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A ponte das Nove Curvas no jardim Lou Lim Ioc em 1973

No dia 28 de Dezembro de 1974, (1) abriu as portas como Jardim Público, o único jardim de estilo chinês que pertenceu em tempos a Lou Lim Ioc e que o Governo adquiriu em 12 de Maio de 1973 (assinatura da compra e venda) (2) ao seu mais recente proprietário, «Sociedade de Fomento Predial Sei Iek Lda.», cujo gerente geral era o Ho Yin. Recuperado foi entregue ao Leal Senado para gestão deste este espaço de grande beleza e serenidade. (3)

O jardim de Lou Lim Ioc em 2017

A abastada família de artistas e letrados de apelido Lou/Lu, de Chiun Lin (distrito de San Wui/ Xinhui/Sunwui), na província de Cantão (Guangdong), cujo chefe de família era Lu Cheok Chin, também conhecido por Lou Kau, ou Lu Cao, um letrado de fino gosto artístico, veio para Macau, em 1870, fixando-se no Largo da Sé. (4) Adquiriu para recreio e “casa de campo” um terreno nas húmidas e pantanosas várzeas do Tap Seac. Contratou em Cantão os serviços de dois artistas, Lau Kat Lok e Lei Tat Chun para construírem um jardim chinês, ao estilo do século XIV, em Sou Chou (Suzhou)

O jardim de Lou Lim Ioc em 2017

O «Jardim das Delícias» ou «Yu Yun» ficou conhecido por «Jardim de Lou Kao» ou de «Lou Lim Ioc». O nome de Lou Lim Ioc (5) deriva do seu filho mais velho, que herdou parte da propriedade e o gosto do pai em receber com fausto as grandes figuras da cidade. O outro irmão, vivendo entre académicos, já que herdara do pai o pendor intelectual e literário, desinteressou-se da metade que lhe cabia na propriedade. (3)

Jardim do Lu-cau (vista interior onde se vê os viveiros, área hoje urbanizada) – “Ilustração Portugueza”, 1908.

Cercado de altos muros, tem hoje, a sua entrada pela Estrada Adolfo Loureiro, ocupando uma área de 1, 23 hectares (inicialmente registada com uma área de mais de 20 000 m2) mas reduzida por sucessíveis desanexações (por exemplo, a área ocupada actualmente pelas escolas Pui Cheng e Leng Nam). Dispondo das duas portas típicas dos jardins chineses, a “porta da lua” e a “porta da jarra”, encerra um grande lago de margens irregulares, bordejado por uma cortina de bambus e de salgueiros. Sobre o lago o célebre Pavilhão da Relva Primaveril que fica perto da montanha artificial, da qual de desprende uma cascata, e da famosa Ponte das Nove Curvas. (6)
Dentro do jardim havia um coreto inaugurado em 1928, onde, no início, o dono do jardim realizava espectáculos de ópera chinesa, de que era grande apreciador. Este coreto encontrava-se em lugar diferente do actual, visto que a porta dava para a Av. Conselheiro Ferreira de Almeida, e foi um dos edifícios destruídos pela explosão no Paiol da Flora em 13 de Agosto de 1931. (7)
Anteriores referências a este jardim em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jardim-lou-lim-ieoc/

