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“Largaram de Macau, no dia 10 de Outubro de 1850, diversas lorchas de guerra sob o comando do guarda-marinha João de Carvalho Ribeiro, para socorrer um navio chinês que se encontrava abandonado na enseada de Tai ho depois de ter sido atacado e saqueado por piratas chineses.

É de presumir que, tendo encontrado o navio, as nossas lorchas o tenham guarnecido e tentado pôr em estado de navegar. No dia 13 apareceu um junco de piratas provavelmente o que o tinha atacado, com o qual as lorchas se bateram durante várias horas, acabando por o obrigar a render-se. Levado para Macau, esse junco foi integrado na marinha privativa da colónia. Não diz o cronista o que aconteceu ao navio inglês. Poder-se-á supor que tenha sido entregue aos Ingleses que se achavam instalados em Hong Kong desde 1841.” (1)

MAPA DE HONG KONG com a ILHA DE LANTAU, assinalado no mapa a vermelho a ilha de Tai O (大澳) na baía de Tai Ho Wan (大蠔灣) (2)

Em 1855, Os ingleses e americanos (primeira colaboração anglo-americana) travaram uma das últimas batalhas conhecida como “ Battle of Ty-ho Bay” contra uma armada de piratas chineses (36 juncos armados) (2)

Um modelo dum junco pirata armado com oito canhões  (2)

NOTA: Recorda-se que a Estação Naval de Macau, em 10-09-1850, se compunha da fragata D. Maria II, da corveta Iris e da corveta D. João, tendo os três navios 559 praças de guarnição (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume II, 2015, p. 122)

Outro facto de consequências trágicas ocorrido neste Mês de Outubro de 1850 (dia 29,) foi a horrível explosão que destruiu a fragata D. Maria II, ancorada na Taipa, perecendo 188 dos 224 tripulantes, incluindo o Comandante J. de Assis e Silva. Ver: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/fragata-d-maria-ii/

(1) MONTEIRO, Saturnino – Batalhas e Combates da Marinha Portuguesa, Vol VIII, p. 103 Tem um mapa do local, p. 102

(2)  https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Ty-ho_Bay https://en.wikipedia.org/wiki/Tai_O

Extraído de «TSYK»,  III-22 de 1 de Março de 1866, p. 96.

NOTA 1: O 2.º tenente da armada (cavaleiro da Torre e Espada) António José Caminha era, nesse ano, o comandante da Lorcha Amazona.

NOTA 2: Ilha de Machau – 孖洲, está localizada a sul da Ilha de Lantau, pertencendo ao  denominado “Soko Islands”, administrada pela R.A.E. de Hong Kong e  é inabitada.

Pormenor de mapa de Hong Kong, retirada de http://www.chinatouradvisors.com/maps/Hong-Kong-Lantau-Island-Map.

Extraído de «O Independente» I-28 de 12 de Março de 1869, p. 246

O mesmo acontecimento foi noticiado no «Boletim da Província de Macau e Timor» XV n.º 10 de 8 de Março de 1869 p. 60.

Crónicas/relato do jornalista Barradas de Oliveira, que acompanhou a viagem do Ministro do Ultramar, Comandante Sarmento Rodrigues às províncias portuguesas da India, Timor e Macau no ano de 1952. (1)
17 de Junho – Com mar esplêndido – depois do temporal, a bonança – chegámos (no «Gonçalo Velho») a costa chinesa. Passámos através de várias ilhas que defendem Hong Kong e ancorámos na foz do Rio das Pérolas. Águas castanho-claras, espessas, desagradáveis. Próxima, a ilha de Lan-Tao. Montes escalvados, de vegetação baixa, semelhante a musgo, nas rugosidades da pedra. Outras ilhas mais rochosas e tristes. Ao longe vê-se piscar, caída a noite, o farol da Guia em Macau, o primeiro farol levantado em todo o Oriente.
A entrada na cidade portuguesa far-se-á amanhã à hora marcada. ” (p.181)
Referente a Macau, estão as crónicas do capítulo XX a XXVI, nomeadamente:
Capítulo XX – Macau – Síntese das almas chinesa e portuguesa numa cidade maravilhosa (pp. 183-190).
Capítulo XXI – Comentário breve e simples sobre o chinês (pp. 191-198).
Capítulo XXII – A sabedoria incarnada que segura as areias ou o sentido duma interpretação (pp. 199-206).
Capítulo XXIII – Em Macau até o diabo é bom (pp. 207-214).
Capítulo XXIV – Lutam leões nas ruas de Macau (pp. 215-218).
Capítulo XXV – Houve um momento em que a China esteve à beira da conversão ao cristianismo (pp. 219-230),
Capítulo XXVI – Notícias da Vida Cultural na cidade de Macau (pp. 233-245).

