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A distribuição dos prémios do III Grande Prémio de Macau, realizou-se no Teatro D. Pedro V, na noite do dia 4 de Novembro, em sessão solene presidida pelo Encarregado do Governo que entregou os prémios aos vencedores das diversas provas.

Um aspecto da plateia do Teatro D. Pedro V durante a sessão solene para a distribuição dos prémios

O vencedor absoluto ganhou a monumental Taça «Governador de Macau» e o prémio monetário, na importância de $3.000,00 patacas.
Ao 2.º e 3.º classificados forma distribuídas taças da classificação geral e os prémios monetários, nas importâncias, respectivamente, de $ 1.5000, 00 e $ 750,00 patacas.
Além destes prémios, foram ainda distribuídas taças aos 1.º e 2.º classificados de cada classe.

Douglas Steane e Mário Lopes da Costa cumprimentando-se mútuamente
O Encarregado do Governo entregando a taça a Robert Ritchie

Usaram da palavra o Dr. António Nolasco da Silva, Delegado em Macau do Automóvel Clube de Portugal, que agradeceu aos concorrentes a sua participação nas provas do III Grande Prémio de Macau e a todas as entidades, oficiais e particulares,  o seu contributo para a realização duma iniciativa de tão grande vulto e o encarregado do Governo que salientou o êxito da organização e felicitou quantos para ele contribuíram , muito especialmente os volantes que tomaram parte nas diversas provas.

Um aspecto do jantar de homenagem aos desportistas que tomaram parte no III Grande Prémio de Macau

Pouco depois de terminar a sessão solene para a distribuição dos prémios, realizou-se, no salão de honra de Clube de Macau, um jantar de homenagem aos desportistas que tomaram parte no III Grande Prémio de Macau.
Retirado de «MBI» IV-79, 1956
Anteriores referências ao III Grande Prémio de Macau
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/iii-grande-premio-de-macau/

Continuação do relato do “III GRANDE PRÉMIO DE MACAU” (1) iniciado na postagem de ontem, dia 3 de Novembro.(2)
A manhã de domingo, dia 4 de Novembro, despontou um tanto enovoada, fazendo prever que não se teria o mesmo bom tempo da véspera.
E de facto, uma chuva miúda e impertinente veio prejudicar o desenrolar da grande prova quando esta se encontrava na sua melhor fase.
Com a pista ainda molhada, pois tinha estado a chover na noite anterior, os automobilistas inscritos na grande corrida começaram a treinar muito cedo. No treino do dia anterior, os melhores tempos foram obtidos pelo «Mercedes 190SL» de Douglas Steane (n.º 6) (3m 46s), «Ferrari Mondial» de Mário Lopes da Costa (n.º 16) (3m 49s) e «Austin Healey M.» de Robert Ritchie (n. 21) (3m 52s).
Os 18 carros que entraram na pista

Antes da corrida todos os volantes foram apresentados ao Encarregado do Governo, Brigadeiro Portugal da Silveira
Os carros alinhados na pista antes de ser dado o sinal de partida