A ponte das Nove Curvas no jardim Lou Lim Ioc em 2017

(1) Esta data vem referenciada na obra da Dra. Beatriz Basto da Silva (3). No entanto em muitos artigos e livros, vem referido como data de  abertura do jardim ao público o dia 28 de Setembro de 1974 – como por exemplo em «Jardins e Parques de Macau », p. 20. (6)
(2) Iniciativa do governador José Manuel Nobre de Carvalho. Foi adquirido com todas as benfeitorias existentes pela quantia de 2, 7 milhões de patacas. Após a assinatura da escritura foi feito o pagamento de $ 1 000 000,00, o restante foi feito no prazo de 18 meses a contar da data da celebração do contrato. Para o pagamento da primeira prestação foi utilizada importância de $ 1 000 000,00, referida no parágrafo segundo da 16.ª cláusula do contrato com a S. T. D. M. e destinada a obras de fomento. Dado que a despesa total excedia a importância fixada na regra 23.ª do artigo 15.º do E. P. A. da província foi necessário obter a autorização ministerial. (Macau B.I.T., 1973)
(3) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 3 (1995) e Volume III (3.ª edição reformulada, 2015).
(4) Lou Cheok Chin ou Lu Cheok Chi ou Lu Cao (1837 – 1906) foi naturalizado português por Carta Régia de 11-05-1886.Teve 29 filhos das suas 10 mulheres. O mais velho e mais célebre foi Lou Lim Ioc.
(5) Lou Lim Ioc (1877 -1927), milionário, letrado, diplomata entre a China e Portugal, membro do Conselho Legislativo de Macau, foi agraciado com a comenda da Ordem de Cristo a 13 de Abril de 1925. Faleceu no dia 15 de Julho de 1927 e o funeral realizou-se com grande pompa e aparato no dia 31 de Julho de 1927. (7)
(6) ESTÁCIO, António Júlio Emerenciano; SARAIVA, António Manuel de Paula – Jardins e Parques de Macau. IPO, 1993
(7) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 4, 1997.
NOTA: Conta-me o meu amigo Fernando Guerra, então alferes em comissão de serviço em Macau e aquartelado na Ilha Verde, onde estavam 90 militares – soldados europeus e macaenses (após a fase de recruta ; vigorava o serviço militar obrigatório) que em 1973 (após a compra pelo Governo do jardim), por ordem superior, foram os militares “encarregados” de limpar a área do jardim que estava em bastante estado de degradação e abandono. Mas entre os chineses e macaenses constava-se que a área (bem como a família) estava amaldiçoada e por isso havia “fantasmas” a circular por lá, pelo que os soldados macaenses recusaram participar na tarefa. Foram os soldados europeus a executar o trabalho.

Sedder Street

A revista portuguesa “Ilustração Portugueza” de 1919 (1) publica em meia página, uma notícia com o título “As festas da paz em Hong Kong”, ilustrado com quatro fotos:
“ Foram deslumbrantíssimos os festejos feitos em Hong Kong, para comemorar a vitória dos aliados. Nas ruas engalanadas viam-se muitas bandeiras portuguezas. As nossas gravuras representam Sedder Street olhando para o Pico Vitória e a cidade alta. O edifício Príncipe na Rua Chater. Ao fundo o edifício Jardine.”

A cidade alta
Aspectos do edifício Príncipe
Praça das Estátuas (Statue Square)

 (1) «Ilustração Portugueza», II série, n.º 711 de 6 de Outubro de 1919.

(2) A I Guerra Mundial iniciada em 28 de Julho de 1914, terminou a 11 de Novembro de1918. A República Chinesa entrou na 1.ª Grande Guerra em 1917 ao lado dos aliados. Terá participado com 200000 homens para os campos da batalha tendo falecidos 2000 (informação que fixei há muitos anos, não me recordando da fonte).

HMS Triumph firing at German positions at Tsingtao, China, in October 1914” (4)

A armada Naval germânica na China (comandada por Maximilian Graf Spee) estava sediada em Tsingtao (3) e em 1914, com o início da guerra, os navios do esquadrão do leste asiático estavam espalhados em diversas colónias  do Pacífico pelo que reagruparam-se nas nas Ilhas Mariana do Norte com destino ao Atlântico mas o esquadrão foi  destruído na Batalha das Malvinas.  em Agosto de 1914, pela a armada anglo-japonesa (4) no extremo sul do continente americano  A mesma armada anglo-japonesa, participou depois após passar por Hong Kong no chamado “Cerco de Tsingtao” entre 31 de Outubro e 7 de Novembro de 1914.
(3) Qingdao ou Tsingtao (青岛) é uma cidade na província de Shandong, na República Popular da China. É um porto no mar Amarelo, na península de Shandong.

(4) O navio “HMS Triumph” construído em 1902 e que foi destacado para a Estação Naval Britânica na China em 1913 participou neste batalha naval. Em 1915 foi transferido para o Mediterrâneo tendo participado na «Campanha de Dardanelos» contra o Império Otomano e em 25 de Maio de 1915 foi torpedeado e afundado pelo célebre submarino  alemão U-21. (https://en.wikipedia.org/wiki/HMS_Triumph_(1903))

Também os nossos compatriotas residentes em Macau quizeram testemunhar o seu acedrado patriotismo e patentear o preito que dedicam aos soldados portuguezes que, em luta com os inimigos da civilização honram as gloriosas tradições herdadas.(1)

