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“15-04-1987 – O diário britânico “The Guardian” publica uma notícia que revela que as autoridades portuguesas mantiveram sigilo sobre o macabro achado de quatro corpos decapitados, aparentemente de agentes sul-coreanos em Agosto de 1986, na Ilha de Coloane. Segundo o diário londrino, as autoridades portuguesas acreditam que se trata de um ajuste de contas entre agentes dos serviços de informações das duas Coreias e que quem avisou as autoridades policiais portuguesas da ocorrência do incidente foram agentes dos serviços de informações da Correia do Norte.”

(FERNANDES, Moisés Silva – Sinopse de Macau nas Relações Luso-Chinesas 1945-1995 Cronologia e Documentos, 2000. (p. 430)

Continuação dos apontamentos que o Governador Álvaro de Mello de Machado deixou escrito no seu livro “Coisas de Macau” (1913), nas pp. 122-123, (1) nomeadamente às forças militares existentes nessa altura.

“ A província é habitualmente guarnecida: por uma companhia europeia de artilheria; por um corpo de polícia, com três companhias, duas europeias e outra mixta de chinezes e indianos; por uma companhia de saúde; prefazendo todas estas forças um total aproximado de 700 homens.

O governador é o chefe superior das tropas, que comanda por intermedio da repartição militar, competindo-lhe para isso as atribuições e as honras de general de divisão; a policia é comandada por um oficial superior, de ordinário, um major; a artilheria por um capitão. A maior parte d´estas forças, permanecem em Macau, havendo nas ilhas Taipa e Coloane uma guarnição permanente de 150 homens, distribuídos por vários postos militares.

As forças de marinha, que de ordinário estacionam na colonia são constituídas por uma canhoneira, ultimamente a Patria, e por uma lancha-canhoneira de rio, a Macau, propriedade da colonia e por ella recentemente adquirida. As tropas estão armadas com espingardas Kropatchek; e quanto a artilheria, a colonia, embora não possa considerar-se n´um estado sequer sofrivelmente satisfatório, é talvez de todas as nossas possessões, a que se encontra em melhores condições.

(1) MACHADO, Álvaro de Mello – Coisas de Macau. Livraria Ferreira, 1913, 153 p. https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/alvaro-de-melo-machado/

https://nenotavaiconta.wordpress.com/2021/02/19/leitura-coisas-de-macau-de-alvaro-de-mello-machado/

Tam Pek Lei, proprietário da firma Kong Vo (1) (firma que estava situada na Rua de S. Domingos num dos edifícios de traça ocidental de três pisos à frente da actual Livraria Portuguesa), alugou o cargueiro japonês «Tatsu Maru n.º 2» que partiu da cidade de Kobe em 26 de Janeiro para introduzir clandestinamente na China, aos alegados revolucionários , 2000 espingardas e 40 000 balas de Empresa Tatsuma. Na tarde do dia 5 de Fevereiro o vapor japonês foi abordado por um navio patrulha da marinha de Amoy (Guangdong) ao largo da Ilha de Coloane e a carga ilegal detectada originou um sério incidente diplomático entre a China, o Japão e Portugal.

A população chinesa de Macau e Hong Kong e comunidade chinesa em diversas cidades asiáticas manifestaram publicamente a sua indignação contra as acções subversivas dos japoneses conduzindo a manifestações e ao boicote de produtos japoneses durante sete meses.

O navio foi rebocado para Cantão (Guangzhou) alegando o governo imperial chinês que as águas de Coloane não constituíam parte do território de Macau.

Sequência relacionada com o Incidente “ Tatsu Maru” que durou entre Março e Outubro de 1908

5 de Fevereiro – Aprisionamento do navio “Tatsu Maru” pela armada chinesa.

13 -15 de Março  – Japão impõe cinco exigências à China Imperial incluindo a libertação do navio, pedido de desculpas e uma indeminização.

17 de Março> – Mercadores em Cantão (Guangzhou )começam um boicote aos produtos chineses.

19 de Março  – Protestos da população na província de Cantão (Guangdong). O boicote aos produtos chineses estende-se por toda a China.

 21 a 22 de Março  – Devido à pressão do Japão, o governo imperial chinês ordena o fim do boicote.

5 de Abril  – As mulheres em Cantão (Guangzhou) organizam um marcha memorial de vergonha por este incidente.

(1) No rescaldo deste incidente, o negócio de Kong Vo sofreu imenso e nem o facto de mudar de nome salvou a empresa.