… Não encontramos aqui, neste agregado urbano, onde sobressai por vezes certo sentido de monumentalidade, nem grandes igrejas, nem grandes estátuas. Destas, o monumento a Ferreira do Amaral, embora vigoroso e movimentado, está prejudicado pelo pedestal e pela falta de cenário. Será de esperar que a urbanização da zona onde se encontra lhe dê enquadramento adequado. A estátua a Nicolau de Mesquita é uma brutalidade a afrontar a fachada pobre mas digna do Leal Senado.
Quanto às igrejas, confrange ver as barbaridades cometidas. Há um predomínio das pífias, lambidas, inexpressivas imagens do princípio deste século e quase total desaparecimento da forte imaginária antiga. Uma Virgem magnífica do século XVIII, da qual adivinhamos o delicado rosto amarelado e as roupagens castanho-escura, debruadas a oiro . foi restaurada em São Domingos por um amador de pintura, que a transformou num triste mamarracho azul e vermelho… (…)
(1) OLIVEIRA, Barradas de – Roteiro do Oriente. Agência Geral do Ultramar, 1953, 249 p.
Anteriores referências a este jornalista
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/barradas-de-oliveira/

Extraído de « BGPMTS» I-4 de 11 de NOV 1854.

Sir James Stirling (1791-1865) foi um oficial da Marinha Inglesa e administrador colonial – 1.º governador e Comandante em Chefe da Australia (Oeste). Em 1854 era “Commander in Chief, China and the East Indies Station“.

«HMS Encounter» (1846- 1866) at Ningpo in 1862
https://en.wikipedia.org/wiki/HMS_Encounter_(1846)

«HMS Encounter» que estava estacionada na China para patrulha das suas águas em Abril de 1854 efectuou em operações conjuntas anglo-americanas (HMS Grecian and USS Plymouth) contra as tropas imperiais chineses em Shanghai. De Setembro a Outubro de 1854 integrava o esquadrão naval de 4 navios de guerra comandado pelo então vice almirante Sir James Stirling . A 3 de Novembro de 1854 efectuou ataques aos piratas nas águas perto de Macau. 10 dias depois atacou e tomou uma bateria chinesa na costa  e destruiu vários juncos na Baía de Coloane.