Batalha das Flores 1918 I“Carro do Governador da província de Macau, capitão-tenente sr. Vieira de Matos, com a sua esposa a sr.ª D. Raquel Swart Vieira de Matos, promotora da festa e sua filha

            Por inicitaiva da sr.ª D. Raquel de Matos, esposa do distinto capitão-tenente sr. Vieira de Matos (2),  governador interino d´aquela florescente colonia, realisaram-se ali varias festas a favor dos nossos mobilisados e da indingencia local, entre elas uma batalha de flores (3), em que tomaram parte 60 carros, ornamentados com fino gosto, e a que ocorreu quanto ha de mais distinto na nossa província ultramarina do Extremo-Oriente.

Batalha das Flores 1918 II“Menina Ondine Vieira de Matos, filha do governador da província de Macau

Batalha das Flores 1918 III“Batalha de flôres em Macau – Na Avenida Vasco da Gama onde se realisou a festa, alguns dos carros que n´ela tomaram parte. No primeiro plano o submarino «23», de Mr. Gellion, (4) tripulado por senhoras de sua família, vestidos de oficiaes de marinha, vendo-se entre elas Mrs. Gellion, trajando um vestido que simbolisava a Inglaterra”

            O produto d´estas festas, que, levadas a efeito com manifesto entusiasmo, decorreram com grande brilhantismo, atingiu uma soma  consideravel, para o que contribuiu devéras o muito prestígio de que gosa o sr. Vieira de Matos, cujas excelentes qualidades de caracter e esclarecida inteligencia, são justamente apreciadas por todos que anceiam o desenvolvimento d´aquela nossa possessão, no que ele acha devéras empenhado.

Batalha das Flores 1918 IVCarro do sr. Americo de Sousa, juiz de direito, e a sua família

          Sua esposa, que com grande devotamento se desobrigou da espinhosa missão, a que se propoz, de minorar a sorte dos nossos soldados e dos que o infortunio  avassala, tem recebido inumeros testemunhos de homenagem e de gratidão. E, nunca foram melhor e mais justificadamente merecidos.” (5)

 Batalha das Flores 1918 VCarro de Madame Ricou” (4)

Batalha das Flores 1918 VI Um aspecto da Avenida Vasco da Gama, onde se realisou a batalha de flôres, vendo-se ao primeiro plano a nau »S. Gabriel». Recorte da Revista (5)

(1) Outras manifestações a favor dos soldados portugueses  na I Guerra Mundial, já foram relatados em anteriores post´s:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/01/30/noticia-de-30-de-janeiro-de-1915-i-guerra-mundial/ 
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/05/07/noticia-sarau-dos-marinheiros-do-patria/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/05/04/noticia-de-uma-quermesse-a-favor-dos-soldados-da-guerra-em-1918/
(2) Fernando Augusto Vieira de Matos foi nomeado governador interino a 21-12-1917. O próximo Governador seria Artur Tamagnini de Sousa Barbosa que tomou posse a 12-10-1918 (6)
(3) “Em Celorico de Bastos efectuou com todos os requintes de galantaria uma «Batalha de Flores». O combate tornou-se por vezes renhidissimo sendo abundante o número dos deliciosos projécteis que as jovens senhoras, que tomaram parte na liça, recebiam sorridentes e alegres, retribuindo os seus adversários com flores que antes pendiam do seus colos e que d´eles levavam os seus deliciosos e estonteantes perfumes.” (“Ilustração Portugueza”, n.º 661, 1918)
(4) A «Société Électrique d´Extreme Orient» em 1907 transferiu o seu contrato de concessão de iluminação eléctrica da cidade de Macau para Charles E. W. Ricou que passou a ser o  Gerente da «The Macao Electric Ligting Company Limited» (MELCO) de 1907 a 1915.  Após esta data, este negociante aparece como Gerente da «Macao Ice Cold Storage» que existiu até 1922 (6).
Frederik Johnson Gellion era nesse ano (1917/1918) o gerente da The Macao Electric Ligting Company Limited» (MELCO).
(5) Artigo e fotos retirados da “Ilustração Portugueza” n.º 642, 1918
(6) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XX, Volume 4. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, 2.ª Edição, Macau, 1997, 454 p (ISBN 972-8091-11-7)

Portugal no Extremo Oriente VIIcontinuação de (1), (2) e (3)
“…
Com o nosso desdem pelas cousas coloniaes não demos governador á cidade já poderosa. Os holandezes quizeram bombardear a terra portugueza, que foi  defendida. Segunda vez tentaram o assalto, que o macaista Thomaz Vieira repelliu, e assim, de tempo a tempo, os chinezes iam tomando folego, buscando intervir no que era nosso, encontrando pela frente apenas os teirares da gente burgueza do Leal Senado, a ponto de estabelecer, em 1688, um hopa, alfandega, na região, sem que lhe resistissemos.