Tam Pek Lei não teve outro remédio senão abandonar Macau e reiniciar a sua vida em Honolulu e outros países do sudeste asiático. As instalações seriam adquiridos por um respeitável comerciante chinês de Macau, Ho Lin Vong e transformadas numa casa de ópio e jogo, sob a designação de Companhia Chap Chi. (As Ruas Antigas de Macau, IACM, 2016, p. 17)

NOTA 1: sobre este incidente, vale a pena ouvir João Guedes in Falar de Memória (127) “O Tatsu Maru e a Questão de Macau” em: http://port.tdm.com.mo/c_radio/play_audio.php?ref=9943

NOTA 2: interessante trabalho académico deste incidente, do ponto de vista japonês https://digitalrepository.trincoll.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1041&context=moore

Cartas do Extremo Oriente», livro de António da Santa Clara publicado em 1938, pela Livraria Editora (Lisboa) com Parceria António Maria Pereira. (1)

Impressão de viagem que o jovem oficial português António da Santa Clara realizou de Marselha a Hong Kong na década de 20 (séc. XX) com destino a Macau.  

O autor classifica –o como um “Romance que não chegou a ser escrito; na minha tenda – Ac. Sa – Ilha de Coloane” (2) na página 7 (Capítulo I)

António de Santa Clara que foi para Macau como ajudante do Governador, dedicou o livro (pág. 5):

A João Pereira Barbosa,

            com admiração pela maneira como governou Macau (3)

pp. 4-5
Índice p. 231

(1) SANTA CLARA, António de – Cartas do Extremo Oriente. Parceria António Maria Pereira/Livraria Editora, Lisboa, 1938, 230 p. + |1|, 18,5 cm x 12 cm x 2,3 cm. Exemplar com manchas de humidade nas capas e muitas das primeiras folhas.

(2) Aldeia de Hac Sá/Praia de Hac Sá na Ilha de Coloane (Macau) 

(3) O Governador era João Pereira Barbosa. Foi nomeado Governador interino em 4 de Janeiro de 1936 (exoneração do governador António José Bernardes de Miranda) e cessou funções a 24 de Dezembro de 1936., com a nomeação do Governador A. Tamagnini Barbosa (B.O. n.º 51)

O Dr. João Pereira Barbosa seguiu depois para Goa onde foi Director dos Serviços de Administração Civil. (4)

“Aliás conta-se que Pedro José Lobo, braço direito de todos os governadores do seu tempo excepto de um… precisamente do Governador João Pereira Barbosa, que o mandou prender e acabou talvez por isso, … por ser “demitido”. Recorda-se também que foi nesse ano de 1936 que a importação do ópio cru e sua posterior preparação foi colocada sob o exclusivo do Governo de Macau, fechando-se o licenciamento para mais fumatórios de ópio no Território.” (5)

(4) ”Enquanto não chegou o titular, ficou como Encarregado do Governo o Major de Engenharia António Joaquim Ferreira da Silva Júnior (B. O. n.º 15 de 10 de Abril de 1937). (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume III,  2015, p. 255.)

(5) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Século XX, Volume 4. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, Macau, 1997, 454 p. ISBN-972-8091-11-7

Sobre António de Santa Clara, ver postagens anteriores: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/05/08/leitura-literatura-ultramari-na-a-lorcha/ https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/antonio-de-santa-clara/

Na sequência de episódios contra os piratas descritos anteriormente, a expedição portuguesa iniciada em 12 de Novembro (1), dissolveu-se no dia 17 de Novembro e a Lorcha Portuguesa «Amazona» regressou a Macau.

Extraído de «BGPMTS», I-5 de 18 de Novembro de 1854, p. 18

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/category/piratas/

A relíquia de S. Francisco Xavier, conservada no Seminário de S. José, em Novembro de 1977 foi juntar-se às dos mártires que estavam na igreja de que é orago, em Coloane, sendo alvo das primeiras homenagens, à porta do Colégio de Sta. Rosa de Lima, ostentando-a o Bispo de Macau, antes de seguir ao destino.

Em procissão defronte da igreja, as relíquias seguiram nas mãos de macaenses, bascos, japoneses, vietnamitas e chineses, enquanto se ouvia música de Jazz (1) que concluiu com “The Saints Are Marching in”, quando reentravam na igreja donde saíram.