Do diário de A. J. Pinto Basto, na sua viagem de circumnavegação a bordo do Cruzador S. Gabriel (1)
Com muito bem tempo largámos de Hong Kong (2) para Macau pelas 8 h da manhã do dia 2 de setembro. Ao passar pelos navios de guerra estrangeiros, tocaram as suas bandas o hymno portuguez, e foi-nos feito o signal de boa viagem. Seguimos para Macau coma velocidade de 13 milhas por hora, fundeando na rada pelas 10h 45m. O governador organizou em nossa honra um passeio a Colovane, no qual tomaram parte as principaes auctoridades e famílias de Macau, talvez mais de duzentas pessoas, que para ali seguiram na lancha Macau e em três outras lanchas a vapor. A nossa visita a Colovane foi interessante, por se verem ali ainda em ruinas muitas casas contra as quaes a lancha Macau teve de fazer fogo no seu ataque aos piratas. Por essa ocasião prestou aquella lancha relevantes serviços. Démos um passeio pelas ruas da povoação e realisaram.se u lunch e uma regata de embarcações chinas.
Tivemos noticias de dois tufões que das Filipinas se dirigiam ara costa da China, o que nos obrigou a demorar a nossa partida para ali. No mez de setembro os tufões são muito frequentes e pouco dias se passa sem que os observatórios anunciem aquelles temporaes. Já foi difícil o regresso a bordo e o dia 26 amanheceu com chuva, vento, e mau aspecto, motivo pelo qual resolvemos deixar a rada para procurar melhor fundeadouro, logo que possível fosse. Vieram para bordo n´uma lancha quatorze presos, entre eles os piratas de Colovane, (3) que a requisição do governador da província devíamos conduzir a Timor e Moçambique. O transbordo da lorcha para o navio fez-se com dificuldade n´uma das nossas embarcações e foi impossível receber-se os volumes pesados. Ás 3h  30m suspendemos e  fomos procurar o abrigo na bahia de Castle Peak, ao norte da ilha de Lantao, o melhor fundeadouro próximo, onde ancorámos pelas 6h da tarde em 5 braças de fundo com 45 m de amarra. Na tarde do dia 27 seguimos para Hong Kong, onde amarrámos às 5 horas a uma boia das docas de Kowloon, depois de ter salvado ao almirante americano. Fui agradecer os cumprimentos ao Tamar, navio chefe inglez, e ao New York, americano, a bordo do qual fui convidado a tomar parte n´um tea oferecido pelo comandante Lee Jayne a varias senhoras da colonia americana de Hong Kong.
(1) Ver anteriores referências a este diário em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/cruzador-s-gabriel/
(2) O cruzador «S. Gabriel» de 1 838 toneladas passou por Macau na viagem de circum-navegaçao que estava efectuando sob o comando do Capitão António Aluízio Jervis de Atouguia Ferreira Pinto Basto. Chegou a esta cidade a 7 de Agosto de 1910. Esteve depois estacionado em Hong Kong para proceder às reparações indispensáveis depois de um alonga viagem. Segundo O Capitão Pinto Basto, Hong Kong que estava a meio caminho da sua viagem, oferecia as melhores facilidades para as reparações (“ docas e oficinas e o pequeno custo da mão d´obra”)
(3) 01-08-1910 – A bordo do Cruzador «S. Gabriel», seguem vários indivíduos condenados a degredo, e o antigo farol de rotação da Fortaleza da Guia, que foi destinado ao Museu da Marinha.” (SILVA, Beatriz Basto da BBS Cronologia Vol. 4, 1997)
Os piratas sequestradores de Coloane, foram julgados em Novembro de 1910 e condenados a 20 anos de prisão em degredo.
A. J. Pinto Basto não refere no seu diário o transporte do antigo farol da Fortaleza mas assinala o seguinte:
Nos primeiros dias de setembro estive em Macau, a convite do governador, com quem visitei as novas e bem instaladas baterias de 15 cm Krupp, perto do farol da Guia , e o novo aparelho lenticular do mesmo farol illuminado actualmente por um candieiro de quatro torcidas. O farol antigo, o primeiro da costa da China, era também de rotação e movido por um machinismo de madeira muito curioso.”

Faz precisamente hoje, 500 anos, o início da aventura desafortunada de Tomé Pires como 1.º embaixador enviado à China e que só terminaria com a sua morte em 1524 (1) (2)
Em 17 de Junho de 1517, saiu de Malaca com destino à China a frota de Fernão Peres de Andrade enviada pelo Governador da Índia Lopo Soares de Albergaria, transportando o boticário e naturalista Tomé Pires como embaixador e o já experiente Jorge Álvares. (3) A frota chegaria a Tamão /Tamau (Lintin, Ilha de Lingding / 內伶仃㠀) a 15-08-1517, onde se encontrava Duarte Coelho que a procedera, e, em fins de Setembro, a Cantão. Tendo conseguido permissão para Tomé Pires seguir para Pequim, Fernão Peres de Andrade fez-se de vela de regresso a Malaca, em fins de Setembro de 1518. Tomé Pires aguardou viagem em Lantao (Ilha de Lantau /大嶼山)

