem, tropessado, sem querer, n´uma chineza que ia pela mão da mãe, levantando esta um berreiro injustificado.
               Soldados africanos guardando um caes que foi fechado
 
Os chinezes, tomando o partido da mulher, amotinaram-se e lançaram-se ao soldado, defendendo-se este valentemente e levando um d´eles preso para a esquadra, mas, ao retirar-se d´ali, a canalha saltou em cima d´ele, deixando-o em estado tão lastimoso que teve de recolher à enfermaria do hospital.
No dia seguinte declarou-se a greve geral e uma multidão enorme acumulou-se sussurrante e agitada  na avenida Marginal, havendo cabecilhas  que incitavam contra os portuguezes. Os manifestantes rodearam a esquadra, ocupando completamente as ruas próximas, formando barricadas e não deixando passar ninguém.
               No quartel – Uma força de soldados africanos, muito temidos pelos chinezes, em parada no quartel

 A força militar encontrava-se isolada e a gentalha ameaçava ruir sobre ela. O tenente sr. Rogério Ferreira (1) resolveu sair d´aquela situação. Um dos amotinados lançou-se-lhe ao pescoço para o estrangular. O oficial puxou da espada, e com ela ainda feriu alguns, mas, por fim, arrancaram-lha das mãos. Não havia paciência que resistisse por mais  tempo Da multidão partiram vários tiros de revolver e um soldado baqueou.” (2)
……………………………………………………………continua
 
NOTA: Embora a “reportagem” não dê a data dos acontecimentos, tratou-se das confrontações entre grupos representativos de associações de classe (operários) e os patrões, iniciadas em 1 de Maio de 1922, com uma manifestação das associações operárias de Macau. Estas confrontações  prolongaram-se por todo o mês de Maio e Junho desse ano.
Por isso o Ano de 1922  ficou conhecido por “Ano da Greve“.
Seguimos os acontecimentos relatados por Beatriz Basto da Silva (3):
“Os ânimos opondo patrão e o operário estão exaltados e, como é comum nesta circunstâncias, as manifestações multiplicam-se. Um incidente entre um soldado moçambicano e uma prostituta chinesa, a 28 de Maio, desencadeia um tiroteio grave, que conduz a troca de explicações entre o Governo de Macau e a autoridade de Cantão, levando ao castigo de militares envolvidos bem como à retirada de Macau do contingente de forças africanas. A 29 de Maio de 1922 é proclamado o estado de sítio em todo o território. A 30 de Maio são convocados todos os cidadãos portugueses válidos a apresentarem-se no Quartel do Corpo de Voluntários (em Santa Clara), a fim de serem mobilizados para o serviço do Governo
Só a firmeza da resposta do Governador, Comandante Corrêa da Silva – Paço d´Arcos às autoridades de Cantão evitou crise maior. A 5 de Junho a situação é considerada calma e normal”

As consequências: exoneração por abandono de serviço (greve) de alguns funcionários, por exemplo da Imprensa Nacional. Outros preferiram pedir a exoneração. Em 08 de Junho é determinado o encerramento de 68 associações de Macau. O estado de sítio prolongaria até finais do mês de Junho.

(1) Será o mesmo (?) que tendo sido promovido posteriormente a capitão, proferiu em 1934, a conferência “Os Portugueses na China e a Fundação de Macau” – ver anterior blogue
               https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/1934/
(2) Artigo não assinado da Ilustração Portuguesa n.º 860, 1922
(3) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Século XX, Volume 4. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, Macau, 1997, 454 p. ISBN-972-8091-11-7.

1 – Pratica de tiro     2 – Um acidente curado pelas «girls scouts»     3 – Uma parada de «scouts»

O scouting tem provocado em todos os paises as atençoes do publico e dos poderes officiaes.
Em toda a parte se compreende o alto valor d´esta verdadeira escola de coragem, de d´isciplina e de destreza.
Em Inglaterra, na América, na Suécia, etc, os corpos de boys-scouts são organizações modelares, de onde saem mais tarde o exército os mais intrepidos oficiaes e soldados e, o que é importantíssimo, com a melhor e mais adequada preparação.

1 – Patrulha de «girls scouts» em observação     2 e 4 – Equitação de «scouts»     3 – Exercícios de alpinismo     5 – Um posto de sinaes

Em Portugal nada ha feito n´este sentido e o nosso publico ignora certamente como o que não se fez ainda na metropole se conseguiu já brilhantemente n´uma das colonias.
Por iniciativa do governador de Macau, 2.º tenente d´armada,  sr.  Alvaro de Melo Machado, organizou-se ali um corpo de boys e girls scouts, que tem causado grande entusiasmo n´aquela nossa possessão.

1 – Ginastica sueca dos «scouts»     2- Uma patrulha acampada     3 – Transmitindo um despacho     4 – Patrulha de «scouts» preparando o acampamento

Damos hoje várias fotografias tiradas recentemente em Macau, pelas quaes os nossos leitores apreciarão o alto valor da iniciativa do 2.º tenente Melo Machado.
É para desejar que se siga no continente o alto exemplo que nos dá a nossa longíqua colónia.” (1)

NOTA : “O Escotismo chegou a Macau em 1911, pela mão de Álvaro Cardoso de Melo Machado, à data Governador interino daquele território, com apoio do Mr Nightingale, o qual dirigia os boys-scouts em Hong Kong e de Miss Cambell, responsável na antiga colónia Britânica pelas girls-scouts. Foi pois, na cidade de Macau “ cidade do nome de Deus de Macau”, que se deram os primeiros passos do Escotismo Português. (2)
Álvaro Cardoso de Melo (1883-1970), em 1909 como 2.º tenente, é ajudante de campo do Governador Eduardo Marques, (3) sendo depois secretário interino em 1910, até  ao momento em que é nomeado governador interino de Macau, em 17 de Dezembro de 1910, (tinha na altura, 27 anos de idade), na sequência da queda do regime monárquico em Portugal, cargo que irá ocupar até 14 de Julho de 1912. Foi Chefe do Governo de Moçambique quando seu pai foi Governador da província (General Joaquim José Machado) entre 27 de abril de 1914 e 20 de Maio de 1915 (2)
No Boletim Oficial de Macau, 3º Suplemento, de 31 de Dezembro de 1986, podemos constatar a atribuição de uma rua com o nome de Álvaro de Melo Machado.

(1) Artigo não assinado in Ilustração Portugueza (edição semanal do jornal O SECULO), n,º 339, Lisboa, 19 de Agosto de 1912, pp. 235 – 237.
(2)  Retirado do blogue , trabalho de pesquisa de António Jorge Barros Cardoso, do Grupo 230 de Caxias da Associação dos Escoteiros de Portugal
http://escoteiros230caxias.blogspot.pt/2010/02/alvaro-cardoso-de-melo-machado-fundador.html
(3) “O Governador Eduardo Marques pediu a exoneração, dada a mudança de regime, mas não lha concederam , mantendo-se, portanto, em funções, a pedido do Governo metropolitano. A cerimónia oficial de proclamação do novo regime, no dia 10, contou ainda com a sua direcção.”
REIS, Célia – O Padroado Português no Extremo Oriente na Primeira República. Livros Horizonte,2007,222 p., ISBN 978-972-24-1511-8