A procissão com as relíquias
O Padre Manuel Teixeira a falar do «Precioso Tesouro» junto ao altar, onde está depositado.

Com letra apropriada e adaptada à melodia gregoriana da «Tantum Ergo», as crianças entoaram o primeiro hino de louvor, perante a relíquia de S. Francisco, à porta do Colégio de Santa Rosa de Lima quando era apresentada pelo Bispo de Macau.

(1) Os músicos do conjunto de Jazz que quiseram homenagear as relíquias dos mártires japoneses e vietnamitas, estavam em Macau a participar nos concertos de jazz realizados de 17 a 19 de Novembro.

Informação e fotos extraídas de «MBIT», XII-9/10, Nov/Dez, 1977 pp.14-15

O Governo de Macau e a Diocese do território assinaram, em Março de 1977, um acordo com vista à criação do «Instituto Educacional de Menores S. Francisco Xavier» que funcionou na antiga escola de S. Francisco Xavier e instalações anexas, em Coloane, e destinado ao internamento de menores, ordenado pelo tribunal.

A direcção, administração e orientação pedagógica do Instituto foi entregue ao Reverendo Padre Salesiano, Mathew Tchong que recrutou pessoal para os lugares de monitores e assistentes, em número de dezasseis, tendo estes frequentado um curso de quatro meses por especialistas de Hong Kong.

Até Julho de 1977, o Instituto receberia até um total de 15 menores, a quem tenham sido aplicadas penas de internamento pelo Tribunal de Menores. Após esse período e até à entrada em funcionamento do edifício a construir junto do Instituto, o mesmo receberia mais 15 menores. Após a entrada em funcionamento do novo bloco de internamento, o Instituto receberá todos os menores que o Tribunal ou o Curador de Menores lhe apresente para internamento, até à capacidade máxima das instalações.

Numa visita de representantes dos órgãos de comunicação social ao Instituto, o Pe. Mathew Tchong explicou-lhes a finalidade da obra, os métodos educativos a utilizar e as dificuldades que anteviam, para conseguir resultados positivos.

Artigo não assinado em «MACAU Bol de Inf e Tur.», Vol. XII, N.º 1 e 2 Março/Abril, 1977 p. 34

Mais um relato do comandante da canhoneira «Camões», (1) capitão-tenente Gregório José Ribeiro sobre mais uma acção de vigilância e combate à pirataria, neste caso da possibilidade de 15 sapatiões (barcos chineses pequenos e ligeiros) dos piratas que se achavam na Ribeira da Prata (ilha de D. João) atacarem a povoação de Coloane.

Da acção somente foram encontrados dois sapatiões que foram capturados (os restantes esapareceram). Os tripulantes dos sapatiões tomados fugiram para a terra sendo impossível persegui-los. A bordo dum dos sapatiões foi encontrada uma rapariga china que se achava no poder dos piratas.

Extraído de «BPMT», XVII – 31 de 31 de Julho de 1871, p. 125

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/canhoneira-camoes/

JULHO de 1880 – O advogado Albino Pacheco Jorge deu por incompetente o Tribunal da Procuratura para julgar uma causa crime entre dois chineses da Ilha de D. João, alegando que a Ilha não pertence ao governo português. A Procuratura deu-se por incompetente e não julgou a causa. Mas em Maio de 1881 dá-se um caso de dois chineses que pagaram – e provam- à Fazenda Pública de Macau as suas licenças anuais para pesca nas baías de Hác Sá Van e Choc Van, em Coloane. No entanto, o encarregado do pagode Hum Seng Vong da aldeia Vong Cam – Ilha da Montanha – afirma que essas baías do Sul de Coloane são da sua jurisdição e que não recebe as rendas desde 1879! Se assim se provar, deverá o dinheiro ser devolvido ao pagode. O Administrador Correia de Lemos pede à Secretaria do Governo que tome conta da ocorrência e a dê a conhecer ao Governador mas vai dizendo que “questões semelhantes resolvidas assim vão dando azo a muitas reclamações contra a Fazenda Nacional, e o governo irá a pouco a pouco perdendo a sua força moral”. (1) (2)

(1) “16 de Abril de 1881 – O advogado e procurador interino António Joaquim Basto Jr., em conversa havida com o Administrador da Taipa, sobre o assunto do tributo de pesca nas baías sul de Coloane, disse que o china encarregue do pagode da Ilha da Montanha mostrara realmente em Tribunal um documento “muito legal” do Governo de “Iong San” (Heung-San), no qual a autoridade chinesa declarava em sentença que “as duas baías de Coloane pertenciam ao pagode, o que dava a este o direito de cobrar direitos”! O Procurador mostrou-se ávido de conhecer detalhes que lhe permitissem vir a actuar, porque julgava o caso muito “melindroso”.