Portugal no Extremo Oriente XIIJardim do Lu-cau (vista interior) (4)

D´ahi  as exigências continuas, os escarneos, as negociações frouxas, a que só uma embaixada pomposa de D. João V devia pôr termo, para d´ahi a pouco voltarem as pretensões.

Portugal no Extremo Oriente XIIIFortaleza da Taipa

Macau era anciosamente desejada pelos chinezes. Não queriam que construissemos estradas, obrigavam-nos a expulsar do porto os navios que lhe faziam sombra ao seu commercio, arrasavam o que se erguia, prohibiam aos chinezes que pegassem nas nossas cadeirinhas e foram até ao ponto de protestarem energicamente contra a abertura que decretámos em virtude de vêrmos desviado o commercio para Hong Kong recentemente formado…”.

Portugal no Extremo Oriente XIV “Vista geral da Villa da Taipa”

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/04/15/leitura-portugal-no-extremo-oriente-macau-i/
(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/05/05/leitura-portugal-no-extremo-oriente-macau-ii/
(3) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/05/10/leitura-portugal-no-extremo-oriente-macau-iii/
(4) O «Jardim das Delícias» ou «Yu Yun» ficou conhecido por «Jardim de Lou Kao» ou de «Lou Lim Ioc», filho mais velho de Lou Cheok Chin (1837-1906), personalidade de relevo na via pública de Macau. Fixara residência em Macau no ano de 1870 e tornou-se num abastado comerciante mandando construir um jardim ao estilo dos jardins chineses do século XIV nas ainda pantanosas várzeas do Tap Seac, que transformou em fermoso lago.
SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XIX, Volume 3. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, Macau, 1995, 467 p. (ISBN 972-8091-10-9)

Portugal no Extremo Oriente VIIcontinuação de (1) e (2)

O DOMINIO PORTUGUEZ   ῼ  CAMÔES BATALHADOR  ῼ  A PORTA DO CERCO

Portugal no Extremo Oriente IXGrémio Militar

“É crível que um pequeno tubo, com o seu deposito de metal, onde a agua côa o opio gere um domínio, mas não se concebe que ao cabo da tradição extranha dos Portuguezes o Filho do Céu, esse imperador de tres annos (3) seja o senhor da Monaco Oriental por direito de conquista. Se d´essa tentação do sonho, d´essa loucura do opio, o portuguez se livra mais do que outro qualquer europeu, das tricas chinezas ou das suas armas, elle, o heroe de sempre, saber-se-ha defender melhor. Macau não é esse territorio chinez que se julga apenas concedido com clausulas, é antes o territorio onde as mercadores portuguezes fundaram Santo Nome de Deus de Macau quando o imperador Chetseug (4) lh´o doou após uma batida homerica  da nossa gente no pirata Chau-silau (5), que singrava com mas suas fustas nos rios azues de cantão. Em todo o caso o governo da Índia só para ali enviava funcionarios que pelo seu porte eram difficilmente contidos na colonia então bem prospera.

 Portugal no Extremo Oriente XA Gruta de Camões

Camões era um dos insubordinados, um d´esses homens que mal se aturavam na séde do governo e d´ahi o enviaram-no com Fernão Martins para Macau, onde depois de batalhar, devia buscar o repouso amigo, no fundo fresco d´uma gruta, deante do mar calmo, repassado de tristezas, desolado, evocar além toda a epopeia d´uma patria ingrata e distante, e, feito provedor de defuntos, escrever a epopeia heroica d´uma grande vida nacional, sonhando, talvez, com delicias de fumador d´opio, nos seus amores infelizes. Dia a dia, Macau tornou-se um emporio, que os japoneses cobiçavam e que João Pereira, um simples negociante defendia.