https://en.wikipedia.org/wiki/Zhengde_Emperor

Devido as delongas do cerimonial chinês, Tomé Pires parte de Cantão e depois de demorada estadia em Nanquim, chega a Pequim em 11 de Janeiro de 1521. Com a morte do Imperador Zhengde / 正德  (1506-1521) a embaixada de Tomé Pires foi convidada a sair de Pequim para Cantão onde as autoridades locais já tinham recebido ordens para prenderem todos os membros da mal-aventurada embaixada devido aos desacatos praticados por Simão Peres de Andrade, na Ilha de Tamau. Chegou a Cantão, a 22-09-1521 e como os portugueses não quisessem obedecer à ordem de abandonar o Império Chinês foram roubados e presos Tomé Pires, Vasco Calvo e António de Almeida, tendo este morrido à entrada da cadeia, devido aos tormentos das algumas e outras torturas. Tomé Pires morreria em 1524 na China. (4)
(1) A embaixada de Tomé Pires não é considerada por alguns autores como a 1.ª por ter sido enviada de Goa. A 1.ª embaixada enviada pelo Rei D. Manuel (que morreu em 1521) e relatada por João de Barros e Fr. Luís de Sousa, teve como embaixador, Martim Afonso de Melo Coutinho que saiu de Malaca a 10 de Julho de 1522 com 300 homens em 6 navios. Também esta embaixada foi mal sucedida não tendo Martim Afonso passado para além de Tamão, onde foram mal recebidos pelos chineses com uma batalha naval. Perdeu-se dois navios portugueses e 42 homens foram capturados. Martim Afonso voltou para Malaca em Outubro de 1522 e chegou a Lisboa em 1525. Ver anteriores referências a Tomé Pires em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/tome-pires/
Sobre esta matéria sugiro leitura de
* Jin Guo Ping e Wu ZhiliangUma Embaixada com Dois Embaixadores – Novos Dados Orientais Sobre Tomé Pire se Hoja Yasan,” publicada na Revista Administração n.º 60, vol. XVI, 2003-2.º, 685-716, disponível em:
file:///C:/Users/ASUS/Downloads/Uma%20Embaixada%20com%20dois%20Embaixadores%20%E2%80%94%20Novos%20dados%20orientais%20sobre%20Tom%C3%A9%20Pires%20e%20Hoja%20Yasan.pdf
* “As Navegações Chinesas e Portuguesas; A Presença Portuguesa em Macau”
http://www.macaudata.com/macaubook/book091/html/0021001.htm#0021005
(2) Segundo Armando Cortesão morreu cerca de 1540 deixando uma filha, Inês de Leiria. Tomé Pires nasceu cerca de 1465. Foi autor da Suma Oriental (1515) a primeira descrição europeia da Malásia e a mais antiga e extensa descrição portuguesa do Oriente.
(3) Jorge Álvares foi mandado de Malaca à China em 1513. Levantou o Padrão do seu Rei na Ilha de Tamão (hoje Lintin) e, como o filho lhe morreu durante essa visita, sepultou os seus restos mortais junto do padrão. Em 7 de Janeiro de 1514, Tomé Pires escreveu de Malaca comunicando ao Rei de Portugal, que um junco de Sua Majestade, comandado por Jorge Álvares, que seguiu com outro para a China, a fim de buscar mercadorias, tendo regressado a Malaca entre Abril e Maio de 1514. Jorge Álvares após essa deslocação de 1517, ainda regressaria à China em 1521 falecendo a 8 de Junho de 1521 sendo sepultado junto do filho em Tamão.
Ver anteriores referências de Jorge Álvares em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jorge-alvares/
(4) Informações colhidas de GOMES, Luís Gonzaga – Efemérides da História de Macau, 1954 e SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume I, 1997.

jean-meares-vista-de-macauVue de la Ville de Macau
gravura; 30 x 53 cm

Vista da Cidade de Macau incluída na Vista setecentista da cidade de Macau, incluída numa obra (1) exclusivamente compostas de cartas geográficas, planos, vistas e retratos alusivos à s viagens de exploração do Capitão John Meares, (2) que o levaram de Calcutá à costa Noroeste da América (1786-1787) e ao longo desta costa (1788-1789).
jean-meares-vista-de-macau-i

 

jean-meares-vista-de-macau-ii

Na gravura esquerda , visualiza-se a Colina da Penha e a Fortaleza de Bom Parto.
Na gravura à direita, no fundo, a Colina da Guia e a Fortaleza . Na base, a Fortaleza de S. Francisco