Pela ordem dos melhores tempos obtidos no treino do dia anterior foram colocados na pista em 7 filas, com a seguinte distribuição:
Às 12 horas precisas, o Encarregado do Governo, Brigadeiro João Carlos Quinhones de Portugal da Silveira deu sinal de partida coma Bandeira Nacional.
Apesar da chuva, à volta do Circuito dezenas de milhar de espectadores não abandonaram os seus lugares. Desses milhares, cerca de 10 mil turistas tinham vindo de Hong Kong propositadamente para assistirem às provas.
À 13.ª volta, começaram a sentir-se umas gotas de chuva, o que obrigou os carros a diminuir sensivelmente a velocidade. Na 17.ª volta, um acidente grave que não trouxe contudo consequências funestas.
O «MG-A» (n.º 31) de P. Molyneux, embateu contra a muralha na Praia de Cacilhas sofrendo grandes danos quer na carroçaria quer no motor. O volante partiu-se em dois bocados, enquanto o condutor, com ligeiros ferimentos, chegou a perder os sentidos. Conduzido ao hospital, numa auto-ambulância, ali recebeu os necessários tratamentos.
Na 34.ª volta, o «Mercedes 190 SL» n.º 6, que seguia, em primeiro lugar, com 2 voltas de avanço do «Ferrari Mondial» n.º 16, sofreu um acidente, indo o carro embater contra a guarita do Posto Fiscal colocada na extremidade da Avenida (então denominada) Dr. Oliveira Salazar, defronte do Quartel de S. Francisco. Parou nos poços, onde perdeu cerca de 3 minutos para receber beneficiações e reentrou depois na pista , com apenas uma volta de avanço sobre o «Ferrari».
Entretanto, o «Ferrari» n.º 16 sofreu por sua vez um acidente talvez mais grave ainda que o do «Mercedes», o que levou a perder mais de 5 minutos nos poços. Dum embate contra umas árvores, próximo do Quartel de S. Francisco, resultou grande estrago de carroçaria. A porta do lado esquerdo teve de ser arrancada. Lopes da Costa não desanimou e voltou à pista tão depressa os mecânicos o largaram. Na pista entrou em 6.º lugar mas ainda conseguiu atingir a 2.ª posição.
Apenas 12 carros completaram as 60 voltas, número mínimo de voltas que cada carro tinha de fazer para se classificar na prova.
O «Femcar» n.º 5, embora tivesse perdido uns preciosos minutos nos poços, continuou na prova, assim como o n.º 21, «Austin-Healey M» de Ritchie, que embora com o motor avariado, não abandonou a prova.
Lopes do Costa, sem esperanças já de apanhar o carro de Steane, ainda no comando ultrapassa entretanto na 69.ª volta, o seu compatriota Macedo Pinto, n.º 11 e vai colocar-se em 2.º lugar.
A Grande corrida termina com 77.ª voltas feita pelo «Mercedes 190 SL» conduzido Douglas Steane, sargento do Exército britânico e o 2.º classificado na prova do ano passado.
A Classificação final foi a seguinte

NOTA MUITO ESPECIAL:
O que mais entusiasmou o público neste Grande Prémio foi a condução do americano George Baker no seu «Ford Thunderbird» (n.º 2) que tendo partido da grelha da 3.ª fila manteve-se após partida o 7.º lugar, sempre com uma calma admirável e grande perícia fazendo autênticas acrobacias como o seu carro que já era de mudanças automáticas. Ao mesmo tempo, durante a prova, teve tempo de comer sanduíches, beber café e ouvir o relato da corrida transmitida pela emissora «Vila Verde», num aparelho portátil colocado sobre os joelhos. Era com este desportivismo, autêntico amadorismo e também humorismo que os primeiros grandes prémios decorriam para gáudio do público presente.
(1) Retirado de «MBI» IV-79, 1956
(2) Anteriores referências ao III Grande Prémio de Macau
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/iii-grande-premio-de-macau/

“Macau presenciou, nos dias 3 e 4 de Novembro de 1956, um grandioso espectáculo desportivo com a realização do III Grande Prémio de Macau que constituiu um acontecimento invulgar na vida desta Província.
Devem-se parabéns ao Automóvel Clube de Portugal e à sua Delegação de Macau assim como à Comissão Organizadora do grande festival desportivo e a todos aqueles que contribuíram para a realização de tão magnífica prova de automobilismo.
Cerca de vinte mil pessoas presenciaram, em cada dia, as várias provas constantes do elaborado programa, enchendo as bancadas e todas as varandas, janelas e terraços dos prédios circunvizinhos.
Calcula-se em quinze mil as pessoas que de Hong Kong e outras cidades do extremo Oriente se deslocaram a Macau a fim de assistirem à grande prova desportiva. Uma verdadeira legião de jornalistas, de correspondentes de agências noticiosas estrangeiras e de fotógrafos invadiu Macau com o fim de pôr o Mundo inteiro ao corrente do grande acontecimento que não só torna esta cidade mais conhecida mas influiu de maneira decisiva na sua economia. Calcula-se em mais de um milhão de patacas o dinheiro que entrou em Macau por ocasião da realização do III Grande Prémio.
Estiveram completamente cheios todos os hotéis e pensões da cidade, sendo enorme o movimento nos restaurantes, cafés e outros centros de diversão.
Os barcos da carreira Macau-Hong Kong tiveram de fazer várias viagens extraordinárias e fim de poderem trazer da vizinha cidade inglesa todos os que desejavam assistir ao grande festival desportivo.
Nem os recentes distúrbios em Kowloon nem as notícias alarmantes que nos chegam do Médio Oriente e da Europa Central conseguiram diminuir o interesse e o entusiasmo pelo III Grande prémio de Macau.