 Portugal no Extremo Oriente XIPorto Interior (Largo da Caldeira)

Depois os chinezes, falando de extorções no seu solo, limitaram o que nos pertencia; ergueram a porta de Kuan Chap (6) ou de limite , por nós chamada a porta do Cerco. Em 1583 estabelecia-se o governo municipal (7), fundava-se a Mizericordia (8 ) e os hospitaes de S. Raphael e de S. Lazaro (9) e em 1586 davam-se à cidade regalias eguaes às de Évora.” (10)

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/04/15/leitura-portugal-no-extremo-oriente-macau-i/
(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/05/05/leitura-portugal-no-extremo-oriente-macau-ii/
(3) Deverá estar a referir-se ao último imperador da China (12.º imperador da dinastia Qing) de 1908 a 1912, quando foi forçado a abdicar –  Pu Yi ( 溥儀, pǔyí) (7 de Fevereiro de 1906 -17 de Outubro de 1967
(4) “Chetseug” – Chin-Tsoung ou Sân-Tchông mais conhecido pelo seu título de reinado por Imperador Wanli (萬曆) (4 de  Setembro de 1563 – 18 de Agosto de 1620),  foi um Imperador da China do período da Dinastia Ming (governou durante 48 anos – o reinado mais longo da Dinastia Ming de 1572 à 1620)
(5) “Chau-silau” – Pirata Chan-Si-Lau (suicidou-se em 1557 após a derrota dos piratas no Rio das Pérolas, com o auxílio dos portugueses). Em princípio esta é a data (1557) aceite  para  a fundação  de Macau.
(6) “Kuan chap” (關 閘 – mandarim pinyin: guan  zhá; cantonense jyutping: gwaan1 zaap6) literalmente porta da fronteira) – Porta do Cerco
(7)  Criado o (Leal) Senado de Macau, pelos bons ofícios de D. Belchior Carneiro (11)
(8) 1569 – Fundação da Sta Casa da Misericórdia, por Belchior Carneiro (11)
(9) 1569 – Fundação do Hospital de S. Rafael  onde foram introduzidas as primeiras vacinas na China e do Hospital de S. Lázaro. Macau teria então já cerca de 5 a 6 mil «almas cristãs» (11)
(10) artigo e fotos retirados da “Ilustração Portugueza”, 1908.
(11) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Séculos XVI-XVII, Volume 1. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, 2.ª Edição, Macau, 1997198 p (ISBN 972-8091-08-7)

Portugal no Extremo Oriente VIIContinuação de (1)

O EUROPEU E O CHINEZ  ῼ UMA VELHA AMBIÇÃO  ῼ  AS NHONHOS

“Pois  essa cidade assim entrevista n´uma impressão só digna d´artistas – restos d´um mundo que antes morra do que venha a adaptar-se – foi um logar de mercancias portuguezas, em que um ou outro heroismo faz perdoar a ambição.

Portugal no Extremo Oriente VIIIFortaleza do Monte

D´um lado existe o europeu com o seu uniforme branco, vagueando nas ruas, fazendo picnics nas onze mezas (2), visitando os padres na Ilha Verde, bailando com as nhonhós (3), de pernas lindas, dominado e estragando o ar com as chaminés das fabricas que ergue; do outro vive o chinez, sob os seus enormes parasoes com dragões e aves phantasticas, mandarins ou coolies (4), jogando ou trabalhando,fumando ou queimando panchões (5); vive a prostituta desolada e a trabalhadora tanqareira (6),  a mulher que vae remando nas barcas, muda e a envelhecer, comida pela lucta e pelos soes, sem outro abrigo que o seu bote, sem outro prazer que a belleza do céu d´onde espera a felicidade.

Portugal no Extremo Oriente VFarol da Guia, a Casa de Silva Mendes no início da Estrada de Cacilhas e à esquerda da foto, a entrada do Cemitério dos Parses

O europeu despresa o chines; este ri do europeu mesmo ao saudal-o porque na sua raça e nos seus costumes tem a força que o subjuga swe acaso elle, n´uma curiosidade d´arte, sonha em prescrutar-lhes a alma vivendo no seu meio. O chinez tem o fantan e tem o opio,as duas  cousas vingadoras, os dois supplicios feitos de goso, bem proprios de divindades terríveis como são os ídolos dos seus pagodes.
E enquanto socialmente, rindo, mascando betel (7), andando na sombra dos seus palanquins, geram o mal, politicamente, esquecendo os nossos feitos, sonham em guardar apenas para si essa Monaco do Orente onde descançam os piratas e folgam os mandarins”

Portugal no Extremo Oriente VI “Club China” (?)