Na mesma obra outras duas gravuras de locais próximas de Macau

jean-meares-bocca-tigris

Vue de l´entrée do Bocca Tigris
jean-meares-pic-de-lantauPic de Lantao

(1) Esta gravura foi retirada de “Collection de cartes géographiques vues, marines, plans er portraits, relatif aux voyages du Captaine J. Meares.” Esta colecção é uma tradução da versão original inglesa de 1790, feita por John Meares Billecooq.
jean-meares(2) John Meares (c 1756-1809), navegador, explorador, comerciante. Alistou-se em 1771 como ajudante do capitão e permaneceu na “Royal Navy” até 1783. Tornou-se mercador e em 1785 estava na India negociando com a China peles de lontra marinhas Como a “The East India Compnay” tinha o monopólio do tráfico no Pacífico e todos os mercadores ingleses tinham que ter licença e pagar taxas, Meares para ultrapassar a sua actividade “ilegal” registou os seus navios em Macau utilizando a bandeira portuguesa para continuar os seus negócios. Partiu de Calcutá em 12 de Março de 1786 para explorar (e comerciar) parte da costa do Alasca permanecendo todo o inverno de 1786-1787. Em 1788 nova expedição em dois barcos, sob bandeira portuguesa, registados com os nomes “Feliz Aventureira” e “Efigenia Nubiana”.
Para quem estiver interessado sobre a vida deste “aventureiro”, está disponível em:
https://en.wikipedia.org/wiki/John_Meares.

Quero referir-me à esquecida batalha naval de Lantau, (1) travada a poucas milhas de Macau, em 21 de Janeiro de 1810, contra o temido chefe Cam-Pao-Sai (2) que reunia nas suas lorchas uns 20.000 homens, da qual saímos vencedores, conquistando, assim, a liberdade para a navegação nos mares do Sul da China, vitória esta para o bom êxito da qual se cita que contribuiu o afundamento dum precioso pagode flutuante que sempre acompanhara Cam-Pao-Sai nas suas lutas e cujo desaparecimento foi tomado como mau agouro, abreviando a derrota dos piratas.” (3)

Em 21 de Janeiro de 1810, (data que os oráculos indicavam aos piratas como sendo inexcedivelmente auspiciosa, para enfrentar a frota macaense) o Capitão de Artilharia José Pinto Alcoforado de Azevedo e Sousa, comandando seis navios sendo o maior de quatrocentas toneladas (26 peças com 160 homens) e o mais pequeno de 120 (16 peças e 100 homens), perfazendo ao todo uma força naval com 118 peças de artilharia e 730 homens e ajudado por alguns brigues ingleses, também eles interessados na operação, (4) desbaratou o poderio do célebre pirata Cam-Pau- Sai na «Boca do Tigre». Este, confiando no crédito e influência do Ouvidor Miguel Arriaga Brum da Silveira, (5) entregou-se com toda a sua esquadra, que consistia em mais de 300 juncos de guerra, com 1500 peças de artilharia, e mais de 20.000 homens aguerridos. (6)

Foi neste mesmo ano, que a 13 de Maio (1810), D. João VI concedeu o título de «Leal» ao Senado de Macau, em recompensa dos esforços envidados para repelir os piratas que ameaçavam o território.