A Bancada principal que era feita de bambu, passou a ser de cimento nesse ano

A Avenida Oliveira Salazar, onde foram construídas novas bancadas para espectadores, cabines especiais para as estações de rádio, bancadas para a imprensa e cabine para os cronometrista, além de várias tendas de comidas e bebidas, apresentava um aspecto de festa em que as cores da natureza de mistura com os vestidos das senhoras e os anúncios berrantes das diversas casas produtoras de automóveis e de venda de gasolina e lubrificantes davam ao local um conjunto de cor e luz que contribuiu em grande parte para o sucesso do grande Prémio de Macau.” (1)
As provas do dia 3 começou com o interessante corrida dos participantes, reservada a condutores que nunca participaram numa corrida de velocidade. A corrida consistia em 10 voltas ao Circuito da Guia, ou sejam, 62,750 quilómetros, sendo permitido apenas um condutor para cada carro. Dos 13 carros inscritos, apenas 10 entraram na pista para a partida no sistema das corridas de «Le Mans» (apenas um português, capitão Castela Jacques num «Citroen»). Apenas 7 carros completaram o percurso total. Ganhou o «MG A» conduzido por Paul Molyneux.
Seguiu-se a corrida reservada a carros fechados de produção corrente, com «handicap», num percurso total de 25 voltas ao Circuito, ou seja 156,875 quilómetros. Participaram 20 carros. Ganhou o carro «Fiat 1100Tv» conduzido por Robert Richie (vencedor do II Grande Prémio – 1955)
Finda a prova de carros fechados, deu-se a partida para a corrida de senhoras. Na pista alinharam 3 carros.

Triunfou a macaense Maria Fernanda Nolasco Ribeiro num «Fiat 1100TV»

A corrida por equipas realizou-se em seguida num percurso total de 15 voltas, ou seja, 94,125 quilómetros. Das 7 equipas inscritas apenas 5 participaram na prova. Cada equipa era constituída por 3 carros, de classes diferentes entre si, sendo obrigatória o mínimo de 4 voltas para cada carro. Pelo menos um carro de cada equipa tinha de ser de produção corrente. A prova foi ganha pela equipa «E» constituída pelos carros «jaguar XK140», «MGZA» e «Austin Healey», conduzidos pelos volantes britânicos respectivamente Freddie Pope, I. Granger e A.J. Winder.
O programa do dia 3 fechou com treino oficial dos carros inscritos no III Grande Prémio.
(1) Retirado de «MBI» IV-79, 1956.

A chegada a Macau dos carros que iam participar nas corridas, durante a semana anterior ao de um «Grande Prémio de Macau» (nas décadas de 50, 60, 70)  atraia sempre às ponte-cais dos barcos da carreira Macau-Hong Kong, de grande número de curiosos, além dos membros da Comissão Organizadora do Grande Prémio e de representantes da imprensa, para ver os carros a serem “descarregados” (içados dos barcos ou batelões para a ponte cais). Os carros iam depois para as Oficinas Navais para aí serem inspecionados e estacionados até às corridas.

Na foto, vê-se C. F. Pope, de Singapura, a tirar o seu carro n.º 22 «Jaguar XK 140» do barco Fat Shan.

O III Grande Prémio de Macau realizou-se nos dias 3 e 4 de Novembro de 1956 e estavam inscritos um total de 46 carros distribuídos por  5 provas (prova de principiantes; prova de senhoras; prova de 100 milhas «handicaps»; corrida por equipa e III Grande Prémio de Macau).

Lista dos carros e concorrentes

Os prémios foram entregues aos vencedores respectivos, em sessão solene realizado no Clube de Macau (Teatro D. Pedro V) , no dia 4, às 20 horas sob a presidência do Encarregado do Governo, Brigadeiro João Carlos Quinhones de Portugal da Silveira. Após a distribuição dos prémios realizou-se um Jantar de Gala, também no Clube de Macau coma assistência de 200 pessoas.

Extraído de «Macau Boletim Informativo», IV-78, 1956.