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/04/15/leitura-portugal-no-extremo-oriente-macau-i/
(2)  “onze mezas” – lugar na Ilha da Lapa onde se faziam picnics.
(3) “nhonhós – deve ser “nhônha” (termo na Língu maquista) – rapariga, mulher nova, casada ou solteira
(4) “coolies” –  “Cule” – trabalhador braçal ou carregador
(5) “panchões” – panchão foguete chinês, pequeno pacotinho de pólvora que rebenta sem subir no ar. ( -mandarim pinyin: bao zhàng; cantonense jyutping: paau3 zoeng3)
(6) “tanqareira – mulher que tripula e habita o tancar (pequeno barco chinês, movido a um ou dois remos,  que serve para transporte de pequenas distâncias e por vezes de habitação.
Ver anterior post: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/11/30/macau-maritimo-i/
(7)”betel” ou “bétele”  – planta asarmentosa e aromática/mistura de substâncias, que se mastiga por hábito em algumas regiões tropicais, e em que entram folhas de bétele. (Dicionário de Cãndido de Figueiredo)
(8) artigo e fotos retirados da “Ilustração Portugueza“, 1908.

Também os nossos compatriotas de Macau quizeram patentear o seu apreço pelo denodo dos nossos soldados que se encontram em França, Uma comissão composta das individualidades mais ou em destaque na sociedade macaense levou a efeito, com o auxílio d´um grupo de meninas e da corporação dos escoteiros, uma interessante «Kermesse», cujo resultado, destinado ao  «Cigarro do soldado», compensou a energia dispendida.” (1)
Queremesse 1918

Conforme  publiquei em anterior “post” (2)  realizaram-se, em Macau, várias quermesses (3) a favor dos soldados da 1.ª Guerra Mundial , de  1915 até ao final da guerra. A Dra. Beatriz Basto da Silva na sua “Cronologia” refere várias destas manifestações para angariação de fundos:
“30 -04- 1917 – Subsídio de Libras 1000 000, oferecido à Metrópole por Macau, para os Serviços Hospitalares dos feridos de guerra e para as famílias dos mobilizados.
24-05-1917 – Remessa de objectos destinados aos soldados portugueses em campanha, durante a Guerra de 1914.
18 a 20-02-1919 – Recolha de fundos a favor dos feridos e mutilados da Guerra Europeia.”
SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XX, Volume 4. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, 2.ª Edição, Macau, 1997, 454 p (ISBN 972-8091-11-7)
(1) “Ilustração Portugueza“, n.º 629, 1918.
(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/01/30/noticia-de-30-de-janeiro-de-1915-i-guerra-mundial/
(3) Quermesses são festas realizadas em diversas épocas, de acordo com cada paróquia. Geralmente são compostas por várias manifestações como barracas de sorteios, jogos com prêmios, bebidas e “pratos” (acepipes, aperitivos, guloseima, etc) típicos de cada região.
O termo “quermesse” é derivado da palavra “kerkmesse“, da língua flamenga, que em francês passou a ser “kermesse“, de onde se originou o termo em português. Sua origem está ligada à religião católica. Era a festa do santo padroeiro da paróquia ou aniversário da igreja.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Quermesse

Macau cidade pitoresca II

Mais fotografias (mantive as legendas “originais”) do artigo de Manuel Antunes Amor, publicado na “Ilustração Portugueza”, n.º 896, 1923,  pp. 495-497 e já referido no meu anterior post (1)

Macau cidade pitoresca IX1 – Edifício do Leal Senado

 Macau cidade pitoresca X2 – Avenida Almeida Ribeiro

No lado esquerdo o “placard” da “Garage Macau” que era umas das concorrentes das outras duas por mim citado em (2). À direita o “Cinematógrafo Vitória” – sobre este cinema, ver meu anterior post (3)