Boca do Tigre(1) Mais conhecido pela Batalha Naval da «Boca do Tigre», local onde se deu a último combate naval (outros combates anteriores, no ano de 1809) entre navios portugueses e a armada de piratas chineses. Como se vê no mapa «Boca do Tigre» não fica perto da Ilha da Lantau (Hong Kong).
(2) O mesmo pirata é referenciado com outros nomes como Kam Pao Sai, Cang-Pau-Sai, Chang-Pau Sai, Cam-Pao-Tsai, Cam-Po-Sai, Apo-Sai, Apochai, Cam-Pau- Sai, Cam-Apó-Chá ou Quan Apon Chay.
Cam-Pau-Sai rende-se nesta batalha e negoceia a sua liberdade, abandonando a pirataria, conseguindo posteriormente ser nomeado conselheiro do Estado (segundo outras fontes: almirante-mor da armada chinesa) em Pequim, pelo Imperador da China.
(3) INSO, Jaime do – Quadros de Macau in Fausto Sampaio pintor do Ultramar Português. Agência Geral das Colónias, Lisboa, 1942, 182 p.
(4) Os chineses comprometeram-se a também enviar uma esquadra, mas não o fizeram e o capitão de Artilharia José Pinto Alcoforado de Azevedo e Sousa enfrenta os piratas sem esse auxílio, obtendo uma retumbante vitória. O capitão foi recompensado com o cargo de Governador e Capitão Geral das Ilhas de Solor e Timor.
(5) “23-11-1809 – Acordo entre o Ouvidor Miguel de Arriaga Brum da Silveira e o Procurador José Joaquim de Barros com os mandarins Shing Kei Chi de Nám-Hói, Pom de Hèong-Sán e Chu da Casa Branca para o apresto duma esquadra luso-chinesa, (7) para atacar os piratas de Cam-Pau-Sai. Arriaga exauriu os cofres do Senado e tomando emprestado a seu crédito avultadíssimas somas com os negociantes de Macau, especialmente com F. A. P. Tovar e Felix José Coimbra conseguiu equipar uma esquadra que alcançou uma retumbante vitória”. (GOMES, LG-Efemérides da História de Macau)
(6) GOMES, Luís Gonzaga – A destruição da esquadra de Kam Pau Sai in Páginas da História de Macau.
(7) “O Governo das duas provincias de Cantão e Quang-si, e o de Macáo, igualmente convencidos da precisão, que tem de pôr fim ás invasões dos piratas (os quaes sem temor infestam os mares, que cercam estas duas cidades) de restituirem a publica tranquillidade, e as relações commerciaes, formarão uma guarda costa, combinando a força dos dois governos: para esse fim nomearam os seus plenipotenciarios: Cantão, os mandarins de Nam-hay, Shon-key-chi, de Hiang-sam, Pom, e o da Caza branca, Chu: Macáo ao Conselheiro Arriaga, e ao Procurador do Senado, José Joaquim de Barros; os quaes depois de terem respectivamente communicado os seus plenos poderes, e discutido a materia, concluiram e ajustaram os artigos seguintes:
1.º Haverá uma guarda costa, de seis navios portuguezes, conbinada com uma esquadra imperial; cruzará seis mezes, desde a bocca do tygre á cidade de Macáo, a fim de embaraçar que os piratas não entrem nos canaes, que até agora tem infestado.
2.º O Governo chinez obriga-se a contribuir com oitenta mil taés para ajudar o armamento dos navios portuguezes.
3.º O Governo de Macáo fará logo cruzar os dois navios, que tem armados, e apromptará [46] com brevidade os quatro restantes.
4.º Ambos os Governos devem ajudar-se em tudo o que for a bem do cruzeiro, o qual não se estenderá além dos pontos determinados.
5.º As presas seram repartidas entre os dois Governos.
6.º Quando a expedição finalisar serão restituidos aos macaenses os seus antigos privilegios.
7.º As partes contractantes obrigam-se a cumprir tudo quanto se estipulou nos mencionados artigos sem alterar cousa alguma, e a consideralos como ratificados em virtude de seus plenos poderes.
Macáo 23 de Novembro de 1809.

Shou-Key-chi.—Arriaga.
Pom.—Chu—Barros. “

(Andrade, José Ignácio de – Memórias dos feitos macaenses contra os piratas da China e da entrada violenta dos inglezes na cidade de Macao. Lisboa , 2.ª edição, Typografia Lisbonense, 1835.).
http://www.gutenberg.org/files/36163/36163-h/36163-h.htm 

Outro desenho a lápis do álbum da colecção Duarte de Sousa, presente no livro “Macau, Cidade do Nome de Deus na China” (1).

A legenda para este desenho, no livro citado:

Pintura de 1831-1832 - Cena da Costa

“MACAU – Cena da costa, enfrentando Lan-Tao que se vê à distância”

(1) Álbum de Desenhos a Lápis Sobre Macau e Ilhas do Atlântico e Índico – 50 desenhos.
http://purl.pt/index/porCulture/aut/EN/933589_P6.html.
Ver anteriores “posts
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/02/21/pintura-de-macau-de-1831-1832