O Administrador do Concelho das Ilhas respondeu-lhe simplesmente que a autoridade portuguesa tinha completa jurisdição sobre Coloane, onde ficavam as baías de Hac Sa e Choc Van e que as embarcações de guerra até ficavam sujeitas à fiscalização portuguesa do posto, sem que as autoridades chineses fizessem a mínima reclamação. Sendo as águas portuguesas, só lhe devem ser aplicadas as leis civis compiladas no Código Português, em especial no artigo 395.º. Além disso não há lei nenhuma que confira a particulares qualquer privilégio em lugares públicos sujeitos a regulamentos administrativos.” (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume II, 2015, p. 238)

(2) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume II, 2015, p. 236,

Hoje dia 5 de Abril de 2022, celebra-se o culto aos mortos «Cheng Meng».

Retiro parte dum artigo, não assinado da revista “Macau Boletim de Informação e Turismo», Vol. X, n.ºs 1 e 2 de Março/Abril de 1974, pp. 36-39”, acerca deste culto que, em 1974, recaiu também no dia 5 de Abril

“O culto dos mortos integra-se, anualmente, em duas festividades, das mais concorridas entre as que estabelece o calendário o calendário religioso.

Um delas realizou-se, no corrente ano (1974) no dia 5 de Abril, denominada «Cheng Meng». Para a sua celebração, desembarcaram em Macau alguns milhares de residentes de Hong Kong, que têm os seus mortos sepultados em território português, principalmente nas ilhas da Taipa e Coloane. Outros passaram por Macau a caminho da China, onde se encontram as sepulturas dos seus familiares, para além da Porta do Cerco, para onde seguiam noutros tempos os enterros, Hoje não se permite tal prática, mas respeitam-se as sepulturas. Mudaram-se os tempos e as gentes acomodam-se.

Presentemente é pelas encostas das colinas da Taipa e Coloane que se procura o campo para enterrar os mortos, sem haver qualquer área limitada, sendo aa escolha do local indicada pelo critério dos bonzos budistas, de acordo com determinadas características que só eles conhecem, porque a natureza da terra liga-se intimamente com a sorte do morto, uma primeira condição a ter em mente para garantir a felicidade dos que passaram a outras regiões.

Muitos estão já a ser enterrados nos cemitérios de Macau, alheando-se as famílias das recomendações dos calendários budista, modernizando-se neste particular, mas a veneração e o culto continuam a processar-se mais ou menos dentro do mesmo ritualismo tradicional.

Quem se deslocar nestes dias do «Cheng Meng» às ilhas da Taipa e Coloane deparará com um espectáculo inédito para os ocidentais. Pelas colinas, estendem-se as sepulturas, umas mais aparatosamente construídas – outras mais modestamente, assinaladas apenas por uma pedra com a correspondente inscrição, uma terra batida, a testemunhar a modéstia da família. (…)

Transportam com eles os mais variados géneros comestíveis que são consumidos mesmo sobre a sepultura pelos membros da família presentes. Compreendem galinhas, porco assado, arroz, frutas variadas. O porquinho assado evidencia certo nível de bem-estar do agregado familiar.

Espiritualmente, os mortos estão ali presente e participam do ágape, para marcar a convivência íntima que deve unir as gerações vivas àquelas que passaram, mas cujos rastos ainda iluminam as vias dos que pisam a terra. É esta função do culto aos mortos, função profundamente humana, se humanismo dinama das relações que prendem os homens uns aos outros, num encadeamento contínuo”. (…)

Sobre as sepulturas acendam-se os «pivetes» – velas de culto características – e queimam-se os «cai chin», (dinheiro para os mortos) e ainda outros artigos de papel para que aos mortos nada falte no outro mundo, onde continuam a ser felizes na medida em que os vivos se mostrarem generosos para com eles e as suas necessidades forem satisfeitas.

O termo «Cheng Meng», do vocabulário chinês, significa «erguer-se de manhã cedo», porque é logo ao despontar do dia que todos procuram dirigir-se para as campas, para terem tempo suficiente ao cumprimento da grande obrigação para com os mortos.