Macau cidade pitoresca XI3 – Palácio do Governo

Macau cidade pitoresca XII 4 – Um recanto de Macau antigo

Macau cidade pitoresca XIII 5 – Carrinho indigena para transporte de passageiros

 Macau cidade pitoresca XIV6 – Uma loja de chá

 Macau cidade pitoresca XV7 – Chineza, leitora da buena-dicha

buena-dicha” (espanhol) – boa sorte. Refere-se aos que lêem a sina, fortuna ou sorte

 Macau cidade pitoresca XVI8 – Uma rua do Bazar ( bairro comercio chinez)

Macau cidade pitoresca XVII9 – Uma loja de tabacos e cambios

Macau cidade pitoresca XVIII 10 –  Um quarteirão do Bazar

 Macau cidade pitoresca XIX11 –  Jogadores de fan-tan

(1)  https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/04/19/leitura-macau-a-cidade-mais-pitoresca-do-nosso-dominio-ultramari-no-i/

(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jornal-de-macau/

(3) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2011/12/28/cinemas-de-macau-i/

Macau cidade pitoresca IIMacau cidade pitoresca IUm artigo (com fotografias legendadas) de M. Antunes Amor, inspector de Instrução Primária do Estado da Índia, publicado na “Ilustração Portugueza“, n.º 896, 1923 pp. 495-497.
Manuel Antunes Amor esteve em Macau, em 1922, onde realizou um “filme” destinado à Exposição do Rio de Janeiro (1)

     “Quem não conhecer Macau de visu, não poderá fazer idéa das belezas naturais que ornam aquela nossa pérola do Extremo Oriente.
Gozando duma prosperidade, hoje inegualada por qualquer outra das nossa colonias, mercê dos milhões de patacas auferidos pelo Estado, com os monopólios do fabrico do opio (2), do jogo do fan-tan, das loterias do san-pio e p´u-pio, do sal, etc. (3)

Macau cidade pitoresca IIIA bahia da Praia Grande

     Macau deslumbra o visitante, pela actividade fabril e comercial dos seus oitenta mil habitantes da raça chineza, pela elegancia e riqueza das construções, pela limpeza e boa conservação do pavimento das ruas, pelo cuidado com que são tratados os seus jardins, pelas belas perspectivas que os acidentes do terreno oferecem e, finalmente, pelas grandiosas obras do porto de navegação oceanica, ha pouco iniciadas por uma companhia holandeza.

Macau cidade pitoresca IV1 – A Praia Grande vista do Jardim de S. Francisco

Macau cidade pitoresca V2 – Um Junco  chinez

          Para os chinezes multi-milionarios é lugar de repouso, gozo e segurança nos seus palacios encantadores. Para o viajante é a cidade rica de prazeres, o clima suave, a estancia pitoresca, onde os dias passam velozes, sem que os seus olhos se fatiguem de vêr.

Macau cidade pitoresca VI3 – O porto interior, visto de bordo de um navio

 Macau cidade pitoresca VII4 – O vapor Sui-An, da carreira de Macau-Hong Kong  (Este navio foi, recentemente, saqueado pelos piratas) (4)

             Para o militar e para o funcionario civil, se não fôr o Eldorado onde a «arvore da pataca» floresce e frutifica prodigamente, é pelo menos, o sitio do Ultramar que, no clima e nos hábitos de vida dos coloniais, mais se irmana à Mãe-Pátria.”

Macau cidade pitoresca VIII5 – O porto interior, coalhado de juncos e lorchas

 (1) “1922  (Maio) – Exibiu-se no Cinematógrafo “MACAU” um filme de Macau destinado à Exposição do Rio de Janeiro. Apesar de algumas passagens escuras, é muito interessante e foi inteiramente feita por um amador, Sr. Manuel Antunes Amor (Inspector de Instrução Primária do estado da Índia).” (2)
(2) Regista-se que com a realização da Terceira Conferência Internacional do Ópio, em 1914,  Macau iniciou a supressão total do uso do ópio com redução da sua importação. No ano de 1923, publicou-se no Território novo Regulamento do comércio do ópio. Na verdade, a boa situação económica de Macau de 1918 a 1921, deveu-se sobretudo ao rendimento do exclusivo do ópio.
SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XX, Volume 4. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, 2.ª Edição, Macau, 1997, 454 p (ISBN 972-8091-11-7)
(3) A data aproximada da criação do jogo de fan-tan é 1849.  O Pac-Hap-Piu foi regulamentado em 1876. O artigo, sendo de 1923, não menciona ainda a exploração de corridas de cavalo que terá começado em 1924.
SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XIX, Volume 3.  Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, Macau, 1995, 467 p (ISBN 972-8091-10-9)
(4) “19-10-1922 – Durante a sua viagem de Macau a Hong Kong, o barco “Sui-An”´ da carreira entre estas duas cidades, foi assaltado e pilhado por 50 piratas chineses, disfarçados  em passageiros, e comandados por uma mulher, que foi logo prostrada por um tiro de revólver, disparado pelo comissário Frederico d´Eça, o qual lhe acertara num ombro. Durante o assaltado ficaram feridos o capitão do barco Birss e outros passageiros ingleses. O produto da pilhagem foi de $50.600 patacas
VER: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/10/19/noticias-de-pirataria-19-de-outubro-de-1922/
GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau. Notícias de Macau, 1954, 267 p.

Macau – a Mónaco do Oriente – lhe chamam os estrangeiros, sem o jogo do fantan (1) seria tão mesquinha como o principiado dos trágicos suicídios sem a roleta devastadora. As noites de Macau, luminosas e lindas, teem a brutalidade estranha para os espíritos occidentaes de mysterios entrevistos em livros perturbantes escriptos, pelo que fumaram as canulas do opio e dormiram attribulados nos braços abaçanados das orientaes.

Portugal no Extremo Oriente II

É o Monte Carlo, onde se terem vagares e cautellas de conspiradores para fazer sumir os vultos nos humbraes das casas de jogo, onde se chocalha a sphapecka (2) ou nos limiares dos predios suspeitos onde a chineza os espera perfumada e amante. Caminha-se trazido de medo, um medo que existe no ar dentro da qual se olvida a civilização regrada; a vontade de adorar Brahma, a suprema incarnação, e uma garota pintada de tintas finas, pequena como a creança, com o seu traço leve a nankin (3) nas sobrancelhas ausentes, a suprema loucura do desconhecido e de, deitados em brancas esteiras, falar do azul – o Lame (4) – e esquecer de bom agrado o ouro – o Tcha-ne-cam, (5) ouvi-las falar do seu arroz, leve como um mimo, do seu Fane (6) querido e pômo-nos a amal-as como só se ama a novidade.

Portugal no Extremo Oriente IIIA Santa Casa da Misericórdia

Depois, essa Macau tem em si a legenda de piratas que veem de longinquas aguas, soberbos e embuçados como príncipes revolucionários, tomar o chá consolador ou o opio da embriaguez, nas casas do fantan ou nas locandas (7) de goso, tem em si toda a attracção d´uma terra onde passam rapidos os ringchows (8) na luz polychroma dos balões e em que as lojas teem sobre as portas nomes celestiaes – o Paraizo Eterno, a Felicidade Sonhada, que se julga viver n´um paiz onde as nuvens tornem ligeiro o caminho dos nossos pés mortificados pelos passeios banaes do occidente…” (9)

Portugal no Extremo Oriente IVA Villa (ou Chácara)  Leitão

(1) “jogo do fantan” – 番攤 ( pinyin: fāntān; cantonense jyutping: faan1 taan1) é o nome de um jogo que poderá ser definido como uma roleta sem a roleta – melhor descrição em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/category/jogos-de-fortuna-e-azar/
(2) Sapeca – Moeda de cobre de baixo valor, com orifício no centro, usada no Extremo Oriente.
(3) “leve a nankin nas sobrancelhas” – pintar as sobrancelhas de cor acamurçada (segundo Dicionário de Cândido de Figueiredo)
(4) “o Lame” – azul (– mandarim pinyin: lán; cantonense jyutping: laam4)
(5) “Tcha-ne-cam” – ouro de ??? (金 – mandarim pinyin: jin; cantonense jyutping: gam1)
(6) “Fane” – arroz cozido, alimento ( – mandarim pinyin: fàn; cantonense jyutping: faan6).
(7) “locandas” – tasca, taberna, tenda segundo Dicionário de Cândido de Figueiredo
(8) Riquexó, “rickshaw” ou jerinchá ( 人力車 (em mandarim: rén li che; em cantonense jyutping: jan4 lik6 ce1). Sobre riquexós ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/riquexos/
(9) artigo não assinado e fotos retirados da “Ilustração Portugueza”, 1908.